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Diabete mata mais em países pobres e em desenvolvimento, segundo a OMS

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Em 2005, 1,1 milhão de pessoas morreram pela doença; número deve dobrar na próxima década

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que quase 80% das mortes por diabete no mundo ocorrem em países pobres e em desenvolvimento. Em 2005, 1,1 milhão de pessoas morreram em decorrência da doença. A estimativa é de que o número de mortes dobre na próxima década.

A quantidade de diabéticos no mundo já passa de 250 milhões, segundo a Federação Internacional de Diabete. A entidade, ligada à OMS, alerta: se não forem implantadas políticas de prevenção eficientes, em 2025 o número de portadores pode a chegar a 380 milhões. Na edição deste ano da campanha do Dia Mundial da Diabete, lembrada no último domingo, organizações médicas internacionais garantem que é possível prevenir a doença.

No Brasil, estima-se em 10 milhões o total de pacientes – 7,6 milhões deles acometidos pelo tipo 2 da doença, o mais comum e o único que pode ser evitado. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de pessoas com esse tipo de diabete equivale a 5,8% da população com mais de 18 anos. A maioria está concentrada na Região Sudeste, com cerca de 3,5 milhões (2,06 milhões só no Estado de São Paulo). Continue lendo

As mudanças climáticas poderão aumentar a pobreza nos países em desenvolvimento

Pesquisas recentes demonstram que o aquecimento global e as mudanças climáticas terão severos impactos na agricultura e na disponibilidade hídrica, o que, por sua vez, afetarão a segurança alimentar em escala global.

Nesta hipótese, os trabalhadores urbanos dos países em desenvolvimento seriam os mais afetados com a elevação dos custos dos alimentos, como ficou demonstrado na crise alimentar de 2008.

Agora, um novo estudo [Climate Volatility Deepens Poverty Vulnerability in Developing Countries] de pesquisadores da Purdue University, quantifica os efeitos do clima sobre as populações pobres do mundo.

Os pesquisadores examinaram a influência econômica potencial de eventos climáticos extremos, tais como ondas de calor, secas e chuvas intensas, sobre 16 países em desenvolvimento. De acordo com o estudo, os trabalhadores urbanos em Bangladesh, México e Zâmbia foram identificados como os que estão expostos ao maior risco potencial. Continue lendo

Brasil avança, mas ainda é 73º em desenvolvimento humano

O Brasil foi o país que mais avançou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) preparado pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD). No documento deste ano, divulgado nesta quinta-feira (4), o Brasil passa a ocupar a 73ª colocação, desempenho suficiente para que integre o grupo de países de desenvolvimento humano elevado. Apesar do crescimento, o País ainda apresenta traços importantes de desigualdade social.

Na avaliação deste ano, o Brasil obteve quatro pontos a mais em comparação com 2009. O desempenho é significativo, sobretudo diante do cenário de estagnação revelado pelo estudo. Dos 169 países analisados, 116 mantiveram a posição apresentada em 2009 e 27 tiveram desempenho pior. Além do Brasil, somente outros 25 conseguiram melhorar a classificação, de acordo com o relatório.

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O cheiro da pobreza ~ Mário Vargas Llosa

Há três anos, durante uma viagem de Lima a Ayacucho por terra, fizemos uma escala no meio de uma chapada na cordilheira, numa aldeia onde havia um pequeno posto policial. Pedi licença ao chefe para usar o banheiro. “À vontade, doutor”, disse ele gentilmente. “O senhor quer urinar ou defecar?”. Respondi que a primeira alternativa. Sua curiosidade era acadêmica, porque o “banheiro” do posto era um cercado exposto à intempérie onde urina e fezes se confundiam em meio a nuvens de moscas e um fedor estonteante.

A lembrança dessa cena me perseguiu sem trégua enquanto, às vezes tapando o nariz, eu folheava as 422 páginas de um relatório, recentemente publicado pelas Nações Unidas, intitulado A água para além da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água. A prudência do título e a frieza e neutralidade de sua redação burocrática não impedem que esse extraordinário estudo, sem dúvida inspirado na sábia concepção de economia e progresso de Amartya Sen – um economista que não acredita que o progresso se resuma a estatísticas -, estremeça o leitor, ao confrontá-lo com rigor cruel à realidade da pobreza e seus horrores no mundo em que vivemos. A pesquisa realizada por Kevin Watkins e sua equipe deveria ser consulta obrigatória para todos os que queiram saber o que significa – na prática – o subdesenvolvimento econômico, a marginalização social e o fosso que separa as sociedades que os padecem daquelas que já atingiram um nível de vida alto ou médio.

