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A escola e os desafios da hora presente ~ J. B. Libanio

[Adital, 22 mar 11] Atravessa a existência e a história humana tensão constante e difícil de encontrar equilíbrio. O ser humano estrutura-se a partir de duas dimensões fundamentais. O processo evolutivo atingiu no ser humano patamar irreversível com a consciência, razão e liberdade. Nunca mais o primata homem regredirá à inconsciência simiesca. Todo o processo humano doravante caminhará na direção de criar-lhe condições para desenvolver a autoconsciência, a inteligência, a afetividade, as relações pessoais. Essa dimensão permanece definitiva.

Nessa perspectiva, a escola possui finalidade incontornável de educar as crianças, independentemente de tempo e geografia. Enquanto houver criança, a escola conservará a mesma finalidade. Não entra em questão aboli-la. Tarefa de sempre.

No entanto, os tempos se modificam. E a maneira de realizar a mesma missão assume configurações diferentes. No permanente da educação e da formação necessárias para as crianças, existem as contingências de cada época. O difícil consiste em não abrir mão do fundamental da educação, sendo flexível quanto às circunstâncias transitórias.

Tomemos os quatro pontos básicos: despertar a autoconsciência, desenvolver a inteligência, trabalhar a afetividade e promover a capacidade de relação. Continue lendo

O Profe$$or de A a B ~ Lucas Mendes

[BBC Brasil, 17 mar 11] Quando as cidades e os Estados americanos precisam cortar despesas, os professores são os primeiros sacrificados. Fogo neles.

Em Nova York, 4.500 estão ameaçados, entre eles alguns dos melhores, porque pela lei LIFO (Last In First Out , último a entrar, primeiro a sair) imposta pelo sindicato, os últimos contratados são os primeiros demitidos.

Até agora as tentativas de mudar a lei fracassaram. Deixa o menino ficar burro.

Em Estados do meio-oeste americano, os professores vão perder dinheiro, benefícios e influência, mais um passo em direção à acelerada burrificação dos Estados Unidos, mas, como você vai ver, dinheiro pesa, e muito, mas não é o fator decisivo para fazer a cabeça da garotada.

Esta semana, em Nova York, ministros de 16 países e secretários de Estados americanos, estão reunidos para fazer um balanço da educação no mundo e nos Estados Unidos.

Entre os países da OECD, Organização para Cooperação e Desenvolmento Econômico, onde estão a maioria das potências industriais, os salários médios dos professores secundários são mais baixos – US$ 39 mil – do que os dos professores americanos, US$ 44 mil. A equivalência cambial foi calculada levando em conta o poder de compra das moedas. Continue lendo

Em crise, magistério atrai cada vez menos

[Texto de Alessandra Duarte e Carolina Benevides, O Globo, 20 nov 2010]

RIO – Com a professora de História doente, e sem que a escola conseguisse substituto, o jeito foi os alunos fazerem as vezes de professor: em julho de 2009, três alunos do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Ernesto Faria deram aula dessa disciplina para colegas que estavam no 1º e no 2º ano. A falta de professores que atinge os ensinos fundamental e médio é um problema que começa nos bancos das universidades, onde os alunos não querem mais se formar como professor.

Um levantamento dos últimos censos escolares do Inep mostra que, de 2005 a 2008, caiu 12,4% o número de concluintes de cursos superiores de “formação de professores de matérias específicas” – o item, no censo escolar, que abriga licenciaturas como as de Português, Matemática, Química e Física. Se eram 77.749 em 2005, foram para 68.128 em 2008 – ano que viu 817 alunos concluírem cursos de “formação de professores em Português”, enquanto o de Direito formou 85 mil, e cursos de Administração, 103 mil.

O dado vai ao encontro de números da Fundação Carlos Chagas que dão conta de que, em média, 70% dos alunos que entram em cursos de licenciatura desistem antes de completá-lo. Continue lendo

Aluno de hoje não quer ser o educador de amanhã

Rodrigo Zavala * – Portal Adital, 1 mar 2010

Se uma boa educação só é possível por meio de bons educadores, o mais recente estudo realizado pela Fundação Victor Civita (FVC), encomendado à Fundação Carlos Chagas (FCC), traz preocupação a quem se interessa pelo assunto. Ao pesquisar sobre a atratividade de jovens à carreira de docente, o levantamento mostra que apenas 2% dos estudantes do terceiro ano do ensino médio pensam em atuar em sala de aula.

