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Caso #Nadarkhani: Novos desdobramentos

O pastor cristão Youssef Nadarkhani (34), condenado à morte no Irã na semana passada (23 fev 12) por deixar o Islã e converter-se ao Cristianismo foi confirmado vivo, ontem cedo, de acordo com fontes próximas aos seus advogados.

O governo do Irã voltou atrás no fim de semana, informando que a ordem de execução tinha sido anunciada para Youcef Nadarkhani, mas que não era por apostasia, mas por estupro e “outros crimes”, segundo a TV estatal iraniana.

Os advogados de Nadarkhani acreditam que o governo tenha atenuado sua retórica em resposta ao protesto internacional.  Continue lendo

Onda de estupros coletivos causa preocupação e polêmica no Irã

[Folha SP, 16 jun 11] Relatos recentes de estupros coletivos praticados por gangues no Irã estão causando preocupação entre as mulheres e levantando questionamentos sobre valores sociais no país, informa Mohammad Manzarpour, do serviço persa da BBC.

Em uma aldeia religiosa e conservadora perto da cidade de Isfahan, mulheres que participavam de uma festa privada foram sequestradas no ano passado e foram vítimas de estupros coletivos perpetrados por criminosos que as ameaçaram com facas.

Uma semana depois, uma estudante universitária foi atacada e violentada por desconhecidos em um campus fortemente protegido na cidade sagrada de Mashhad.

Em ambos os casos, autoridades acusaram as vítimas de não usarem véus ou hijabs e de comportamento “não islâmico”. Continue lendo

Asia Bibi: uma cristã paquistanesa condenada à morte por blasfêmia

Cristã paquistanesa vai ser executada por blasfêmia. Mais de 30 condenados por críticas ao islão foram mortos em ataques de radicais.

[Texto de Abel C Moraes, Diário de Notícias, 19 nov 2010] Asia Bibi está perto de se tornar a primeira mulher a ser executada no Paquistão pelo crime de blasfémia contra o profeta Maomé, se não for revista, pelo tribunal de recurso de Lahore, a pena de enforcamento a que foi condenada dia 7 por um juiz da cidade de Nankana, localidade na província do Punjab.

Os cristãos representam menos de 3% dos 167 milhões de habitantes do Paquistão.

A situação da católica paquistanesa, de 45 anos, foi ontem referida pelo Papa Bento XVI ao mencionar a “difícil situação” dos cristãos naquele país, onde são “frequentes vezes vítimas de violências e discriminações”.

“Manifesto hoje, de modo particular, a minha solidariedade para com a senhora Asia Bibi e sua família. Peço que lhe seja restituída a plena liberdade, o mais rapidamente possível”, afirmou Bento XVI, que falava na Praça de São Pedro, em Roma. Continue lendo

Se a religião é o “ópio do povo” é também “o suspiro dos oprimidos”

Por Tariq Ali, 28 fev 2010

Perdoem um observador externo, ateu convicto ainda por cima, que ao ler os recentes comentários da imprensa francesa sobre Ilhem Moussaid, a candidata do NPA a Avignon com um lenço na cabeça, teve o sentimento de que havia alguma coisa estragada na política cultural francesa. Recomecemos.

À evidência, Ilhem está de acordo com um programa que defende o aborto, a contracepção, etc., quer dizer com o direito duma mulher decidir da sua vida em toda a liberdade. Mas ela não tem o direito de escolher o que põe na cabeça. É mesmo surpreendente.

Nenhum preceito corânico está em causa. O Livro diz: “Que elas coloquem os seus véus sobre si e dissimulem a sua beleza”. Um mensagem corânica que pode ser interpretada de diferentes maneiras. Aliás é contornado por numerosas egípcias que se arranjam com lenços embora moldados em jeans, quando se cruza o Cairo. São tradições patriarcais e culturais que estão em jogo e que variam duma geração para outra. Reenviar as pessoas para o seu gueto não interessa a ninguém. Cresci numa família comunista em Lahore. A minha mãe nunca usou o lenço. Nos anos 1950 tinha fundado um grupo feminista que trabalhava com mulheres das classes populares. Muitas mulheres de diferentes partes do mundo, muçulmanas ou não, contar-vos-ão histórias similares.