A primeira conclusão dessa leitura é que o objeto que representa a civilização e o progresso não é o livro, o telefone, a Internet ou a bomba atômica, e sim a privada. Onde os seres humanos esvaziam a bexiga e os intestinos é determinante para saber se ainda estão mergulhados na barbárie do subdesenvolvimento, ou se já começaram a progredir. As conseqüências desse fato simples e transcendental na vida das pessoas são vertiginosas. No mínimo um terço da população do planeta – uns 2,6 bilhões de pessoas – não sabe o que é um sanitário, uma latrina, uma fossa séptica, e faz suas necessidades como os animais, no mato, à beira de córregos e mananciais, ou em sacolas e latas que são jogados no meio da rua. E mais ou menos 1 bilhão utiliza águas contaminadas por fezes humanas e animais para beber, cozinhar, lavar a roupa e fazer a higiene pessoal. Isso faz com que pelo menos 2 milhões de crianças morram, a cada ano, vítimas de diarréia. E que doenças infecciosas como cólera, tifo e parasitoses, causadas pelo que o relatório chama eufemisticamente de “falta de acesso ao saneamento”, provoquem enormes devastações na África, na Ásia e na América Latina, constituindo a segunda causa de mortalidade infantil no mundo.

Num importante bairro de Nairóbi, no Quênia, chamado Kibera, é generalizado o sistema das chamadas “privadas voadoras”, sacolas de plástico em que as pessoas fazem suas necessidades para em seguida atirá-las na rua (daí o nome). A prática eleva as doenças infecciosas no bairro a níveis altíssimos. E os principais atingidos são as crianças e as mulheres. Por quê? Porque cabe a elas cuidar da limpeza doméstica e do transporte da água, e com isso se expõem mais ao contágio do que os homens.

Em Dharavi, uma zona populosa de Mumbai, na Índia, há um único banheiro para cada 1.440 pessoas, e na estação das chuvas as enxurradas transformam as ruas da cidade em rios de excrementos. A fartura de água é, nesse caso, como no de muitas outras cidades do terceiro mundo, uma tragédia: as condições de existência fazem com que a água, em vez de vida, seja muitas vezes instrumento de doença e morte.

Paradoxalmente, a questão da água, indissociável da do saneamento, é talvez o principal problema que mantém homens e mulheres prisioneiros do subdesenvolvimento. Os dados do relatório são concludentes. Quando os pobres têm acesso à água, trata-se em geral de águas com todo tipo de bactérias, de males que os contaminam e matam. Mas, na maioria dos casos, a pobreza condena as pessoas a uma seca ainda mais catastrófica para a saúde e para as possibilidades de melhorar as condições de vida. Uma das conclusões mais chocantes da pesquisa é de que os pobres pagam muito mais caro pela água do que os ricos, justamente porque os povoados e bairros onde eles vivem carecem de instalações de abastecimento e descarga, o que os obriga a comprá-la de fornecedores comerciais, a preços exorbitantes.

Assim, os habitantes dos bairros pobres de Jacarta (Indonésia), Manila (Filipinas) e Nairóbi (Quênia) “pagam 5 a 10 vezes mais por unidade de água do que as pessoas que vivem nas zonas de elevado rendimento das suas próprias cidades – e mais do que pagam os consumidores em Londres ou Nova York”. Esse preço desigual faz com que os 20% de famílias mais pobres de El Salvador, Jamaica e Nicarágua invistam um quinto de seus rendimentos em água, ao passo que no Reino Unido o gasto médio dos cidadãos com a água representa apenas 3% de sua renda.

Não resisto a citar essa estatística do relatório: “Quando um europeu puxa uma descarga, ou quando um americano toma banho, utiliza mais água do que a disponível para centenas de milhões de indivíduos que vivem em bairros degradados ou zonas áridas do mundo em desenvolvimento”. E também a estimativa de que, com a água poupada caso os “civilizados” fechássemos a torneira enquanto escovamos os dentes, um continente inteiro de “bárbaros” poderia tomar banho.

