Arquivo da tag: islamismo

Como seria o Oriente Médio sem cristãos

Blood-spattered-mural-of-Jesus-in-EgyptGrupo religioso perseguido do Iraque à Síria se sustenta pela fé, mas seu declínio pode alterar toda a região.

Os bancos da Primeira Igreja Batista de Belém enchem-se rapidamente de fiéis numa noite de domingo, alguns com bolsas enfeitadas, outros com sapatos gastos e sacolas de papel da KFC. No transcorrer da cerimônia, mãos balançam no ar enquanto os fiéis cantam e dão graças a Deus por um renascimento recente que atraiu mais de 1.300 pessoas para ouvir a mensagem da Bíblia.

[Christa Case, Bryant, The Christian Science Monitor, Estadão, 25 dez 2013] Numa cidade alardeada como o lugar onde Jesus Cristo nasceu da Virgem Maria, a igreja é uma espécie de milagre moderno. Fundada há três décadas num apartamento de dois quartos pelo reverendo Naim Khoury, a Primeira Batista foi bombardeada 14 vezes durante a primeira intifada, enfrentou dificuldades financeiras, e agora trava uma batalha legal com a Autoridade Palestina, que não a reconhece.

Milhares de cristãos em Belém tiveram problemas políticos e religiosos similares nas últimas décadas, o que levou muitos deles a fugir da cidade onde nasceu a figura central da cristandade numa manjedoura.

Os cristãos, que já constituíram 80% da população, hoje representam 20% a 25%. Dois mil anos após o nascimento de Jesus, a cristandade está sob um ataque maior do que em qualquer outro período do último século, levando alguns a especular que uma das três maiores religiões do mundo pode desaparecer completamente da região em uma ou duas gerações.

Do Iraque, que perdeu pelo menos metade de seus cristãos na última década, ao Egito, que assistiu à pior violência anticristã em 700 anos neste verão, à Síria, onde jihadistas estão matando cristãos e os enterrando em valas comuns, os seguidores de Jesus enfrentam violência e perseguição além de um declínio das igrejas. Os cristãos constituem hoje somente 5% da população do Oriente Médio, ante 20% um século atrás. Muitos cristãos árabes estão contrariados porque o Ocidente não fez mais para ajudá-los.

Embora muitos muçulmanos tenham crescido com amigos e colegas cristãos, política e forças sociais tornaram a coexistência mais difícil. À medida que o islamismo político cresce, cristãos já não conseguem encontrar refúgio numa identidade árabe compartilhada com seus irmãos muçulmanos.

Os apelos à cidadania com direitos iguais são pontuados por histórias de extremistas islâmicos exigindo a conversão de cristãos ao islamismo ou que eles paguem um imposto exorbitante. E muitos muçulmanos enfrentam perseguições eles próprios na medida em que os levantes árabes de 2011 continuam a repercutir por toda a região e nações tentam encontrar um equilíbrio entre liberdade e estabilidade.

Os cristãos já enfrentaram tempos difíceis antes, da matança dos seguidores imediatos de Jesus à opressão dos cristãos pelos mamelucos no início do século 13 à ascensão da atividade militante islâmica no Egito nos anos 1970. Os guerreiros que vieram em nome de Cristo também foram responsáveis por violências inter-religiosas, como n a Primeira Cruzada em 1099, quando cristãos tomaram Jerusalém e massacraram os moradores.

Permanece incerto se os tempos atuais se mostrarão mais um refluxo da história cristã ou algo mais fundamental. Mas o que está evidente é que tanto muçulmanos como cristãos, além das outras minorias da região, provavelmente serão afetados de maneira significativa por uma deterioração contínua.

Uma exceção ao declínio é Israel, onde a população cristã quase quintuplicou, para 158 mil, desde a fundação do país em 1948. Mesmo assim, sua parcela na população caiu cerca de 3% a 2%, e críticos observaram que as famílias cristãs palestinas que fugiram ou foram obrigadas a sair pouco antes da fundação de Israel deram ao país uma base artificialmente baixa.

Mas ainda há comunidades cristãs fortes de cristãos árabes israelenses – embora elas também tenham problemas. Em Nazaré, por exemplo, islamistas tentaram erguer uma mesquita bloqueando a Igreja da Anunciação. Quando impedidos por Israel, eles aceitaram colocar uma bandeira proclamando o verso corânico: “E todo aquele que busca uma religião que não seja o Islã, jamais será aceito por ele, e no futuro será um dos perdedores”.

