Arquivo da tag: meio ambiente

Rio Pinheiros insiste em viver apesar de tudo e todos

Sabe aqueles filmes de ação em que surgem inverossímeis heróis enfrentando uma centena de bandidos e, mesmo com tanta gente querendo matá-lo, no final sobrevive? Pois essa comparação pode ser feita com um herói paulistano chamado Rio Pinheiros. Ele insiste em se manter vivo apesar de tantos ataques mortais. Mas aí cabe uma diferença que seria capaz de derrubar qualquer mocinho de filme: as agressões contra o Pinheiros já duram mais de um século.

[Reinaldo Canto, Carta Capital, 5 fev 13] São muitos e muitos anos de incontáveis despejos de esgotos domésticos e industriais, descaso das autoridades, mas também das pessoas que não lhe tem nenhum respeito (com algumas exceções, como o Projeto Pomar). Transformaram suas águas, antes responsáveis pela vida, em capazes de matar. Aliás, nesse contexto vida e morte, creio ser interessante refletir sobre o destino de rios como o Pinheiros, e de tantos outros que passam por cidades e regiões metropolitanas densamente povoadas. Continue lendo

Urbanização no Brasil deve chegar a 90% até 2020

Relatório da ONU-Habitat com foco em cidades latino-americanas revela dados sobre pressão urbana, meio ambiente e habitação. Números servem de base para elaboração de políticas públicas.

[DW, 21 ago 12] O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) apresentou nesta terça-feira (21/08) um relatório com informações sobre população e urbanização nas cidades latino-americanas. De acordo com o estudo, a taxa de urbanização no Brasil e nos países do Cone Sul chegará a 90% até 2020.

No relatório inédito, chamado Estado das Cidades da América Latina e Caribe, foram abordados tópicos como desenvolvimento econômico, habitação, espaços públicos, serviços básicos urbanos, meio ambiente e governança urbana. Continue lendo

ONU cria outra forma de medir riqueza; Brasil fica em 5ª posição

[Sabine Righetti, Folha SP, 18 jun 12] A ONU lançou no domingo (17) na Rio+20 uma nova forma para avaliar o desempenho econômico dos países. A diferença para os índices existentes, como PIB (Produto Interno Bruto) e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é que nesse os recursos naturais entram na conta.

A métrica, batizada de IRI (Índice de Riqueza Inclusiva), inclui, no cálculo do crescimento econômico dos países, recursos como áreas agrícolas, florestas, combustíveis fósseis e reservas minerais.

Eles compõem o indicador de recursos naturais, um dos quatro analisados pelo IRI (veja infográfico). Continue lendo

Terra leva um ano e meio para repor recursos consumidos anualmente, diz estudo

Os seres humanos consomem, a cada ano, um montante de recursos naturais 50% superior ao que a Terra pode produzir, de forma sustentável nesse mesmo período. Os dados são da ONG WWF.

[Richard Black, BBC Brasil, 15 mai 12] De acordo com um relatório “Living Planet”, divulgado nesta terça-feira, a Terra leva um ano e meio para repor todos os recursos que a população mundial consome a cada ano. Para muitos ambientalistas, a Rio+20, conferência internacional que será realizada no Brasil em junho, é uma oportunidade para os países aumentarem de forma urgente a proteção à natureza. Continue lendo

Energia eólica deve superar a gerada por usinas nucleares no mundo até 2020

O avanço do vento no mundo é irresistível. Limpa e barata, a eletricidade de origem eólica já equivale à produzida por 280 reatores e em breve passará à frente da energia nuclear no mundo.

[Gero Rueter, DW, 30 abr 12] A importância da energia eólica cresce rapidamente em todo o mundo. Na Espanha e na Dinamarca, o vento é a fonte de 20% da eletricidade. Na Alemanha, essa percentagem é de 10% e, segundo os prognósticos, até 2020, será de 20% a 25%.

Segundo a Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês), no ano passado foram construídas novas centrais eólicas perfazendo 40 gigawatts (GW) de energia produzida. Com isso, o total da energia ambientalmente correta em todo o mundo chegou a 237 GW no final de 2011, o equivalente ao desempenho de 280 reatores termonucleares. Continue lendo

Michel Foucault, o Jornal Nacional e a Chevron ~ Luís Eustáquio Soares

[Observatório da Imprensa, 22 nov 11] Michel Foucault inicia seu extraordinário livro Arqueologia do Saber (1969) questionando algumas identidades fixas que orientam as nossas vidas, na suposição de que elas sejam eternas e que sempre tenham existido. O que é o sujeito? O que é uma pessoa, com sua identidade de gênero, étnica, econômica? Existe alguém que seja ele mesmo, uma identidade fixa, definida?

Quem sou eu?

Este é, pois, o primeiro axioma: não existe sujeito integralmente ele mesmo.