À primeira vista, não parece haver muita relação entre a falta de água e a educação das meninas. E, no entanto, ela existe e é estreita. O relatório calcula que 443 milhões de dias letivos são perdidos a cada ano por causa de doenças ligadas à água, e que milhões de meninas faltam à escola e recebem uma educação deficiente ou nula, e em todo caso inferior à dos meninos, por terem que buscar água diariamente em açudes, rios e poços que, muitas vezes, ficam a horas de caminhada.

Em “Os miseráveis”, Victor Hugo escreveu que “os esgotos são a consciência da cidade”. Numa dessas digressões do narrador que pontuam o romance, enquanto Jean Valjean chapinhava na merda com o desmaiado Marius às costas, arriscou uma curiosa interpretação da história a partir do excremento humano. O formidável estudo da ONU faz coisa parecida, sem a poesia nem a eloqüência do grande romântico francês, mas com muito mais conhecimento científico. Propondo-se a apenas descrever as circunstâncias e conseqüências de um problema concreto que atinge um terço da humanidade, o relatório radiografa com dramática precisão o extraordinário privilégio de que os outros dois terços desfrutamos toda vez que, quase sem perceber, abrimos uma torneira para lavar as mãos ou o chuveiro para receber esse jato de água fresca que nos limpa e revigora, ou quando, impelidos por uma dor de barriga, sentamos na intimidade do banheiro, aliviamos as entranhas e, distraídos, limpamos com um pedaço de papel higiênico todos os rastros dessa cerimônia, para em seguida puxar a descarga e sentir, no turbilhão do vaso, nossa sujeira recôndita sumir nas entranhas dos esgotos, longe, longe de nossa vida e nosso olfato, para o bem da própria saúde e bom gosto.

Como é infinitamente diversa a experiência desses bilhões de seres humanos que nascem, vivem e morrem literalmente sufocados pela própria imundície, sem conseguir arrancá-la de suas vidas, pois, visível ou invisível, a sujeira fecal que expulsam volta para eles como uma maldição divina, na comida que comem, na água em que se lavam e até no ar que respiram, causando-lhes doenças e mantendo-os no limite da subsistência, sem chance de escapar dessa prisão na qual mal sobrevivem.

Um dos aspectos mais sombrios da questão é que, em grande parte por causa do nojo e da repulsa que os seres humanos sentimos por tudo o que tem a ver com a merda, os governos e organismos internacionais de promoção do desenvolvimento não costumam dar a ela a devida prioridade. Geralmente a subestimam, e dedicam recursos insignificantes a projetos de saneamento. A verdade é que viver em meio à sujeira é nefasto não apenas para o corpo mas também para o espírito, para a mais elementar auto-estima, para o ânimo que permite erguer a cabeça contra o infortúnio e manter viva a esperança, motor de todo progresso. “Nascemos entre fezes e urina”, escreveu Santo Agostinho. Um calafrio deveria subir por nossas costas como uma cobra de gelo ao pensarmos que um terço de nossos contemporâneos nunca acaba de sair da imundície em que veio a este vale de lágrimas.

Fonte: Revista Piauí

Desigualdade social no Brasil ~ por Frei Betto

Relatório da ONU (Pnud), divulgado em julho, aponta o Brasil como o terceiro pior índice de desigualdade no mundo. Quanto à distância entre pobres e ricos, nosso país empata com o Equador e só fica atrás de Bolívia, Haiti, Madagascar, Camarões, Tailândia e África do Sul.

Aqui temos uma das piores distribuições de renda do planeta. Entre os 15 países com maior diferença entre ricos e pobres, 10 se encontram na América Latina e Caribe. Mulheres (que recebem salários menores que os homens), negros e indígenas são os mais afetados pela desigualdade social. No Brasil, apenas 5,1% dos brancos sobrevivem com o equivalente a 30 dólares por mês (cerca de R$ 54). O percentual sobe para 10,6% em relação a índios e negros.

Na América Latina, há menos desigualdade na Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai. A ONU aponta como principais causas da disparidade social a falta de acesso à educação, a política fiscal injusta, os baixos salários e a dificuldade de dispor de serviços básicos, como saúde, saneamento e transporte.

