Pesquisa inédita da Unesp, em colaboração com a Nasa, mostra que falta de árvores e ilhas de calor aumentam diferença climática.
[Artur Rodrigues, Estadão, 26 mar 12] Enquanto o Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo, ferve a mais de 30°C, os moradores da Serra da Cantareira, extremo norte, podem desfrutar um clima abaixo dos 20°C. Uma pesquisa inédita da Universidade Estadual Paulista (Unesp), realizada com a colaboração do laboratório Goddard da Nasa (agência espacial americana), mostra que a capital paulista já pode ter diferença de temperatura de até 14°C no mesmo instante.
A geógrafa Magda Lombardo, autora da pesquisa e supervisora do Centro de Análise e Planejamento Ambiental (Ceapla) da Unesp de Rio Claro, diz que se trata de um sintoma causado pela escassez de árvores e pelo excesso de área construÃda na cidade, fatores responsáveis pelo surgimento das chamadas ilhas de calor. Partes do centro da cidade e a zona leste são as mais afetadas pelo problema, encontrado também em outras metrópoles do mundo.
“A zona leste é uma das maiores áreas de degradação de São Paulo. Exemplo é Itaquera, que não tem quase vegetação. A temperatura é o termômetro da febre urbana, da falta de planejamento”, afirma Magda.
Dados do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) confirmam a tese da geógrafa. Um levantamento do CGE revela que bairros da zona leste atingem as temperaturas mais altas de toda a cidade de São Paulo. Itaim Paulista foi o campeão em janeiro, com 33,2°C, e em fevereiro, com 36,1°C. Em março, atingiu 36°C, mas perdeu o primeiro lugar para a Penha, com 36,1°C. No mapa de uso e ocupação de solo, o Itaim não tem nenhum pontinho verde.
Não é preciso, no entanto, ir aos extremos para encontrar discrepâncias. Bairros próximos podem apresentar diferenças de temperatura. Santa CecÃlia, mais arborizada, tem temperaturas levemente menores que a Sé. Quando começou a pesquisar o assunto, em 1985, a maior diferença encontrada por Magda na cidade era de 10°C, o que já era alarmante. Em Nova York, com mais áreas verdes e mais bem planejada, o contraste não passa de 6°C.
O único jeito de tentar reverter essa situação, avaliam especialistas, é investir em um intenso trabalho de arborização. “A luz solar bate no chão e aquece a superfÃcie. A copa das árvores absorve essa energia”, afirma o meteorologista Thomaz Garcia, do CGE. Embora seja provocado pela natureza, outro fator que também influencia na temperatura desigual entre os bairros são as brisas marÃtimas, que chegam geralmente no fim da tarde. “Quando essa brisa marÃtima entra na zona sul, pega Capela do Socorro, Parelheiros, Cidade Ademar, Santo Amaro.”
Programa municipal. A Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente afirma conhecer o problema. “Toda a polÃtica ambiental desenvolvida está focada nessas ilhas de calor, mas a gente não resolve isso de uma hora para outra”, afirma o chefe de gabinete da secretaria, Carlos Fortner.
Ele ressalta que a Prefeitura investe na arborização e planta em média 200 mil árvores por ano e cria espaços verdes. “Eram 35 parques em 2005. Hoje são 81 formalizados, que tem administração, segurança”, diz.
Fortner admite que o aquecimento do mercado imobiliário impede a criação de novas áreas verdes em alguns bairros. “Se você quiser fazer parque no Morumbi, na Avenida Paulista, é caro. Mas há terrenos baratos na periferia que estão sendo transformados em parques”, afirma.