Arquivo da tag: Índia

Polícia indiana interrompe ritual de enterro de bebê vivo

A polícia indiana prendeu nesta quinta-feira o pai e o tio de um bebê do sexo feminino que seria enterrado vivo.

[Ram Dutt Tripathi, BBC Ásia, 10 mai 12] Autoridades da província de Uttar Pradesh, no norte do país, afirmaram que os dois homens haviam cavado um buraco no cemitério local e foram detidos em flagrante enquanto tentavam enterrar o bebê de apenas dois meses.

Os pais da criança alegaram que seguiam um conselho de um guru espiritual, segundo o qual o enterro da menina protegeria o próximo filho do casal de doenças graves. Continue lendo

Urbanistas da Índia querem importar ‘jeitinho brasileiro’ para favelas de Mumbai

Um grupo de arquitetos da Índia quer levar algumas lições aprendidas nas favelas brasileiras para Mumbai para melhorar as condições de moradia em regiões pobres da cidade indiana.

[BBC Brasil, 3 abr 12] Arquitetos e urbanistas do Institute of Urbanology – uma fundação dedicada à pesquisa e difusão de ideias de urbanismo, com sede em Mumbai – acreditam que várias iniciativas do governo indiano de reconstruir conjuntos habitacionais acabaram produzindo apenas corrupção, prédios decrépitos e vizinhanças miseráveis.

Em alguns casos, as condições de vida dos moradores nos novos blocos até mesmo piorou quando eles trocaram seus casebres nas favelas por esses novos apartamentos. Continue lendo

Imagem do Dia: Jovem tibetano, Janphel Yeshi, se imola em protesto

Tibetano se imola antes de visita de Hu Jintao à Índia

[Reuters, 26 mar 12] Nova Déli – Um tibetano ateou fogo ao próprio corpo em Nova Déli nesta segunda-feira, em um protesto contra a visita do presidente chinês, Hu Jintao, que chegará à Índia no final da semana para uma cúpula.

Fotos tiradas por um fotógrafo da Reuters mostram o manifestante envolvido em chamas, antes de ser levado ao hospital com queimaduras no tronco. Não ficou claro quão grave eram os seus ferimentos.

O homem, de 27 anos, identificado como Janphel Yeshi, colocou fogo no corpo em pleno centro da capital indiana, segundo fontes policiais.

Trinta tibetanos atearam fogo a si mesmos, a maioria no sudoeste da China, no último ano em protesto contra o regime da China no Tibet, de acordo com grupos tibetanos de direitos humanos. Pelo menos vinte deles morreram.

Will the Good BRICS Please Stand Up? ~ by James Traub

You can call them respectable democracies, but India, Brazil, and South Africa will be judged by how they act abroad. And on the Syria question, it’s been shameful.

[By James Traub* | Foreign Policy | March 9, 2012] As global power has shifted away from the West, the emerging order has come to be identified with the BRICS — an unofficial geopolitical bloc consisting of Brazil, Russia, India, China, and South Africa. But the BRICS are equally divided between autocratic and democratic states. The growing reach of powerful autocracies is nothing to celebrate, but the rise of stable and increasingly prosperous democracies in the developing world — India, Brazil, South Africa, Turkey, and Indonesia, among others — has been the single most encouraging phenomenon in the world over the last generation. Those first three countries, in fact, have established an informal bloc known as IBSA. This, too, should be a profoundly welcome development. But it hasn’t been, at least in Western capitals. In global affairs, it turns out, emerging democracies often behave a lot like Third World autocracies. And IBSA is turning out to be not so very different from the BRICS. Continue lendo

Indianos são presos por sacrificar menina em troca de boa colheita

[EFE/Folha SP, 3 jan 11] A polícia indiana deteve duas pessoas suspeitas de degolar e extrair o fígado de uma menina de sete anos para oferecê-lo aos deuses em troca de boas colheitas, informou nesta terça-feira uma fonte policial.

Identificada pela imprensa como Lalita Tati, a menina desapareceu dois meses atrás em uma região de floresta do distrito de Bijapur, na região de Chattisgarh (centro do país), e seu corpo foi localizado por aldeões dias depois que avisaram seus pais.

