Arquivo da categoria: Poesia

Dissidente é indiciado na China por poema “subversivo”

As autoridades chinesas indiciaram por subversão o veterano dissidente Zhu Yufu, autor de um poema que conclama as pessoas a defenderem sua liberdade, disse o advogado dele nesta terça-feira.

[Sui-Lee Wee, Reuters, 17 jan 12] Vários dissidentes têm sido alvo de uma onda de repressão na China. Zhu, de 60 anos, foi preso em abril por “incitar à subversão do poder estatal”, acusação frequentemente imputada a críticos do regime comunista. O advogado Li Dunyong disse à Reuters por telefone que o julgamento dele ainda não tem data marcada

“A principal razão para o indiciamento foi um poema que ele escreveu convocando as pessoas a se unirem. Ele havia escrito o poema mais ou menos na mesma época em que havia caos (no Oriente Médio)”, disse Li. “Ele acredita na liberdade de expressão.” Continue lendo

Sophia de Mello Breyner Andresen ~ Poemas

Sophia de Mello (1919 – 2004) foi sem dúvidas uma das poetisas lusitanas do século XX que emociona até hoje pela força da palavra. Sophia fez da palavra um outro viver no mundo, uma forma alternativa de vivenciar cada experiência e devolver a este mesmo mundo sua impressão.

As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

“Ganharás o pão com o suor do teu rosto”
Assim nos foi imposto
E não:
“Com o suor dos outros ganharás o pão”.

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem. Continue lendo

Louvação do Barro ~ Marià Manent

Cantarei o barro, porque nele esteve a vida
e este sangue que ferve em nosso corpo.
Meus olhos de barro pressentem o repouso
e o clarão imortal de uma outra vida.

Cantarei o barro porque foi amassada
a nossa carne do barro inconsistente
e na argila curtida e inanimada
o sopro de Deus entrou como a semente.

Tradução de João Cabral de Melo Neto

MARIÀ MANENT (1898-1988)

Rainer Maria Rilke ~ poesias


Rainer Maria Rilke, (Praga, 4 dez 1875 — Valmont, Suíça, 29 dez 1926) foi um dos mais importantes poetas de língua alemã do século XX.

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O tempo não é uma medida.
Um ano não conta, dez anos não representam nada.
Ser artista não significa contar,
é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste,
serena, aos grandes ventos da primavera,
sem temer que o verão possa não vir.
O verão há de vir.
Mas só vem para aqueles que sabem esperar,
tão sossegados como se tivessem na frente a eternidade. Continue lendo

Primavera nos Dentes ~ João Apolinário

httpv://youtu.be/ZYpJ3QrdsLA

Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera

João Apolinário

Este poema foi musicado por João Ricardo, filho de João Apolinário.

A canção foi gravada no álbum de lançamento do grupo Secos e Molhados, em 1973, no qual João Ricardo fazia parte.

Vale a pena recordar… e despertar.

Guimarães Rosa: discurso em agradecimento ao prêmio de “Magma”

“O poeta não cita: canta.
Não se traça programas, porque a sua estrada não tem marcos nem destino.
Se repete, são idéias e imagens que volvem à tona por poder próprio, pois que entre elas há também uma sobrevivência do mais apto.

Não se aliena, como um lunático, das agitações coletivas e contemporâneas, porque arte e vida são planos não superpostos mas interpenetrados, com o ar entranhado nas massas de água, indispensável ao peixe—neste caso ao homem, que vive a vida e que respira arte.

Mas tal contribuição para o meio humano será a de um órgão para um organismo: instintiva, sem a consciência de uma intenção, automática, discreta e subterrânea. Continue lendo

Abujamra declama Guimarães Rosa

httpv://youtu.be/ZbbFQCeYmzc
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Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens.”

