Arquivo da tag: Igreja

Em 6 anos, 5 milhões de evangélicos deixaram de ter vínculo com igreja

[Folha SP, 15 ago 11] Em seis anos, de 2003 a 2009, cinco milhões de evangélicos deixaram de ter vínculo com igreja. De 4%, esses evangélicos aumentaram para 14%  em relação ao total dos crentes das diversas denominações — um salto e tanto. O levantamento, ainda preliminar, é da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), do IBGE. Ele foi feito com base em 56 mil entrevistas.

A antropóloga Regina Novaes disse que esses “evangélicos genéricos” assemelham-se aos católicos não praticantes. “Eles usufruem de rituais de serviços religiosos, mas se sentem livres para ir e vir (de uma igreja para outra)”, disse ela à Folha de S.Paulo.

O jogador Kaká (foto) e a sua mulher Carol (foto) são exemplos desse tipo de evangélicos. Nesse caso, eles não frequentam nenhuma igreja desde que saíram da Renascer ao final de 2010. Carol, que chegou a ser ungida como pastora, tem dito que não precisa de igreja porque Jesus está dentro dela. “Por enquanto, não tenho sentido falta de rituais”, disse em recente entrevista. Continue lendo

‘Trocas’ de igrejas são comuns em favela na zona sul do Rio

[Folha SP, 15 ago 11] Os quase 4 mil habitantes da favela Santa Marta, na zona sul do Rio, têm a sua disposição sete igrejas evangélicas e uma católica dentro dos limites do morro. Nas redondezas, num raio de 500 metros, há outras cinco.

Com tantas opções, é comum encontrar quem frequente mais de uma, tenha trocado várias vezes, ou mesmo famílias em que praticamente cada integrante vai a uma igreja diferente

“As pessoas hoje se sentem menos presas. Frequentarem mais de uma igreja, sem nenhum problema. Às vezes, escolhem uma de acordo com os serviços que são oferecidos”, diz o pastor Valdeci Pereira, 42, da igreja Batista no Santa Marta.

Segundo ele, apesar de tantas igrejas em busca de fiéis no mesmo local, as relações são amistosas.

Religião também não é problema na casa de Raimunda dos Santos, 33. Seu marido é sem religião, os três filhos frequentam a Igreja Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e ela se declara fiel da Universal do Reino de Deus. Mas, provavelmente, não por muito tempo.

Ela passou a ir aos cultos na igreja dos filhos, e cogita mudar: “Me senti bem acolhida, mesmo eles sabendo que sou de outra igreja. Talvez passe a ir mais lá do que na Universal.”

A antropóloga Diana Lima explica que é comum este “trânsito religioso”.

“As pessoas podem mudar porque depositam suas esperanças numa nova denominação. Às vezes, trocam porque mudaram de bairro e não encontram a mesma igreja na nova vizinhança. Ou então casam, namoram ou fazem novas amizades com pessoas de outras igrejas”, diz a especialista.

Igreja e internet: uma relação de amor e ódio

[IHU, 26 jun 11] Entrevista especial com Moisés Sbardelotto.

Embora a Igreja tenha mantido uma relação de amor e ódio com os meios de comunicação e, em especial, com as mídias digitais, é inegável a vivência da fé em ambientes digitais nas últimas décadas. Em uma sociedade em midiatização, explica o jornalista, “o religioso já não pode ser explicado nem entendido sem se levar em conta o papel das mídias” porque elas “não são meros meios de transmissão de informação, nem apenas extensões dos seres humanos, mas sim o ambiente no qual a vida social se move”.

Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail, Moisés Sbardelotto enfatiza que a fé praticada nos ambientes digitais “aponta para uma mudança na experiência religiosa do fiel e da manifestação do religioso” e, portanto, que a religião tradicional está mudando. “Junto com o desenvolvimento de um novo meio, como a Internet, vai nascendo também um novo ser humano e, por conseguinte, um novo sagrado e uma nova religião”, constata.

Moisés Sbardelotto abordará o tema desta entrevista no IHU ideias da próxima quinta-feira, 30-06-2011, quando apresentará a dissertação de mestrado intitulada E o Verbo se fez bit: Uma análise de sites católicos brasileiros como ambiente para a experiência religiosa. O evento iniciará às 17h30min, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU.