“No princípio pensamos que se tratava de um caso de assassinato por causas desconhecidas após um estupro, mas depois soubemos que dois tios da menina, de cerca de 40 anos, foram os responsáveis pela morte em um ritual para terem melhores colheitas”, afirmou à agência de notícias Efe o superintendente do distrito, R. N. Das. Continue lendo

Aborto seletivo pode explicar déficit de 8 milhões de meninas na Índia

Anushka, bebê que quase foi abortado na Índia

[BBC Brasil, 25 mai 11] A indiana Kulwant (aqui chamada por um nome fictício, por razões legais) tem três filhas com idades de 24, 23 e 20 anos e um filho com 16.

No período entre os nascimentos da terceira menina e do menino, Kulwant engravidou três vezes, mas foi forçada pela família a abortar os bebês após exames de ultrassom terem confirmado que eram do sexo feminino.

O caso ilustra um problema cada vez mais grave na Índia: o censo de 2011 no país revelou um forte declínio no número de meninas com menos de sete anos.

Militantes que fazem campanha para que a prática de abortar meninas seja abandonada temem que oito milhões de fetos do sexo feminino tenham sido abortados na última década. Para alguns, o que acontece hoje na Índia é infanticídio.

“Minha sogra me insultava por eu ter tido apenas meninas. Ela disse que seu filho ia se divorciar de mim se eu não tivesse um menino”, disse Kulwant.

Ela contou que tem vívidas lembranças do primeiro aborto. “O bebê já tinha quase cinco meses. Ela era linda. Eu tenho saudades dela e das outras que matamos”, ela contou, enquanto secava as lágrimas com as mãos. Continue lendo

Limpadores de latrinas marcham contra discriminação na Índia

Centenas de limpadores de latrinas na Índia estão se concentrando na capital do país, Nova Déli, para exigir que o governo se desculpe por séculos de discriminação contra a comunidade.

Eles começaram a marchar há um mês, cruzando o país para divulgar suas reivindicações e conscientizar o público sobre sua situação.

Retirar manualmente excrementos humanos de latrinas ou privadas que não possuem descarga automática é uma prática feita há séculos na Índia.

‘Os intocáveis’

Esse tipo de trabalho é feito em grande parte pelos Dalits, conhecidos anteriormente como “os intocáveis”, a casta mais inferior da sociedade segundo o hinduísmo, principal religião do país.

Por um salário médio de menos de US$ 4 por mês, esses trabalhadores vão de casa em casa, todas as manhãs, para coletar os excrementos dos moradores. Continue lendo

Democracia indiana reflete cada vez mais a diversidade do país, dizem analistas

Business Concept - Diversity

A maior democracia do mundo passou por um período de evolução e reflete cada vez mais as diversidades da população do país – uma das maiores do planeta. De acordo com analistas, as eleições legislativas indianas viram, nas últimas duas décadas, o fortalecimento dos chamados partidos regionais – que representam demandas de uma determinada região, casta social ou grupo cultural e religioso.

Nas eleições do ano passado para o Parlamento indiano, a vitória contundente da coalizão governista liderada pelo Partido do Congresso – que dominou a política indiana nos anos 1950 a 1970 – levou alguns analistas a decretarem o fim deste processo.

Uma segunda avaliação, entretanto, mostrou as nuances do resultado do pleito: os indianos deram seu aval ao partido dominante nao só devido à prosperidade econômica que o país atravessava, mas também pela capacidade do partido de se regionalizar, segundo especialistas.

“É uma mudança no rosto do Legislativo indiano”, diz Sanjay Kumar, vice-diretor do Programa Lokniti sobre Democracia Comparativa, do Centro para o Estudo das Sociedades em Desenvolvimento (CSDS) em Nova Déli.

“Hoje temos muito mais representantes de mais comunidades de castas no Legislativo nacional do que costumava haver nos anos 1960 e 1970”.

Alguns analistas afirmam, entretanto, que a diversidade é também o grande paradoxo da democracia indiana. Ao mesmo tempo em que um Congresso “regionalizado” representa uma gama maior de interesses, também torna mais difíceis a formação de coalizões que facilitem o funcionamento do governo.

Regionalização

A Índia possui uma imprensa variada e livre, o direito à liberdade de opinião é amplamente respeitado e mesmo em regiões que registram níveis mais altos de violência, como a Cachemira, na fronteira com o Paquistão, as eleições vêm sendo consideradas livres e justas. Desde que se tornou uma república parlamentarista independente do império britânico, em 1947, a Índia só passou por apenas 21 meses de exceção democrática, nos anos 1970.

No nível federal, o Partido do Congresso, que teve em seus quadros políticos como Indira Gandhi e Jawaharlal Nehru, foi historicamente a força dominante. Nos anos 1980, surgiu o partido de oposição Bharatiya Janata Party (BJP), que se tornou a força polarizadora da política indiana, e que governa o país entre 1998 e 2004.

Nas últimas eleições, diversos partidos regionais fincaram o pé no Congresso indiano.

“Combinados, os partidos regionais receberam nas três últimas eleições nacionais cerca de um terço dos votos, enquanto nos anos 70 ou 80 esse percentual era 8-10%”, diz o professor Kumar.

Combinados, os partidos regionais receberam nas três últimas eleições nacionais cerca de um terço dos votos, enquanto nos anos 70 ou 80 esse percentual era 8-10%

Sanjay Kumar, analista político

“Não há plataforma comum entre esses partidos, porque cada um está próximo dos interesses regionais de grupos que foram deixados de lado e à margem da política indiana historicamente. Eles representam uma aspiração para as elites emergentes locais, uma oportunidade de obter poder político”.

Entretanto, a regionalização indiana suscita também cautela entre os analistas políticos. Em entrevista à BBC Brasil concedida pouco antes das eleições do ano passado, o historiador Ramachandra Guha observou:

“Esse fenômeno, por um lado, é um aprofundamento da democracia indiana”, disse o historiador. “Mas no nível nacional é irracional porque, com 25 partidos diferentes formando um governo, fica impossível ter qualquer política coerente de longo prazo em termos de infra-estrutura, educação e saúde.”

O centro de estudos Loktini, de Kumar, publicou no jornal The Hindu uma série de análises políticas a partir dos resultados das eleições do ano passado. Os pesquisadores avaliaram que, embora o partido dominante tenha levado mais cadeiras no Parlamento, sua votação não foi maior que em eleições anteriores.

Além disso, uma pesquisa de opinião do instituto revelou que mais de 70% dos entrevistados consideravam mais importante ser fiel aos interesses regionais e só depois aos nacionais.

Para os pesquisadores, existe uma “saturação” da política feita com viés regional – mas isto “não significa o fim do poder das castas na política”.

“Talvez o futuro seja uma política ‘para além da identidade’, que combine uma fundação básica a partir das castas e das comunidades com certos interesses nacionais básicos.”

Desafios

Para que os representantes políticos reflitam melhor a opinião de seus cidadãos, porém, a democracia indiana precisa vencer certos desafios, dizem analistas.

Um deles é o que se convencionou chamar de “criminalização da política indiana”, a crescente presença de candidatos com antecedentes criminais autorizados a disputar eleições regionais e nacionais.

Segundo um relatório da Associação para as Reformas Democráticas (ADR, na sigla em inglês), que monitora os resultados eleitorais, cerca de um terço dos parlamentares eleitos para a Lok Sabha no ano passado é alvo de acusações criminais, sendo que metade deles responde por acusações criminais graves.

“A outra grande preocupação é que existe uma grande mudança na representação política em termos de perfil social. Mas em termos de perfil econômica, houve pouca mudança”, afirma o professor.

“Mesmo entre as pessoas que vieram de castas marginalizadas para ocupar cargos públicos, foram os mais ricos que ganharam proeminência. Então, em termos de classe, a política permanece nas mãos, senão dos mais ricos, pelo menos das classes médias altas”, avalia.

