[IHU, 24 mai 11] “A questão dos suicÃdios entre os povos indÃgenas e, em especial, entre os Kaiowá Guarani é uma questão muito delicada, que precisa ser entendida em sua gravidade, respeitando o silêncio e mistério que envolvem essas mortes. Mas como uma jovem Kaiowá levou a questão ao forum da ONU para sensibilizar os Estados Nacionais sobre as principais causas dessa atitude extrema, dentre os quais se destaca a não demarcação e garantia das terras e destruição dos recursos naturais e do meio ambiente, resolvi trazer alguns elementos que ajudem a reflexão sobre essa realidade. Isso considerando que nesta semana acontecerá aqui em Dourados uma audiência pública e um seminário sobre a demarcação das terras indÃgenas. A temperatura certamente irá subir com um acentuado e agressivo tom anti indÃgena”, escreve Egon Heck, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.
Eis o artigo.
Fui visitar o amigo Kaiowá, Amilton Lopes, na Terra IndÃgena Nhanderu Marangatu, na fronteira com o Paraguai. Foi logo comentando que um vizinho seu, Arnaldo Savalo, de 30 anos, havia se suicidado, há três dias. Porém colocou uma pitada de desconfiança. “Ele estava assim ajoelhado encima da cama com a corda no pescoço e o peito machucado. Existem dúvidas se em alguns casos os aparentes suicÃdios não são a rigor homicÃdios. Porém isso acaba ficando para o rol dos mistérios que nunca serão esclarecidos. O fato é que os suicÃdios são, conforme a concepção Kaiowá Guarani, uma “doença-epidemia†que está fazendo cada vez mais vÃtimas. Falam sempre com certo constrangimento quando perguntados sobre o assunto. Preferem silenciar a respeito. Por esta razão os relatórios e estatÃsticas são sempre parciais e subestimadas. Conforme alguns estudiosos a média anual de suicÃdios entre esse povo, no Mato Grosso do Sul, fica em torno de cinqüenta casos. Os números registrados ficam sempre aquém do que de fato acontece. Nos últimos vinte anos, foram 517 suicÃdios, conforme órgãos oficiais. Continue lendo