É verdade que nos últimos dez anos o governo brasileiro investiu na redução da miséria. Nem por isso se conseguiu evitar que a desigualdade se propague entre as futuras gerações. Segundo a ONU, 58% da população brasileira mantém o mesmo perfil social de pobreza entre duas gerações. No Canadá e países escandinavos, este índice é de 19%.

O que permite a redução da desigualdade é, em especial, o acesso à educação de qualidade. No Brasil, em cada grupo de 100 habitantes, apenas 9 possuem diploma universitário. Basta dizer que, a cada ano, 130 mil jovens, em todo o Brasil, ingressam nos cursos de engenharia. Sobram 50 mil vagas… E apenas 30 mil chegam a se formar. Os demais desistem por falta de capacidade para prosseguir os estudos, de recursos para pagar a mensalidade ou necessidade de abandonar o curso para garantir um lugar no mercado de trabalho.

Nas eleições deste ano votarão 135 milhões de brasileiros. Dos quais, 53% não terminaram o ensino fundamental. Que futuro terá este país se a sangria da desescolaridade não for estancada?

Há, sim, melhoras em nosso país. Entre 2001 e 2008, a renda dos 10% mais pobres cresceu seis vezes mais rapidamente que a dos 10% mais ricos. A dos ricos cresceu 11,2%; a dos pobres, 72%. No entanto, há 25 anos, de acordo com dados do IPEA, este índice não muda: metade da renda total do Brasil está em mãos dos 10% mais ricos do país. E os 50% mais pobres dividem entre si apenas 10% da riqueza nacional.

Para operar uma drástica redução na desigualdade imperante em nosso país é urgente promover a reforma agrária e multiplicar os mecanismos de transferência de renda, como a Previdência Social. Hoje, 81,2 milhões de brasileiros são beneficiados pelo sistema previdenciário, que promove de fato distribuição de renda.

Mais da metade da população do Brasil detém menos de 3% das propriedades rurais. E apenas 46 mil proprietários são donos de metade das terras. Nossa estrutura fundiária é a mesma desde o Brasil império! E quem dá emprego no campo não é o latifúndio nem o agronegócio, é a agricultura familiar, que ocupa apenas 24% das terras, mas emprega 75% dos trabalhadores rurais.

Hoje, os programas de transferência de renda do governo – incluindo assistência social, Bolsa Família e aposentadorias – representam 20% do total da renda das famílias brasileiras. Em 2008, 18,7 milhões de pessoas viviam com menos de Ï€ do salário mínimo. Se não fossem as políticas de transferência, seriam 40,5 milhões. Isso significa que, nesses últimos anos, o governo Lula tirou da miséria 21,8 milhões de pessoas. Em 1978, apenas 8,3% das famílias brasileiras recebiam transferência de renda. Em 2008 eram 58,3%.

É uma falácia dizer que, ao promover transferência de renda, o governo está “sustentando vagabundos”. O governo sustenta vagabundos quando não pune os corruptos, o nepotismo, as licitações fajutas, a malversação de dinheiro público. Transferir renda aos mais pobres é dever, em especial num país em que o governo irriga o mercado financeiro engordando a fortuna dos especuladores que nada produzem. A questão reside em ensinar a pescar, em vez de dar o peixe. Entenda-se: encontrar a porta de saída do Bolsa Família.

Todas as pesquisas comprovam que os mais pobres, ao obterem um pouco mais de renda, investem em qualidade de vida, como saúde, educação e moradia.

O Brasil é rico, mas não é justo.

Fonte: Correio da Cidadania, 10 ago 2010

Pobreza e subdesenvolvimento favorecem avanço do terrorismo na África

Povo tuaregue é símbolo do turismo no Saara e sofre com as consequências do terrorismo

Raptos na região do Sahel vitimam geralmente cidadãos ocidentais – ao menos é o que as manchetes da mídia europeia dão a entender. O último caso ocorreu no final de julho, quando foi encontrado o cadáver do francês Michel Germaneau, de 78 anos.

Mas também os moradores da região são vítimas do terrorismo, que afeta os seus meios de subsistência. Muitos deles dependem há séculos do comércio e, desde há algumas décadas, também do turismo.

Os tuaregues, por exempo, são um orgulhoso povo do deserto. Com seus grandes e brilhantes lenços azuis e brancos na cabeça, eles são um símbolo para o turismo no Saara, região onde moram.