Tradução de Celso Paciornik

Não pode haver democracia sem laicismo ~ George Corm

Georges_Corm

Georges Corm, historiador e jurista libanês, analisa a situação atual do mundo árabe.

Depois das esperanças levantadas pela Primavera Árabe em 2011 e a chegada ao poder no Egito e na Tunísia de movimentos que se declaram islâmicos, você é otimista quanto ao futuro dos países árabes?

O movimento de 2011 foi extraordinário: de Omã à Mauritânia, a consciência coletiva árabe despertou, mas as esperanças são de longo prazo. Os ciclos revolucionários do mundo árabe são longos, principalmente por conta de interferências externas. Para romper com esse movimento, se criaram pontos de fixação na Líbia e na Síria. Ambas as intervenções foram conduzidas para a catástrofe e provocaram a guerra civil quando armaram os manifestantes pacíficos. A indignação quanto a um ditador é seletiva e segue os interesses geopolíticos ocidentais junto de seus aliados locais. Acabar com um sistema ditatorial e predador para substituí-lo pelo que? Todo o Oriente Médio está sendo consumido por suas classes dirigentes e seus aliados dentro do mundo corporativo. São economias rentistas, totalmente improdutivas que geram desemprego e uma grande concentração de riqueza. Apenas a própria população pode resolver seus problemas com seus regimes políticos e econômicos e, assim, reconstruí-los.

Qual é a sua visão sobre a situação da Síria?

É uma batalha muito perigosa que ultrapassa, e muito, os desafios internos dos sírios, que pode desencadear uma guerra mundial. Enquanto existirem quase 100 mil combatentes não sírios e o financiamento estrangeiro da oposição continuar atrelado aos interesses de Turquia, França, Arábia Saudita e Qatar, não iremos a lugar algum. Estão destruindo o país de forma sistemática. Amanhã chegarão novos predadores para saquear a Síria com o pretexto de reconstrução, como ocorreu no Líbano, Iraque e Bósnia.

Em sua opinião, quais são os interesses estratégicos que atuam na região?

Agora se trata do reequilíbrio do sistema internacional e do final do unilateralismo estadunidense. A região é um caos total. Na costa sudeste do Mediterrâneo, EUA e Israel colocaram a região de joelhos com a invasão do Iraque em 2003 e depois com o ataque israelense ao Líbano em 2006. A Síria suportou cerca de um milhão e meio de refugiados iraquianos sem pedir ajuda, os tunisianos viram-se obrigados a acolher milhares de refugiados da Líbia. No Líbano, existem entre 800 mil a um milhão de refugiados sírios, ou seja, 25% da população. Nessa situação explosiva, a Europa – assim como os EUA – não desempenha nenhum papel de apaziguamento, mas exatamente o contrário.

Qual é o papel do Golfo Pérsico na região?

O aumento dos preços do petróleo desde 1973 constituiu um terremoto social no Oriente Médio de uma amplitude sem precedentes na época moderna. As elites urbanas árabes que desencadearam um “renascimento” no século 19 e adaptaram os princípios da lei islâmica às necessidades do mundo moderno, progressivamente cederam o poder cultural, religioso e midiático às famílias reinantes do Golfo, as quais dispõem de meios econômicos e financeiros desproporcionais frente aos demais regimes políticos do mundo árabe, fragilizados por suas derrotas para Israel e por fracassos no desenvolvimento. O “despertar islâmico” veio substituir o “renascimento árabe” – com seu séquito de pregadores influenciados pelo rigor teológico extremista do wahabismo. A religião muçulmana se converteu em uma arma política temível com sua aliança aos EUA na luta contra o comunismo. Abandonou-se a questão da Palestina em benefício de lutas que não são as nossas, no Afeganistão, na Bósnia, na Chechênia e no Cáucaso. Esses movimentos trazem em si, a legitimação de um autoritarismo terrível, que pretende controlar a vida dos crentes até em seus mínimos detalhes e combater os “infiéis”, muçulmanos ou não.

