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Era uma vez um junípero… ~ por José Roberto Prado

Em sua carta, Tiago afirma que o profeta Elias era um ser humano como nós (5:17).

Para alguns, esta afirmação é difícil de ser compreendida.

Como se identificar com alguém que confrontou um rei, ressuscitou um jovem, orou para que não chovesse e não choveu, orou pra chover e choveu, orou pra que viesse fogo do céu e veio… E de quebra, foi arrebatado num carro de fogo?

Mas existe uma outra face de Elias.

O Elias que se sente sozinho, foge para o deserto, senta-se debaixo de um Junípero (ou zimbro em outras traduções, uma árvore nativa do deserto) e pede pra “ser promovido”.

Eu consigo me identificar com Elias. Continue lendo

Oração: a linguagem do coração ~ por José Roberto Prado

Nossa sociedade, como todas as outras, tem seu próprio critério para identificar, classificar e retribuir as pessoas. Valorizamos etnia (cor da pele), quantidade de diplomas, posses, poder, influência, performance… Somos, individualmente, o resultado aritmético de nossos sucessos e fracassos.

Há os que mesmo recém nascidos já acumulam ativos ou passivos consideráveis. No Brasil de hoje, por exemplo, o perfil dos que nascem com os maiores passivos é: mulher, negra, pobre, filha de um relacionamento instável, ou seja, sem pai conhecido. Estas, se sobreviverem às condições miseráveis de sanidade básica, na adolescência e juventude terão que lutar muito mais que outras meninas de perfil diferente simplesmente para serem reconhecidas como gente, identificadas e, quiçá, amadas.

Nossas mega cidades estão repletas de gente solitária em meio à multidão. Não faltam cinemas, praças, teatros, clubes, salões de festa… Mas quanta angústia em meio a tanta diversão. Há uma pandemia de tédio em meio a um mundo de entretenimento. Continue lendo

O Evangelho do Reino e o hospital de guerra ~ por José Roberto Prado

Alguém já disse que, independente da cidade, a maior igreja não se reúne num prédio específico.

Ao contrário, ela não se reúne, pois é formada pelos afastados, desiludidos, amargurados e decepcionados.

Concordo. Já fiz parte deste grupo. Conheço muitos deles.

Mas é fato que mudei. Na verdade não sei nem quando, nem como, nem onde. O que sei é que fui encontrado e tratado, preenchido por uma nova vida, percepção e esperança.

É isso que quero compartilhar com você neste texto.

Este fenômeno – chamo de “outra igreja” – não é de forma nenhuma novo nem tampouco brasileiro. Por toda história, infelizmente, encontramos pessoas mal interpretando o Evangelho, produzindo comunidades que ao invés de curar, enfermaram; ao invés de acolher, isolaram; ao invés de integrar, alienaram.

Bem sabemos que milhares vivem hoje à margem da graça do Reino.

Tais quais enfermos ruminantes, em isolamento e tristeza, regurgitam culpas falsas e reais, alienados de si, dos outros e de Deus.

Não lhes foi anunciado o evangelho do Reino, mas um ‘outro evangelho’ que Deus não avaliza.

Atraídos por falsas e não realizáveis expectativas, buscaram vida tranqüila, próspera e saudável; casamentos perfeitos, filhos e netos exemplares; carreira profissional sempre ascendente, sucesso. Porém…

Apesar de todos os esforços, orações, dízimos e incontáveis participações em eventos, para a imensa maioria a pressão ainda sobe, a artéria entope, o menisco se desgasta, a unha encrava, o carro quebra, a empresa fali, e em alguns casos, até o casamento não resiste.

Derrotados por uma teologia equivocada e um mundo cruel, saem pela porta dos fundos, ressentidos com Deus, com a igreja, com a vida.

Há aqueles que se afastam decepcionados com os próprios crentes.

Isto porque no ‘outro evangelho’ a conversão é percebida como transformação instantânea.

Nesta perspectiva a igreja é o lugar de congraçamento dos perfeitos, um grande clube vip.

Mas a verdadeira igreja não é isso…

É verdade que somos abençoados na igreja, que irmãos maduros nos acolhem, enxugam nossas lágrimas, tratam nossas feridas e nos ensinam a caminhar. Mas é também verdade que na igreja somos julgados, traídos, difamados e explorados por gente do nosso próprio grupo, seja o coral, o louvor, ou a terceira idade.

Na linguagem bíblica, parece haver muito joio pra pouco trigo.

O ‘outro evangelho’ nos aliena ainda quando cobra de nós mesmos a instantânea transformação.