Ou ao menos eram, até alguns anos atrás – nesse meio tempo o turismo no Saara praticamente desapareceu. A falta de segurança, os sequestros, os assassinatos de visitantes ocidentais geraram manchetes e alertas contra viagens à região.

Turistas ficam longe

O terrorismo teve consequências devastadoras para o seu povo, afirma o tuaregue Mano Aghali. Ele descreve como o terrorismo roubou o sustento das pessoas na região de Agadez, no norte do Níger:

“Muitos de nós viviam do turismo: os vendedores e principalmente os guias turísticos. A assim chamada rebelião de 2007 e as suas consequências foram um verdadeiro choque para essas pessoas, pois há poucas opções para elas fazerem outras coisas. A maioria nem mesmo participou da rebelião, nunca lutou. E hoje não têm ocupação.”

O que Aghali chama de “segunda rebelião” começou em 2007: ataques violentos a policiais e militares e combates entre rebeldes e soldados elevaram a insegurança no norte do Níger.

Tráfico de drogas e armas

Mas essa revolta, descrita pelo governo como uma rebelião dos tuaregues, foi diferente da anterior, na qual os tuaregues haviam lutado por melhorias na região e por maior participação política. A nova onda de violência iniciada em 2007 não tinha nada a ver com causas políticas dos tuaregues, como Aghali aponta.

“A verdadeira força motriz do conflito não eram os tuaregues, mas pessoas que queriam lucrar com o tráfico de drogas e de armas na região. Elas usaram as causas dos tuaregues como escudo protetor das suas ações, escondendo-se atrás da afirmação: ‘Deixem-nos lutar pelas causas dos tuaregues! Deixem-nos lutar pelas causas da região de Agadez!'”

Como deputado, Aghali se empenha exatamente por essas causas. Como fundador da ONG Hedtamat, ele quer aumentar as chances de educação e formação profissional e trazer desenvolvimento para os tuaregues do Níger, sua terra natal.

Aghali luta há anos por uma melhor representação do seu povo no Parlamento, em partidos políticos e em instituições. E isso – melhores condições para o seu povo – não estava em questão em 2007, explica.

Para ele, desde o início o conflito foi uma grande derrota para o seu povo e para todo o país, pois destruiu os meios de subsistência numa região já marcada pela pobreza extrema e contribuiu para a disseminação do terrorismo. “Toda a região é uma área de insegurança. Os antigos rebeldes continuam por lá, toda região está cheia de minas. E novos atores estão se espalhando.”

Terroristas em diversas regiões africanas

Mas que “novos atores” são esses? Em todo o continente africano há hoje uma série de grupos extremistas islâmicos ativos. E muitos deles cometeram atos terroristas nas últimas semanas.

Já há cinco anos que o grupo autointitulado Boko Haram (algo como “Educação é Pecado”) aterroriza regiões do norte da Nigéria. Entre o estado de Bauchi e a região de Agadez encontram-se cerca de mil quilômetros de terra de ninguém. E em toda a área do Sahel, do sul da Argélia até o Níger, pequenos grupos da Al-Qaeda de Magreb espalham insegurança desde 2006.

No leste do continente, o estado fracassado da Somália é o ponto de partida de terroristas islâmicos para as regiões vizinhas: recentemente houve atos terroristas sangrentos em Uganda.

Entre os grupos terroristas ativos no Níger há muitos integrantes que não falam os idiomas locais: eles devem vir da Ásia ou de outras regiões da África, diz Aghali. Mas a eles se unem militantes locais, que são mais uma vez instrumentalizados.

“As pessoas na minha região correm o risco de serem manipuladas pela segunda vez. A primeira foi em 2007, com a onda de violência chamada de rebelião dos tuaregues. ‘Venham, venham!’, diziam na época, ‘nós lutamos pelas causas dos tuaregues!”. Na verdade tratava-se apenas de tráfico de drogas e de armas. E hoje dizem às mesmas pessoas, na mesma região, no mesmo país: “Vamos lutar em nome do Islã!”

Espaço para a proliferação do terrorismo

A África é um espaço ideal para o terrorismo internacional. Na Somália, assim como no Afeganistão, no Paquistão e no Iêmen, a Al Qaeda usa o vácuo criado pela fraqueza do Estado. Outras áreas do continente estão totalmente fora de controle, desconectadas dos centros políticos, sem polícia ou forças armadas.

