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A espantosa distribuição da riqueza mundial [gráfico]

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O planeta possui 7 bilhões de pessoas. Dados espantosos sobre a distribuição da riqueza:

1 – Qualquer pessoa que possua bens em valor total superior a R$ 8.600,00 (uma moto usada) possui mais riqueza do que 3 bilhões e 500 milhões de pessoas no mundo inteiro. Está na metade superior da posse de riquezas.

2- Quem possui bens em valor superior a 162 mil reais (uma casa simples em São Gonçalo, RJ) possui mais riqueza do que 6 bilhões e 300 milhões de pessoas. Pertence aos dez porcento mais ricos do mundo.

3- Quem tem bens em valor superior a um milhão e seiscentos mil reais (uma boa casa em Camboinhas, Niterói, RJ), possui mais riqueza do que 6 bilhões e 930 milhões de pessoas. Faz parte da fatia correspondente a um porcento da população mundial, mais rica do que os 99% restantes.

Conclusão: num planeta extremamente injusto, até as classe média e média alta são consideradas ricas. Apenas trinta e dois milhões de pessoas podem ser consideradas, de fato, ricas, sendo que 161 delas controlam cerca de 140 corporações que, por sua vez, dominam praticamente todo o sistema econômico e político do mundo. Esse é o sistema que defendemos com unhas e dentes?

[Publicado originalmente aqui, por Marcio Valley, em 21 out 2013]

A injustiça mata a democracia. ~ Zygmunt Bauman

Portinari-Os MiseráveisNo seu novo livro, La ricchezza di pochi avvantaggia tutti. Falso! [A riqueza de poucos beneficia a todos. Falso!] (Ed. Laterza, 112 páginas), Zygmunt Bauman trata do tema da riqueza que não gera bem-estar. “A corrida ao lucro individual não é uma vantagem para todos: as disparidades crescem”. Um trecho do livro foi publicado no jornal La Repubblica, 25 fev 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto. [Publicado no IHU, 27 fev 2013] Eis o texto.

Um estudo recente do Instituto Mundial de Pesquisas da Economia do Desenvolvimento (World Institute for Development Economics Research), da Universidade das Nações Unidas, relata que, em 2000, o 1% dos adultos mais ricos possuía sozinho 40% dos recursos globais, e que os 10% mais ricos detinham 85% da riqueza mundial total. A metade inferior da população adulta no mundo possuía 1% da riqueza global.

Mas esse é apenas o retrato de um processo em curso… Notícias cada vez mais negativas e cada vez piores para a igualdade dos seres humanos e, portanto, também para a qualidade da vida de todos nós se sucedem dia após dia.

“As desigualdades planetárias atuais fariam corar de vergonha os inventores do projeto moderno, Bacon, Descartes e Hegel”: é a consideração com a qual Michel Rocard, Dominique Bourg e Floran Augagner concluem o artigo Le genre humain menacé, publicado com a assinatura de todos os três no Le Monde do dia 2 de abril de 2011.

Na época das Luzes, em nenhum lugar da terra o nível de vida era mais do que duas vezes superior ao da região mais pobre. Hoje, o país mais rico, o Qatar, se orgulha de ter uma renda per capita de nada menos do que 428 vezes mais alta do que a do país mais pobre, o Zimbábue. E estas, não nos esqueçamos, são comparações entre médias, que depois se encaixam na historinha da galinha de Trilussa…

A obstinada persistência da pobreza em um planeta que luta com o fundamentalismo do crescimento econômico já é o suficiente para induzir as pessoas pensantes a se deterem por um momento e a refletirem sobre as vítimas diretas e indiretas de tal distribuição desigual da riqueza. O abismo cada vez mais profundo que separa os pobres e os que não têm perspectiva dos ricos otimistas, confiantes e barulhentos – um abismo de tal profundidade que já está acima das capacidades de escalada de qualquer um, exceto os alpinistas mais musculosos e menos escrupulosos – é um razão evidente para se estar gravemente preocupado.

Como os autores do artigo recém-mencionado advertem, a principal vítima da desigualdade que se aprofunda será a democracia, já que os meios de sobrevivência e de vida digna, cada vez mais escassos, procurados e inacessíveis, se tornam objeto de uma rivalidade brutal e talvez de guerra entre os privilegiados e os necessitados deixados sem ajuda.

Uma das fundamentais justificações morais adotadas em favor da economia de livre mercado, isto é, que a busca do lucro individual também fornece o melhor mecanismo para a busca do bem comum, se encontra enfraquecida. Nas duas décadas que precederam a ascensão da última crise financeira, na grande maioria dos países da OCDE, a renda interna real para os 10% das pessoas no topo da pirâmide social aumentou com uma velocidade 10% superior à dos mais pobres. Em alguns países, a renda real da camada inferior da pirâmide, na realidade, diminuiu.

As disparidades de renda, portanto, se ampliaram notavelmente. “Nos Estados Unidos, a renda média dos 10% no topo é atualmente 14 vezes a dos 10% de baixo”, vê-se forçado a admitir Jeremy Warner, editor-chefe do The Daily Telegraph, um dos jornais mais entusiasmados em exaltar a “mão invisível” dos mercados que seria capaz, aos olhos tanto dos redatores quanto dos leitores, de resolver todos os problemas por eles criados (e talvez alguns a mais).

Warner acrescenta: “A crescente desigualdade da renda, embora obviamente indesejável do ponto de vista social, não tem necessariamente grande relevância se todos se tornarem mais ricos, ao mesmo tempo. Mas se a maior parte das vantagens do progresso econômico vão para um número relativamente restrito de pessoas que já ganham uma renda elevada – que é o que está acontecendo na realidade de hoje – isso começa evidentemente a se tornar um problema”.

A admissão, cauta e morna no seu teor, mas cheia de compreensão mesmo que semiverdadeira no seu conteúdo, chega ao pico de uma maré crescente de descobertas dos pesquisadores e de estatísticas oficiais que documentam a distância rapidamente crescente entre aqueles que estão em cima e aqueles que estão embaixo na escala social.

Em flagrante contradição com as declarações dos políticos, que pretendem ser recicladas como crença popular não mais sujeita à reflexão, nem controlada, nem posta em discussão, a riqueza acumulada no topo da sociedade falhou clamorosamente em “filtrar para baixo”, de modo a tornar todos nós um pouco mais ricos ou a nos fazer sentir mais seguros, mais otimistas acerca do nosso futuro e do dos nossos filhos, ou mais felizes…

Na história humana, a desigualdade, com toda a sua tendência por demais evidente de se autorreproduzir de forma cada vez mais extensa e acelerada, certamente não é uma novidade. No entanto, quem trouxe recentemente a eterna questão da desigualdade, das suas causas e das suas consequências novamente para o centro da atenção pública, tornando-a assunto de intensos debates, foram fenômenos totalmente novos, espetaculares, chocantes e iluminadores.

Escravidão: um mal do século 21

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Quase 30 milhões de pessoas estão escravizadas no mundo, diz ONG

[Belinda Goldsmith, Reuters, Londres, 17 Out 2013] Quase 30 milhões de pessoas vivem escravizadas no mundo, a maioria homens, mulheres e crianças traficadas por quadrilhas para exploração sexual e trabalho não qualificado, segundo um índice global divulgado nesta quinta-feira (17 out 2013, horário local) pela ONG Walk Free Foundation.

O índice classifica 162 países de acordo com o número de pessoas em condições análogas à escravidão, risco de escravização e força das reações governamentais a essa atividade ilegal.

O trabalho mostra que dez países respondem por 76 por cento dos 29,8 milhões de casos de escravidão estimados no mundo: Índia, China, Paquistão, Nigéria, Etiópia, Rússia, Tailândia, República Democrática do Congo, Mianmar e Bangladesh.

A escravidão moderna está associada ao tráfico de pessoas, trabalhos forçados e práticas como vinculação por dívida, casamento forçado e venda ou exploração de menores.

O pesquisador Kevin Bales disse esperar que o índice, primeiro relatório anual monitorando a escravidão em nível global, conscientize a opinião pública, pressionando os governos a agir mais.

Ele disse que a corrupção, e não a pobreza, é a maior causa da escravidão, e recomendou leis para impedir a ação do crime organizado.

