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O Analfabeto Político ~ Brecht

Girls and a flower

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.

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Os que Lutam

Há homens que lutam um dia, e são bons;

Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida

Estes são os imprescindíveis

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A confiança pode exaurir-se caso seja muito exigida.

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Perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.

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Tenho muito o que fazer. Preparo o meu próximo erro.

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Bertolt Brecht  (10 fev 1898 – 14 ago 1956) foi um influente dramaturgo, poeta alemão.

Poema em linha reta ~ Fernando Pessoa

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

(Álvaro de Campos)

Adélia Prado ~ Poesias

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Adélia Prado

Escritora, professora por formação, revitalizou a literatura inserindo a mulher como intelectual, mesmo acumulando as funções domésticas.

Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela sua fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único.

Nasc. 13/12/1935, Divinópolis – MG

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“Bagagem, meu primeiro livro, foi feito num entusiasmo de fundação e descoberta nesta felicidade. Emoções para mim inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento. Descobri ainda que a experiência poética é sempre religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar amoroso sobre você, ou de observar formigas trabalhando.”

“O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta.”

“Tenho confissão de fé católica. Minha experiência de fé carrega e inclui esta marca. Qual a importância da religião? Dá sentido à minha vida, costura minha experiência, me dá horizonte. Acredito que personagens são álter egos, está neles a digital do autor. Mas, enquanto literatura, devem ser todos melhores que o criador para que o livro se justifique a ponto de ser lido pelo seu autor como um livro de outro. Autobiografias das boas são excelentes ficções.”

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“Beleza não é luxo. É uma necessidade”!

“Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.

“Meu Deus, me dê cinco anos. Me dá a mão, me cura de ser grande”!

“Deus é mais belo que eu. E não é jovem. Isto sim, é consolo”.

“Não quero faca, nem queijo. Quero a fome”.

Casamento

“Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinho na cozinha,de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como “este foi difícil”, “prateou no ar dando rabanadas” e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.” Adélia Prado

Amor Feinho

“Eu quero amor feinho. Amor feinho não olha um pro outro. Uma vez encontrado, é igual fé, não teologa mais. Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo e filhos tem os quantos haja. Tudo que não fala, faz. Planta beijo de três cores ao redor da casa e saudade roxa e branca, da comum e da dobrada. Amor feinho é bom porque não fica velho. Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: eu sou homem você é mulher. Amor feinho não tem ilusão, o que ele tem é esperança: eu quero amor feinho”.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor. Essa palavra de luxo.

Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo.

Antes do nome

Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,
o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infreqüentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão. Puro susto e terror.

Despertar é preciso ~ Vladimir Maiakóvski

Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma flor do nosso jardim e não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.

Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.

Cabeça de galo e queijo de coalho ~ Ignácio de Loyola Brandão

JOÃO PESSOA – Numa barraca à beira-mar, vi o sujeito comendo um bolo de mandioca. Antes de me decidir, perguntei a ele: “Está bom?” Ele me avaliou, pareceu ter me aprovado: “Rapaz. Vou te dizer que está bem bom.” A todos a quem você agradece, “obrigado”, vem a resposta afável: “Disponha.” A cidade é aconchegante e o povo, hospitaleiro e alegre. Durante uma semana, aconteceu a 1ª Bienal de Livros da capital da Paraíba, promovida pela Acessus, do Salustiano Fagundes, o Salu, que vem implantando feiras de livros pelo Nordeste. Pioneiras na região, são pequenas ainda, mas despertam curiosidade e atraem o público. O poder público podia se comover mais e dar importância maior à cultura, entrando no jogo. Um dia, essas bienais serão tradição, como têm hoje Porto Alegre, Passo Fundo, Paraty. Começar é preciso (Por que essa ordem indireta? Pirei?) Em João Pessoa falaram Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna, Zuenir Ventura e outros. Gente da pesada.

Não esquecer que a Paraíba é a terra de José Lins do Rego, Augusto dos Anjos, Edilberto Coutinho, Ernani Sátiro, Perminio Asfora, Políbio Alves, Aldo Lopes. E, claro, de José Américo de Almeida. Também de Ariano Suassuna que ali nasceu, aliás no Palácio, uma vez que seu pai foi governador. Conta-se que, anos mais tarde, Ariano, ao voltar à cidade, foi visitar a casa em que nasceu. Um funcionário empertigado, ao vê-lo em mangas de camisa, botou a mão em seu peito: “Não se entra no palácio sem paletó e gravata!” E Ariano, enfezado: “Pois entro! Andei descalço e pelado nestes quartos e corredores, não vou entrar de camisa?” Como não citar o nosso José Nêumanne, poeta e romancista, saboroso contador de causos?

A Paraíba, chamada de “pequenina e heróica”, teve a mais doce cana-de-açúcar e o melhor pau-brasil do mundo, segundo a crônica ultramarina. Hoje tem o melhor sisal, o algodão de fibra longa, um abacaxi dulcíssimo, o Pérola, um rebanho caprino insuperável, uma indústria têxtil em plena evolução e cerâmica de primeira linha. Paraibanos ficam bravos e alguém não cita o Cabo Branco, como o ponto mais oriental das Américas, o que é contestado por outros Estados, mas eles comprovam com alguns metros a mais.

Para visitar a cidade é preciso ter o privilégio de contar com acompanhantes como Chico Pereira, artistas plástico, designer, historiador, apaixonado, e com Vladimir Neiva, ao lado. Nenhum detalhe nos escapa. Ao fim do dia, depois de olhar a paisagem do alto do Hotel Globo (nada a ver com a televisão, nada, era o antigo hotel dos comerciantes junto ao porto) você está apaixonado. A imensidão verde, os mangues, os canaviais ao longe, o Rio Parahyba correndo manso, deslumbraram também Franz Post, que ali esteve quando a Paraíba era a terceira capitânia em importância, antes da invasão holandesa. A paisagem hipnotiza e paralisa, é impossível arredar pé.
No entanto, é preciso partir para chegar à igreja menina dos olhos de Darcy Ribeiro, que a considerava um dos monumentos barrocos mais belos do mundo, a de São Francisco. E o crítico Clarival do Prado Valadares a definiu como a igreja mais bonita do Brasil. Novo deslumbramento. Ao chegar, deite-se no chão e contemple o teto, com as pinturas em trompe l’oeil. O que a arte moderna diz que foi inventada por ela, já estava neste teto havia séculos. Conforme você muda de lugar, as figuras se modificam e as colunas se inclinam. Pela janela da fachada, o sol, determinada hora do dia, penetra e se reflete em um crucifixo dourado que resplandece, transmitindo a “glória do Senhor”. Sabiam tudo os arquitetos da época. Tanto que em pleno inverno – estava 33°C – a igreja é fresca e a brisa circula. Apaixonado pela igreja e por sua terra, Chico Pereira se transfigura em êxtase, conhece e mostra cada detalhe, aponta para o púlpito que avança para a nave com uma decoração assombrosa, requintada. Então, percebemos que o tempo parou.

Felizmente, o centro da cidade antiga foi “esquecido” ou desprezado pela especulação imobiliária, de maneira que ainda permanecem de pé vários palacetes, casas coloniais, sobrados, (o Pavilhão Chinês, onde as pessoas iam tomar chá à tarde, é lindo, merecia mais cuidado) vestígios de uma arquitetura que fez da cidade uma centro sofisticado. No entanto, assinale-se uma tristeza. Aliás, duas. A Petrobrás, que se orgulha tanto de incentivar a cultura nacional (e realmente patrocina coisas belas) e defender o patrimônio histórico, comete um crime. Quem vai visitar a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, magnífica, imponente, símbolo da resistência paraibana, chora. O forte foi esmagado, oprimido e desapareceu envolvido pelos gigantescos tanques de combustível da Petrobrás. Um crime, impiedade. Além disso, a visão do rio foi ocupada e se dissolveu, obscurecida por uma torre moderna, a do Moinho Tambaú. Curioso, parece que não existe Patrimônio Histórico neste Brasil. As boas cabeças da Paraíba lamentam e choram.

Era domingo e, de repente, estávamos numa casa à beira da praia. O Neiva, da Grasset, uma das grandes gráficas do Estado, abriu e porta e disse: “Chegaram na hora. Vão experimentar cabeça de galo.” Um prato típico. Para quem chega de uma noitada e precisa se retemperar. Tremi. Não gosto de frango, detesto, é trauma de infância e juventude – era comida de pobre, tinha todo dia, lembro-me do cheiro da água quente quando tiravam as penas. Cabeça de galo? Me imaginei comendo a cabeça da ave, chupando ossinhos. Teria de ser gentil fazer o sacrifício? Mas quando chegou, me deliciei. É um caldo quente, pelando, com ervas variadas, pimenta e um ovo jogado dentro. Revigorante, alucinante. O nome vem do lugar onde ele nasceu, um boteco onde os boêmios chegavam de madrugada e queriam se recompor.