Texto citado em entrevista a Giinter Lorenz, em janeiro de 1965, citado em “Uma cantiga de se fechar os olhos –“: mito e música em Guimarães Rosa – Página 74, de Gabriela Reinaldo – Publicado por Annablume, 2005

A Palavra Mágica ~ Drummond

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

Carlos Drummond de Andrade, in ‘Discurso da Primavera’

Mia Couto ~ Poemas

Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in “Raiz de Orvalho e Outros Poemas” Continue lendo

Do not go gentle into that good night ~ Dylan Thomas, por Anthony Hopkins

http://www.youtube.com/watch?v=s1fTlIsUGks&feature=player_embedded

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Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.

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Não entres nessa noite acolhedora com doçura

Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Embora os sábios, ao morrer, saibam que a treva lhes perdura,
Porque suas palavras não garfaram a centelha esguia,
Eles não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela alvura
Com que seus frágeis atos bailariam numa verde baía
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

Os loucos que abraçaram e louvaram o sol na etérea altura
E aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua travessia
Não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os graves, em seu fim, ao ver com um olhar que os transfigura
Quanto a retina cega, qual fugaz meteoro, se alegraria,
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

E a ti,meu pai, te imploro agora, lá na cúpula obscura,
Que me abençoes e maldigas com a tua lágrima bravia.
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Tradução: Ivan Junqueira

Versos de Nobel são conhecidos por tristeza e misticismo

O poeta sueco Tomas Tranströmer ganhou o prêmio Nobel de Literatura de 2011.

[BBC Brasil, 6 out 11] A Academia Sueca, que confere o prêmio, justificou a escolha do escritor dizendo que “por meio de suas imagens condensadas e translúcidas, ele nos dá novo acesso à realidade”.

Aos 80 anos de idade, Tranströmer é o 108º agraciado com o prestigioso prêmio, concedido no ano passado ao escritor peruano Mario Vargas Llosa.

O prêmio de quase US$ 1,5 milhão de dólares é concedido apenas a escritores vivos.

Formado em psicologia, Tranströmer sofreu um derrame em 1990, o que afetou sua fala.

‘Místico’

As obras de Tranströmer foram traduzidas em 50 idiomas, entre eles, o português (de Portugal) e o espanhol.

Seus poemas foram descritos pela editora inglesa Publishers Weekly como “místicos, versáteis e tristes”. Continue lendo

Toda a obra poética de Fernando Pessoa para download

O portal Domínio Público disponibilizou para download a poesia completa de Fernando Pessoa. Embora sem uma ordem cronológica adequada e com edições repetidas, o acervo contempla toda a obra conhecida do poeta português.

[Revista Bula] Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, em junho de 1888, e morreu em novembro de 1935, na mesma cidade. É considerado, ao lado de Luís de Camões, o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal. Seus poemas mais conhecidos foram assinados pelos heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, além de um semi-heterônimo, Bernardo Soares, que seria o próprio Pessoa, um ajudante de guarda-livros da cidade de Lisboa e autor do “Livro do Desassossego”, uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século XX.

Além de exímio poeta, Fernando Pessoa foi um grande criador de personagens. Mais do que meros pseudônimos, seus heterônimos foram personagens completos, com biografias próprias e estilos literários díspares. Álvaro de Campos, por exemplo, era um engenheiro português com educação inglesa e com forte influência do simbolismo e futurismo. Ricardo Reis era um médico defensor da monarquia e com grande interesse pela cultura latina. Alberto Caeiro, embora com pouca educação formal e uma posição anti-intelectualista (cursou apenas o primário), é considerado um mestre. Com uma linguagem direta e com a naturalidade do discurso oral, é o mais profícuo entre os heterônimos. São seus “O Guardador de Rebanhos”, “O Pastor Amoroso” e os “Poemas Inconjuntos”.

O crítico literário Harold Bloom, em entrevista à revista “Época”, afirmou que a obra de Fernando Pessoa é o legado da língua portuguesa ao mundo. Para acessar: http://bit.ly/ffoF7T