Nova decisão foi anunciada pelo ministro da Justiça, em BrasÃlia. Liminar que determinava desapropriação levou tribo a ‘pedir’ morte coletiva.
[Nathalia Passarinho, G1, 30 out 2012] O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP e MS) cassou nesta terça-feira (30) liminar (decisão provisória) de um juiz federal de Naviraà (MS) que determinava a desocupação pelos Ãndios guarani-kaiowá de área na Fazenda Cambará, em Iguatemi, a 466 km de Campo Grande.
A informação foi anunciada pelo ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, em reunião com membros da etnia na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência. Cardozo informou ainda que determinou o envio de reforço da PolÃcia Federal e da Força Nacional para evitar que a tensão entre indÃgenas e produtores rurais provoque violência.
“Estamos enviando um reforço de pessoas e viaturas da Força Nacional. A PolÃcia Federal também vai reforçar policiamento na área. Não vamos informar o efetivo por questões de segurança, mas é o suficiente para garantir paz”, afirmou Cardozo.
Pela nova decisão, os Ãndios devem permanecer no local até que sejam terminados os procedimentos administrativos de demarcação das terras. Eles não poderão impedir a circulação de pessoas no local nem ampliar a terra hoje ocupada, de 10 mil metros quadrados. Também não poderão desmatar áreas verdes nem caçar os animais da fazenda.
A área ocupada pela a comunidade de Pyelito Kue, localizada no sul do Mato Grosso do Sul, é de reserva nativa, que não pode ser explorada economicamente. Os Ãndios atravessaram o rio e foram para a propriedade rural em novembro do ano passado, três meses depois de terem o acampamento onde moravam ser destruÃdo em um ataque no dia 23 de agosto de 2011.
No dia 17 de setembro deste ano, a Justiça Federal de Naviraà determinou a saÃda dos Ãndios do local deferindo pedido de desapropriação feito pelo proprietário das terras, o produtor rural Osmar Bonamigo.
Por conta da decisão os Ãndios chegaram a divulgar uma carta em que anunciavam morte coletiva caso tentassem retirá-los das terras. O lÃder dos guarani-kaiwoá Solano Lopes, que participou da reunião na Secretaria de Direitos Humanos, esclareceu que o texto não significa que haverá suicÃdio coletivo, mas que os indÃgenas lutarão “até o último guerreiro” pela permanência na propriedade.
“A comunidade tem uma decisão de não sair nem por bem nem por mal. Vamos lutar por essa terra até o último guerreiro. Não vamos matar uns aos outros, mas vamos morrer pela nossa terra”, afirmou.
Solano Lopes argumentou ainda que a propriedade em Iguatemi é dos indÃgenas há dezenas de anos. ”
Demarcação
De acordo com o ministro Eduardo Cardozo, o estudo etnológico da Funai, para averiguar se a terra é indÃgena, já foi concluÃdo. “Só falta o levantamento fundiário, que deve ser concluÃdo em 30 dias”, afirmou.
A decisão definitiva sobre a demarcação, contudo, não tem prazo para ocorrer, já que a demarcação pode ser contestada judicialmente pelo estado, municÃpio e pelos produtores rurais.
A ministra Maria do Rosário também criticou a demora do Judiciário, especialmente do Supremo Tribunal Federal, para decidir sobre recursos contra demarcações de terras indÃgenas no paÃs. “A morosidade na votação de matérias que dizem respeito a terras indÃgenas no STF intensifica a tensão na região. Vamos procurar os ministros para tratar das ações que tramitam lá”, disse.
‘Satisfeito pela metade’
Após anúncio, o guarani Otoniel Nhandherou, liderança indÃgena, chorou e disse estar “satisfeito pela metade”. “Não quero mais meu povo morrendo por causa dessa terra. Eu vou ficar feliz totalmente quando toda essa área for demarcada. Quando morrer vai ser de olho aberto para mostrar minha angústia”, disse.
Já o cacique guarani Solano Lopes pediu cópia da decisão para comprovar que eles poderão, de fato, permanecer na na propriedade até a demarcação.
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que o governo vai agilizar os procedimentos necessários à demarcação.