Como não queria sair sem uma boa carne-de-sol, me lavaram à Tábua de Carne. Perfeito. Filé de carne-de-sol no ponto exato, manteiga da terra, na garrafa, pirão de queijo, paçoca e feijão verde. Sobremesa? Abacaxi Pérola ou queijo de coalho com melaço. Há quem resista? Nas conversas com Chico Pereira e Vladimir soube das pesquisas e experiências nutricionais que vêm sendo feitas por especialistas com resultados excepcionais. No tocante à carne caprina, lembrar que bode é prato requintado. E os cheios de imaginação locais criaram o Mac Bode – um sucesso – e o Mac Cheiro (corruptela de macacheira), outro êxito. Quem não gostou foi o MacDonald’s que protestou e processou. De nada adiantou, a coisa pegou. Saia da normalidade, jogue-se no seu país. Mac Bode e Mac Cheiro. Anote.

© O Estado de S. Paulo -  2.junho.2006 – Caderno 2

Lista das mais tocadas no Brasil consagra a canção simplória

Depois de uma rápida olhada na lista das músicas mais executadas nas rádios do país, a constatação é inevitável: o gosto popular se afastou completamente do que a MPB produz de mais interessante e sofisticado.

Uma relação que teve em outras épocas “Olhos nos Olhos”, de Chico Buarque, ou “Bem que se Quis”, de Marisa Monte, fica hoje limitada a canções comportadas, anódinas, simplórias.

Trata-se da lista considerada a mais confiável no gênero, feita pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), que recolhe direitos autorais no Brasil. Engloba rádios AM e FM e abrange de janeiro a dezembro de 2009.

Entre as dez mais bem colocadas há apenas duas músicas de artistas estrangeiros, uma delas a campeã, “Halo”, de Beyoncé. Com fenômeno de massa não se discute.

Outros 12 países também tiveram a música no topo das paradas. Pop eficientíssimo, de receita comprovada, feito para conquistar territórios sem se preocupar com as “vítimas”.

A outra gringa da lista também segue uma cartilha redondinha: é “I’m Yours”, de Jason Mraz, a bola da vez do surf pop, o estilo calminho e “pra cima” liderado por Jack Johnson.

Nas canções nativas, o sertanejo moderno predomina. Victor e Leo, puxados pela boa-pinta e por uma música na trilha de novela no ano anterior, emplacaram duas: a romântica “Borboletas” e a louvação à vida rural “Deus e Eu no Sertão”.

Cheios de boas intenções, mas versos como “Foi tudo tão bonito, mas voou pro infinito/ Parecido com borboletas num jardim” entregam a escassez de recursos líricos.

Já João Bosco e Vinicius (nomes que involuntariamente evocam uma fase mais brilhante da MPB) são poeticamente tão “simples” que até uma vírgula falta no título da canção “Chora Me Chama”.

Não se pode dizer que Nando Reis e Samuel Rosa não tenham os predicados para grandes composições. “Sutilmente”, do Skank, é uma reserva de qualidade na lista.

Mas é triste que tanto ela como “Vem Andar Comigo”, que é mais do mesmo Jota Quest, sinalizem um pop rock comportado, digerível. Onde estão as músicas dos grupos mais endeusados pela molecada?

NX Zero e Fresno fecharam o ano com milhares de fã-clubes, mas eles definitivamente não estão sentados esperando o rádio tocar. Devem estar espertos, baixando e trocando o que querem ouvir, na hora que bem entendem.

A chamada nova MPB, de Vanessas, Céus e Mallus, ganha comentários na mídia, mas nem sonha com um “top 10” assim. A lista é completada com gospel, pop rasteiro e trilha de luau que alguém pode até confundir com reggae de verdade.

A presença de Regis Danese se explica pela fé e só mesmo com muita fé para crer que “Faz um Milagre em Mim” mereça todo esse sucesso.

Já a bonitinha cantora pop Ornella de Santis teve ajuda do cantor Belo (a única e modestíssima menção ao samba) para transformar “Agenda” num hit “chiclete”, à Latino.

E, para encerrar de forma sintomática este comentário, sobrou “Versos Simples”, do Chimarruts, cujo título sintetiza e condena o atual estágio de nossa parada de sucessos.

Fonte: Folha Online, 19 maio 2010

Filme analisa dominação holandesa no Nordeste

influencia holandesa nordestePor que o povo brasileiro teria saudades de um invasor? É com essa pergunta que a diretora Monica Schmiedt dá início ao documentário “Doce Brasil Holandês”, em que investiga o legado e o contorno mitológico dos 24 anos de dominação holandesa no Nordeste do Brasil, de 1630 a 1654.

“Sempre achei Maurício de Nassau um personagem muito interessante, assim como a ideia de uma nostalgia nassoviana”, diz a cineasta, citando expressão criada pelo pesquisador Evaldo Cabral de Mello para designar a saudade do progresso e da cidadania que os anos de governo Nassau inspiravam.

Para isso, Schmiedt entrevista historiadores especialistas na invasão holandesa e alguns dos mais de mil recifenses que carregam como sobrenome uma versão brasileira da herança daquele tempo: os Vanderlei, descendentes dos Van Der Ley.

Nessa linha, o filme reúne duas historiadoras que dividem essa ascendência: a brasileira Kalina Vanderlei e a alemã Sabrina Van Der Ley. Juntas, elas exploram o que um dia foi a Mauritsstadt, ou simplesmente Maurícia, no coração do Recife antigo. Uma cidade planejada que exibia a maior ponte do novo mundo. Elas debatem questões de urbanismo e de identidade que emanam do cruzamento entre Brasil e Holanda.

Entre relatos e debates, “Doce Brasil Holandês” aponta o mito para então desconstruí-lo, sem negar os méritos reais da ocupação. Apesar de imprimir na capital pernambucana um projeto humanista de cidade, Nassau não era um diplomata do governo da Holanda, mas um funcionário da Companhia das Índicas Ocidentais. Como bom comerciante, se cercou de eficiente projeto de marketing.

Cores e tipos brasileiros

Nassau promoveu o maior projeto de registro iconográfico do Brasil-Colônia, colocando as cores e os tipos brasileiros no mapa dos europeus a partir do traçado dos pintores Franz Post e Albert Eckhout. O legado artístico e urbanístico da invasão vai de encontro a um suposto complexo de inferioridade do brasileiro, fomentando o pensamento de que o Brasil seria um país melhor se os holandeses tivessem aqui ficado.

“Ao resgatar um passado glorioso, e mostrar que ele não foi tão glorioso assim, quero contribuir para que a gente mereça a nossa história e repense a maneira como temos tratado as nossas cidades”, diz Schmiedt. A tal “nostalgia nassoviana” desaba quando o filme aponta para as ex-colônias da Holanda. O subdesenvolvimento do Suriname e o fantasma do apartheid que insiste em assombrar a África do Sul mostram que a expulsão dos holandeses do Nordeste, em 1654, foi um bom negócio para o Brasil.

DOCE BRASIL HOLANDÊS
Direção: Monica Schmiedt
Quando: amanhã, às 20h, e sábado (17) no IMS, no Rio de Janeiro; quarta (14) no Ponto Cine, no Rio, e no Reserva Cultural, em São Paulo; quinta (15) no Cine Santa, no Rio
Classificação: 14 anos

Fonte: Folha Online, 12 abr 2010

Por Fernanda Mena

The Twisty Spirituality of Martin Scorsese

David Roark

How one of the greatest filmmakers of all time exposes the divine.

There’s been something lurking under the waters of Martin Scorsese’s films since the start of his career. It’s more prominent in some works than in others, but it’s always present. It’s not just his obvious filmmaking prowess. It’s not violence, drugs, sex or profanity. It’s not Italian-American life in New York City. It’s something bigger.

Few people know Scorsese planned to become a priest before pursuing film. Raised in a religious home, he attended Catholic school and spent a year in seminary. His life was once solely dedicated to the gospel.
And though it’s uncertain where his beliefs are today, it is clear he is still working through his faith. Scorsese’s movies have been a lucid autobiography of his convictions and his struggles. He once stated, “My whole life has been movies and religion. That’s it. Nothing else.”

It all started with guilt. Nearly ten years after seminary and attending NYU, Scorsese made Who’s That Knocking at My Door (1968), his first feature film, which explores morality through an Italian-American man’s confusion amid religious convictions and a liberating sexual experience. It may be Scorsese’s most personal movie despite the lack of attention it received.