“Sempre quando analisamos as estatísticas verificamos que a corrupção é mais poderosa do que a pobreza na condução da escravidão”, disse Bales, professor de escravidão contemporânea no Instituto Wilberforce para o Estudo da Escravidão e da Emancipação da Universidade de Hull, no norte da Inglaterra.

“Fundamentalmente, isso é uma questão de crime violento”.

O relatório mostrou que a Mauritânia é o país com maior número de escravos em relação à população, com 160 mil pessoas escravizadas em um total de 3,8 milhões de habitantes.

Isso se deve a formas culturalmente aprovadas de vassalagem e de índices elevados de casamentos infantis.

Em números absolutos, os países com mais escravos são a Índia (14 milhões) e a China (3 milhões).

Um novo retrato da desigualdade global

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Sabe-se perfeitamente hoje que as desigualdades de renda e riqueza na maior parte dos países ricos, e especialmente nos Estados Unidos, dispararam, nas últimas décadas e, de modo trágico, agravaram-se ainda mais desde a Grande Recessão. Mas e no resto do mundo? A distância entre os países está se reduzindo, à medida que potências econômicas como a China e Índia resgatam centenas de milhões de pessoas da pobreza? E no interior das nações pobres e de riqueza média, a desigualdade está piorando ou sendo reduzida? Estamos caminhando para um mundo mais igual ou mais injusto?

[Por Joseph Stiglitz, no blog The Great Divide, do New York Times | Imagem: Javier Jaen | Tradução: Antonio Martins | Outras Palavras, 15 out 2013]

São questões complexas. Uma pesquisa de um economista do Banco Mundial de nome Branko Milanovic, junto com outros acadêmicos, começou a apontar algumas respostas.

A partir do século 18, a revolução industrial produziu um aumento gigantesco da riqueza na Europa e América do Norte. É claro, a desigualdade nestes países era chocante. Pense nas indústrias têxteis de Liverpool e Manchester, na Inglaterra dos anos 1820, ou nas favelas do baixo Leste de Manhattan ou do Sul de Chicago, nos 1890. Mas o abismo entre os ricos e o resto, como um fenômeno global, alargou-se ainda mais até a II Guerra Mundial. Àquela época, a desigualdade entre os países era maior que a desigualdade em seu interior.

Mas depois da Guerra Fria, no final dos anos 1980, a globalização econômica se acelerou e a distância entre as nações começou a encolher. O período entre 1988 e 2008 “pode ter representado o primeiro declínio na desigualdade global entre cidadãos do mundo desde a Revolução Industrial”, diz Milanovic, que nasceu na antiga Iugoslávia. É o autor de Os que têm e os que não têm: uma história breve e idiossincrática da desigualdade global [sem edição em português], um texto publicado em novembro último. Embora a distância entre algumas regiões tenha diminuído notavelmente – em especial, entre a Ásia e as economias avançadas do Ocidente –, persistem grandes abismos. As rendas globais, por país, aproximaram-se umas das outras nas últimas décadas, particularmente devido à força do crescimento da China e Índia. Mas a igualdade geral entre os seres humanos, considerados como indivíduos, melhorou muito pouco. O coeficiente de Gini, uma medida de desigualdade, melhorou apenas 1,4 pontos, entre 2002 e 2008.

Ou seja: embora nações da Ásia, do Oriente Médio e da América Latina como um todo, possam estar se aproximando do Ocidente, os pobres são deixados para trás em toda parte – inclusive em países como a China, onde beneficiaram-se de alguma forma da melhora dos padrões de vida. Entre 1988 e 2008, descobriu Milanovic, a renda do 1% mais rico do planeta cresceu 60%, enquanto os 5% mais pobres não tiveram mudança em seus rendimentos. E embora as rendas médias tenham melhorado bastante, nas últimas décadas, há ainda enormes desequilíbrios: 8% da humanidade abocanham 50% da renda global; o 1% mais rico fica, sozinho, como 15%. Os ganhos de renda foram maiores entre a elite global – executivos financeiros e corporativos nos países ricos – e entre as grandes “classes médias emergentes” da China, Índia, Indonésia e Brasil. Quem perdeu? Os africanos, alguns latino-americanos e gente na Europa Oriental pós-comunista e na antiga União Soviética, apurou Milanovic.

