Na coluna de hoje farei comentários elogiosos a um livro a favor de Deus. É o meu presente de Natal para o eventual leitor cristão. Falo do excelente “The Case for God – What Religion Really Means” (uma defesa de Deus –o que a religião realmente significa), de Karen Armstrong, a ex-freira convertida em estudiosa das religiões.
Com a erudição que lhe é peculiar, Armstrong traça um panorama das mais variadas manifestações de religiosidade desde o PaleolÃtico até nossos dias e identifica o ateÃsmo como um fenômeno relativamente recente, que só se tornou possÃvel porque, com o advento da ciência e outras coisinhas mais, o significado de termos como “crença” e “fé” mudou radicalmente.
O ponto central da argumentação da autora é que a esmagadora maioria das culturas pré-modernas sempre operou com duas modalidades de pensamento, à s quais os gregos chamavam de “mythos” e “lógos”. Ambas eram consideradas essenciais e complementares. O “lógos”, que podemos traduzir como “razão”, era o modo pragmático. Servia para cuidar dos afazeres cotidianos, construir ferramentas, controlar o ambiente, em suma, para garantir o pão nosso de cada dia. Mas, ele não dava conta de tudo. O “lógos” era incapaz, por exemplo, de nos consolar diante da perda de um ente querido ou mesmo de indicar um sentido último para a vida. Nessas horas de transcendência entravam os “mythoi” (mitos), com suas histórias fantásticas sobre heróis e deuses, dores e esperanças. Eles funcionavam, diz Armstrong, como uma forma primitiva de psicologia. Com sua linguagem cifrada e nem sempre coerente, tocavam aspectos da psique humana que não estavam acessÃveis ao “lógos”. Continue lendo