Contra essas “ideologias autoritárias”, você prega o retorno à liberdade de pensamento…

O grande erro de muitos intelectuais árabes tem sido deixar a questão religiosa à Irmandade Muçulmana e ao wahabismo, os quais, com seus meios, se apoderaram das mentes das pessoas. As conquistas da civilização islâmica, que instituiu uma liberdade de pensamento notável para a época, são esquecidas completamente. Falam-se apenas de Sayyid Qotb, Maududi e Ibn Taymiyyah! Agora vemos o resultado de 40 anos de uma política muito ativa, que remete à Guerra Fria, onde ocorreu uma “reislamização” das sociedades para lutar contra o comunismo. Atualmente você não é um muçulmano “representativo” se for um muçulmano moderado. No mundo árabe, sempre existiu um vivo debate sobre a maneira de interpretar o texto corânico, mas que não interessa aos setores acadêmicos e midiáticos.

Você advoga pelo laicismo, não é utópico defender um modelo impopular no mundo árabe?

Com o que ocorre no Egito, na Tunísia e na Síria, a opinião pública árabe, incluindo a parte crente, começa a compreender qual é a utilidade do laicismo. Na região do Mashreq, onde reina uma forte diversidade religiosa dentro do próprio islã, o laicismo é a única solução. Outra coisa é que não pode haver democracia sem o laicismo. Se tudo está polarizado no que concerne a referência religiosa nas instituições ou a identidade social e cultural, é porque não temos um pensamento econômico alternativo que havia deixado essa questão em segundo plano. Temos que rechaçar a análise que exclui as identidades: o problema é a desestruturação de nossas sociedades e a negação do pluralismo em uma região do mundo que é plural desde a mais longínqua antiguidade.

Qual papel desempenharia o Magreb, e Marrocos em particular, nesse contexto?

No Magreb, a Argélia tem sofrido enormemente com a onda islâmica. A Líbia está atualmente presa em uma anarquia que beneficia os elementos que se declaram militantes islamitas e a Tunísia se torna, a cada dia, mais perigosa. O Marrocos com sua monarquia de legitimidade religiosa, ao se declarar partidário de um islamismo moderado – que é o autêntico islã – poderia desempenhar um papel catalisador de um liberalismo árabe e islâmico moderno, como o que existiu nos anos 1950. É também o que tenciona fazer a Universidade de Al Azhar, no Egito. É o momento de trabalhar para restabelecer no mundo árabe a saúde mental que perdemos um pouco a cada dia e voltar a ter uma concepção de mundo aberta, tolerante e pluralista, onde, em outra época, construiu a grandeza da civilização árabe-islâmica e mais recentemente, o magnífico renascimento árabe.

[Kenza Sefrioui, do Telquel | Tradução: Vinicius Gomes, publicado na Revista Fórum, 16 dez 2013]

 ** Georges Corm, nascido em 1940 em Alexandria, assistiu em sua juventude a chegada ao poder de Nasser e a nacionalização do Canal de Suez. Possui um doutorado em Direito Público sobre as sociedades multiétnicas. Foi professor de Ciências Políticas pela Universidade Saint-Joseph de Beirute e ministro das finanças do Líbano de 1998 a 2000. Em suas numerosas obras, tanto em árabe quanto em francês, como “Le prche-Orient éclaté” e “Pour une lectura profane des conflicts”, advoga por um mundo árabe mais unido e mais independente, criticando duramente o apoio dos EUA e Europa aos Estados teocráticos como Arábia Saudita e Israel.

Angola fecha mesquitas e é acusada de interditar islamismo

isla em angolaAngola foi acusada de interditar o islã, depois de fechar a maioria das mesquitas do país, em meio a relatos sobre violência e intimidação contra mulheres que usam o véu. A Comunidade Islâmica de Angola (ICA) alega que oito mesquitas foram destruídas nos últimos dois anos e que qualquer pessoa que pratique o islã corre o risco de ser considerada culpada de desobedecer ao código penal angolano.

[David Smith, GUARDIAN, Folha SP, 29 nov 2013. Tradução Clara Allain] Ativistas dos direitos humanos condenam a repressão ampla. “Pelo que ouvi, Angola é o primeiro país do mundo a ter decidido interditar o islã”, disse Elias Isaac, diretor nacional da Iniciativa Sociedade Aberta da África Meridional (Osisa). “Isto é loucura. O governo não tolera qualquer diferença.”