Sbardelotto é mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, na linha de pesquisa Midiatização e Processos Sociais. Atualmente, é coordenador do Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil (Stiftung Weltethos), um programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, em São Leopoldo-RS. É bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

Confira a entrevista. Continue lendo

A hora da maturidade: uma nova abordagem da temática homossexual

[Por Tim Stafford, Cristianismo Hoje, 29 ago 2010] Maior entidade cristã de apoio a ex-gays, ministério Exodus International investe em uma nova abordagem da temática homossexual.

Desde o início dos anos 1970, um movimento de resistência ao comportamento homossexual tem ganhado força ao apregoar a possibilidade de um gay mudar sua orientação sexual graças à fé cristã. Baseados na Bíblia Sagrada, que condena o comportamento gay classificando-o como “abominação contra Deus”, os evangélicos defendem que a homossexualidade é um pecado que precisa ser combatido. As armas desta batalha são os testemunhos daqueles que garantem que, graças a Jesus, mudaram seu estilo de vida. Por outro lado, a sociedade moderna tende a defender que a orientação sexual é coisa que nasce com o indivíduo – e, portanto, seria impossível alterá-la sem acarretar violentos transtornos emocionais. O debate, que tem esquentado em todo o mundo, prosseguiu em junho último, quando o Exodus Internacional, maior grupo ministerial de orientação cristã que trata do assunto, promoveu sua 32ª Conferência Anual em Irvine, no estado americano da Califórnia.

O que se discutiu ali é se a abordagem evangélica no trato da questão tem sido a mais apropriada. Apesar dos inúmeros relatos de mudança – não se fala em “cura”, uma vez que, há pelo menos 30 anos a homossexualidade já não é vista como doença –, a postura evangélica tradicional já não tem rendido resultados satisfatórios. Além disso, o patrulhamento da militância gay, apoiada por expressivos setores da mídia e da sociedade, tem conseguido isolar os grupos cristãos mais incisivos. Que o digam, principalmente, aqueles que, após passarem um período seguindo fielmente o que diz a Palavra de Deus, acabaram saindo novamente do armário e retornaram à prática sexual homossexual. Durante a conferência mesmo, três ex-integrantes do Exodus deram entrevistas falando de sua desilusão com a possibilidade de uma mudança de comportamento. Continue lendo

Adultos antes da hora (Adolescência precoce)

Fenômeno da adolescência precoce ganha força, mas pode prejudicar desenvolvimento da juventude cristã.

Curioso este país: ao mesmo tempo em que resiste quando se trata de confiar responsabilidades aos jovens, também estimula a maturidade prematura para encher de lenha a fogueira do consumo. E bem no centro dessa contradição, os adolescentes enfrentam o conflito entre ser tratados como “crianças grandes” ou “pequenos adultos”, de acordo com as conveniências — tanto as próprias quanto as da sociedade. As igrejas evangélicas também encontram alguma dificuldade para lidar com um contingente que abandona a infância cada vez mais cedo.

O conceito de adolescência, em si, não é dos mais precisos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), essa fase começa aos 10 anos de idade e vai até os 19. Já para o Estatuto da Criança e do Adolescente, ela acontece dos 12 aos 18 anos, sendo esse o padrão assumido pela maioria das igrejas evangélicas ao dividir as turmas da escola bíblica dominical e definir quem faz parte do ministério de adolescentes e que já deve ser promovido aos departamentos de mocidade. Continue lendo

Um Dia de Pranto ~ por José Roberto Prado

Esta semana (quarta-feira, 01 junho 2011), infelizmente, o Ibama concedeu a controversa licença para o início das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará.

Mais uma vez os que governam nossa nação optaram por favorecer um modelo de desenvolvimento caduco, que privilegia interesses econômico-financeiros a um altíssimo custo humano, cultural e ambiental.

A vida perde. O Brasil perde. Os povos indígenas do Xingu perdem.

Todos nós perdemos.

Sim, estou consciente de que uns poucos ganham… e ganham muito. Mas não é sobre isto que escrevo.

Escrevo por perceber que um pouco de nós morreu nestes últimos dias.

Estou de luto. Continue lendo

O que causou a crise de pedofilia na Igreja?

