Os elefantes e a internet têm algo em comum: eles nunca esquecem.
Lucieny Moraes, 18, que o diga. Ao digitar o próprio nome no Google, a garota encontrou o fotolog que havia abandonado em 2006.
Ela não gostou da surpresa. “As fotos são velhas, e o jeito como eu escrevia era engraçado”, diz. “Se alguém vir isso, vai ser uma desgraça!”
Como não se lembra da senha de acesso ao site, Lucieny não consegue apagar as fotos. E, mesmo que conseguisse, a informação ainda apareceria na busca do Google (leia mais no infográfico abaixo).
“As ferramentas da internet foram construÃdas para guardar toda informação que chega a elas”, explica Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife.
Mas, ao contrário da web, “a natureza humana é baseada no esquecimento”, diz. “Não nos lembramos dos detalhes após um certo tempo.”
Isso, é claro, sem a forcinha da internet. Ele cita o vÃdeo de Daniela Cicarelli na praia, que, mesmo depois de deletado, ainda circula na internet. “As pessoas baixam e ‘repostam'”, explica.
É esse tipo de questão que a geração conta-tudo, que cresceu com acesso à rede, nem sempre tem em mente.
“Os ‘nativos digitais’ não têm maturidade emocional para avaliar o que pode ser exposto ou não”, diz a psicóloga Rosa Maria Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP.
Essa imaturidade pode ter consequências. A pesquisa “Norton Online Family Report” aponta, por exemplo, que 79% dos brasileiros de oito a 17 anos já tiveram experiências negativas on-line.
Segundo um estudo inédito da Safernet Brasil, os jovens divulgam na rede desde nome (57%) até celular (5%).
“Eles se assustam quando se dão conta da repercussão que a web pode ter”, diz Rosa.
FORA DE CONTROLE
Em ferramentas como o Twitter, uma informação pode viajar rápido e longe.
Uma pesquisa feita pela equipe do site constatou que 50 milhões de “tweets” são publicados por dia: são 600 tuitadas por segundo.
E isso inclui os “RTs”. Como os usuários repassam os “tweets”, não adianta o autor tentar apagá-los mais tarde.
Daniela Adamek, 16, tuita quase 40 vezes por dia. Mas não teve problemas com o que compartilhou na rede.
“Eu penso muito antes de mostrar as coisas”, afirma.
Saber o que dizer e o que guardar para si foi a fórmula que Gustavo Jreige, 21, seguiu nos sete anos em que manteve um blog pessoal.
Assim, o rapaz ganhou destaque e foi convidado para ser sócio de uma agência de publicidade voltada a mÃdias sociais. “A internet é uma representação do mundo real, e é cruel como ele.”
VIDA SEM SENHA
O quanto compartilhar a vida na rede prejudicará os jovens depende de um futuro ainda incerto. Especialistas apostam no “perdão social”: lá na frente, as pessoas vão relevar informações antigas que circulam na web.
Mas não é esse o cenário atual. “Vivemos em uma era sem capacidade para o arrependimento on-line”, afirma Patricia Peck Pinheiro, advogada especialista em direito digital.
“Aos 40 anos, alguém pode ser julgado pelo que fez aos 16”, completa Félix Ximenes, diretor de comunicação do Google Brasil. “Pode ser que haja tolerância, mas é melhor se precaver.”
Fonte: Folha SP, 26 jul 2010