Somos muitos, com algumas tendências que prevalecem através das quais me fazem pensar ser eu mesmo um comunista, um poeta, um professor, um homem, um brasileiro, mineiro, com uma biografia marcada pela pobreza e pela ação solidária e socialista de minha mãe, que tem 15 filhos e que isso e isso e isso. Percebo-me a partir desses viveres que vivi, embora não sejam de forma alguma isolados, apenas meus, mas também de muitas outras pessoas: milhares, milhões, bilhões.

E eis que chego ao segundo axioma: eu não sou eu mesmo, mas um arquivo de experiências de vidas, inclusive de vidas antípodas das que acredito ser eu mesmo. Eu sou também ditador, torturador, indiferente, cínico, assassino.

Crenças de fixidez identitária

E eis que alcanço o terceiro axioma: sou o mundo inteiro, todas as possibilidades de ser, no atual presente histórico, embora manifeste tudo isso tendo em vista as misturas que fui realizando no decorrer de minha vida, a partir das migalhas de ser – em função da pobreza –, que pude catar aqui e ali. Continue lendo

Terremoto é desastre natural que mais mata, diz estudo

Para cada pessoa morta em um terremoto, outras três ficam feridas, afirma estudo

[BBC Brasil, 4 nov 11] Um estudo feito por pesquisadores americanos concluiu que os terremotos têm mais impacto na saúde humana que outros desastres naturais, como enchentes e furacões.

Mais de um milhão de tremores de intensidades diversas são registrados por ano no mundo, afirma a pesquisa, publicada nesta sexta-feira na revista científica britânica Lancet.

Além das mortes imediatas, as vítimas dos tremores incluem indivíduos seriamente feridos – especialmente crianças – que não podem receber tratamento por causa da destruição da infraestrutura.

No terremoto do Haiti, por exemplo, 53% dos pacientes tratados após o tremor nas proximidades de Porto Príncipe tinham menos de 20 anos de idade. Cerca de 25% tinham menos de cinco anos. Continue lendo

Relatório de Desenvolvimento Humano 2011 (PDF completo)


Sustentabilidade e equidade: Um futuro melhor para todos.

O grande desafio do desenvolvimento do século XXI é a salvaguarda do direito das gerações de hoje e do futuro a vidas saudáveis e gratificantes. O Relatório do Desenvolvimento Humano de 2011 oferece novos e importantes contributos para o diálogo global sobre este desafio, mostrando como a sustentabilidade está indissociavelmente ligada à equidade – a questões de imparcialidade e justiça social e de um maior acesso a melhor qualidade de vida.

O Relatório também defende reformas para promover a equidade e a expressão. Temos uma responsabilidade colectiva para com os menos privilegiados entre nós, actualmente e no futuro, em todo o mundo – assegurar que o presente não seja inimigo do futuro. Este Relatório pode ajudar-nos a divisar os caminhos em diante.

Arquivo Completo (PDF)

As previsões sugerem que o continuado insucesso na redução dos riscos ambientais graves e das crescentes desigualdades ameaça abrandar décadas de progresso sustentado da maioria pobre da população mundial – e até inverter a convergência global do desenvolvimento humano. O nosso notável progresso no desenvolvimento humano não pode continuar sem passos globais arrojados para a redução dos riscos ambientais e da desigualdade. Este Relatório identifica caminhos para que as pessoas, as comunidades locais, os países e a comunidade internacional promovam a sustentabilidade ambiental e a equidade de formas mutuamente reforçadoras. Continue lendo

IDH pode recuar se países não enfrentarem desafio ambiental

[Lisandra Paraguassu, Lígia Formenti e Rafael Moraes Moura; Estadão, 2 nov 11] Se nada for feito, uma parte considerável dos avanços mais recentes no desenvolvimento humano poderá ser perdida nas próximas décadas pela degradação ambiental. Projeções feitas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no relatório Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 2011 apontam que o IDH poderá ser 8% menor do que a projeção inicial em um cenário de “desafio ambiental” em que se confirmem as perspectivas atuais de aquecimento global.

Na África Subsaariana e no sul da Ásia, regiões mais pobres do globo, essa diferença pode chegar a 12%.

“Em um cenário de ‘catástrofe ambiental’, ainda mais adverso, que antevê um vasto desflorestamento e degradação do solo, reduções dramáticas da biodiversidade e uma aceleração dos fenômenos climáticos extremos, o IDH global seria aproximadamente 15% inferior ao previsto”, diz o relatório.

Os efeitos da degradação ambiental, avisa o PNUD, serão sempre mais fortes justamente na população mais vulnerável. Seus principais efeitos são o aumento da poluição, a diminuição da água potável, das reservas pesqueiras e da terra agricultável e o aumento das catástrofes ambientais como secas e enchentes. A previsão mais pessimista do relatório aponta para um possível aumento de 30% a 50% no valor dos alimentos nas próximas décadas, com impacto direto entre os mais pobres.