Fonte: BBC Brasil, 5 maio 2010

Bispos criticam lei antiblasfêmia motivada por imagem de Jesus fumando na Índia

Fonte Folha SP, 25 fev 2010

Os bispos indianos repudiaram nesta segunda-feira a introdução de novas leis contra a blasfêmia, promovidas pelo governo de Meghalaya, no nordeste da Índia, e motivada pela divulgação de uma imagem de Jesus Cristo fumando e segurando uma lata de cerveja em um livro usado nas escolas do Estado.

Em um comunicado da Conferência dos Bispos Católicos da Índia (CBCI), os religiosos dizem estar “profundamente ofendidos pela imagem blasfematória de Cristo publicada nos livros escolares”, mas criticam a reação exagerada do Estado de criar uma lei “antiblasfêmia”.

Eles defendem que o governo deve promover “ações legais contra os responsáveis” pela blasfêmia e não contra toda a população.

Os bispos dizem ainda que já existe no Código Penal indiano um artigo que prevê penas contra ações que “firam os sentimentos religiosos da população”.

“Este tipo de lei pode ser distorcido ou manipulado por grupos fundamentalistas, como ocorre no vizinho Paquistão, o que não faz bem aos crentes”, esclarecem os bispos, que pedem ainda ao governo do país que “promova, garanta e defenda o respeito aos símbolos religiosos de todas as comunidades crentes, em toda a Índia”.

No Paquistão, a lei contra a blasfêmia é apontada como um dos motivos da constante violência contra os cristãos. A medida, de 1973, estabelece que a difamação de Maomé ou a profanação do Alcorão seja punida com a morte e prisão perpétua.

No segundo semestre do último ano, um massacre deixou pelo menos sete cristãos mortos e 20 feridos em Gorja, no centro paquistanês. As casas de cem religiosos também foram queimadas porque eles teriam profanado uma cópia do livro sagrado muçulmano.

Morte de mulher na Índia enterra língua de 65 mil anos

Por Alastair Lawson, na BBC Brasil, 9 fev 10

A última pessoa que sabia falar uma das línguas mais antigas do mundo morreu nas Ilhas Andaman, no sudeste asiático. Trata-se de uma mulher, Boa Sr, que tinha 85 anos.

As ilhas, situadas no Golfo de Bengala, são governadas pela Índia. Boa Sr pertencia à pequena comunidade dos grande andamanenses, um dos quatro grupos étnicos que habitam as ilhas.

A língua bo – falada pela tribo do mesmo nome, hoje extinta – é uma entre dez línguas faladas pelos grande andamaneses, e teria por volta de 65 mil anos.

Linguistas acreditam que esses idiomas já eram falados em assentamentos humanos existentes na região durante o período Pré-Neolítico. Alguns podem ter se originado na África há 70 mil anos.

Solidão

A especialista indiana em linguística Anvita Abbi disse à BBC que a morte de Boa Sr é significativa porque marca a extinção de uma das línguas mais antigas do mundo.

A humanidade acaba de perder um elo vivo que a conectava a culturas que existiram há 70 mil anos.

Abbi – que administra o site Vanishing Voices of the Great Andamanese (Voga), dedicado às tribos grande andamanesas, disse:

“Durante 30 ou 40 anos, após a morte dos seus pais, Boa foi a única pessoa capaz de falar a língua bo”.

“Ela sentia muita solidão e teve de aprender uma versão andamanesa do hindi (idioma falado por 70% dos indianos) de forma a se comunicar com as pessoas.

“Mas durante toda a sua vida, ela sempre demonstrou um grande senso de humor. Seu sorriso e sua risada, que ressoava na garganta, eram contagiantes”.

Para Abbi, a morte de Boa Sr é uma perda para intelectuais que querem estudar as origens de línguas antigas, porque uma importante peça do quebra-cabeças desapareceu.

“Acredita-se que os idiomas andamaneses sejam os últimos representantes de línguas que datam do período Pré-Neolítico”, ela disse.

“Os andamaneses, pelo que se acredita, estariam entre os nossos mais antigos ancestrais”.

Doenças Importadas

Segundo especialistas, nos últimos três meses, duas línguas faladas nas Ilhas Andaman se tornaram extintas, o que traz grande preocupação.