É assim que a África se torna uma área de refúgio e proteção para o terrorismo internacional. É sintomático que os atos terroristas proliferem onde a pobreza e o subdesenvolvimento predominam, como no norte da Nigéria. Lá é fácil conquistar seguidores. E as poucas chances de desenvolvimento nessas regiões correm o risco de desaparecer, como consequência do terrorismo.

Ajuda ao desenvolvimento em risco

No Níger, a cooperação oficial para o desenvolvimento está suspensa desde o recente golpe militar. E também o trabalho desenvolvido pela Hedtamat estará ameaçado caso não haja apoio externo. Isso elevaria ainda mais a pobreza e o perigo do extremismo.

Os tuaregues recebem ajuda dos escritórios da organização humanitária Care na Alemanha e em Luxemburgo, que há muitos anos trabalham em conjunto com a Hedtamat. O apoio necessita ser mantido neste momento, afirma coordenadora de projetos Christine Harth, da Care. Ela conhece bem a região e trabalha com os tuaregues da Hedtamat.

“Nós gostaríamos que fosse garantido mais espaço para as ONGs nos países em que a ajuda ao desenvolvimento oficial é cancelada. Gostaríamos de continuar nosso trabalho com parceiros como a Hedtamat, também para poder transmitir às pessoas a certeza de que elas não serão abandonadas.”

Autora: Ute Schaeffer (jd)
Revisão: Alexandre Schossler

Fonte: DW 12 ago 2010

Apesar de progresso, Brasil permanece um dos mais desiguais do mundo, diz ONU

Apesar dos progressos sociais registrados no início da década passada, o Brasil continua entre os países mais desiguais do mundo, segundo atesta um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que será divulgado nesta sexta-feira.

O índice de Gini – medição do grau de desigualdade a partir da renda per capita – para o Brasil ficou em torno de 0,56 por volta de 2006 – quanto mais próximo de um, maior a desigualdade.

Isto apesar de o país ter elevado consideravelmente o seu índice de desenvolvimento humano – de 0,71 em 1990 para 0,81 em 2007 – e ter entrado no grupo dos países com alto índice neste quesito.

O cálculo do indicador de desigualdade varia de acordo com o autor e as fontes e a base de dados utilizados, mas em geral o Brasil só fica em melhor posição do que o Haiti e a Bolívia na América Latina – o continente mais desigual do planeta, segundo o Pnud.

No mundo, a base de dados do Pnud mostra que o país é o décimo no ranking da desigualdade.

Mas os dados levam em conta apenas 126 dos 195 países membros da ONU, e em alguns casos, especialmente na África subsaariana, a comparação é prejudicada por uma defasagem de quase 20 anos de diferença.

Na seleção de países mencionada no relatório do Pnud, os piores indicadores pela medição de Gini são Bolívia, Camarões e Madagascar (0,6) e Haiti, África do Sul e Tailândia (0,59). O Equador aparece empatado com o Brasil com um indicador de 0,56.

Colômbia, Jamaica, Paraguai e Honduras se alternam na mesma faixa do Brasil segundo as diferentes medições.

Desigualdade e mobilidade

O relatório foca no problema da desigualdade na América Latina, o continente mais desigual do mundo, segundo o Pnud. Dos 15 países onde a diferença entre ricos e pobres é maior, dez são latino-americanos.

Em média, os índices Gini para a região são 18% mais altos que os da África Subsaariana, 36% mais altos que os dos países do leste asiático e 65% mais altos que os dos países ricos.

O documento traça uma relação entre a desigualdade e baixa mobilidade social, caracterizada pelo círculo de aprisionamento social definido pela situação familiar de cada indivíduo.

No Brasil e no Peru, por exemplo, o nível de renda dos pais influencia a faixa de renda dos filhos em 58% e 60%, respectivamente.

No Chile esse nível de pré-determinação é mais baixo, 52% – semelhante ao da Inglaterra (50%).

Já nos países nórdicos, assim como no Canadá, a influência da situação familiar sobre os indivíduos é de 19%.

Alemanha, França e Estados Unidos (32%, 41% e 47%, respectivamente) se incluem a meio do caminho.

A mobilidade educacional e o acesso à educação superior foram os elementos mais importantes na determinação da mobilidade socioeconômica entre gerações.