As autoridades de Angola, país de maioria católica situado no sul da África, insistem que os relatos publicados na mídia mundial sobre uma suposta interdição do islã são exagerados e que não estão sendo visados locais de culto religioso.

O Reino Unido acaba de nomear Angola um de seus cinco “parceiros de prosperidade de alto nível” na África, e os dois países mantêm um relacionamento comercial crescente.

O presidente angolano, José Eduardo dos Santos, está no poder há 34 anos, sendo o segundo entre os chefes de Estado africanos no poder há mais tempo. Ele é acusado há anos de corrupção e violações dos direitos humanos.

As organizações religiosas em Angola precisam pedir reconhecimento legal, e o país hoje autoriza 83 delas, todas as quais cristãs. No mês passado o Ministério da Justiça rejeitou os pedidos de 194 organizações, incluindo uma da comunidade islâmica.

Pela lei angolana, para conseguir reconhecimento legal um grupo religioso precisa ter mais de 100 mil membros e estar presente em pelo menos 12 das 18 províncias. O status legal lhe dá o direito de construir escolas e locais de culto. Existem apenas estimados 90 mil muçulmanos entre os 18 milhões de habitantes de Angola.

David Já, presidente da Comunidade Islâmica de Angola, disse na quinta-feira: “Podemos afirmar que o islã foi interditado em Angola. É preciso ter 100 mil fiéis para ser reconhecido como religião. De outro modo, não se pode orar oficialmente.”

De acordo com a ICA, existem 78 mesquitas no país, e todas foram fechadas exceto as da capital, Luanda, porque são oficialmente não licenciadas. “As mesquitas de Luanda estavam previstas para ser fechadas ontem, mas, diante do furor internacional provocado pelos relatos de que Angola teria interditado o islã, o governo decidiu não fechá-las”, disse Já.

“Assim, no momento as mesquitas de Luanda estão abertas, e as pessoas estão indo a elas para fazer suas orações.”

Já disse que o governo começou a fechar mesquitas em 2010, incluindo uma na província de Huambo que foi queimada, “um dia depois de as autoridades nos avisarem que não deveríamos ter construído a mesquita naquele local e que ela deveria ser erguida em outro lugar. O governo se justificou dizendo que era uma invasão da cultura angolana e uma ameaça aos valores cristãos.”

De acordo com Já, outra mesquita foi destruída este mês em Luanda e 120 exemplares do Alcorão foram queimados. Ele disse ainda que os muçulmanos receberam ordens de desmontar as mesquitas eles mesmos.

“Mandam uma ordem legal de destruirmos o prédio e nos dão prazo de 73 horas para fazê-lo. Se não o fazemos, o próprio governo faz.”

As mulheres que usam o véu islâmico tradicional também estariam sendo visadas. “Do jeito como andam as coisas, a maioria das muçulmanas tem medo de usar o véu. Uma mulher foi agredida num hospital em Luanda por estar de véu, e, em outra ocasião, uma jovem muçulmana foi espancada e a mandaram deixar o país porque estava usando véu.”

“Mais recentemente, meninas foram proibidas de usar o véu em escolas católicas. Quando fomos lá tirar satisfações com as freiras, elas simplesmente disseram que não podiam permitir o véu. Embora não haja uma lei explícita, escrita, que proíba o uso do véu em Angola, o governo proibiu a prática da fé e as mulheres têm medo de anunciar sua fé, nesse sentido.”

As queixas do ICA foram confirmadas por Rafael Marques de Morais, ativista político e jornalista investigativo destacado no país. “Eu já vi a ordem que diz que os próprios muçulmanos devem destruir as mesquitas e levar os escombros embora, senão serão cobrados pelo custo da demolição.”

Ele sugeriu que o governo estaria procurando um modo conveniente de desviar a atenção da crescente hostilidade pública em relação a trabalhadores chineses e portugueses em Angola.

“O governo precisa desviar a atenção. Quer encontrar um bode expiatório para as pressões econômicas, dizendo que o islã não tem relação com os valores e a cultura angolanos.”

“O governo acha que uma lei abrangente contra o islã vai lhe angariar a simpatia tanto dos angolanos quanto dos setores da comunidade internacional que equacionam o islã com terrorismo.”

