[Texto de Clara Becker, publicado na Revista PiauÃ, nov 2010]
Toda vez que assumia a direção de seu carro, o gerente de vendas Roberto manifestava sintomas descritos pela literatura médica como os da sÃndrome do pânico. Suava frio, faltava-lhe ar, sentia dormência nas mãos, dores no peito e, por fim, na certeza de que teria uma sÃncope, entrava em desespero. Funcionário de uma grande empresa, seu trabalho exigia que ele dirigisse por longas distâncias.
Roberto procurou um psicanalista para tentar entender a origem da sua angústia automobilÃstica. Em uma das sessões, lembrou-se de um trauma de infância: o dia em que pulou o muro para roubar goiabas no quintal da vizinha, se apoiou em dois canos de um circuito elétrico e levou um choque de 220 volts. Tremeu como um apoplético até que alguém desligou a eletricidade. O episódio, ao que parece, estivera longamente reprimido no inconsciente.
Enquanto contava a história, demonstrou com gestos como se agarrara aos canos. O psicanalista percebeu que a posição das mãos era a mesma usada para segurar o volante do carro. O diagnóstico era óbvio: o pânico de dirigir era uma reminiscência reprimida do episódio traumático. Com a cena vindo à consciência, os ataques cessaram. Continue lendo