Relatório do Pnud

No campo educacional, os níveis de educação dos pais influenciam o dos filhos em 55% no Brasil e em 53% na Argentina. No Paraguai essa correlação é de 37%, com Uruguai e Panamá registrando 41%.

A influência da educação dos pais no sucesso educacional dos filhos é pelo menos duas vezes maior na América Latina que nos EUA, onde a correlação é 21%.

“Estudos realizados em países com altos níveis de renda mostram que a mobilidade educacional e o acesso à educação superior foram os elementos mais importantes na determinação da mobilidade socioeconômica entre gerações”, afirma o relatório.

Para o Pnud, a saída para resolver o problema da desigualdade na América Latina passa por melhorar o acesso das populações aos serviços básicos – inclusive o acesso à educação superior de qualidade.

O relatório diz que programas sociais como o Bolsa Família, Bolsa Escola e iniciativas semelhantes na Colômbia, Equador, Honduras, México e Nicarágua representaram “um importante esforço para melhorar a incidência do gasto social” na América Latina, sem que isso tenha significado uma deterioração fiscal das contas públicas.

“No que diz respeito à distribuição (de renda), as políticas orientadas para o combate à pobreza e à proteção da população vulnerável promoveram, na prática, uma incidência mais progressiva do gasto social, que por sua vez resultou em uma melhor distribuição da renda.”

Fonte: BBC Brasil, 23 jul 2010

Novo índice da ONU aponta menos pobres no Brasil do que o governo

Um novo índice de medição da pobreza, que não leva em consideração direta a renda, indica que o Brasil tem menos pessoas pobres do que aponta a medição oficial do governo.

O novo Índice de Pobreza Multidimensional (MPI, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta-feira, diz que 8,5% da população brasileira pode ser considerada pobre.

A avaliação leva em conta o acesso da população a dez itens relacionados à saúde, à educação e ao padrão de vida.

A porcentagem de pobres apontada pelo MPI é maior do que a enxergada pelo Banco Mundial (Bird), que diz que 5% dos brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza absoluta (têm renda inferior a US$ 1,25 por dia, de acordo com a regra adotada pelo Bird).

Mas ela é bem menor de que a proporção de brasileiros em pobreza absoluta divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão ligado ao governo), que é de 28,8%. Segundo a regra adotada pelo Ipea, estão em pobreza absoluta os membros de famílias com rendimento médio por pessoa de até meio salário mínimo mensal.

O MPI foi desenvolvido pelo centro de pesquisas britânico The Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI), com o apoio das Nações Unidas, e deverá ser utilizado pela ONU em seu relatório anual de desenvolvimento humano.

Para os criadores do novo índice, ele apresenta um quadro mais preciso da pobreza do que a simples medição do nível de renda.

Números absolutos

A nova medição, que no caso do Brasil toma como base dados coletados em 2003, indica um total de 16,2 milhões de pessoas consideradas pobres no país – o 13º maior número absoluto entre os 104 países em desenvolvimento incluídos na pesquisa.

No mundo todo, esse total chega a 1,7 bilhão de pessoas, 400 milhões a mais do que na medição da pobreza absoluta pelos critérios do Banco Mundial.

A medição indica que somente na Índia há 645 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, quantidade superior à soma de todos os países da África subsaariana. Apesar disso, a Índia tem a 31ª maior proporção de pobres (55,4% da população) entre os países avaliados.

O Níger é o país com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o novo índice (92,7%), seguido de Etiópia (90%), Mali (87,1%) e República Centro-Africana (86,4%).

Os países com a menor proporção de pobres são Eslováquia e Eslovênia (próximo a 0%), República Checa (0,01%), Belarus (0,02%) e Letônia (0,3%).

A China, país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes, tem um índice de pobreza pelo MPI de 12,5%.

Entre os países da América Latina, o Uruguai é o que tem a menor proporção de pobres pelo novo índice (1,7%), seguido de Equador (2,2%), Argentina (3%) e México (4%).

Ponto fraco

Entre os itens medidos pelo novo índice, a educação aparece como o ponto fraco do Brasil.

Segundo o relatório do OPHI, 20,2% da população brasileira tem algum tipo de privação nessa área, contra 5,2% no setor de saúde e 2,8% nos itens de padrão de vida.

Para efeito de comparação, na China a proporção de pessoas com privações é bem menor do que no Brasil na área de educação (10,9%), mas superior nos setores de saúde (11,3%) e de padrão de vida (12,4%).