As argelinas que lutaram na resistência contra o colonialismo republicano francês fizeram-no em nome do anti-imperialismo. Algumas estavam veladas, outras não. Isso não modificou nem a sua maneira de lutar nem os método utilizados pelos franceses para as torturar. Talvez os seus carrascos se devessem ter mostrado mais brutais com as resistentes veladas a fim de que a sua progenitura se integrasse melhor na República?

Em 1968-1969 os estudantes paquistaneses, operários, empregados e mulheres – entre as quais prostitutas – bateram-se durante três meses conta a ditadura militar, E ganharam. Foi a única vitória no curso desses anos. Os grupos religiosos, que apoiavam os militares, foram isolados e desfeitos. E numerosas estudantes que se batiam conosco traziam o lenço e escandiam slogans contra o Jamaat-il-Islami. Faltamos aos nossos deveres ao aceitar que elas participassem nas manifestações sem retirar o lenço? Por razões estéticas teria preferido que andassem de cabeça nua, mas no que respeita ao nosso combate isso não mudava nada.

A cólera que levantou Ilhem Moussaid está deslocada. Deveria ter sido dirigida contra os responsáveis do milhão de mortos no Iraque, o cerco ininterrupto de Gaza por Israel e Egito, o assassinato de inocentes no Afeganistão, os ataques de aviões não-pilotados americanos no Paquistão, a exploração brutal do Haiti, etc. Perguntamo-nos qual é a causa desta fúria desviada.

Há alguns anos notei que em França as manifestações contra a guerra no Iraque eram quase inexistentes comparadas com o resto da Europa do Oeste. Recuso-me a explicá-lo pela tomada de posição de Jacques Chirac contra esta guerra. Fundamentalmente trata-se dum problema de islamofobia: uma intolerância crescente para com o Outro na sociedade francesa que não deixa de lembrar a atitude dos franceses em relação aos judeus no decurso do séc. 19 e, sobretudo, no início do 20.

Mais tarde é o conformismo ambiente que explicava a popularidade de Vichy durante os primeiros anos da guerra. Os islamófobos e os antisemitas tiveram muitas coisas em comum. As diferenças culturais ou de “civilização” são postas em evidência para sancionar as comunidades de imigrantes na Europa. Mas os imigrantes e os países para onde imigram não se assemelham. Tomem o caso dos Estados Unidos. Eis um território povoado por imigrantes em grande número, a partir do séc. 17, eram protestantes fundamentalistas e, desde então, depende da imigração.

Na maior parte dos países da Europa de Oeste a primeira grande vaga de imigração provinha das antigas colônias. Na Grã-Bretanha os imigrados vinham das ilhas das Caraíbas e da Ásia do Sul, e em França do Magrebe. Sem renunciar à sua identidade integraram-se de diferentes maneiras e a diferentes níveis. Os asiáticos do Sul, principalmente camponeses mas também operários, não foram muito bem tratados pelos sindicatos.

Apesar disso, os operários imigrados da Ásia do Sul conduziram lutas memoráveis pelo sindicalismo. Os indianos, em particular, vinham duma cultura muito politizada onde o comunismo estava bem representado e trouxeram a sua experiência para a Grã-Bretanha. Os paquistaneses, menos politizados, tendiam a reproduzir os grupos que reflectiam a lealdade aos clãs das suas aldeias ou das aldeias de origem.

Os diferentes governos britânicos encorajaram a religião reclamando mulás, a fim de que os imigrados fossem mantidos à margem das correntes racistas da classe operária durante os anos 1960 e 1970. Em França foi a integração forçada. Ensinava-se a cada um que tinha os mesmos direitos que qualquer outro cidadão, o que era desmentido pelos factos. As necessidades materiais e um desejo de viver melhor é que alimentaram a cólera, não as crenças religiosas.

Durante os tumultos nos subúrbios em 2005, Nicolas Sarkozy, então ministro do interior, tal como os ultras nos romances de Stendhal, falou da “canalha”. Fiz muitas vezes notar que, para grande desgosto de alguns esquerdistas, os garotos que se revoltaram tinham integrado o melhor das tradições francesas: 1789, 1793, 1871, 1968. Quando a opressão se tornou intolerável os jovens barraram as estradas e atiraram-se à propriedade. As privações, não a fé, é que estão na origem da sua cólera.