[IHU, 3 jun 11] Kathleen McChesney, que atuou de 2002 a 2005 como a primeira diretora-executiva do recém-criado Escritório para a Proteção da Criança e da Juventude da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, analisa aqui as principais conclusões do relatório do John Jay College sobre o abuso sexual por parte do clero. O artigo foi publicado na revista dos jesuítas dos EUA, America, 06-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Eis o texto:

O tão esperado relatório As causas e o contexto do abuso sexual de menores por padres católicos nos Estados Unidos, 1950-2010 oferece respostas bem pesquisadas às perguntas-chave sobre a crise dos abusos. O John Jay College de Justiça Criminal passou quase cinco anos realizando esse estudo inédito, que foi encomendado pela Conferência dos Bispos dos EUA a um custo de 1,8 milhões de dólares.

O relatório não identifica uma causa específica definitiva para os abusos – não há nenhuma “prova cabal” para a vitimização dos milhares de meninos e meninas pelo clero católico durante as últimas seis décadas. Houve, ao contrário, uma confluência de fatores organizacionais, psicológicos e situacionais que “contribuíram para a vulnerabilidade dos padres” durante esse período, que levou a que 4% a 6% deles cometessem atos de abusos. Por que os outros 94% a 96% dos padres, sujeitos às mesmas vulnerabilidades, não ofenderam os menores não está claro e pode estar além dos limites da pesquisa psicológica e social. Fatores não são desculpas, no entanto, e a excessiva dependência a influências externas pode levar à complacência na prevenção dos abusos. Continue lendo

A Igreja secreta e os clérigos clandestinos da Europa comunista

[IHU, 11 abr 11] Ao longo dos 41 anos do regime comunista no antigo país do bloco do Leste [Tchecoslováquia], uma rede subterrânea de grupos e indivíduos manteve viva a fé católica, chegando ao ponto de ordenar homens casados e mulheres. Na semana passada, suas conquistas foram tardiamente homenageadas. A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada na revista inglesa The Tablet, 08-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

♣

Foi em uma comovente cerimônia na Igreja da cidade das Nações Unidas, Viena, no sábado da semana passada, 21 anos após a queda da Cortina de Ferro, que o maior e mais conhecido grupo subterrâneo da antiga Tchecoslováquia – chamado de “Koinótés” e fundado pelo falecido bispo Felix Maria Davidek (foto) – recebeu o Prêmio pela Liberdade na Igreja da Fundação Herbert-Haag, concedido anualmente a pessoas e instituições “por ações corajosas dentro da cristandade”.

Embora sendo uma figura controversa e polêmica, o carisma de Felix Maria Davidek e seus extraordinários dons já foram reconhecidos por muitos homens da Igreja Católica, incluindo bispos e cardeais. Davidek reconheceu os sinais dos tempos, e sua resposta foi profética. Continue lendo

Dom Oscar Romero: Mártir da Igreja e ícone da luta por justiça

[Mônica Bussinger, Adital, 22 mar 2010] Os 30 anos do assassinato do bispo de San Salvador são lembrados como sinais de esperança na América Latina e no mundo.

Um atirador de elite do Exército salvadorenho invade a capela do Hospital da Divina Providência (o Hospitalito, instituição que ainda cuida de pacientes com câncer) e com um tiro certeiro interrompe a celebração da Eucaristia. Dom Oscar Arnulfo Romero, bispo de San Salvador, tomba executado pelas forças de Direita que ainda dominavam o país, como ocorria em toda a América Latina. Era 24 de março de 1980, tempo de quaresma.

O mundo se volta para El Salvador e o sangue do sacerdote suscita sentimentos de indignação e revolta à opressão vivida pelo povo salvadorenho. Tem início a guerra civil que duraria até 1992. O bispo que repetiu o gesto de Cristo, morrendo pelo seu povo e pela coerência com o Evangelho, ao contrário do que planejaram seus opositores, não deixa o embate político em prol da população (especialmente dos camponeses). O momento histórico testemunha a profecia do próprio dom Oscar Romero ao afirmar: “Se me matam, ressuscitarei na luta do povo salvadorenho”. O bispo de San Salvador torna-se então mártir da Igreja e ícone da luta pela justiça em seu país e em toda aquela região.

Os 30 anos do assassinato de dom Oscar Romero, comemorados em 24 de março de 2010, denunciam ainda a impunidade que campeia na história da América Latina. O mandante do crime, o major Roberto D’Aubuisson, fundador do partido Aliança Republicana Nacionalista (ARENA, de direita), que governou o país entre 1989 e 2009, morre em 1992, sem sequer responder a processo. Continue lendo

Um cristianismo novo para um mundo novo ~ J S Spong

[Texto de John Shelby Spong, Adista e IHU, 13 dez 2010, traduzido por Moisés Sbardelotto]

Spong é bispo aposentado da Igreja Episcopal da diocese de Newark, nos Estados Unidos. Autor, dentre outros, de “A New Christianity for a New World: Why Traditional Faith Is Dying and How a New Faith Is Being Born”, recém publicado na Itália com o título “Un cristianesimo nuovo per un mondo nuovo. Perché muore la fede tradizionale e come ne nasce una nuova” (368 páginas).