Os Estados Unidos oferecem um exemplo particularmente sombrio para o mundo. E como, de diversas maneiras, eles “lideram o mundo”, se outros seguirem seu padrão não poderemos esperar por um futuro mais justo.

Por um lado, a ampliação das desigualdades de renda e riqueza nos EUA é parte de uma tendência mundial. Um estudo de 2011, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), verificou que as desigualdades começaram a crescer no final dos anos 1970 e início dos 80, nos EUA e Grã-Bretanha (além de Israel). A tendência começou a se espalhar pelo mundo no final dos anos 1980. Na última década, as desigualdades de renda cresceram mesmo em países tradicionalmente mais igualitários, como Alemanha, Suécia e Dinamarca. Com algumas poucas exceções – França, Japão, Espanha – os 10% mais ricos, na maior parte das economias avançadas, dispararam, enquanto os 10% mais pobres ficaram para trás.

Mas a tendência não foi universal, nem inevitável. Nestes mesmos anos, países como Chile, México, Grécia, Turquia e Hungria conseguiram reduzir de modo significativo as desigualdades de renda (em aluns casos, muito altas). Isso sugere que a desigualdade é um produto da política, e não apenas de forças macroeconômicas. Não tem amparo nos fatos a ideia de que a desigualdade é um subproduto inevitável da globalização, do livre movimento de trabalho, capital, bens e serviços, ou das mudanças tecnológicas que favorecem os assalariados melhor formados ou capacitados.

Entre as economias avançadas, os EUA têm algumas das piores disparidades de renda e oportunidades, com consequências macroeconômicas devastadoras. O Produto Interno Bruto (PIB) do país mais que quadruplicou, nos últimos quarenta anos, e quase dobrou nos últimos 25, mas, como se sabe agora, os benefícios concentraram-se no topo – e, cada vez mais, no topo do topo.

No ano passado, o 1% dos norte-americanos mais ricos apoderou-se de 22% da renda da país. O 0,1% mais rico, sozinho, abocanhou 11%. E 95% de todos os ganhos de renda desde 2009 foram para o 1% mais rico. Estatísticas recentes demonstram que a renda mediana nos EUA não cresceu em quase um quarto do século. O homem norte-americano típico ganha menos do que ganhava há 45 anos, se considerada a inflação; homens que terminaram o ensino médio mas não completaram quatro anos de ensino superior recebem quase 40% menos do que há quatro décadas.

A desigualdade norte-americana começou a crescer há trinta anos, impulsionada por reduções de impostos para os ricos e relaxamento das regulamentações do mercado financeiro. Não é coincidência. O fenômeno foi agravado devido a investimentos insuficientes em infraestrutura, educação e saúde, e em redes de seguridade social. O aumento da desigualdade avança em espiral, ao corroer o sistema político e a governança democrática.

E a Europa parece ansiosa para seguir o mau exemplo dos EUA. A adesão a políticas de “austeridade”, da Grã-Bretanha à Alemanha, está conduzindo a desemprego alto, salários em queda e desigualdade crescente. Governantes como Angela Merkel, a chanceler alemã reeleita, e Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, argumentam que os problemas europeus resultam de dispêndios exagerados com o estado de bem-estar social. Mas esta linha de raciocínio apenas mergulhou o continente em recessão (ou mesmo depressão). O fato de o processo ter atingido o fundo do poço (a recessão “oficial” pode ter terminado) oferece pouco conforto para os 27 milhões de desempregados na União Europeia. Em ambos os lados do Atlântico Norte, os fanáticos da “austeridade” dizem: “vamos em frente; são pílulas amargas de que precisamos para alcançar a prosperidade”. Mas prosperidade para quem?

A financeirização excessiva – que ajuda a explicar a condição britânica de segundo país mais desigual (depois dos EUA), entre as economias avançadas – também permite compreender os mecanismos da desigualdade. Em muitos países, controles débeis sobre as empresas e coesão social erodida produziram abismos crescentes entre os rendimentos dos executivos-chefes e dos trabalhadores comuns. Ainda não se chegou ao nível de 500 x 1, das maiores corporações norte-americanas (segundo estatísticas da Organização Internacional do Trabalho), mas a níveis bem mais alto que os de antes da recessão. O Japão, que reduziu os salários dos executivos, é uma exceção notável. As inovações norte-americanas em rent-seeking – enriquecer não por meio de um aumento do tamanho do bolo, mas manipulando o sistema para abocanhar uma fatia maior – tornaram-se globais.