Quantos cidadãos ocidentais têm uma ideia precisa do que foi realmente o período das Luzes? Os filósofos franceses fizeram sem dúvida progredir a humanidade ao não reconhecer nenhuma autoridade externa, mas havia uma face mais sombria. Voltaire: “Os Brancos são superiores aos Pretos, como os Pretos o são em relação aos macacos”. Hume: “Na Jamaica falam dum Preto que seria um homem erudito; mas é provável que ele seja admirado por fracos talentos, como um papagaio que pronuncia algumas palavras claramente”. E não faltam exemplos do mesmo calibre entre os seus amigos pensadores. É este aspecto das Luzes que me parece o mais afinado com os delírios islamófobos de alguns meios de comunicação do mundo globalizado.

Marx escreveu bem que a religião era “o ópio do povo”, mas a frase que se segue, onde a qualifica como “suspiro dos oprimidos” é o mais das vezes esquecida. Ela explica em parte a subida da religiosidade em cada comunidade depois da queda do comunismo. Os pais dos jovens das escolas normais que se juntam para celebrar a missa estão horrorizados. As minhas amigas do mundo muçulmano queixam-se que as filhas põem o lenço para protestar contra as normas familiares. Foi sempre assim.

Artigo publicado no jornal Le Monde de 20 de Fevereiro de 2010 e republicado em Esquerda.net, com tradução de Paula Sequeiros

Universidades alemãs devem formar religiosos islâmicos

DW, Alemanha, 1/fev/2010

O mais importante grêmio consultivo político-científico da Alemanha recomenda a criação de cursos de formação de professores de religião islâmica e imãs nas universidades do país. Governo federal apoia a ideia.

As universidades da Alemanha deverão passar a formar professores de religião islâmica e sacerdotes muçulmanos, recomenda o Conselho Científico, o mais importante grêmio consultivo político-científico do país. O órgão recomenda que o governo federal e os estados alemães criem dois a três departamentos universitários que ofereçam Estudos Islâmicos como carreira. A ministra alemã da Educação, Annette Schavan, congratulou-se “explicitamente” pela sugestão.

De acordo com o diário Süddeutsche Zeitung, o conselho favorece a proliferação de departamentos de Estudos Islâmicos em universidades estatais. O grêmio discutiu o tema de quarta-feira a sexta-feira em Berlim e apresentou nesta segunda-feira (01/02) sugestões para o desenvolvimento estudos teológicos em instituições alemãs de ensino superior.

Sem tradição

Até hoje, os estudos islâmicos não têm tradição em universidades alemãs, realidade que não condiz com a importância dos muçulmanos, a maior comunidade religiosa não cristã do país. O Conselho Científico, consultor do governo federal e dos governos estaduais em questões de ensino superior e pesquisa, considera importante reverter essa discrepância.

Segundo a proposta, os novos institutos devem formar não apenas sacerdotes e professores de islamismo para o ensino religioso escolar, mas também pesquisadores do islã e especialistas para o trabalho social e comunitário.

Na Alemanha deverá crescer nos próximos anos a demanda por professores de religião islâmica. De acordo com o conselho, hoje as escolas alemãs têm cerca de 700 mil alunos muçulmanos matriculados. Caso se decida introduzir aulas de educação religiosa islâmica no ensino médio alemão, hipótese considerada provável, serão necessários cerca de 2 mil profissionais para a função.

Nas universidades também deverão ser formados imãs. Atualmente, os sacerdotes muçulmanos provêm em grande parte do exterior.

Governo ajudará implementação da ideia

A ministra alemã da Educação, Annette Schavan, apoia as recomendações do Conselho de Ciência. Ela auxiliará as universidades interessadas em
implementar a ideia, segundo afirmou ao jornal Welt am Sonntag. O número de crianças e adolescentes muçulmanos na Alemanha continua a crescer, lembrou ela. Por isso, é importante formar professores e pesquisadores de religião islâmica. Para a ministra, a medida faz parte da política de integração em sociedades modernas.

Segundo o secretário-geral do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha, Aiman Mazyek, essas recomendações são um “caminho pragmático, para o qual não há alternativas”. Trata-se de uma reivindicação de anos das organizações muçulmanas.

MD/afp/kna
Revisão: Simone Lopes