“De uma maneira geral, as tendências ambientais ao longo das últimas décadas demonstram uma deterioração em diversas frentes, com repercussões adversas no desenvolvimento humano, especialmente para os milhões de pessoas que dependem diretamente dos recursos naturais para a sua subsistência”, diz o relatório. “Estas previsões sugerem que, em muitos casos, os mais desfavorecidos suportam e continuarão a suportar as repercussões da deterioração ambiental, ainda que pouco contribuam para o problema.”

Brasil: um dos países que mais terá migrações climáticas

[Débora Spitzcovsky, Planeta Sustentável, 31 out 11] O estudo internacional Preparing for Resettlement Associated with Climate Change (Preparando-se para Reassentamentos Associados às Mudanças Climáticas, em português), publicado na última edição da revista Science, apontou que o Brasil é um dos países que mais sofrerá com osdeslocamentos populacionais ocasionados pelas mudanças climáticas.

De acordo com os pesquisadores, o aumento das secas e do nível do mar e a intensificação dos tufões serão os principais responsáveis pelas migrações climáticas do Brasil, que partirão das regiões litorâneas, sobretudo do Nordeste. A pesquisa aponta, ainda, que outra grande responsável pelos deslocamentos populacionais brasileiros é a expansão das hidrelétricas, que, entre outros impactos, expulsa de suas casas as pessoas que residem nas áreas que serão alagadas.

Liderado pela brasileira Márcia Castro e pelo norte-americano Alex de Sherbinim, o estudo tem a intenção de alertar para a necessidade da humanidade se preparar para lidar, em um futuro próximo, com os deslocamentos populacionais causados pelas alterações climáticas.

O estudo Preparing for Resettlement Associated with Climate Change está disponível, na íntegra e em inglês, para os assinantes da revista Science.

A falsidade da superpopulação ~ Bauman & Rovirosa-Madrazo

Uma nova ética do consumo contra a bomba demográfica

“O impacto da humanidade sobre o sistema que sustenta a vida sobre a Terra não depende simplesmente do número de pessoas que vivem no planeta, mas também do modo em que se comportam. Se considerarmos esse aspecto, o quadro muda totalmente: o problema demográfico existe principalmente nos países opulentos. Na realidade, existem muito ricos.”

A análise é do sociólogo polonês Zygmunt Bauman e da jornalista e pesquisadora mexicana Citlali Rovirosa-Madrazo, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 15 mar 11; tradução Moisés Sbardelotto; IHU Online].

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“Eles são sempre muitos. ‘Eles’ são aqueles que deveriam ser menos ou, ainda melhor, não ser, justamente. Ao contrário, nós nunca somos o suficiente. De ‘nós’, deveria haver sempre mais”. Eu escrevi isso em 2005, em Vidas Desperdiçadas (Ed. Zahar, 2005). A meu ver, tanto agora quanto então, a “superpopulação” é uma ficção estatística, um nome codificado que indica a presença de um grande número de pessoas que, ao invés de favorecerem o funcionamento fluido da economia, tornam mais difícil alcançar e superar os parâmetros utilizados para medir e avaliar o seu correto funcionamento. Esse número parece aumentar de modo incontrolável, acrescentando continuamente os gastos, mas não os ganhos. Continue lendo

O problema não é a população

Políticas populacionais têm pouco impacto sobre a forma como uma minoria de seres humanos usa os recursos da Terra.

[Juliette Jowit, The Guardian; IHU; 30 out 11, tradução Moisés Sbardelotto].

O nascimento de um bebê é geralmente uma ocasião de alegria. A chegada, porém, da 7.000.000.000ª pessoa nos próximos dias está sendo aguardada com crescente ansiedade acerca do impacto devastador dos seres humanos no planeta. Os ambientalistas estão discutindo sobre de quem ou o do que é a culpa: o número total de pessoas, ou a quantidade de água, alimentos, minérios ou ar limpo que cada uma delas demanda. O professor Paul Ehrlich, cujo livro The Population Bomb ajudou a inflamar o debate, compara o impacto ambiental à área de um retângulo: um lado é o tamanho da população, o outro é o seu consumo.

Embora o retângulo de Ehrlich seja pura ilustração, o “problema-população” para o ambiente é mais bem descrito como dois retângulos, cada um representando o número de pessoas na vertical e seus estilos de vida na horizontal: um quadrante alto e magro engloba bilhões de pessoas que usam muito poucos recursos da Terra; o outro, um pouco mais curto e extraordinariamente longo engloba a minoria de seres humanos que usam a vasta maioria das riquezas naturais. O Banco Mundial estima, por exemplo, que a quinta parte mais rica do mundo detém mais de três quartos da renda; a quinta parte mais pobre, apenas 1,5%. Continue lendo