É verdade que algumas coisas podem e de fato, devem mudar na conversão.

Há aqueles que são curados milagrosamente de vícios que os acorrentavam há anos; outros são libertos de espíritos malignos que os aprisionavam desde pequenos.

Isto de fato acontece. É o poder do Evangelho. Mas outros não…

Não demora muito, porém, mesmo estes que foram milagrosamente libertos, percebem que apesar destas mudanças reais e significativas, outras áreas, antes dormentes, apresentam-se agora como grandes fontes de luta.

Acabam, enfim, por identificar em seu próprio coração resistentes laços de avareza, preguiça, lascívia e orgulho.

Quanto mais luz, mais percebemos as rachaduras…

Esta constatação os faz viver cabisbaixos ou lhes empurra numa busca desesperada por uma experiência catártica que, de uma vez por todas, expulse seus domesticados e obesos demônios.

Na verdade, como diz o ditado: “De perto ninguém é normal”!

Melhor: “De perto, todos são miseráveis pecadores”, mesmo após a conversão.

O que é, então, a igreja?

Qual a proposta do evangelho do Reino?

Igreja é a congregação dos perdoados, a comunidade que sinaliza o Reino anunciado por Jesus.

É como um hospital; mas não um hospital comum, destes modernos que mais se parece um hotel.

A igreja é como um hospital de guerra, onde feridos graves são recebidos a todo o momento. Há macas no corredor, sangue e outros não tão nobres fluídos pelo chão. Faixas usadas estão pelo canto. O odor não é de forma alguma agradável. Ainda há dor, choro, e pode-se ouvir gemidos pelos corredores…

Mas há, sim, curas, restaurações, cicatrizações e alegrias.

Crianças nascem o tempo todo! Adolescentes jogam bola no pátio improvisado. A cantina é sempre movimentada e barulhenta, e o médico-diretor é atencioso, paciente e muito capaz. Um hospital assim é tudo o que um soldado ferido almeja. Ele sabe que ali encontrará alívio e restauração. Todos, sem exceção, trabalharão por sua restauração. Essa é a igreja do evangelho do Reino.

Evangelho é boa notícia! A paz já foi feita, a Lei foi cumprida por Jesus! A reconciliação foi estabelecida, pois a justiça foi feita na cruz! Deus perdoa a todos os que se reconhecem pecadores. Estão salvos da ira vindoura todos os que crêem em seu amor e pela fé apropriam-se da morte de seu Filho na cruz. Não precisamos mais nos esconder; não precisamos mais representar; não precisamos mais nos afastar.

O Evangelho do Reino é liberdade, compaixão, esperança, amor. É comunhão, integração, acolhimento.

O Evangelho do Reino é uma santa celebração!

A igreja-hospital-de-guerra tem uma equipe especializada em recolher feridos. Eles se arriscam em meio a bombas para trazer os solitários, os abatidos, os fracassados…

Que tal buscar aqueles que foram surpreendidos pela crueldade da vida, dos irmãos e do seu próprio coração? Anuncie-lhes o Evangelho! A boa notícia! Eles não precisam mais fazer hora no boteco aguardando surgir a pureza de coração. O médico os recebe da forma que estão. O perdão precede o arrependimento! O hospital está aberto!

Isto é graça, este é o Reino. Nele, na igreja-hospital-de-guerra é proibida e entrada de pessoas perfeitas!

Em suas celebrações alguns aparecem enfaixados, outros de muleta, outros com tampões nos olhos. Que cena! Mas todos estão vivos e celebram a vitória de seu médico-general. Ainda há luta lá fora, mas é só uma questão de tempo. Em breve soará a trombeta da vitória! E nós? Nós pularemos pelos campos, cheios de alegria, saúde e paz…

Enquanto a trombeta não toca, nós celebramos!

Não nosso bom comportamento, saúde, sucesso profissional ou familiar. Celebramos não nossa performance ou capacidade de permanecer em pé… Celebramos nosso Médico, nosso Redentor, nosso Salvador, nosso Amado Pai! Celebramos a graça de sermos perdoados, feitos santos, santificados, justificados. Celebramos sermos amados.

Brennan Manning em seu livro “O Evangelho Maltrapilho” (Editora Textus, 2005) nos lembra: somos santos maltrapilhos.

Nossas fardas estão rasgadas. Algumas feridas ainda sangram. Nós mancamos, sim…!

Mas nosso manquejar é vitorioso!

Bem vindo maltrapilho!

Vamos celebrar!