Indagado sobre a possibilidade de protestos dos muçulmanos, Marques respondeu: “Se os muçulmanos tentarem manifestar alguma ira, serão deportados no dia seguinte”.

Mas o governo angolano nega que faça qualquer tentativa de interditar o islã. “Não existe guerra em Angola contra o islã ou qualquer outra religião”, disse Manuel Fernando, diretor de assuntos religiosos do Ministério da Cultura. “Não existe posição oficial que busque a destruição ou o fechamento de locais de culto, sejam eles quais forem.”

Uma declaração da embaixada angolana nos EUA diz o mesmo: “A República de Angola é um país que não interfere na religião. Temos muitas religiões lá. É liberdade de religião. Temos católicos, protestantes, batistas, muçulmanos e evangélicos.”

Filhos de Abrão [charge]

chargejudaica

Dois judeus radicados no Rio, Adam Grzybowski (polonês) e Luis Goldman (argentino), vão ilustrar com esta charge o livro “Religiões do Mundo: Judaismo”, do Grupo Editorial alemão Klett, líder europeu em livros didáticos e culturais.

Versão não autorizada…

Eles foram escolhidos por causa do trabalho “Bíblia Versão não autorizada”, que aborda textos bíblicos com humor, e será publicado em 2014. Duas editoras estão disputando o título.

Publicado no O Globo.

Malásia proíbe o uso da palavra ‘Alá’ por não muçulmanos

Malaysia Allah Dispute

Um tribunal de apelações da Malásia, país de maioria muçulmana, confirmou nesta segunda (14 out 2013) uma decisão do governo contra o uso da palavra Alá para se referir a Deus em religiões não muçulmanas.

A decisão anula reclamações de cristãos de que a restrição viola os seus direitos religiosos.

Alá é a palavra árabe para Deus, e é comumente usada na língua malaia para se referir a Deus.

Mas o governo malaio insiste em que a palavra Alá deva ser reservada exclusivamente para os muçulmanos, temendo que seu uso por outras religiões possa confundir os muçulmanos e poderia servir para tentar convertê-los.

As minorias budistas (cerca de 20%), cristãs (9%) e hindus (6%) do país frequentemente se queixam de que o governo infringe o direito constitucional que têm de praticar livremente sua religião. Acusações que o governo nega.

Há quatro anos, um tribunal de primeira instância havia decidido contra a proibição do governo, o que provocou uma série de ataques a igrejas e a outros locais religiosos.

JORNAL

A disputa judicial decorre de esforços por parte do jornal católico “The Herald” para usar Alá em seu semanário em língua malaia.

Representantes da Igreja Católica negam que haja tentativas de converter muçulmanos e dizem que a proibição do governo não é razoável, porque cristãos que falam malaio usam há muito tempo a palavra Alá em suas Bíblias, na literatura e na música.

Para o juiz Mohamed Ali Apandi, do tribunal de apelações, o uso da palavra Alá não é parte integrante da fé e da prática do cristianismo. “Não há nenhuma violação de quaisquer direitos constitucionais da proibição. Não encontramos nenhuma razão para que o jornal católico seja tão inflexível na intenção de usar a palavra Alá. Se tal uso for permitido, inevitavelmente causará confusão na comunidade.”

O reverendo Lawrence Andrew, editor do “The Herald”, disse que vai apelar do veredicto na suprema corte do país.

“Estamos muito desapontados e desanimados. É um retrocesso no desenvolvimento do direito em relação à liberdade fundamental de minorias religiosas”, disse.

Para Arlene Elizabeth Clemesha, diretora do Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo, como a língua local já incorporou a palavra árabe para Deus (Alá), o governo da Malásia, país que não é árabe e onde não se fala árabe, teme que o emprego de ‘Alá’ por todas as religiões no país favoreça a conversão de muçulmanos ao cristianismo, ao budismo, ao hinduísmo, já que isso os aproxima dessas religiões minoritárias.

“A atitude desse governo é, no mínimo, lastimável. Ergue muros fictícios onde deveria quebrar barreiras e aproximar as várias comunidades que compõem o seu país.”

Para ela, trata-se de mais um caso de utilização da religião para fins de poder e de controle, incentivando o crescimento da população muçulmana e criando divisões entre as comunidades.

