O poeta sueco Tomas Tranströmer ganhou o prêmio Nobel de Literatura de 2011.
[BBC Brasil, 6 out 11] A Academia Sueca, que confere o prêmio, justificou a escolha do escritor dizendo que “por meio de suas imagens condensadas e translúcidas, ele nos dá novo acesso à realidade”.
Aos 80 anos de idade, Tranströmer é o 108º agraciado com o prestigioso prêmio, concedido no ano passado ao escritor peruano Mario Vargas Llosa.
O prêmio de quase US$ 1,5 milhão de dólares é concedido apenas a escritores vivos.
Formado em psicologia, Tranströmer sofreu um derrame em 1990, o que afetou sua fala.
‘MÃstico’
As obras de Tranströmer foram traduzidas em 50 idiomas, entre eles, o português (de Portugal) e o espanhol.
Seus poemas foram descritos pela editora inglesa Publishers Weekly como “mÃsticos, versáteis e tristes”.
Há anos, tem havido especulações de que o nome do poeta estaria sendo cogitado para levar o prêmio.
Tranströmer é o oitavo europeu agraciado com um Nobel de Literatura nos últimos dez anos e o primeiro sueco a recebê-lo desde 1974, quando os escritores Eyvind Johnson e Harry Martinson dividiram a honraria.
Nascido em abril de 1931, em Estocolmo, Tranströmer formou-se em psicologia em 1956 e mais tarde trabalhou em uma instituição para jovens infratores.
Sua primeira coletânea de poemas, intitulada Dezessete Poemas, (em tradução literal) foi publicada quando ele tinha 23 anos.
Em 1966, o poeta ganhou o prêmio Bellman, um entre muitos que viria a receber no decorrer de sua vida.
Em 2003, um dos seus poemas foi lido durante uma cerimônia em memória de Anna Lindh, a ministra sueca das Relações Exteriores, que morreu assassinada.
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A seguir, quatro poemas de Tranströmer traduzidos pelo poeta João LuÃs Barreto Guimarães a partir da versão castelhana do livro Para vivos y muertos (editado em Espanha pela Hiperión, com tradução do sueco por Roberto Mascaro e Francisco Uriz), e publicados originalmente em seu blog.
HISTÓRIAS DE MARINHEIROS (1954)
Há dias de inverno sem neve em que o mar é parente
de zonas montanhosas, encolhido sob plumagem cinza,
azul só por um minuto, longas horas com ondas quais pálidos
linces, buscando em vão sustento nas pedras de à beira-mar.
Em dias como estes saem do mar restos de naufrágios em busca
de seus proprietários, sentados no bulÃcio da cidade, e afogadas
tripulações vêm a terra, mais ténues que fumo de cachimbo.
(No Norte andam os verdadeiros linces, com garras afiadas
e olhos sonhadores. No Norte, onde o dia
vive numa mina, de dia e de noite.
Ali, onde o único sobrevivente pode estar
junto ao forno da Aurora Boreal escutando
a música dos mortos de frio).
***
A ÃRVORE E A NUVEM (1962)
Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.
Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.
***
DESDE A MONTANHA (1962)
Estou na montanha e vejo a enseada.
Os barcos descansam sobre a superfÃcie do verão.
«Somos sonâmbulos. Luas vagabundas.»
Isso dizem as velas brancas.
«Deslizamos por uma casa adormecida.
Abrimos as portas lentamente.
Assomamo-nos à liberdade.»
Isso dizem as velas brancas.
Um dia vi navegar os desejos do mundo.
Todos, no mesmo rumo – uma só frota.
«Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém.»
Isso dizem as velas brancas.
***
PÃSSAROS MATINAIS (1966)
Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.