O estudo da OPHI também mede a intensidade da pobreza, ao analisar a proporção das pessoas consideradas pobres em relação à quantidade de itens nos quais têm privações.

O MPI considera pobres aqueles que têm privações em três ou mais dos dez itens considerados, o que engloba 8,5% da população.

Mas apenas 2,3% da população tem privações em quatro ou mais itens, 0,9% em cinco ou mais e 0,3% em seis ou mais itens. A proporção de pessoas com privações em mais de sete itens é próxima de zero.

No Níger, país com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o estudo, 7% da população não tem acesso a nenhum dos dez itens considerados.

Fonte: BBC Brasil, 14 jul 2010

Relatório mostra que 70% dos pobres do planeta são mulheres

Por Karol Assunção – 12 mar 2010

A Anistia Internacional do Uruguai aproveita o mês dedicado às lutas das mulheres de todo o mundo para apresentar, nesta quinta-feira (11) na Biblioteca Nacional, em Montevideu, o relatório “A armadilha do gênero – Mulheres, violência e pobreza”. Na oportunidade, foram discutidas as atividades realizadas nos seis anos da campanha “Não mais violência contra as mulheres” e divulgada a nova ação: “Exige Dignidade”.

Segundo informações do relatório “A armadilha do gênero”, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que mais de 70% das pessoas que vivem em situação de pobreza são mulheres. “Por que mais de dois terços das pessoas pobres do mundo são mulheres, se estas constituem somente a metade da população mundial?”, questiona.

A resposta é encontrada no próprio relatório: discriminação. Segundo a Anistia, este é um dos principais fatores que explicam a pobreza feminina. “Em alguns países, a discriminação contra as mulheres impregna na legislação e, em outros, esta discriminação persiste apesar da adoção de leis de igualdade”, afirma.

Isso pode ser constatado com uma simples comparação entre os benefícios que os homens e as mulheres recebem. De acordo com o estudo da Anistia, o acesso a recursos e meios de produção como terra, crédito e herança, por exemplo, não é igual para os dois sexos.

Da mesma forma, em média, as mulheres recebem salários mais baixos e, muitas vezes, o trabalho nem sequer é remunerado. “As mulheres, com frequencia, trabalham em atividades informais, sem segurança de emprego nem proteção social. Ao mesmo tempo, seguem responsabilizando-as do cuidado da família e do lar”, lembra.

Vale ressaltar que as mulheres não sofrem apenas com pobreza e discriminação. Segundo o documento da Anistia, elas ainda são as mais afetadas pela violência, pela degradação do meio ambiente, pelas enfermidades e até mesmo pelos conflitos armados.

De acordo com a organização, apesar de algumas conquistas e avanços nas garantias de direitos das mulheres – por exemplo, o reconhecimento de que os direitos delas são direitos humanos -, ainda há muito que ser feito. Para Anistia, o reconhecimento dos direitos das mulheres apenas melhorou a vida de algumas. Por conta disso, considera que os Estados e as instituições internacionais devem ter mais vontade política para garantir tais direitos e para assegurar a igualdade.

Além disso, a organização acredita que as demandas das mulheres precisam ser ouvidas e respeitadas. “A voz das mulheres deve ser escutada. Suas contribuições devem ser reconhecidas e alentadas. A participação ativa das pessoas que se veem afetadas é um elemento essencial de qualquer estratégia de luta contra a pobreza”, afirma.

O relatório “A armadilha do gênero” completo está disponível em: http://www.amnesty.org/ar/library/asset/ACT77/009/2009/ar/b2f94dc6-69e2-4c83-9310-c892bdd03c8c/act770092009spa.pdf

Publicado por Adital.

Relatório da ONU revela que os povos indígenas são parte da população mais pobre do mundo

Reportagem de Isabela Vieira, da Agência Brasil, publicado pelo EcoDebate, 15/01/2010

Os povos indígenas vivem em situação de pobreza no planeta. A afirmação consta de um relatório [The State of the World’s Indigenous Peoples] divulgado ontem (14) pela Organização das Nações Unidas (ONU) que mostra que cerca de 15% dos 370 milhões de índios representam um terço dos mais pobres do mundo e também um terço dos 900 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza, com menos de U$ 4,00 por dia, e habitam áreas rurais.

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