A globalização assimétrica produziu efeitos em todo o mundo. A mobilidade do capital obrigou os trabalhadores a fazer concessões salariais, e os governos a oferecer benefícios fiscais. O resultado é uma corrida para baixo. Os salários e condições de trabalho estão sob ameaça. Empresas pioneiras, como a Apple, cuja atividade baseia-se em grandes avanços científicos e tecnológicos (muitos dos quais, financiados pelos governos) também mostraram grande destreza em evitar impostos. Apropriam-se do esforço coletivo, mas não dão nada em retorno.

A desigualdade e pobreza entre as crianças é um desastre moral mais chocante. Elas desmentem as hipóteses da direita, segundo as quais a pobreza resulta de preguiça e escolhas erradas: as crianças não podem escolher seus pais. Nos EUA, uma em cada quatro crianças vive na pobreza; na Espanha e Grécia, uma em cada seis; na Austrália, Grã-Bretanha e Canadá, mais de uma em cada dez. Nada disso é inevitável. Alguns países optaram por criar economias menos desiguais: a Coreia do Sul, onde há meio século apenas uma em cada dez pessoas chegava à universidade, tem hoje um dos índices mais altos de acesso ao ensino superior.

Por todas estas razões, penso que estamos caminhando para um mundo dividido não apenas entre os que têm e os que não têm. Alguns países terão sucesso ao criar prosperidade compartilhada – a única que, a meu ver, é verdadeiramente sustentável. Outros, deixaram a desigualdade correr solta. Nestas sociedades divididas, os ricos irão se encastelar em bairros murados, quase completamente separados dos pobres, cujas vidas serão quase insondáveis para eles – e vice-versa. Visitei sociedades que parecem ter escolhido este padrão. Não são lugares em que a maior parte de nós gostaria de viver – seja nos enclaves enclausurados, seja nas favelas em desespero.

A incrível pirâmide da desigualdade global

Pirâmide Riqueza Global

Milionários são apenas 0,6% da população, mas abocanham doze vezes mais riqueza que 69,3% dos habitantes da Terra. Concentração e consumismo podem tornar civilização insustentável.

O relatório sobre a riqueza global, em 2012, do banco Credit Suisse (The Credit Suisse Global Wealth Report 2012) traz um quadro bastante amplo e esclarecedor da distribuição da riqueza (patrimônio) das pessoas adultas do mundo. A riqueza global foi estimada em US$ 223 trilhões em 2012 (meados do ano). Como havia 4,59 bilhões de pessoas adultas no mundo, a riqueza per capita por adulto foi de US$ 49 mil.

[Por José Eustáquio Diniz Alves, no EcoDebate, 24 jul 2013] Mas, evidentemente, existe uma distribuição desigual desta riqueza. Na base da pirâmide estão as pessoas com a riqueza menor do que 10 mil dólares. Nesta imensa base havia 3,184 bilhões de adultos, em 2012, o que representava 69,3% do total de pessoas na maioridade no mundo. O montante de toda a “riqueza” deste enorme contingente foi de US$ 7,3 trilhões, o que representava somente 3,3% da riqueza global de US$ 223 trilhões. Ou seja, pouco mais de dois terços (2/3) dos adultos do mundo possuíam somente 3,3% do patrimônio global da riqueza. A riqueza per capita deste grupo foi de US$ 2.293. Continue lendo

O Descaso do governo brasileiro para com nossos índios

Matxa, líder do clã e cega, guarda o que resta da tradição cultural dos avá-canoeiros. Apesar de recursos milionários, Funai não conseguiu melhorar as condições de vida dos últimos representantes dos avás-canoeiros – André Coelho

Esperança volta com bebê avá-canoeiro.

Paxeo é o 7º integrante de grupo que já teve 2 mil índios, foi removido por hidrelétrica e hoje vive quase na miséria.

Minaçu (GO) – Os olhos apertados e amendoados de Paxeo, de 1 ano, refletem o resquício de uma etnia que já foi composta por mais de duas mil almas, no cerrado brasileiro, onde era conhecida como “a tribo invisível”, por sua capacidade de se esconder nas árvores. Já os olhos de Matxa, de 73 anos, a matriarca da aldeia, não podem mais ver esse sopro de esperança de perpetuação da comunidade que salvou do extermínio. Mas, mesmo que não estivesse cega por um glaucoma que resistiu a duas operações, sua percepção da vida permaneceria turva pela situação de miséria e impotência de sua aldeia nos últimos 20 anos, cerceada pela burocracia e lentidão da máquina pública, que deveria tornar viável a expansão daqueles sobreviventes, não só física, mas também cultural.

Desde 1992, os avás-canoeiros ficaram reduzidos a seis pessoas em uma reserva entre Minaçu e Colinas do Sul (GO) — outros dez avás perderam sua identidade cultural vivendo com caiapós e javaés na Ilha do Bananal (TO). Os índios goianos foram realocados pela construção da usina hidrelétrica de Serra da Mesa, em 1996, quando pareciam fadados ao desaparecimento, até que — com auxílio de programas específicos dos empreendedores da usina, Furnas e CPFL — Niwatima, de 24 anos, conheceu e se casou com o índio tapirapé Kapitomy’i, de 26 anos, relação da qual nasceu Avá-canoeiro Paxeo Tapirapé, em 28 de janeiro de 2012. Continue lendo

Fim da miséria ainda longe

Pobreza extrema no Brasil caiu só 5,5% de 2009 a 2011 e atinge 8 milhões de pessoas.

[Demétrio Weber e Antonio Gois, O Globo, 1 out 12] O número de miseráveis no Brasil caiu 5,5%, de 2009 a 2011, período que cobre o fim do governo Lula e os primeiros meses do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Em setembro de 2011, havia no país 8 milhões de pessoas na extrema pobreza, conforme estimativa preliminar informada ao GLOBO pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Os dados foram calculados com base na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2011), do IBGE. É a primeira pesquisa que vem a público sobre a redução da miséria durante o governo Dilma, que assumiu o cargo com a promessa de erradicar a pobreza extrema até o fim de 2014. Continue lendo

Em São Paulo, as áreas valorizadas são as que têm mais incêndios

Dos últimos incêndios que ocorreram neste ano em São Paulo, nove foram em áreas que aumentaram seus valores pelo mercado imobiliário, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

[José Francisco Neto, Brasil de Fato, 11 set 12] A região em que está localizada a favela de São Miguel Paulista, por exemplo, vizinha de Ermelino Matarazzo, na zona leste, e incendiada na terça-feira (28), teve a maior valorização imobiliária da capital em apenas dois anos: 214%. (Clique aqui e veja o mapa dos incêndios em favelas paulistanas que ocorreram nos últimos anos). Continue lendo

Unicef: países ricos têm 30 milhões de crianças pobres

Segundo relatório divulgado hoje, somente na Europa há 13 milhões de crianças pobres.

[Renata Giraldi, Agência Brasil, 29 mai 12] Os 35 países mais ricos do mundo concentram 30 milhões de crianças pobres – 15% da população infantil assistida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Segundo relatório divulgado hoje, somente na Europa há 13 milhões de crianças pobres.

Para os especialistas, o relatório do Unicef é um alerta aos líderes dos países ricos. O estudo foi feito nos 27 países da União Europeia, além da Noruega, da Islândia, da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos, do Japão, da Nova Zelândia e da Suíça. As democracias escandinavas têm somente 3% de crianças pobres. Continue lendo

Jovens refugiados na Alemanha sofrem com deportação para o Kosovo

A cada ano, centenas menores de idade precisam deixar a Alemanha em direção ao Kosovo. Estudo do Unicef revela sofrimentos com a deportação. Os menores entrevistados apresentam muitas vezes distúrbios pós-traumáticos.

[Ajete Beqiraj e C. Albuquerque, DW, 16 abr 12] Desde 2009, a Alemanha está autorizada a deportar kosovares. Em 2010, o então ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, assinou um acordo de repatriação com a República do Kosovo, que previa o retorno de até 12 mil membros de minorias dos Bálcãs, já que o Kosovo é considerado, atualmente, um país seguro. Continue lendo