[Luciana N Leal, Estadão 18 jun 11] Dados do Censo de 2010 que balizaram ações do Brasil sem Miséria, principal programa social da gestão Dilma, detalham onde vivem 8,5% dos brasileiros com renda familiar de até R$ 70
Uma população estimada em 10,5 milhões de brasileiros – equivalente ao Estado do Paraná – vive em domicÃlios com renda familiar de até R$ 39 mensais por pessoa. São os mais miseráveis entre 16,267 milhões de miseráveis – quase a população do Chile – contabilizados pelo governo federal na elaboração do programa Brasil sem Miséria.
Lançado no dia 3 de maio como principal vitrine polÃtica do governo Dilma Rousseff, o programa visa à erradicação da miséria ao longo de quatro anos.
Dados do Censo 2010 recém-divulgados pelo IBGE que municiaram a formatação do programa federal oferecem uma radiografia detalhada da população que vive abaixo da linha de pobreza extrema, ou seja, com renda familiar de até R$ 70 mensais por pessoa – que representam 8,5% dos 190 milhões de brasileiros.
A estimativa dos que sobrevivem com até R$ 39 mensais per capita é a soma dos 4,8 milhões de miseráveis que moram em domicÃlios sem renda alguma e 5,7 milhões de moradores em domicÃlios com rendimento de R$ 1 a R$ 39 mensais. Estima-se que outros de 5,7 milhões vivem com renda entre R$ 40 e R$ 70 mensais por pessoa da famÃlia.
Os números calculados pelo Estado são aproximados e levam em conta o número médio de 4,8 moradores por domicÃlio com renda familiar entre R$ 1 e R$ 70 mensais.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social com base no Censo 2010, há 4 milhões de domicÃlios miseráveis no PaÃs. Em 1,62 milhão desse total vivem famÃlias que não têm renda. Em 1,19 milhão de moradias a renda familiar é de R$ 1 a R$ 39 mensais per capita e em outro 1,19 milhão as famÃlias vivem R$ 40 a R$ 70.
Além da baixÃssima renda, os extremamente pobres têm em comum o fato de viverem em domicÃlios com pelo menos um tipo de carência por serviços básicos, como energia elétrica, abastecimento de água, rede de saneamento ou coleta de lixo.
Ranking. O Estado com o maior número absoluto de miseráveis é a Bahia, onde estão 2,4 milhões, ou 14,8% da população extremamente pobre. Os baianos miseráveis são 17,7% dos habitantes do Estado.
No Maranhão, no entanto, está a maior proporção de miseráveis. Um em cada quatro moradores vive com renda familiar per capita entre zero e R$ 70 – um total de 1,7 milhão de pessoas, que representam 25,7% da população.
Seis Estados (PA, MA, CE, PE, BA e SP) têm, cada um, mais de 1 milhão de moradores em extrema pobreza. Juntos, eles concentram 9,4 milhões de miseráveis, ou 58% do total.
São Paulo. Estado mais populoso do PaÃs, São Paulo tem 1,084 milhão de pessoas que vivem em domicÃlios em situação de pobreza extrema – o que representa só 2,6% do total de habitantes.
A pesquisadora Lena Lavinas, do Instituto de Economia da UFRJ, especializada no estudo da pobreza, acredita que em um ano seja possÃvel “alcançar as pessoas que, embora indigentes, ficaram de fora do programa Bolsa FamÃlia”. “O importante é que não haja cotas ou limites para os municÃpios. Todas as pessoas devem ser cobertas.”
“Isso vai funcionar melhor ou pior dependendo da competência dos municÃpios e da capacidade de articulação dos Estados”, afirma. A economista lembra que outra etapa do Brasil sem Miséria será suprir carências das famÃlias como acesso a serviços básicos e à educação. “Essa dinâmica toma mais tempo, é um processo mais longo”, afirmou.
Para calcular a renda média das famÃlias extremamente pobres, o IBGE levou em conta apenas as que têm algum tipo de rendimento, entre R$ 1 e R$ 70. Essa população tem renda familiar média de R$ 40,70 mensais – uma longa distância de mais de R$ 30 para, segundo os critérios do governo, passar de miserável a pobre (renda familiar per capita de R$ 71 a R$ 140 mensais).
A contagem feita em 2010 aponta a existência de agrupamentos de moradias miseráveis mesmo nas cidades em que a população tem alta renda.
São José do Rio Preto (SP) é um exemplo. Embora a renda familiar média seja de R$ 1.161,86 mensais por pessoa, há lá um conjunto de 867 domicÃlios extremamente pobres em que a renda média dos moradores é de apenas R$ 18,83 mensais per capita.
Grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, com alta renda média da população, também registram grupos de famÃlias com baixÃssima renda.
Entre 20.075 famÃlias paulistanas na faixa de extrema pobreza, o rendimento médio domiciliar era de R$ 43,08. Há 101 mil miseráveis (com renda entre R$ 1 e R$ 70, excluÃdos os que não têm renda) na capital (0,9% da população). Em números absolutos, é a maior concentração de pessoas extremamente pobres do PaÃs.