Os acadêmicos dividiram as tribos que habitam as ilhas em quatro grandes grupos: os grande andamaneses, os jarawa, os onge e os sentineleses.

Abbi disse que todos, à exceção da tribo sentinelese, estiveram em contato com moradores do continente, o que resultou em mortes e “doenças importadas”.

Os grande andamaneses são cerca de 50 (na maioria, crianças) e vivem na ilha Strait, perto da capital, Port Blair.

O grupo jarawa tem cerca de 250 integrantes e a comunidade onge – acredita-se – teria também algumas centenas de pessoas.

“Não houve contato humano com os sentineleses e até o momento eles resistem a todas as intervenções externas”, disse Abbi.

Mas é o futuro dos povos grande andamaneses que mais preocupa os especialistas, porque as tribos dependem do governo indiano para obter alimentos e abrigo. Problemas com álcool são uma constante.

A história de Boa Sr também foi tema de uma campanha da ONG de proteção aos povos da floresta Survival International.

“A extinção da língua Bo significa que uma parte única da sociedade humana é hoje apenas uma lembrança”, disse o diretor da entidade, Stephen Corry.

Onda de suicídios de adolescentes alarma autoridades em Mumbai

Zubair Ahmed, da BBC News, em Mumbai

O clima no pequeno apartamento de Mumbai onde Neha Sawant vivia é sombrio desde que a adolescente de 11 anos foi encontrada enforcada em uma corda presa pela janela.

Isso já faz várias semanas, mas seus pais ainda não superaram o choque. Eles parecem confusos e cansados.

A avó de Neha, ainda perplexa, diz em uma voz embargada: “Nossos cérebros não estão funcionando. Ainda não podemos acreditar nisso”.

Aos 11 anos, Neha é uma das adolescentes mais jovens a cometer suicídio em Mumbai. Mas as estatísticas sugerem que mais e mais adolescentes estão se matando na cidade, que é o centro financeiro da Índia.

Ocorrência diária

Inexplicavelmente, os suicídios de adolescentes se tornaram quase uma ocorrência diária no Estado de Maharashtra – um dos mais desenvolvidos do país – e em sua capital, Mumbai.

O total de suicídios de adolescentes desde o começo do ano até o dia 26 de janeiro já era de 32, numa média de mais de um por dia.

Apesar de não haver nenhum dado do mesmo período em 2009 para comparação, há um consenso entre as autoridades preocupadas de Mumbai de que os suicídios de adolescentes estejam saindo de controle.

Também há um entendimento geral entre psicólogos e professores de que a principal razão para o alto número de mortes de adolescentes é a crescente pressão sobre as crianças para que se saiam bem nos exames escolares.

Mais de 100 mil pessoas cometem suicídio todos os anos na Índia, e três pessoas por dia tiram suas próprias vidas em Mumbai.

O suicídio é uma das três principais causas de morte entre as pessoas de 15 a 35 anos e tem um impacto psicológico, social e financeiro devastador sobre as famílias e os amigos.

Campanha

Pressão acadêmica sobre os estudantes é vista como possível causa

A diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Catherine Le Gals-Camus, observa que mais gente morre por conta de suicídio em todo o mundo do que por todos os homicídios e guerras combinadas.

“Há uma necessidade urgente de uma ação global coordenada e intensificada para prevenir essas mortes desnecessárias. Para cada morte por suicídio há um grande número de familiares e amigos cujas vidas são devastadas emocionalmente, socialmente e economicamente”, diz ela.

Em Mumbai, as autoridades estão tão alarmadas com o tamanho do problema que começaram uma campanha, com o slogan “A Vida é Bela”, visando ajudar os estudantes a lidar com a pressão acadêmica.

Psicólogos visitam escolas públicas em Mumbai uma vez por semana para treinar professores que lidam com problemas dos estudantes.

Reuniões

A escola Sharadashram Vidyamandir conta com vários ex-alunos ilustres no país, como os ex-jogadores de críquete da seleção indiana Sachin Tendulkar e Vinod Kambli.