Deserto ou jardim? ~ por José Roberto Prado

Deus prometeu a Josué: ‘toda terra que pisar os teus pés será tua’ (Js 1.3). Por esta promessa Israel recebia pela fé a posse da terra. Era um presente, mas havia inimigos a serem vencidos. Deus convida seus filhos à maturidade e esta, sempre, envolve batalhas ferozes. Havia gigantes em Canaã. Somos convocados a derrotar os gigantes da nossa própria terra. Que terra é essa?

Igreja é povo de Deus. Distingue-se pela posse de algo que só Deus pode conceder. É uma dádiva, mas deve também ser buscada. O preço por não lutar é ter que conviver com inimigos e, muitas vezes, ser derrotados por eles, pois resistem em sair. Esgueirado-se por entre as sombras, quando menos esperamos apropriam-se daquilo que é nosso: nossa vida, nossa liberdade, nossa alegria, nossa paz.

Na nova aliança, o coração – centro da vontade, pensamentos e emoções – é a ‘terra’ a ser conquistada. Não mais um pedaço de chão, fertilidade, estabilidade financeira ou saúde física. Deus presenteia-nos com um novo coração, uma nova identidade, a possibilidade de posse de nosso próprio ser, de desfrutarmos a paz de “estar NEle” e “Ele em nós”! Nosso coração torna-se, assim, ambiente de adoração, de habitação da glória do Deus Excelso. Somos feitos “santuário do Deus vivo” (1Co3.16). Continue lendo

Na montanha, o Senhor proverá! ~ por José Roberto Prado

A  expressão acima é reflexo da resposta que o patriarca Abraão dá ao seu seu filho Isaque quando este lhe pergunta a caminho do Monte Moriá: As brasas e a lenha estão aqui, mas onde está o cordeiro para o holocausto? (Gn 22.7)

Isaque, um jovem adolescente na época, acompanhava seu velho pai numa jornada de três dias rumo ao monte Moriá para uma ocasião especial. Não sabia ele que Deus, contrariando todas as promessas feitas a Abraão em relação a sua própria vida, havia ordenado ao seu pai que oferessesse, ele mesmo, Isaque, em sacrifício…

De tão dramática, esta narrativa gerou um provérbio professado em momentos de crise: “Na montanha, o Senhor proverá!

É uma corajosa declaração de fé no Deus que prova, mas que também nos dá o escape. Continue lendo

Jacó e o Deus que nos quer lutando ~ por José Roberto Prado

Em nossa caminhada de fé, seguindo as pegadas de Cristo, mais freqüentemente do que gostaríamos de admitir, as circunstâncias levantam-se contra as promessas que recebemos de Deus em sua Palavra.

Como um alpinista que segue em direção ao cume, quanto mais avançamos pra perto de Deus, mais íngreme se torna a parede à nossa frente, mais escorregadio nosso chão, mais frio e rarefeito o ar; difícil até mesmo pra respirar.

Diante desta incontestável realidade, olhamos para cima, perplexos, e paramos:

Não faz sentido! Continue lendo

Sozinhos, nós não podemos. Sem nós, Ele não quer! ~ por José Roberto Prado

Creio em Deus.

Creio em seu propósito de compartilhar sua glória — seu amor perfeito — com todos os povos da terra.

Creio que o universo e as nações serão um dia restaurados e reconciliados com o Criador.

Creio no projeto chamado Reino de Deus, e seu principal agente é a Igreja – um povo transformado pelo poder do Evangelho de Cristo – que vive de maneira transformadora na sociedade.

Por conseguinte, entendo que Deus, em sua soberania, sabedoria e graça, decidiu agir em conjunto conosco, seu povo.

Considerada a grandeza da tarefa e nossa própria limitação, como povo que ainda está em processo, só posso aceitar esta verdade pela fé, submetendo-me à revelação de sua Palavra, entendendo que Ele deseja usar instrumentos frágeis para que o mérito seja todo Dele.

Pra dizer em outras palavras: “Sozinhos, nós não podemos; sem nós, Ele não quer!” Continue lendo

O Deus Amigo ~ por José Roberto Prado

Deus nos fez para um propósito único, sublime.

Há tempos os teólogos se alegram em dizer que “o fim supremo do ser humano é glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre” (Catecismo de Westminster).

Dito de outra forma, a Bíblia revela um Deus que quer ser nosso amigo!

A cristandade ocidental, no entanto, para nossa tristeza, tem achado mais fácil desenvolver a dimensão do servir, do trabalhar para Ele, do que desfrutá-lo!

O fato do Deus bíblico, revelado plenamente em seu Filho Jesus Cristo,  ser totalmente bom faz com que todos os seus propósitos sejam puros, benignos e altruístas.