♣

Sou um cristão.

Por 45 anos, eu servi a Igreja cristã como diácono, padre e bispo. E continuo servindo essa Igreja hoje em uma ampla variedade de formas em minha aposentadoria oficial. Eu acredito que Deus é real e que eu vivo profunda e significativamente em relação com essa divina realidade.

Proclamo Jesus como meu Senhor. Eu acredito que ele mediou Deus de um modo poderoso e único para a história da humanidade e para mim.

Eu acredito que a minha vida pessoal foi impactada intensa e decisivamente não apenas pela vida de Jesus, mas também pela sua morte e certamente pela experiência pascal que os cristãos conhecem como ressurreição.

Parte da vocação da minha vida foi gasta na busca de uma forma de articular esse impacto e de convidar outros àquilo que eu só posso chamar de “a experiência de Cristo”. Eu acredito que, nesse Cristo, descobri uma base para o sentido, a ética, a oração, o culto e até para a esperança para a vida além das fronteiras da minha mortalidade. Eu quero que os meus leitores saibam quem é que escreve estas palavras. Não quero ser culpado de violar qualquer ato de empacotamento da verdade. Eu me defino, acima de tudo e principalmente, como um crente cristão. Continue lendo

Campanha espanhola cria polêmica ao relacionar camisinha à hóstia

[Anelise Infante, BBC Brasil, 6 dez 2010]

Uma campanha do governo espanhol para incentivar o uso de preservativos vem causando polêmica no país ao relacionar as imagens de camisinha com as de uma hóstia.

Divulgada em cartazes, vídeos e outdoors, a campanha repete uma mesma foto de um sacerdote segurando primeiro uma hóstia e depois uma camisinha.

A iniciativa do setor jovem do partido socialista que governa o país foi lançada durante a semana internacional de luta contra a aids.

“Bendita camisinha que tira a Aids do mundo” é o título oficial da campanha. Continue lendo

Não se faz História sem História ~ Robinson Cavalcanti

Mensagem à Assembleia de Fundação da Aliança Evangélica

[São Paulo, 30 nov 2010]

Amados irmãos e irmãs presentes a esse histórico momento:

O renomado pensador anglicano C. S. Lewis, em seus escritos, sempre chamou a atenção para os riscos daquelas gerações que se acham “refundadoras” do mundo, ignorando e desprezando tudo o que a civilização construiu antes dela. Alguns dizem que as mesmas “querem descobrir a roda, ou a pólvora outra vez”. Desde a Reforma Radical que uma expressão do anabatismo como ideologia tem se manifestado nessa visão de uma “apostasia” da Igreja antes da sua geração, com o Espírito Santo “tirando férias” entre a morte do apóstolo João e o nascimento de Lutero, ou o surgimento de algum grupo ou movimento posterior. O “restauracionismo” sempre tem rondado – e tentado – o Cristianismo. Hoje, mais na Igreja do que no próprio século, vive-se a síndrome de uma “geração sem umbigo”, individualista, imediatista, iconoclasta, antinômica e presentista.

Já se afirmou que um povo sem passado é um povo sem futuro e que um povo sem história é um povo sem identidade. Essa manhã, gostaria de reafirmar o caráter uno, santo, católico e apostólico da Igreja de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Gostaria de reverenciar a memória dos santos e mártires de todas as épocas e lugares. Gostaria de reafirmar a “comunhão dos santos”, e, ao mesmo tempo, denunciar como pecado e tragédia esse anti-historicismo, anti-institucional, irracional, irresponsá-vel, de previsíveis trágicas consequências. A honestidade intelectual forçará a nossa consciência reconhecer que “nunca antes na Igreja Evangélica desse País” o seu povo foi tão ignorante e tão preconceituoso em relação à sua história e ao legado dos seus antepassados. Esse é um dos aspectos centrais da crise do protestantismo brasileiro, e não haverá saída sem uma mudança, em que possamos construir o presente, com alvos para o futuro, a partir do passado. Continue lendo