Não é o tema que faz a poesia, pois todo assunto pode resvalar para a bobagem, o sentimentalismo e o clichê
[OGlobo, 11 fev 12] Faço parte do clube dos amantes da poesia de Wislawa Szymborska. Uma senhora que até a semana passada vivia na cidade da Cracóvia. Não é fácil falar da poesia contemporânea, saber onde ela está, reconhecer o poeta em sua toca. De certo modo a toca é o lugar, escolhido e compulsório, de toda uma linha de poetas contemporâneos. A mercantilização das palavras, a sua apropriação publicitária, a identificação de tudo quanto existe pela sua senha utilitária, a mentalidade classificadora e redutora, a espetacularização da vida, a faccionalização dos discursos, são todos itens conhecidos, de certo modo batidos, mas verÃdicos, do mundo do qual a poesia tem que escapar, sabendo que isso é, no limite, impossÃvel. Drummond, por exemplo, acusou a vinda dessa onda avassaladora, a partir dos anos 1950. Além disso, a poesia autêntica está exposta necessariamente ao confronto silencioso e difÃcil com a pulsão de morte que o mundo contemporâneo manifesta por todos os poros e ao mesmo tempo esconde como nunca. Continue lendo →