This would explain why he pursued a similar theme in his 1973 film, Mean Streets. It follows a gangster caught in the middle of two lives: promised prosperity in an obligation to work for his criminal uncle and a commitment to Catholicism, in which he can honestly love his friends and family.

In the opening scene, Charlie’s musings are heard in a voiceover by Scorsese: “You don’t make up for your sins in church. You do it on the streets. You do it at home.” Powerful words, as one can only imagine how real and close they were to Scorsese’s heart at the time.

Charlie’s character is different than the stone-faced men of typical crime movies, who care only about riches and power. Like Scorsese, he understands love. He wants to make the right decisions. But with life’s temptations in front of him, the battle is difficult to win.

Three years later, Scorsese continued on his spiritual film journey with Taxi Driver, a glimpse inside the mind of a lonely Vietnam vet. While its religious undertones are slightly ambiguous, this film is a unique character study of a psychopath deeply burdened by the corrupt streets of New York City yet motivated by rejection. The lunatic is very different than previous protagonists, yet there’s still a strong connection between him and Scorsese.

1980‘s Raging Bull is one of Scorsese’s most spiritually riveting movies. He moves away from a theme of guilt and explores the effects of pride. La Motta goes from Middleweight Champion and family man to broken and divorced, losing everything and ending up in prison for involvement with prostitution.

Nevertheless, when hope seems out of reach for the egotistical bombshell, La Motta eventually finds redemption through humility. The movie’s moving finale concludes with an excerpt from John 9: “All I know is that I was blind, and now I can see.” Even though La Motta was a real man, there seems to be no coincidence in Scorsese’s decision to probe his character.

Neither was his decision to make his most spiritual and controversial film, The Last Temptation of Christ (1988). The movie, an adaptation of Nikos Kazantzakis’ novel, is by no means historically or theologically accurate, but it’s not supposed to be. Scorsese warns audiences of this in a disclaimer. The message, however, is overwhelmingly biblical.

Contrasting other movies about the life of Christ, like Mel Gibson’s 2004 interpretation, Jesus is portrayed as the real man he truly was (fully man, fully God). He laughs, dances, shows emotion. And he’s faced with the same temptations all humans are forced to deal with, which makes the film effective. Rather than emphasizing Christ’s physical suffering, it highlights his emotional suffering.

While on the cross, Jesus imagines how satisfying and easy life could’ve been if he had married, raised a family and didn’t have to die. With so many movies centered on characters battling between grace and sin, it’s no surprise Scorsese choose to explore this human side of Christ. Seeing his humility not only expounds upon the necessity and weight of the sacrifice, it makes his final words all the more powerful: “It is accomplished.”

In 1990, Scorsese returned to his customary genre, while not abandoning spirituality, and made the gangster classic, Goodfellas. This popular film tells the story of real-life mobster Henry Hill. Unlike other Scorsese characters, the intermingling of sacred and sordid is less prominent with Hill. He doesn’t seem to care about anything but money and self. He cheats on his wife, neglects his children, and rats out his best friends.
And there’s no sense of transformation in him. Hill eventually finds safety in a witness protection program, yet he is left empty, not redeemed. Through the life of Hill, Scorsese makes no reservations in revealing the candid consequences of recklessness of power and greed. There’s an inevitable price involved with sin, and he shows that even the most untouchable gangsters in the world can’t escape from it.

Because of violent movies like Goodfellas, Scorsese surprised many people with the 1997 release of Kundun, a story about nonviolence and the life of the 14th Dalai Lama. For others, however, it made sense. Scorsese was dealing with the same spiritual themes prominent in his other films, but in a different way.

Scorsese doesn’t expose the harsh effects of violence through a bloody baptism; he does it through one man’s refusal to take part in it. The Dalai Lama’s life is devoted to love—loving everyone. And even though he is Buddhist, his convictions ring very true to the teachings of Christ. Scorsese’s admiration for the Dalai Lama is surely connected with a yearning for peace and self-control in his personal life.

Despite critical success, Scorsese’s works of the last decade have dealt less with spirituality than predecessors. Gangs of New York has a striking scene in which two enemies simultaneously pray to a god of strength. In The Departed, an undercover cop makes the sign of the cross before risking his life for a fellow officer. But the heavy religious themes of his earlier movies simply aren’t as apparent.

Nevertheless, Shutter Island (out now) is a strong shift back toward tradition. It has all the elements of a twisty psychological thriller with the added bonus of depth. Scorsese doesn’t merely dabble in spirituality, either. The entire movie is allegorical, and there are divine themes under every word, rock and person on the island.

Forgiveness and, inevitably, violence are the clearest, though. Marshall Daniels, the protagonist, is motivated by revenge and sins of the past. Not only that, it all consumes him and his actions to a point of no return. But nothing speaks louder than a question posed at the film’s end …“Which would be worse: to live as a monster, or die as a good man?”

Shutter Island will, undoubtedly, join the ranks of Scorcese’s most spiritual accomplishments. And his next film—an adaptation of Shusaku Endo’s novel, Silence—is about Jesuit missionaries to Japan; clearly the divine which lurks beneath Scorcese’s films is again making itself known. Despite abandoning his plans to enter the priesthood, Scorsese obviously hasn’t given up on faith or his calling to speak the truth.

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Obra que retrata religiosos empilhados é criticada na Espanha

Anelise Infante, BBC Brasil, 20 fev 2010

Uma escultura que traz elementos religiosos católicos, judeus e muçulmanos foi vendida em três minutos na feira de arte contemporânea de Madri, Arco 2010, e se tornou a obra de arte mais polêmica do evento.

Chamada Stairway to Heaven (Escadaria para o Paraíso), a obra do artista espanhol Eugenio Merino retrata três homens rezando, um em cima do outro: um muçulmano, sobre ele um sacerdote católico e acima dos dois um rabino judeu, todos eles segurando livros sagrados das religiões dos demais – o Alcorão, a Bíblia e a Torá.

A obra foi vendida por 45 mil euros (R$ 112 mil) a um colecionador belga cuja identidade não foi divulgada. A escultura provocou a ira dos fiéis na Espanha e recebeu queixas oficiais.

Ao lado dela, aparece outra escultura que une uma metralhadora Uzi com uma menorá (candelabro ritual judaico).

A primeira reclamação saiu da embaixada de Israel em Madri. Em uma nota à direção da feira, o governo do Estado judaico diz que as peças “contêm elementos ofensivos para judeus, israelitas e certamente para outros.”

A embaixada classificou as esculturas como “uma mensagem cheia de preconceitos, estereótipos, provocações gratuitas e que fere a sensibilidade por muito que pretenda ser uma obra artística”.

A Conferência Episcopal da Espanha também reclamou. Através de comunicado à Arco os representantes do alto clero descreveram a peça com os religiosos como “provocação blasfema absolutamente desnecessária”.

‘Mentes fechadas’

Mas apesar das reclamações feitas logo no primeiro dia do evento, a galeria espanhola ADN, que representa o autor, não tem medo de represálias e afirma não entender a polêmica levantada pela escultura.

O proprietário da galeria, Miguel Ángel Sanchez, disse à BBC Brasil que a peça “deveria ser vista pelo lado positivo de um encontro religioso porque não há nada de ofensivo ali”.

Já o autor da escultura acha que o problema “não é a obra dele”, mas as interpretações que possam ser feitas “por mentes fechadas”.

“Cada um é livre para pensar o que quiser. Fiz uma peça que fala da unidade de religiões. Uma torre com as três grandes religiões que se juntam para chegar ao mesmo fim, que é Deus”, disse Merino à BBC Brasil.

“Mas se as mentes fechadas querem ver outra coisa, aceito a crítica. Só que eles também têm que aceitar meu trabalho”, afirmou o artista.

Merino admite, no entanto, que a segunda escultura, que mistura a arma com o candelabro, possa afetar a sensibilidade de alguns fiéis.

“É verdade que a metralhadora é uma Uzi, uma arma de Israel famosa nos conflitos com os palestinos. Mas a intenção foi reciclar os elementos para transformar em uma coisa que não mata. No fundo a peça trata da paz”, disse ele à BBC Brasil.

A feira de arte contemporânea de Madri, Arco, é uma das duas maiores do mundo e já está na 29ª edição. Neste ano, o evento termina no próximo dia 21, embora para o público fique aberta até o dia 19.

Jesus ‘era gay superinteligente’, diz Elton John em entrevista

BBC Brasil, 19 fev 2010

O cantor e compositor britânico Elton John afirmou em uma entrevista publicada nesta sexta-feira que Jesus era um “homem gay superinteligente”.

Na entrevista, publicada na revista americana Parade, Elton John também afirmou que Jesus era “piedoso”, magnânimo e “compreendia os problemas humanos”.

“Na cruz, ele perdoou as pessoas que o crucificaram. Jesus queria que fôssemos amorosos e magnânimos”, afirmou o cantor.

“Não sei o que faz com que as pessoas sejam tão cruéis. Tente ser uma mulher gay no Oriente Médio – é como se você morresse”, acrescentou.

Críticas

Em resposta às afirmações publicadas na entrevista, um porta-voz da Igreja Anglicana afirmou que algumas declarações feitas pelo artista deveriam “ficar restritas aos acadêmicos”.

“As reflexões de Elton John, de que Jesus nos convoca a amar e perdoar, são compartilhadas por todos os cristãos”, disse. “Mas as reflexões a respeito de aspectos de Jesus como personagem histórico talvez devam ficar restritas aos acadêmicos”, finalizou.

Na entrevista, Elton John também falou que não gosta mais de ser uma celebridade, pois a “fama atrai loucos”.

“Princesa Diana, Gianni Versace, John Lennon, Michael Jackson, todos mortos. Dois deles, mortos a tiros em frente de suas casas. Nada disso teria acontecido se eles não fossem famosos. Nunca tive um guarda-costas, nunca, até a morte de Gianni (Versace)”, disse.

Cinema e Religião

Do Portal IHU Online – Entrevista com Luiz Vadico, por Moisés Sbardelotto

As sutis alterações causadas na teologia tradicional

Não há dúvida de que, em uma sociedade alimentada pelo culto à imagem, o cinema é uma das fontes mais abundantes de elementos para a construção do seu imaginário social. E os construtos que daí nascem alcançam os mais diversos ambientes, como, por exemplo, templos e igrejas. Ou senão, entre os não crentes, o cinema também cativa pela espiritualidade vaga e difusa, sem um “Deus” único específico.

Para compreender como se dá essa relação cinema e religião, a IHU On-Line entrevistou, por e-mail, o Prof. Dr. Luiz Vadico, da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo.

Para ele, “o cinema serve para emocionar”, citando Jean Mitry. Mas é também “um registro do imaginário social de uma época”. Por isso, nesta entrevista, Vadico nos ajuda a compreender qual a razão de Hollywood, especificamente, estar se voltando para temáticas espirituais de fundo religioso. Passando também pelo cinema autoral e brasileiro, o historiador e doutor em multimeios analisa também a obra do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, “Decálogo” (1989), que será exibida na programação da Páscoa IHU 2010, em março deste ano.

Luiz Vadico é professor titular do mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Historiador formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é mestre e doutor em Multimeios pela mesma instituição. Atualmente pesquisa Narratividade e Estética nos Primeiros Filmes de Cristo (1897-1921).

Confira a entrevista.

Nos últimos anos, especialmente com o sucesso de “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, temos visto o cinema abordar com mais força questões como a espiritualidade e a existência do ser humano diante do universo. Sinal disso é, por exemplo, o sucesso de bilheteria de “Avatar”. Como você analisa esse fenômeno? É uma tentativa de tentar buscar respostas a uma situação contemporânea de crise?

O Cinema tentando encontrar respostas para uma situação de crise?! Bem, teríamos de ser muito otimistas para acreditarmos nisso. O cinema hollywoodiano tem uma preocupação séria, que é a do entretenimento. Raramente está buscando qualquer resposta para uma crise qualquer. Às vezes coopera nesta ou naquela questão, como foi o caso da cooperação com o governo americano no período da Segunda Guerra Mundial, mas lá se vão algumas décadas de distância. Hollywood se preocupa com o mercado, com o que dará uma boa bilheteria e com aquilo que a arriscará. E isso também foi uma verdade quando se tratou de grandes produções como os épicos bíblicos mais famosos, como foram os “Dez Mandamentos” (DeMille,1956), “Ben-Hur” (Wyler,1959) e diversos filmes de Cristo.

O que há de comum nesses casos? Ignoro como “Avatar” vem sendo anunciado nos Estados Unidos, mas no Brasil o seu apelo tem sido a “revolução tecnológica”. O público está sendo convocado para apreciar os efeitos 3D. Isso o filme tem em comum com todas as grandes produções hollywoodianas. Os efeitos visuais, as novas tecnologias agregadas etc. são o grande chamariz. Basta dizer, por exemplo, que “O Manto Sagrado” (1953) inaugurou o processo do cinemascope. Não era um filme religioso, tocava no assunto levemente. Mas o seu chamariz não foi o assunto; foi a nova tecnologia. E, mesmo naquela época, se tratava de uma nova tecnologia que visava fazer frente aos avanços da televisão. “Avatar” se trata de uma busca do cinema para se sustentar enquanto prática num mar de produtos midiáticos. Ele se deseja uma “experiência” que só pode ser vivida no espaço do cinema.

Em “Avatar não é importante se há ou não panteísmo. O que é importante para o público é se há um bom roteiro que acompanhe as novas possibilidades tecnológicas. Pois o público atual já é bastante educado, e faz muita diferença a qualidade do roteiro. O fator determinante para pensarmos a questão religiosa relativa ao “panteísmo” é perguntarmo-nos acerca de quantos adeptos o panteísmo possui oficialmente, quantas igrejas, quantas almas ele salvou, quantas vidas ele realmente modificou.

Se não temos nada disso ou o temos numa dimensão ínfima, não me parece uma questão relativamente ao âmbito do religioso. E isso por duas razões: não é a intenção de Hollywood e não afeta o público neste sentido. Todo filme religioso, ou com assunto religioso – mesmo do mais distante passado –, quer atingir espiritualmente o espectador. Busca formas estéticas e narrativas para tanto. O que Hollywood está fazendo – mui sabiamente – é não se imiscuir em questões onde sabidamente ele teria problemas. Envolver-se com cristianismo, islamismo e judaísmo, com representantes organizados e com crenças bastante claras e definidas, sempre significou dificuldades para os produtores americanos. Um risco sério para os grandes recursos envolvidos neste caso.

Hollywood explora fragmentos de discurso religioso, recentes ou atávicos em nossa sociedade. No entanto, no caso dos filmes citados, com exceção da “Paixão de Cristo” (2004), não está fazendo religião, não deseja isso, muito pelo contrário. Se há um culto envolvido aí – extrapolando – é o culto da tecnologia e da ciência moderna.

No que tange ao cinema, ele é muito importante como um registro do imaginário social de uma época, em geral daquela na qual o filme foi produzido. Sim, temos indivíduos “panteístas” por aí, ou melhor, ideias panteístas a solta. Mas como tudo o que veio no conjunto da pós-modernidade, ideias fragmentadas, informações difusas, e, não, isso não contribui para nenhum aclaramento das questões dos indivíduos. No mínimo, coopera para que a fragmentação do discurso religioso prospere. E, se o fundamentalismo não interessa – apesar de prosperar –, a fragmentação é ainda menos desejável, pois não coloca rumos claros para o individuo se direcionar frente aos problemas que são verdadeiros. O problema verdadeiro é o ecológico? Nunca foi, ele é apenas um sintoma daquilo que fizemos de nós. Esse é o problema verdadeiro, e Hollywood se mantém distante dele, porque não é o que lhe interessa.

Como o cinema lida com a questão religiosa e o sagrado?

Isso é assunto para um livro inteiro. E logo lançaremos esse livro sobre o Campo do Filme Religioso. Esse campo é formado pelo conjunto de produções que tratam temas ou assuntos religiosos e conta com uma grande massa de produções midiáticas. Ele se formou desde o início da história do cinema e se estendeu pelo desenvolvimento midiático em geral. Mas uma das suas características marcantes é que ele não é um campo independente e tranqüilo. Ele se organiza sobre outros dois campos distintos: o Campo do Religioso (instituições religiosas e adeptos) e o Campo Fílmico (produtores em geral). Todas as produções importantes conhecidas necessitaram buscar um equilíbrio entre esses dois campos: o Campo do Religioso, cioso dos seus assuntos e de suas responsabilidades, e o Campo Fílmico, desejoso de conseguir lucrar com o público daquele.

O que tivemos ao longo da história do cinema foi uma confrontação constante, e os filmes que foram produzidos são o resultado dessa conflagração de forças sociais e religiosas, o que não é ruim, pois levou os religiosos a repensarem seus caminhos, e os produtores, a limitarem excessos. É isto que devemos entender quando Hollywood pretensamente escolhe o “panteísmo”: é uma forma tranqüila. Imaginemos o que aconteceria se o herói do filme “Avatar” tivesse que salvar Jesus Cristo das mãos dos arqui-inimigos dos Na’Vi… Não, isso não terminaria bem.

Listar grandes obras da relação cinema versus religião me parece algo bem subjetivo. Pessoalmente, acho mais tocantes, no que respeita ao cinema massivo, filmes como: “The King of Kings” (DeMille, de 1926), por se tratar da primeira forma narrativa a superar a relação com os filmes de Peça da Paixão e ao mesmo tempo propor uma leitura teológica particular da vida de Cristo; “A Canção de Bernadette” (King, 1943), por causa da qualidade do roteiro, explora vários temas importantes como a relação ciência/religião, fé/instituições religiosas, religiosidade popular/instituições, e ainda consegue emocionar; “Marcelino Pão e Vinho” (Vajda, 1955), pela pureza infantil do tratamento, que chega a ser tocante; “Uma Cruz à Beira do Abismo” (Zinnemann, 1959), pela seriedade no que tange à vocação religiosa; um que não é religioso, mas me marcou pela honestidade da representação de um religioso em suas funções, “Roma Cidade Aberta” (Rosselini, 1945); “Os Trapalhões no Auto da Compadecida” (Faria, 1987) dos Trapalhões, pela fineza do tratamento da religiosidade popular brasileira; “Jesus de Nazaré” (Zeffirelli, 1977), por todas as razões imagináveis, roteiro, direção, atuações, harmonização dos textos evangélicos, soluções de problemas cinematográficos, mas, principalmente por causa da cena das “admoestações”, inesquecível. “A Maior História de Todos os Tempos” (Stevens, 1965), pela beleza, o apuro estético e por utilizar o tempo como um elemento reflexivo.

No cinema autoral, Bergman me atrai em “O Sétimo Selo” (1956), suas metáforas e angústias são fascinantes. Só Bergman para colocar o protagonista jogando xadrez com a morte. O Rossellini de “Viagem à Itália” (1954), que instaura belissimamente o sagrado pagão em meio a um cristianismo que permeia até as rochas na Itália. Também vejo com bons olhos as experiências documentais de Godfrey Reggio da trilogia “Qatsi”, e o seu desenvolvimento que levou a “Baraka” (1992), de Ron Fricke. Ali sim podemos nos deliciar com uma experiência estética, narrativa e que fomenta uma experiência do sagrado (panteísta?). Chamou-me muito a atenção o trabalho do brasileiro Marcelo Masagão em “Nós que aqui estamos por vós esperamos” (1998). O aspecto da finitude humana é realmente algo que emociona e nos faz refletir. Gosto de ver nele uma relação com o sagrado cristão, talvez porque remeta ao “tu és pó e ao pó retornarás”.

O crítico norte-americano Ross Douthat, em artigo para o The New York Times, afirmou que o panteísmo foi a “religião de escolha de Hollywood durante toda uma geração”. Em sua opinião, existe uma “religiosidade” por trás de Hollywood e do cinema em geral?

Uma boa parte dos filmes citados pelo crítico têm de ser contextualizados, pois fora de seu contexto original podem ser utilizados de maneira inadequada. Por exemplo, muito se falou da “jornada do herói” em “Guerra nas Estrelas” (Lucas, 1977). Joseph Campbell, famoso historiador das religiões, serviu como consultor para aquele trabalho. O protagonista do filme era para ser Luke Skywalker, e foi. No entanto, o que mais nos lembramos é do Capitão Hans Solo, da Princesa Leia e do famigerado Darth Vader. Hans Solo roubou tanto a cena que catapultou a carreira de Harrison Ford. Bem, como fica a jornada do herói quando o protagonista do filme não decola?

Se temos panteísmo em “Guerra nas Estrelas”, se deve, sobretudo a uma questão de roteiro, afinal, Jesus Cristo é a encarnação de Deus na Terra, planeta azul que bem conhecemos. “Guerra nas Estrelas” se passa num outro “tempo”, num outro espaço. Seria impróprio procurar cristianismo ali. Nesse sentido, o panteísmo serve bem, pois não compromete. E ele é aceitável para o espectador, exatamente por não comprometer. Traz uma miscelânea de conceitos fragmentários retirados do imaginário religioso que não tem significado profundo nenhum.

Mesmo enquanto pesquisador, não acho que exista na natureza do veículo cinema qualquer coisa de religioso ou de religiosidade. Seria conveniente que tivesse, mas não, infelizmente não tem. É apenas um meio como outro qualquer que serve de expressão para o talento humano, aqui visto em sentido amplo. Já existiram opiniões em contrário, desejando ver no cinema, e mesmo na televisão, um poder maior do que eles realmente possuem. Sem retirar a capacidade de influência da mídia, podemos dizer que o espectador é influenciado conforme o seu próprio desejo. O espectador não é passivo diante dos produtos midiáticos. Há várias provas disso, mas as mais corriqueiras podem ser verificadas exatamente no âmbito dos filmes religiosos produzidos ao longo da história do Cinema. Desde “Da manjedoura à Cruz” de 1912, até a “Paixão” de 2004, todos os filmes receberam críticas, quer fosse dos espectadores via jornais, imprensa televisiva etc, quer fosse de representantes de autoridades religiosas, ou ainda de críticos de cinema. Então, sem retirar o aspecto importante da influência da mídia sobre uma determinada população, devemos sempre ter em mente que essa população recebe as mensagens de acordo com suas necessidades.

Diversas outras obras abordam a relação do ser humano contemporâneo diante do “apocalipse”, como “2012” e os próximos lançamentos “A estrada” e “Legion”. Em sua opinião, o que isso pode nos revelar sobre a nossa sociedade contemporânea?

Vivemos há quase duas décadas um fenômeno de mundialização, um outro fenômeno de mundialização, uma vez que passamos por vários. Nesse processo, é necessário sabermos mundializar o que é mundializável das diversas culturas e preservar o quanto possível as particularidades culturais de cada região e país. Aqui toco nesta questão por que você colocou a ideia de “nossa sociedade”. A nossa sociedade é o Brasil, com diversas particularidades regionais e culturais.

Quando Hollywood, em seu aspecto de produtor massivo, está há alguns anos produzindo filmes “apocalípticos”, devemos nos perguntar por que a cultura americana os está realizando e por que lá eles se originam. Se olharmos para o cinema brasileiro verificaremos que não produzimos nada apocalíptico. Esses filmes, em termos de gênero cinematográfico, descendem dos filmes de “cinema catástrofe”, que tiveram um bom incremento nos anos 70 e 80. Fazem parte dessa série os conhecidos filmes “Aeroporto” (Seagal, 1970), “Inferno na Torre” (Guillemin/Allen, 1974), “O Destino do Posseidon” (Neame, 1972), e aquele que foi um marco e que provavelmente inaugurou a série apocalíptica, “O Dia Seguinte” (Meyer, 1983). Naquela época vivíamos a constante tensão da ameaça nuclear, criada pela polarização capitalismo-comunismo. O filme impressionou bastante e levantava a questão de como seria o dia seguinte após uma catástrofe nuclear. Naquele contexto, o filme tinha uma razão de ser bastante clara. E quando digo que ele foi um marco, digo por que ele de fato levou as pessoas a uma profunda reflexão.

Mas ele deu também a dimensão para Hollywood de que catástrofes globais, a partir do solo americano vendiam bem. E estávamos chegando ao final do século e de um marco de passagem importante, o ano 2000, uma passagem de milênio que afetaria a sociedade Ocidental, geralmente com ansiedade e medo. E que nos afetou porque o Ocidente é de formação cristã. E, mesmo que essa não seja a principal mensagem do cristianismo, a escatologia do fim dos tempos está presente nos Evangelhos. Nesse sentido, é importante lembrarmos que a sociedade americana é altamente cristianizada e é permeada por um fundamentalismo que atinge todas as ramificações religiosas. É uma característica da sociedade americana. É de lá que vem o fundamentalismo evangélico, é de lá que vem a exigência de leitura literal da Bíblia. Então, para os americanos, o Apocalipse ocorrerá, e a maior parte deles não têm a menor dúvida disso. E ocorrerá através da destruição, afinal, uma leitura simplista do Apocalipse de João nos informa isso.

Vejo como natural a produção desses filmes pelos americanos, pois o fundamentalismo e o maniqueísmo que ele implica e toda a relação de punição e castigo são coisas que surgiram em solo americano no final do século XVIII e progrediram ostensivamente no século XIX, até amainar relativamente no século XX. Esse fenômeno se deu através do trabalho de vários pregadores que organizavam os grandes “avivamentos” ou “despertares”, buscando uma simplificação teológica do cristianismo para que pudessem atingir emocionalmente a massa. Então, que um americano queira dar uma espiadela no futuro e ver como será a destruição do dia do Juízo, mesmo que eles o mostrem como uma metáfora, sinto que é uma necessidade perfeitamente natural daquela sociedade.

Outra ideia é a de que os americanos chegaram num tal patamar de dominação planetária ao final do século XX que passaram a se ver como a única ameaça para si mesmos. Apenas eles com seus “erros” podem ser responsáveis por se autodestruírem. Com o tempo, passaram a figurar a catástrofe de forma global, destruindo imageticamente os monumentos de diversos países do mundo. Então, percebamos, sempre, nesses filmes, ou são os americanos e seu governo ou a corrupção que levam à destruição. Eles sempre são, de forma direta ou indireta, responsáveis pela catástrofe, e ao mesmo tempo responsáveis por impedi-la. E quando não são eles próprios os responsáveis, somos vítimas de algum ataque alienígena interplanetário.

Quando lançaram “O Dia Seguinte”, foi a primeira vez que o mundo foi destruído pelo homem. Até então, era Deus o responsável por isso, sempre em filmes bíblicos, haja vista o caso do Dilúvio. Mas agora o homem já podia assumir esse estranho poder, o poder de iniciar o Dia do Juízo, ser responsável por ele. Mas o perigo da banalização é idêntico ao da banalização da violência. Esses filmes são um sintoma de que a sociedade americana está em crise. Está um pouco sem rumo diante dos caminhos da globalização e do excesso de conforto. Sinto que esse aspecto social é tão ou mais relevante do que o aspecto religioso envolvido. O religioso é causa, mas os filmes são sintomáticos.

É importante notar que a formação religiosa dos brasileiros é diferente e diversificada. Somos muitos e plurais. Nem todas as religiões brasileiras preveem catástrofes e juízos finais. E mesmo as cristãs são permeadas por uma leitura “popular” que acabou se mostrando bastante saudável. Parece-me que no Brasil se crê em tudo, que o mundo irá acabar e que inclusive ele não irá acabar, e não é estranho que o mesmo individuo acredite desacreditando das duas coisas ao mesmo tempo.

Como você analisa essa “saída” dos temas e figuras religiosos do domínio e do controle das religiões para a (re)criação livre por meio da arte, especialmente do cinema?

Desde o surgimento do cinema, os religiosos – aqui o termo é usado em sentido amplo – buscaram se apropriar do novo meio, e, inversamente, o novo meio buscou se apropriar dos assuntos religiosos para atrair determinado público para as salas de entretenimento. Um desejava usar como meio catequético e pedagógico, e o outro, como fonte de lucro através do entretenimento saudável.

Em estudo recente, pudemos perceber que esse embate foi extremamente positivo. Nem sempre foi um diálogo, mas sempre que possível este se estabeleceu. De um lado, tivemos religiosos e instituições religiosas que acabaram se tornando mais flexíveis, e, se tivermos em vista o século XIX, este acabou sendo um efeito bastante positivo, pois o produto midiático acabou por levar informações e opções visuais e teológicas às vezes mais próximas, às vezes mais distanciadas do saber tradicional, o que possibilitou nos diversos momentos uma discussão pública e massiva de temas que poderiam estar “estagnados” no interior dos templos e igrejas.

Ora, esses temas e assuntos, entrando para o domínio público, permitiram um maior diálogo da sociedade, uma maior opção de escolhas, maior diversidade de ideias, o que para nós sempre é positivo. Particularmente penso, que o processo de desculpabilização dos judeus pela morte de Jesus Cristo se iniciou pelo cinema, e creio que isso é um dado extremamente importante que não pode ser negligenciado.

O efeito disso é teologia. Como diz o teólogo Clive Marsh, basta falar sobre Deus e estamos fazendo teologia. Mesmo que isso não esteja na intenção do diretor ou produtor, vivemos numa sociedade de maioria cristã, fomos criados com esta ou aquela versão teológica, e não nos livramos dela, vivemos com ela e com pessoas que nela foram educadas. Então, um produto midiático qualquer que tenha assunto religioso sempre possui uma mensagem teológica, seja ela bem ou mal definida, ela sempre está lá. Esse é o construto final. A conseqüência dessa produção de teologia pelo cinema é que ela altera sutilmente a teologia tradicional. Mas isso não chega a ser um fenômeno negativo, pois produtoras de origem religiosa também produziram filmes e séries nos quais novas imagens cristológicas foram desenvolvidas, caso de “O Cristo Vivo”, da produtora Cathedral, de 1953.

A suposta “saída” desses assuntos do âmbito da religião há muito foi revertida. Nos últimos 20 anos, houve uma imensa produção de produtos midiáticos realizada por produtoras confessionais ou a elas ligadas. Existem centenas e centenas de títulos disponíveis em DVD, CD-Rom e na Internet, todos facilmente acessíveis para o público que se compraz nesse material. Além disso, a penetração dos religiosos no mundo televisivo vem crescendo a passos largos em escala planetária, inclusive no Brasil. Mas, curiosamente, esse avanço é silencioso, pois não se dá no âmbito cinematográfico.

Durante décadas, os avanços dos produtores, hollywoodianos ou não, no âmbito do assunto religioso foi pequeno, mas progressivo. Chegamos a uma grande liberdade no momento em que filmes como “Jesus Cristo Superstar” (Jewison, 1973) e “Godspell” (Greene, 1973) foram produzidos, no início dos anos 70. Mas, com certeza, os produtores de todos os tipos perceberam que essa liberdade tinha limites muito claros quando se fez um filme como “A Última Tentação de Cristo” (Scorsese, 1988). O fato dos produtores terem alcançado perante as leis o direito de tratar desses assuntos como bem entendessem não significou que pudessem efetivamente fazê-lo. Fizeram, mas em seguida recolheram-se, tanto é que a última experiência com Filmes de Cristo foi “A Paixão” de Gibson, que significou um grande retorno da tradição, e não da criatividade e inovação.

Em fins dos anos 50 e ao longo dos anos 60, tivemos o fenômeno do chamado “cinema autoral”, e junto dele, correndo lado a lado, o cinemanovismo. O cinema autoral, como já diz o próprio nome, é o trabalho de um autor, de um diretor que deseja deixar sua marca pessoal. Em geral, deseja fazer um filme-arte, dar a sua contribuição pessoal para a arte cinematográfica ou para a sociedade. Trata-se sobretudo da “opinião dele” sobre o assunto.

Com muitas idas e vindas, esse tipo de cinema conquistou adeptos e algum público. Mas uma das suas características mais marcantes foi a de ser um trabalho vinculado à critica. Crítica ao sistema de produção, crítica à sociedade, crítica às instituições. Um tipo de produção midiática que tem um público mais do que definido. Em geral, a população, ao menos a brasileira, se afasta deles com horror, são apenas classificados de “chatos”. De qualquer forma, é um tipo de produção que se deseja mais reflexiva, às vezes, apenas pretensiosa. Tivemos trabalhos de bastante valor que vieram sob a alcunha de cinema de autor, como foi o sempre citado “O Evangelho Segundo São Mateus” de Pasolini, de 1964. Esses filmes são de pessoas mais intelectualizadas e direcionados para um público mais intelectualizado, mesmo quando seus artífices desejaram direcioná-lo para o “povão”. Atualmente, as grandes produtoras já cooptaram o cinema autoral e sabem direcionar o que sobrou dele para o público que dele necessita.

Como comentei anteriormente, a minha perspectiva é a de um pesquisador voltado para a produção massiva, e aqui leia-se para as “massas”. Gosto bastante de um teórico clássico de cinema chamado Jean Mitry, que em seu livro “Estética e Psicologia do cinema” – que estranhamente não tem tradução para o português até hoje – fez uma afirmação muito marcante: “O cinema serve para emocionar”, causar emoções. Concordo plenamente com Mitry no que diz respeito ao cinema narrativo. É isso que o cinema massivo faz, e é isso que o público procura geralmente nas suas salas, emoções. Sejam elas de terror, riso, tristeza, alegria, ou de piedade: emoções. E, os filmes de assunto religioso que obtiveram maior sucesso e repercussão foram exatamente aqueles que tiveram a capacidade de emocionar positivamente o público.

Por outro lado, no Brasil, mesmo que indiretamente, a religiosidade sempre permeia as obras cinematográficas, com elementos e alegorias ao catolicismo e também do sincretismo religioso, como em “Central do Brasil”. Como você percebe a manifestação da religiosidade no cinema brasileiro?

Em geral, o cinema brasileiro fica longe das questões religiosas. Isso sempre me causou estranheza, já que a religiosidade neste país borbulha por todos os lados. Elementos religiosos diversos abundam nos filmes brasileiros, mas sempre como referência fragmentária e mal desenvolvida e, em geral, sem a pretensão mesmo de serem desenvolvidos. Aparecem como elementos de pano de fundo ou fazem parte efetiva das histórias contadas, mas não são o assunto. Normalmente, são apenas manifestações estereotipadas que pouco ou nada têm a dever às religiões que acabam citando. Acho que a forma como as religiões afro-brasileiras são mostradas nos filmes nacionais são um exemplo gritante disso. Algumas vezes mostradas de forma preconceituosa, como nos anos 50 até o anos 70, outras vezes apenas de forma estereotipada, como se fizessem parte de algum mistério ou guardassem traços de um filme de horror. No que toca ao cristianismo, geralmente é a estereotipação clássica: aparecem personagens carolas, padres levianos ou excessivamente moralistas.

As produções brasileiras de assunto religioso são recentes. E, acredito que razoavelmente bem sucedidas, como é o caso de “Maria, Mãe do Filho de Deus”, com a participação do Padre Marcelo Rossi, de 2003, e de “Irmãos de Fé”, sobre Paulo de Tarso, de 2004, também com a participação do religioso. No quesito sucesso, achei realmente muito bem sucedido o primeiro filme, pois conseguiu trazer para a tela elementos do catolicismo vividos pela população brasileira. Acho extremamente marcante a abertura do filme, na qual uma senhora canta uma melodia tradicional católica. Aquilo era verdadeiro, aquilo é tipicamente brasileiro. Aquela melodia chorosa, cantada naquele tom e daquela forma. A imagem de Jesus resultante do filme era brasileira. Um Jesus sorridente, afável, de gestos expansivos, claramente amigo dos amigos. Um Jesus que tocava as pessoas fisicamente e que era tocado por elas, e isso é muito nosso, botar a mão no outro, chegar perto. Nenhuma outra produção em nenhum lugar do mundo tem isso.

Outro filme marcante e que não teve a pretensão de ser religioso mas levou eficazmente a religiosidade brasileira para as telas foi o filme dos Trapalhões, “O Auto da Compadecida”, de 1987, em minha opinião, infinitamente superior à versão de Guel Arraes. O Jesus negro representado por Mussum é antológico, possui toda graça, leveza e seriedade que Jesus parece nos suscitar. E, novamente, isso é nosso, autenticamente nosso. Onde mais um Jesus Cristo num sorriso à provocação do protagonista do filme confessaria que era “crente”?

Nosso Deus parece estar distante das ameaças e carrancas do Deus de outros países, ele não desperta reflexão. Nos dois casos, ele denota exemplo e emoção. Coisa bem diferente das produções hollywoodianas e autorais.

A série “Decálogo” (1989), do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, que será exibida na programação da Páscoa IHU 2010, apresenta adaptações livres dos Dez Mandamentos do Antigo Testamento. Como essa obra pode ser analisada a partir da relação cinema e religião?

Relativamente à questão cinema e religião, honestamente não buscaria enquadrar esses filmes nela. Minha perspectiva sobre filme religioso e das relações cinema e religião é bastante fechada, pois, tendo em vista as necessidades acadêmicas, necessitamos especificar muito claramente o objeto de estudo. Ora, um filme religioso ou de assunto religioso digno desse nome, precisa ter algumas características específicas, como:

  1. Tema ou assunto religioso, socialmente reconhecido como tal.
  2. A busca de despertar as emoções especificamente ligadas ao mundo religioso, como por exemplo: compaixão, arrependimento, esperança etc., desejam também fortalecer a fé dos seus seguidores, ou até mesmo despertá-la.
  3. Toda essa produção possui alguma forma de Teologia a ela vinculada, seja através de intenções claras, seja através dos pressupostos teológicos dos seus produtores. Não podemos perder isso de vista: toda produção de origem religiosa é um produto teológico.
  4. A participação de consultores religiosos em sua produção; ou vinculação a instituições de origem religiosa.
  5. A intenção da produtora ou do cineasta em fazer um filme que trate do sagrado.
  6. A conotação de “produto outro” diferenciado, “puro”, adequado.
  7. Garantia da qualidade moral do conteúdo do filme. Às vezes, essa garantia é dada por instituições religiosas, através de index, revistas, sugestões em paróquias, e outras indicações encontradas na propaganda dos filmes, quer sejam em seus trailers quer seja em seus cartazes.
  8. São “militantes”. Os filmes religiosos não causam indiferença; as pessoas gostam ou não gostam, aceitam ou rejeitam, qualificam ou desqualificam, mas eles pedem resposta. Primeiramente porque são feitos para atingir o público, e este sabe disso; por isso a resposta, “sim” ou “não” ou “tanto faz”, mas sempre há uma resposta social ou individual para essa produção. É um produto que podemos chamar, resguardadas as devidas proporções, de militante, pois nem sempre se trata de militância ostensiva e óbvia.

Por essa rápida caracterização podemos perceber de imediato que a obra do diretor não pertence ao Campo do Filme Religioso; até toca nele, dialoga com ele, mas a relação cinema e religião se trata de uma obra que tem de ser discutida por si mesma, mais ou menos à parte da produção massiva.

E aqui fica uma espécie de provocação, já que se pretende exibir e discutir esses filmes. A obra me parece uma tentativa de buscar relações éticas laicas que independam da religião, apesar de se utilizar dos Dez Mandamentos como inspiração. É uma busca de reatualizar o Decálogo para o contexto do autor em seu país. Parece-me distante da religião. São reflexões éticas. A ética é parte importantíssima da religião, mas o sentimento religioso se situa para além da ética. O sentimento religioso instaura uma ética, nunca o contrário.

A obra desse diretor está permeada de certo existencialismo contemporâneo, carregada de angustias existenciais e sociais. Não devemos fazer vistas grossas a essas angústias. São polonesas, e a maior parte delas, contemporâneas. Mesmo que gostemos de vê-las como “categorias universais”, será que da forma, e com o conteúdo, que são apresentadas elas nos cabem? Devemos tomar cuidado ao universalizarmos as angústias. Além do mais, algumas vezes, os Dez Mandamentos têm sofrido uma estereotipação muito grande. Num contexto cristão, eles necessitam estar sempre sob a ótica de Jesus Cristo, e o dele é um pensamento no qual a misericórdia prevalece sobre todas as restrições.

Para mim, os aspectos centrais de análise da obra não seriam a partir da proposta do diretor, mas eles devem estar postos na nossa recepção daquilo que ele fez. Se estamos tratando de religião e cinema, a primeira questão é: se trata de religião? De que religião trata? Para que serve a religião? Isso está lá? A segunda é a questão local: essas questões concernem a nós, brasileiros? Como o homem ou a mulher do povo brasileiro reagiria naquelas circunstâncias? Se a ética é uma das questões mais relevantes na produção – ela surge como um dado importante –, como é a ética do brasileiro? E aqui é uma pergunta sem julgamentos; trata-se de pensar como a ética do povo organiza suas relações. Será que a ética que o povo vive não é funcional? Pois este é um dado importante sobre a ética: ou ela é funcional ou ela não é, ela não serve. As relações éticas não vêm de cima pra baixo, elas sempre traduzem relações pragmáticas dentro de uma sociedade. E, mesmo distante dos meios e anseios acadêmicos e religiosos, elas estão em evidente movimento.

Nessa obra, afirma-se que o diretor transcendeu a esfera da moral religiosa, propondo uma discussão aberta sobre dramas humanos como amor, solidão, amizade, medo. Como o discurso religioso permeia o conjunto da obra?

Se o diretor transcendeu a esfera da moral religiosa, devemos nos perguntar se a obra interessa, então, para uma discussão na esfera religiosa. Mas isso nos leva a outra questão: como se faz para transcender a esfera da moral religiosa? Se a religião cristã já nos propõe uma ética que viria a nos libertar do medo, da solidão e das angústias, como é que existe algo que transcende isso? Se Jesus propõe a misericórdia e o perdão como pedras de toque em sua doutrina – e aqui falo também do autoperdão –, como uma obra que as vezes se limita à angústia pode ter transcendido a esfera da moral religiosa? Agora, se tratarmos de dogmatismo religioso, o assunto é outro. Talvez por isso o diretor tenha proposto uma discussão aberta. Mas pensemos no Brasil: qual dogmatismo que realmente funciona aqui? Historicamente, a nossa população leva ao desespero qualquer pregador dogmático.

Denzel Washington – Mantendo a Fé

Por Brett McCracken

Denzel Washington é muito mais do que apenas um superstar, ganhador de Oscar. Ele é um cristão que leva a sério o seu papel … mesmo que isto signifique um pouco de sangue, como em seu novo filme: Book of Eli.

Denzel Washington é um dos mais bem sucedidos e respeitados atores de Hollywood. Mas o vencedor de duas estatuetas do Oscar (em 1989 e 2001 de Glória de Dia de Treinamento) é também um dos mais atuantes cristãos de Hollywood.

Filho de um pastor pentecostal de Mount Vernon, Nova York, Denzel, aos 55 anos, há mais de 30, tem participado ativamente da igreja West Angeles Church of God in Christ, lê sua Bíblia todas as manhãs, e sempre escolhe papéis em que pode “passar” uma mensagem positiva ou o reflexo de sua profunda fé pessoal.

A fé está em todo lugar no novo filme pós-apocaliptico de Denzel: The Book of Eli, que estreou sexta-feira e está sendo promovido com outdoors com os trocadilhos “B-ELI-EVE” (Acredite) e “D-ELI-VER US.” (Salve-nos). No filme, Denzel assume o papel de um viajante misterioso que tem um facão como arma, chamado Eli, dirigido por Deus para proteger a última cópia da Bíblia existente na Terra – isso mesmo, a Bíblia – e levá-la para o ocidente, para protegê-la de bandidos que procuram usá-la como uma “arma” de controle.

O personagem de Denzel no filme utiliza a violência intensamente – esquartejando os bandidos em cada esquina -, mas que começa a se sensibilizar quando conhece uma garota inocente (Mila Kunis), que o lembra que podemos ficar tão presos em proteger a Palavra de Deus que, por vezes esquecemos-nos de vivenciá-la.

Para Denzel, “vivenciá-la” é essencialmente caracterizado pelo amor e sacrifício. A mensagem final de Eli, diz ele, é “faça mais pelos outros do que você faria para si mesmo”. Esta uma mensagem que Denzel sempre ouviu desde criança.

“Oramos a respeito de tudo, todos os dias”, disse Denzel a membros da mídia religiosa na semana passada, em Los Angeles. “E sempre terminamos com ‘Amém. Deus é amor’. Eu imaginava que ‘Deus é amor’ era apenas uma expressão. Levei muito tempo para aprender o que realmente significava. Eu não me importo com o livro que você lê ou no que você acredita, se você não tiver amor, se você não amar o seu próximo, então você não tem nada”.

Embora Denzel não seja um grande fã da palavra “religião”, e se abstenha de qualquer posicionamento do tipo “Eu estou certo, você está errado”, ele não se envergonha de falar, sem rodeios, sobre sua fé cristã.

“Eu creio que Jesus é o Filho de Deus”, diz ele. “Eu fui batizado no Espírito Santo. Eu sei que isso é real. Eu estava numa sala. Meu rosto ‘explodiu’, chorei como um bebê, e aquilo quase me ‘matou de susto’. Um tipo de medo que chacoalhou minha vida. Vou ser honesto com você, levantei-me e segui na direção oposta daquela que deveria. Eu não sabia o que estava acontecendo. Foi muito forte. Levei muitos anos para dar meia-volta”.

Recentemente, sentado em sua casa lendo a Bíblia (esta é a terceira vez que ele está lendo-a do início ao fim), Denzel se deparou com uma passagem sobre a sabedoria e entendimento em Provérbios 4, que o fez refletir sobre sua vida.

“Estou nesta enorme casa cheia de todas essas coisas”, observou. “Eu ouvi a Bíblia me dizendo: ‘Você nunca vê um caminhão de mudanças atrás de um carro funerário. Você não pode levar todas essas coisas consigo. Os egípcios tentaram, mas foram roubado. Eu disse: ‘O que você quer, Denzel?’ E uma das palavras da devocional daquele dia era sabedoria. Então comecei a orar ‘Deus, me dê uma porção daquilo’. Eu já consegui todo o sucesso possível na minha carreira. Mas eu posso ficar melhor. Eu posso aprender a amar mais. Eu posso aprender a ser mais compreensivo. Eu posso ganhar mais sabedoria”.

Assim como seu personagem em The Book of Eli, Denzel acredita na vocação profética e, por isso, tenta aproveitar ao máximo do trabalho que ele acredita ter sido lhe dado pelo próprio Deus: no seu caso, a fama mundial e uma das carreiras cinematográficas mais profícuas de sua geração. Denzel se lembra de uma história de quando ele tinha 20 anos, que demonstra como ele relaciona intimamente a sua fé com sua carreira.

Era 27 de março de 1975 e Denzel – que acabara de ser expulso da escola – estava sentado no salão de beleza de sua mãe. Uma senhora que, enquanto secava os cabelos e olhava fixamente para ele, de repente, pediu-lhe um pedaço de papel e, de forma trêmula, escreveu a palavra “profecia”. Aquela mulher era Ruth Green, uma das mais antigas mulheres da igreja mais antiga da cidade, conhecida por ter um dom da profecia. Naquele dia, ela disse a Denzel: “Rapaz, você irá viajar pelo mundo e falar para milhões de pessoas.”

Naquele verão, Washington era um equipante em um acampamento da YMCA (Associação Cristã de Moços) em Connecticut. Os equipantes faziam esquetes para os acampantes, e alguém sugeriu a Denzel que ele tinha um talento natural para aquilo e deveria prosseguir atuando. Naquele outono, Denzel voltou a estudar no campus da Universidade Fordham, de Lincoln Center, onde iniciou sua formação em teatro. “Anos mais tarde”, lembra-se Denzel”, perguntei ao meu pastor, se ele achava que eu tinha um chamado para ser pregador, e ele disse: ‘Bem, você não está falando para milhões de pessoas? Você não viajou o mundo?”

Reconhecendo que ele havia sido colocado em uma posição privilegiada, Denzel se sentiu obrigado a usar aquilo da melhor forma possível, “pregando” mensagens positivas sempre que estivesse atuando.

“Eu tentei direcionar meus papéis”, diz ele, “mesmo nos piores papéis como em Dia de Treinamento. A primeira coisa que eu escrevi no meu script (de Dia de Treinamento) foi ‘o salário do pecado é a morte’. No roteiro original, você descobria que meu personagem havia morrido pela televisão. E eu disse, ‘Não, não. Para que eu pudesse justificar que ele havia vivido da pior maneira possível, ele teria de morrer da pior maneira, também. Eu fui arrancado do carro pelo Ethan [Hawke], rastejei como uma cobra… O bairro inteiro virou suas costas para mim e então eu fui feito em pedaços”.

Foi mais fácil “direcionar” o personagem de Eli em uma direção positiva, “quer dizer, quase fácil”, brinca Denzel, porque “esse cara é mais violento que o personagem de Dia de Treinamento. Ele é mais violento do que Malcolm X”.
No entanto, da mesma forma que o personagem de Denzel em Chamas da Vingança, a violência de Eli é usada como forma de proteger os inocentes.

“Quando eu fiz Dia de Treinamento”, diz ele, “havia um policial que disse que a Bíblia afirmava existirem aqueles cujo encargo é proteger os inocentes, e que para isso lhe é dado o direito de ser violento. Aquele policial disse: ‘Baseado nisso é que eu e meu parceiro Imagevivemos. Isso é o que fazemos’. Talvez ele precisasse daquele versículo para justificar o que estava fazendo”.

Embora ele tenha encenado personagens violentos em filmes como Dia de Treinamento, American Gangster e, agora, Eli, Denzel é, na vida real, um homem de família calmo e gentil. Casado com Pauletta por mais de 26 anos e pai de quatro filhos, John David, Katia e os gêmeos Malcom e Olivia-Washington, Denzel está longe do estereótipo do ator de Hollywood.

Além de seu envolvimento com a igreja (ele doou US$ 2,5 milhões em 1995 para o West Angeles COGIC para construírem uma nova instalação), Denzel – que sempre inclui em seus autógrafos um “Deus te abençoe” – é um colaborador, há muito tempo, do Boys & Girls Clubs of America (que ele participou quando crianaça), entre outras caridades.

Denzel, que está indo para à Broadway nesta primavera para aparecer junto com Viola Davis na peça Fences, de August Wilson, sabe que ele tem sido abençoado com muito, mas rapidamente minimiza sua fama e sucesso dizendo que são apenas um presente de Deus.   “Não é sobre mim”, disse Denzel em uma entrevista de 2007 na revista Reader’s Digest. “Recebi certas habilidades, e olho para elas da seguinte forma: o que vou fazer com o que tenho? Quem é que vai ser engrandecido com isso?” Perto do final de Eli, o personagem de Denzel cita a famosa passagem de 2 Timóteo 4:7: “Combati o bom combate … guardei a fé”.

É uma linha condizente com o próprio Denzel. Ele é um superstar de Hollywood que, embora não seja perfeito, oferece um raro exemplo de um cristão em um lugar de extrema aclamação e sucesso e que não deixou isso subir à sua cabeça, em vez disso continua fundamentando sua vida na Bíblia e na confiança em Deus.

Em seus mais de 30 anos como ator, Denzel Washington tem lutado o bom combate e feito o que muitos não conseguiram. Ele manteve a fé.

Fonte: Christianity Today.

Tradução livre de Whaner Endo (No Portal Cristianismo Criativo)