Assim, se Ele nos fez é porque isto é profundamente bom para nós também. E o que pode ser ao mesmo tempo bom para um Deus todo-poderoso e santo e também bom para nós, seres criados?

O relacionamento.

O convívio.

A amizade! Continue lendo

Crescer é preciso! ~ por José Roberto Prado

“A vida cristã não deve ser vivida sempre na dimensão cambaleante dos primeiros passos, na energia limitada do leite para recém-nascidos. É preciso crescer, amadurecer, firmar-se nas palavras daquele que nos chamou”.

A frase acima dificilmente encontraria oposição. Todo cristão concorda que é preciso crescer! Nosso mal estar começa quando nos negamos a perceber os meios pelos quais Deus nos quer levar ao crescimento. Aí começa a chiadeira geral…

Bem, dizemos, se for desse jeito, não quero crescer (como se tivéssemos alternativa!). Sabemos muito bem que crescer implica em dor, em negações, cortes, assumir ônus de decisões, enfim, viver em conformidade com a Palavra que já conhecemos… Cientes disso muitos se contentam em ser somente iniciantes na fé…

Mas não é este o plano de Deus.

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O Cristo Placebo e a Igreja de Farinha ~ por José Roberto Prado

Algum tempo atrás foi divulgada pela Assembléia Legislativa da Paraíba a lista com o resultado da consulta popular onde foram escolhidas as sete maravilhas do Estado. Após intensa mobilização de algumas cidades, se esforçando para destacar suas belezas naturais e arquitetônicas, aqui está o resultado:

– Lajedo do Pai Mateus, em Cabaceira;

– Igreja de São Francisco e Ponta do Seixas, em João Pessoa;

– Cristo Rei, em Itaporanga;

– Pedra do Ingá, em Ingá;

– Memorial do Frei Damião, em Guarabira; e

– Vale dos Dinossauros, em Sousa.

É de se notar a presença preponderante do fator religioso nestas escolhas. À exceção do Vale dos Dinos e da Ponta do Seixas, todos os outros estão de uma forma direta ou indireta relacionados à fé popular. Será que isto confirma a noção já antiga do coração devoto de nossa gente? Pode ser.

Quero lembrar também que mesmo num espectro maior, quando pessoas de outras nações foram chamadas no ano passado para escolher as sete “novas” maravilhas do mundo, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, foi escolhido. Interessante… O “Cristo” tanto foi escolhido como uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo, como também aparece na nossa lista Paraibana.

Vale lembrar que não foi o Jesus Cristo histórico, filho de Deus Salvador, revelado nos Evangelhos, mas sim a estátua de cerca de 30 metros de altura, localizada no alto da Serra do Cantinho, construída entre 1985 e 2000 pelo arquiteto Alexandre Azevedo de Lacerda, na entrada da cidade de Itaporanga, que foi escolhida.

Tem muita gente escolhendo a Cristo hoje em dia… Mas, preciso dizer, não o Cristo vivo, que disse ser necessário que seus seguidores se arrependessem, carregassem sua própria cruz a fim de segui-lo. Quem está sendo seguido e escolhido é um “cristo-placebo”, não o verdadeiro!

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Compromisso Radical ~ por José Roberto Prado

Muitas vezes, estando à vontade em nossas casas ou igrejas aqui no Brasil, onde há tanta liberdade para expressarmos a fé em Cristo, nossa tendência natural é a de nos esquecermos dos nossos irmãos que estão longe, onde a vivência desta mesma fé assume contornos mais rudes, por vezes cruéis.

Passando por dificuldades que sequer imaginamos e chorando enquanto semeiam, eles plantam para que outros possam mais tarde colher!

Algum tempo atrás, por causa da sua fé em Jesus Cristo, mais um jovem pastor africano foi martirizado no Congo, África.

Sabendo da aproximação de seus algozes, escreveu uma carta, encontrada no meio de seus pertences pouco depois da sua morte. Continue lendo

A Arena da Batalha Espiritual ~ por José Roberto Prado

Os estrategistas militares são unânimes ao afirmar que ignorar ou menosprezar o inimigo é caminhar para a derrota no campo de batalha.

Por outro lado, sobrevalorizar a força do adversário torna o lutador derrotado antes mesmo de iniciar o combate.

Ambos os perigos rondam a igreja em nossa geração.

A Palavra de Deus e o Espírito Santo nos orientam a não cairmos nestes erros. É na obediência à Palavra de Cristo e na dependência do Espírito Santo em oração que o discípulo encontra o poder para uma vida de vitória sobre as forças do mal.

A arena da batalha é sua própria mente e coração. Continue lendo