“Infelizmente, o governo da Malásia não está sozinho nesse tipo de atitude”, diz.

[Publicado originalmente na Folha de SP, 14 out 2013]

Irã persegue cristãos em retaliação às sanções do Ocidente ao seu programa nuclear

Igreja sofre com onda de perseguição no Irã. Autoridades iranianas estão promovendo uma onda de perseguição aos cristãos em todo o país, prendendo indiscriminadamente líderes e membros comuns – incluindo uma mulher de 78 anos de idade.

Desde o Natal de 2011, agentes de segurança realizam incursões nas igrejas em Ahwaz, Shiraz, Esfahan, Teerã e Kermanshah. Algumas igrejas oficialmente registradas têm sido alvo também. Cristãos têm sido presos em suas casas e locais de trabalho.

Em uma incursão na cidade de Esfahan, uma senhora de 78 anos de idade, Giti Hakimpour, foi presa em sua casa em às 6h da manhã no dia 22 de Fevereiro de 2012. Giti, que havia recentemente passado por uma cirurgia de substituição do joelho, não estava em boas condições de saúde; seu médico advertiu que ela precisava de cuidados especiais e não deveria ser submetida ao estresse. Após persistentes esforços de líderes da igreja, Giti foi solta em 25 de Fevereiro. Continue lendo

Os persas e seus nomes poéticos ~ Samy Adghirni

Poesia é coisa séria no Irã. Quase todo mundo sabe de cor um monte de versos, rodas de amigos adoram debater autores e um dos principais ícones nacionais é o poeta Hafez (1310-1390), cujo túmulo em Shiraz atrai romaria do país inteiro. Hafez, aliás, era crente e capaz de recitar o Corão inteiro, mas celebrou em sua obra a embriaguez e o amor.

O gosto pela poesia parece ser um traço milenar da cultura persa, e até hoje pais dão aos filhos nomes, ou prenomes para ser mais exato, que são pura metáfora. Uns são bucólicos, outros românticos. Há também os metafísicos. É exemplo pra todo lado.

Tenho uma amiga que se chama Yeganeh (única no mundo). A irmã dela é Taraneh (canção). A chefe da agência Reuters no Irã leva o prenome de Parisa (aquela que é como uma fada). O da iraniana mais famosa do planeta, a ativista de direitos humanos e Nobel da Paz Shirin Ebadi, significa “doce”. Não confundir com “açúcar”, ou Paníz, em farsi, como é chamada minha assistente. Simin, personagem principal do badalado e premiado filme “A Separação”, quer dizer “aquela que brilha como prata”. Continue lendo

Caso #Nadarkhani: Novos desdobramentos

O pastor cristão Youssef Nadarkhani (34), condenado à morte no Irã na semana passada (23 fev 12) por deixar o Islã e converter-se ao Cristianismo foi confirmado vivo, ontem cedo, de acordo com fontes próximas aos seus advogados.

O governo do Irã voltou atrás no fim de semana, informando que a ordem de execução tinha sido anunciada para Youcef Nadarkhani, mas que não era por apostasia, mas por estupro e “outros crimes”, segundo a TV estatal iraniana.

Os advogados de Nadarkhani acreditam que o governo tenha atenuado sua retórica em resposta ao protesto internacional.  Continue lendo

Pedras, é tempo de clamar! ~ por José Roberto Prado

O Pastor iraniano Youssef Nadarkhani pode ser executado a qualquer momento.

Um pai de família, pastor de um pequeno grupo, morador de um pequeno povoado, Youssef Nadarkhani é mais um cristão é condenado à morte no Irã.

Desde quarta feira, 22 fev 12, agências internacionais noticiam a decisão da justiça iraniana de executar o pastor (provavelmente por enforcamento). Na opinião de especialistas, a única forma do governo iraniano rever a decisão é através da pressão internacional.

Apesar disso, parece que a mídia impressa brasileira não vê relevância neste fato. Continue lendo

Por medo, cristãos ficam ao lado de ditador da Síria

[Bastian Berbner, Der Spiegel/Uol, 1 dez 11] A rebelião contra ele tinha começado há apenas poucos dias quando o ditador sírio Bashar Assad convocou os líderes cristãos de seu país ao palácio presidencial, no noroeste de Damasco. O patriarca ortodoxo sírio Ignatius foi. Ele tem 78 anos e está gravemente doente, mas ainda é uma figura poderosa. Bispos e arcebispos representando católicos, armênios, arameus e assírios também estavam presentes. Ao todo, havia uma dúzia de líderes religiosos representando cerca de 2,5 milhões de cristãos sírios.

A mensagem que receberam de seu chefe de Estado foi curta e simples: apoiem-me ou suas igrejas queimarão.

Ao que parece, Assad, um membro dos alauitas, uma seita do islamismo xiita, não queria presumir que os cristãos da síria continuariam afastados da política. Sentindo que não apenas sua autoridade, mas talvez sua própria sobrevivência estava em jogo, ele recorreu aos mesmos meios que seu pai, Hafez Assad, usava para manter o poder: pressão e violência.

A Liga Árabe suspendeu a Síria, isolando o país internacionalmente. Damasco perdeu o prazo da última sexta-feira para que Assad colocasse um fim ao derramamento de sangue e permitisse a entrada de uma comissão de observadores no país. A Liga permitiu uma breve prorrogação, mas no domingo impôs sanções econômicas duras contra o país. Na quarta-feira, a Turquia impôs suas próprias sanções econômicas contra a Síria. Continue lendo

Paquistão proíbe termos ‘obscenos’ em SMS

Operadoras do país terão de bloquear mensagens de texto com palavras de conteúdo sexual, xingamentos e até ‘Jesus Cristo’.

[Estadão, 18 nov 11] ISLAMABAD – Quem manda mensagem de texto no Paquistão vai precisar moderar suas palavras. A agência de telecomunicações do país enviou uma carta às operadoras de celular ordenando o bloqueio de mensagens de texto (SMS) contendo o que a agência considera serem obscenidades, disse a porta-voz da operadora Telenor Pakistan, Anjum Nida Rahman, nesta sexta-feira, 18. A agência também enviou uma lista de 1.500 palavras em inglês e urdu que deverão ser bloqueadas pelas operadoras.

A ordem faz parte de uma tentativa da agência reguladora de bloquear mensagens de spam enviadas aos celulares, disse Rahman. A Autoridade de Telecomunicações do Paquistão se recusou a comentar a iniciativa.

Muitas das palavras que serão bloqueadas são termos sexualmente explícitos e xingamentos, de acordo com uma cópia da lista obtida pela agência de notícias Associated Press. Ela também inclui termos relativamente mais brandos, como “soltar pum” e “idiota”.

Mas as razões para bloquear algumas palavras, incluindo “Jesus Cristo”, “faróis dianteiros” e “absorvente”, eram menos claras, levantando questões sobre liberdade religiosa e praticidade. Qualquer palavra pode fazer parte de uma mensagem de spam. Continue lendo

‘Cultura cristã é superior à islâmica’, afirma escritora Ayaan Hirsi Ali, ex-muçulmana

Em entrevista a CartaCapital, escritora Ayaan Hirsi Ali, ex-muçulmana, defende a conversão de islâmicos ao cristianismo para conter extremistas religiosos.

[Gabriel Bonis, CartaCapital, 18 out 11] Em 1992, Ayaan Hirsi Ali foi para a Holanda fugindo de um casamento arranjado pelo pai. No pequeno país europeu, onde viveu como refugiada e depois cidadã, a somali viu seus valores islâmicos entrarem em colapso. Passou de militante da Irmandade Muçulmana à agnóstica, parlamentar e crítica ao Islã.

Na Holanda, despertou a ira dos muçulmanos ao produzir o curtaSubmissão (2004), no qual uma muçulmana aparece vestida com uma burca parcialmente transparente, enquanto reza e critica o Islã. O vídeo resultou no assassinato de Theo van Gogh, diretor holandês do filme, por um extremista religioso.

Mutilada genitalmente na infância, a autora do best seller de memórias Infiel virou alvo de extremistas religiosos. Atualmente vive sob escolta nos EUA, de onde conversou com o site de CartaCapital, por telefone, sobre seu novo livro, Nômade (Companhia das Letras, 392 págs., R$ 46,00).

O trabalho traz uma postura polêmica da autora: o Ocidente precisa enxergar o perigo do Islã. Ali sugere também que o cristianismo conquiste os muçulmanos para conter os extremistas. Continue lendo