A escola vem promovendo reuniões de pais e mestres nas quais os pais podem receber dicas de como combater as pressões que as crianças enfrentam.

Apesar disso, as sessões não preveniram a morte de Shushant Patil, de 12 anos. Ele foi encontrado enforcado num banheiro da escola no dia 5 de janeiro.

Mangala Kulkarni é diretora da ala feminina da escola. Ela diz que as famílias precisam adotar uma postura mais ativa quando se trata de evitar que os estudantes se sintam estressados.

“As crianças não percebem que elas têm mais caminhos do que apenas o sucesso acadêmico. Elas precisam ser levadas a perceber isso por suas famílias desde a infância”, diz.

Um serviço telefônico de ajuda em Mumbai, chamado Aasra, vem operando há vários anos para tentar combater o problema.

O diretor do serviço, Johnson Thomas, diz que os problemas que as crianças enfrentam hoje têm várias facetas.

“Elas enfrentam pressão dos colegas, têm problemas de comunicação com seus pais, relacionamentos desfeitos, pressão acadêmica e medo do fracasso”, afirma.

O Ministério do Interior estima que para cada suicídio de adolescente em Mumbai há 13 tentativas.

Cinema

Para a psicóloga Rhea Timbekar, pais precisam de aconselhamento

Uma teoria por trás do recente aumento dos suicídios é a influência do lançamento recente de um filme de grande sucesso do cinema indiano, 3 Idiots (Três Idiotas), que tem uma cena na qual um estudante de engenharia é mostrado cometendo suicídio após um resultado medíocre nas provas.

O impacto do filme tem sido debatido e analisado em programas de televisão em horário nobre, com muitos especialistas acusando-o diretamente pelo problema.

Mas a psicóloga Rhea Timbekar, de Mumbai, argumenta que seria errado culpar o filme, o qual ela diz que se esforça para explicar que os pais não deveriam pôr muita pressão sobre seus filhos.

Timbekar diz que ela recentemente encontrou uma criança que não havia comido por quatro dias.

Os pais da criança disseram que estavam bravos com o filho porque ele tinha obtido apenas uma nota de 89% nos exames e era o terceiro aluno da classe, não mais o primeiro como nos anos anteriores.

“Pais assim precisam receber aconselhamento”, defende ela.

Timbekar diz que outra explicação para o alto índice de suicídios de adolescentes é o fato de muitas crianças lerem sobre histórias de suicídios nos jornais e decidirem tentar a mesma coisa elas mesmas.

Explicação simplista

Dilip Panicker, um conhecido psicólogo de Mumbai, diz porém que somente a pressão dos exames é uma explicação muito simplista para o problema.

“Em um certo nível, as pressões da escola e as expectativas dos pais são uma razão válida, mas elas sempre existiram”, ele diz.

“Na verdade, os pais costumavam bater nos filhos na nossa época. O que mudou é que hoje as crianças estão mais atentas, têm mais exposição. Elas são mais independentes. Então, elas se culpam pelo fracasso e tomam atitudes extremas”, afirma.

Alguns psicólogos argumentam ainda que a definição de adolescente precisa ser revista em 2010.

“O que fazíamos aos 14 ou 15 anos, as crianças de 11 estão fazendo hoje”, diz Rhea Timbekar.

Ela destrói a teoria de que as crianças são mais espontâneas ao cometer suicídio, ao contrário dos adultos que começariam com uma ideia, desenvolveriam um plano e terminariam com uma ação.

“Uma criança não acorda simplesmente numa manhã e decide que vai se matar naquele dia”, ela argumenta. “Alguma coisa se perdeu nas suas vidas muito antes, e os suicídios são uma manifestação disso.”

O declínio do sistema familiar tradicional da Índia também está sendo responsabilizado pelo problema.

Em uma cidade como Mumbai, onde é comum que ambos os pais trabalhem, as crianças tendem a se tornar reclusas e a passar muito tempo diante da televisão.

Para Dilip Panicker, há uma solução simples para o problema. “Se os pais amarem os filhos incondicionalmente, com todos os seus sucessos e fracassos, o problema poderia ser reduzido consideravelmente”, diz.