Com 1.501 alunos participantes, o estudo foi aplicado em 18 escolas públicas e privadas de oito municípios (em cinco regiões do país) selecionadas por seu tamanho, abrangência regional, densidade de alunos e oportunidades de emprego. Segundo estes estudantes, as más condições de trabalho, a baixa remuneração e o pouco reconhecimento social são os motivos para se manterem longe da sala dos professores.

“Esse é um tema central e de médio prazo para a melhoria da qualidade de educação no país. O principal é mudar a formação para criar essa atratividade”, afirma o secretário estadual de Educação de São Paulo, Paulo Renato Souza.

Curiosamente, há uma semana (26/02), o ex-ministro da Educação culpou a má formação dos professores pelo mau desempenho registrado nas provas de matemática aplicadas a estudantes do ensino médio pelo Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). Segundo os dados, 58,3% dos estudantes que concluem essa etapa têm conhecimento insuficiente da disciplina.

Dados complementares O resultado da pesquisa da Fundação Victor Civita está em concordância com outros levantamentos complementares. Basta ver o Censo da Educação Superior de 2009, em que se demonstra que cursos ligados à formação de professores têm uma relação candidato/vaga, no mínimo, desfavorável.

Por exemplo, a Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular, o maior vestibular do país) oferece 109 opções de cursos e Pedagogia, em São Paulo, ocupa a 90ª posição. Em Ribeirão Preto cai para 92ª Licenciaturas e disciplinas da Educação Básica são ainda menos procuradas pelos jovens.

“A análise dos resultados mostra que existe uma contradição entre desejo e possibilidade. Os alunos entendem a relevância do profissional e a nobreza de seu trabalho. Porém, acreditam que a o educador é desvalorizado e desrespeitado e sua profissão é frustrante e repleta de dificuldades”, argumenta a responsável pela pesquisa, Bernardete Gatti, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.

O paradoxo trazido pela especialista traz um aspecto positivo nas entrelinhas. Apesar de não se sentirem compelidos para o trabalho em sala de aula, reconhecem o professor como fundamental na formação. “De modo geral, todos os estudantes mostraram muita consciência dos problemas educacionais, não apenas deles, mas do país”, lembra Bernardete.

Déficit

O resultado prático do pouco estímulo à carreira do professor é transparente:
a demanda por profissionais é sensivelmente maior do que a oferta. Segundo estimativas do Inep, do Ministério da Educação, o déficit de professores com formação adequada à área que lecionam chega a 710 mil no ensino médio e nas séries finais do ensino fundamental.

Como esses professores são substituídos precária e temporariamente por pessoas não qualificadas para o cargo, existe no país o que se chama de “escassez oculta”. Afinal, no papel, a aula existe; uma espécie de auto-engano, no qual sofre o educando.

Em áreas como a de Física, o porcentual de docentes graduados no campo de saber específico é de apenas 25,2%. Na de Química, o total é de 38,2%.

Esse panorama se mostra ainda mais dramático se considerado que 41% do corpo docente brasileiro têm mais de 41 anos e está próximo da aposentadoria. Os últimos Censos Escolares da Educação Básica mostraram que o número de aposentadorias tende a superar o número de formandos nos próximos anos.

Resultados práticos

Com esses dados, não é difícil entender porque, nem mesmo a escola tem atraído seus alunos. Segundo o Censo Escolar de 2006, do Ministério da Educação (MEC), do total da população entre 15 e 17 anos (cerca de 10 milhões), 3,6 milhões matricularam-se no ensino médio – 1 milhão sequer havia concluído do ensino fundamental.

Com a evasão, apenas 1,8 milhão se formou. Quando analisado o comportamento dos jovens de 18 a 24 anos, os dados são ainda mais desastrosos: 68% não freqüentam a escola. Destes, 34% sequer trabalham.

“Hoje faltam profissionais para uma série de postos de trabalho. Essa tendência tende a se agravar futuramente, se não houver ações para enfrentar o problema, pois a qualificação de um profissional prescinde no mínimo do ensino médio completo. Para um país como o Brasil, que pretende crescer, esse é um sério entrave”, analisa a diretora-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel,

Patrocinado pela Abril Educação, o Instituto Unibanco e o Itaú BBA, o estudo Atratividade da Carreira Docente no Brasil pode ser acessado livremente por interessados.

* Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife)