Arquivo da categoria: Poesia

Los caminos del viento ~ Eduardo Galeano

eduardo galeano

Querido Stig,

Ojalá seamos dignos de tu desesperada esperanza.

Ojalá podamos tener el coraje de estar solos y la valentía de arriesgarnos a estar juntos, porque de nada sirve un diente fuera de la boca, ni un dedo fuera de la mano.

Ojalá podamos ser desobedientes, cada vez que recibimos órdenes que humillan nuestra conciencia o violan nuestro sentido común.

Ojalá podamos merecer que nos llamen locos, como han sido llamadas locas las Madres de Plaza de Mayo, por cometer la locura de negarnos a olvidar en los tiempos de la amnesia obligatoria.

Ojalá podamos ser tan porfiados para seguir creyendo, contra toda evidencia, que la condición humana vale la pena, porque hemos sido mal hechos, pero no estamos terminados.

Ojalá podamos ser capaces de seguir caminando los caminos del viento, a pesar de las caídas y las traiciones y las derrotas, porque la historia continúa, más allá de nosotros, y cuando ella dice adiós, está diciendo: hasta luego.

Ojalá podamos mantener viva la certeza de que es posible ser compatriota y contemporáneo de todo aquel que viva animado por la voluntad de justicia y la voluntad de belleza, nazca donde nazca y viva cuando viva, porque no tienen fronteras los mapas del alma ni del tiempo.

Eduardo Galeano

Palabras de agradecimiento, al recibir el Premio Stig Dagerman, en Suecia, el 12 de septiembre, 2010

O Bicho Homem ~ poema de Francisco Carvalho, musicado por Raimundo Fagner

O BICHO HOMEM (Francisco Carvalho)

Que bicho é o homem, de onde ele veio para onde vai?
De onde ele veio para onde vai?
Onde é que entra, de onde é que sai?
Que raio lhe acende a chama da fúria
O que é que sobra da cesta básica de sua penúria
Que bicho é o homem, do que se enfeita que mão o ampara
No chão de enigmas em que se deita
Que bicho é o homem
Que mama no seio da reminiscência
E que embala a morte em seu devaneio
Que bicho é esse que carrega o fardo de uma dor medonha
Que sucumbe o fardo mas ainda sonha?
Que bicho vagueia na treva hedionda
Que pantera esguia será mais veloz do que a própria sombra? Continue lendo

‘Estávamos apenas trocando de ditaduras’, diz poeta sírio

Adonis, um dos destaques da Flip 2012, chegou a se empolgar com as lutas, mas hoje critica a Primavera Árabe

[Ubiratan Brasil, O Estado de SP, 02 jul 12] Vestido com elegância discreta, o poeta sírio Adonis, de 82 anos, chega exibindo um cabelo grisalho ligeiramente desgrenhado, sorriso aberto, voz baixa e tranquila. Mas os olhos parecem sempre estar buscando o seu alvo e, quando começa a falar, o senhor de gestos cavalheiros revela sua força. “Quero sempre questionar, não buscar respostas”, diz ele, um dos principais nomes da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, cuja 10ª edição começa nesta quarta-feira, 4, na cidade fluminense. Continue lendo

Canto do Exílio ~ por José Roberto Prado

Há algumas horas voltei de um encontro.
Atravessei a cidade.
Retornei ao lugar em que cresci, casei, vi meus filhos chegarem…

No encontro conversamos sobre a ‘síndrome do exílio’,
essa estranha impressão que, sem pedir licença,
invade nosso peito e tenta convencer-nos de que ‘não somos daqui’,
que precisamos sempre de ‘um algo mais’.
Essa ‘incompletude’ insistente argumenta que é preciso voltar.
Mas, voltar pra onde…
Se o que sinto é uma saudade de um lugar que não conheço?!

Solidão.

Durante nossa conversa, percebi que todos nós, nascidos ‘fora do jardim’, ansiamos por um reencontro.
Ficou latente que nossa busca mais radical não é por um lugar, uma terra ou uma casa no campo.
Temos sede é de ‘humanidade’, de comunidade, de intimidade,
de justiça, de paz, de amizade,
de perdão. Continue lendo

Interview with Syrian Poet Maram al-Massri

“The president’s family really took Syria like a big chicken, and they eat it alone.”

[Olivia Stransky, Sampsonia Way, June 2, 2011] On Jan. 26, 2011 a man from the Syrian city of Ali-Hasakah, Hasan Ali Akleh, covered himself in gasoline and lit himself on fire in protest of the Syrian government—an act mimicking the self-immolation of a Tunisian man that sparked the “Arab Spring.” A week later, Syrian President Bashar al-Assad told The Wall Street Journal that Syria was immune to the kind of social and political upheaval coursing through the Arab world.  But Syrian human rights groups have estimated that, in recent months, security forces have killed 1,200 citizens who oppose Assad’s regime and the emergency rule that, prior to the unrest, had limited civil liberties since 1962.

Poet Maram al-Massri was born in the same year that emergency rule began. She left the country in 1982 after studying at the University of Damascus, and she has published six collections of poetry—two of them, Red Cherry on a White Tile Floor and I Look at You , have been translated into English in the UK and also the US. Though Massri has been living in Paris for the past 28 years, she has been staying in contact with writers in Syria during the unrest, which has devolved into violent clashes between protestors and government forces. Continue lendo

As Mulheres da Bíblia em Cordel

httpvh://youtu.be/Padbch-jNYQ

Texto, Locução e Edição: Euriano Sales
Ilustração: Meg Banhos

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Oito de março
O grande dia da muié
Se bem que um dia é pouco
Para alguém como ela é
É ela quem dá a vida
Feito como Deus quiser

Mas não posso resumir
A uma simples genitora
Pois a muié é mais que isso
É amor, é protetora
É guerreira, corajosa
Uma grande batalhadora
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Poetisas Brasileiras: como esquecê-las?

Assim eu vejo a vida (Cora Coralina)

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

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Os persas e seus nomes poéticos ~ Samy Adghirni

Poesia é coisa séria no Irã. Quase todo mundo sabe de cor um monte de versos, rodas de amigos adoram debater autores e um dos principais ícones nacionais é o poeta Hafez (1310-1390), cujo túmulo em Shiraz atrai romaria do país inteiro. Hafez, aliás, era crente e capaz de recitar o Corão inteiro, mas celebrou em sua obra a embriaguez e o amor.

O gosto pela poesia parece ser um traço milenar da cultura persa, e até hoje pais dão aos filhos nomes, ou prenomes para ser mais exato, que são pura metáfora. Uns são bucólicos, outros românticos. Há também os metafísicos. É exemplo pra todo lado.

Tenho uma amiga que se chama Yeganeh (única no mundo). A irmã dela é Taraneh (canção). A chefe da agência Reuters no Irã leva o prenome de Parisa (aquela que é como uma fada). O da iraniana mais famosa do planeta, a ativista de direitos humanos e Nobel da Paz Shirin Ebadi, significa “doce”. Não confundir com “açúcar”, ou Paníz, em farsi, como é chamada minha assistente. Simin, personagem principal do badalado e premiado filme “A Separação”, quer dizer “aquela que brilha como prata”. Continue lendo

Szymborska ~ José Miguel Wisnik

Não é o tema que faz a poesia, pois todo assunto pode resvalar para a bobagem, o sentimentalismo e o clichê

[OGlobo, 11 fev 12] Faço parte do clube dos amantes da poesia de Wislawa Szymborska. Uma senhora que até a semana passada vivia na cidade da Cracóvia. Não é fácil falar da poesia contemporânea, saber onde ela está, reconhecer o poeta em sua toca. De certo modo a toca é o lugar, escolhido e compulsório, de toda uma linha de poetas contemporâneos. A mercantilização das palavras, a sua apropriação publicitária, a identificação de tudo quanto existe pela sua senha utilitária, a mentalidade classificadora e redutora, a espetacularização da vida, a faccionalização dos discursos, são todos itens conhecidos, de certo modo batidos, mas verídicos, do mundo do qual a poesia tem que escapar, sabendo que isso é, no limite, impossível. Drummond, por exemplo, acusou a vinda dessa onda avassaladora, a partir dos anos 1950. Além disso, a poesia autêntica está exposta necessariamente ao confronto silencioso e difícil com a pulsão de morte que o mundo contemporâneo manifesta por todos os poros e ao mesmo tempo esconde como nunca. Continue lendo

Hilda Hilst ~ Poesias

Carrega-me contigo. Pássaro-Poesia
Quando cruzares o Amanhã, a luz, o impossível
Porque de barro e palha tem sido esta viagem
Que faço a sós comigo. Isenta de traçado
Ou de complicada geografia, sem nenhuma bagagem
Hei de levar apenas a vertigem e a fé:
Para teu corpo de luz, dois fardos breves.
Deixarei palavras e cantigas. E movediças
Embaçadas vias de Ilusão.
Não cantei cotidianos. Só te cantei a ti
Pássaro-Poesia
E a paisagem-limite: o fosso, o extremo
A convulsão do Homem.

Carrega-me contigo.
No Amanhã. Continue lendo