Arquivo da categoria: Economia

Os Adoradores de dinheiro e o deus Mercado ~ Chris Hedges

[Carta Maior, 25 abr 11] Discurso feito pelo jornalista Chris Hedges em Union Square, em 15 de abril passado, na cidade de Nova York, durante um protesto feito em frente a uma das agências do Bank of America.

Estamos aqui hoje em frente a um de nossos templos das finanças. Um templo no qual a cobiça e o lucro são os bens supremos, onde o valor de cada pessoa é determinado por sua capacidade de misturar riqueza e poder à custa de outras, onde as leis são manipuladas, se reescrevem e se violam, onde o ciclo infinito do consumo define o progresso humano, onde a fraude e os crimes são os instrumentos dos negócios.

As duas forças mais destrutivas da natureza humana – a cobiça e a inveja –impulsionam os homens de finanças, os banqueiros, os mandarins corporativos e os dirigentes de nossos dois principais partidos políticos, todos eles beneficiários deste sistema. Colocam-se no centro de sua criação. Desdenham ou ignoram os gritos dos que se encontram abaixo deles. Retiram nossos direitos e nossa dignidade e frustram nossa capacidade de resistência. Fazem-nos prisioneiros em nosso próprio país. Vêem os seres humanos e o mundo natural como simples mercadorias a serem exploradas até ao esgotamento e ao colapso. O sofrimento humano, as guerras, as mudanças climáticas, a pobreza, tudo serve ao custeio dos negócios. Nada é sagrado. O Senhor dos Lucros é o Senhor da Morte. Continue lendo

Brasil enfrenta o desafio de se desenvolver ao envelhecer

[Banco Mundial, 6 abr 11] O Brasil se encontra no meio de uma profunda transformação sócio-econômica, passando de um país relativamente jovem para um onde predomina a população idosa. Segundo relatório lançado hoje pelo Banco Mundial, o país pode tirar proveito dessa transição para impulsionar o desenvolvimento econômico e social e evitar dificuldades sociais, fiscais e institucionais no futuro.

O relatório, intitulado “Envelhecendo em um Brasil Mais Velho”, foi lançado hoje durante seminário promovido pelo BNDES em parceria com o Banco Mundial no Rio de Janeiro, com a participação do Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o Diretor do Banco Mundial para o Brasil, Makhtar Diop.

“Mais do que se adaptar a uma mudança demográfica, o Brasil tem toda condição de usá-la para Grafico do estudo Envelhecendo em um Brasil mais velhoimpulsionar o seu desenvolvimento. Com as políticas e o planejamento adequados, é possível envelhecer e se tornar desenvolvido ao mesmo tempo,” disse Makhtar Diop, Diretor do Banco Mundial para o Brasil. “Populações mais velhas normalmente estão associadas a países com maior grau de desenvolvimento, e o Brasil certamente está se inserindo nesse grupo.” Continue lendo

América do Sul foi continente que mais gastou com armas em 2010

Em 2010 o mundo gastou 1,6 trilhão de dólares com armamento militar. Segundo especialista, se não fosse a crise financeira dos últimos anos, esse valor teria sido ainda maior.

[DW, 11 abr 2011] O Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri, do inglês) divulgou nesta segunda-feira (11/04) relatório anual sobre os gastos mundiais com armamento militar. Em 2010, foi registrado um aumento de 1,3%, ou seja: no ano passado foram gastos no mundo todo 1,6 trilhão de dólares com armas militares.

Enquanto a Europa desce no ranking das regiões que mais investem nas Forças Armadas, a América do Sul sobe. Porém no topo da lista ainda estão os Estados Unidos, mesmo tendo reduzido seus investimentos militares em 2010.

Em segundo lugar encontra-se a China, seguida do Reino Unido. Vindo depois da França, Rússia e Japão, a Alemanha disputa o sétimo lugar com a Arábia Saudita. Continue lendo

Os bancos das grandes democracias ocidentais são cúmplices de um crime contra a humanidade

[IHU, 30 mar 11] Os bilhões que são roubados a cada ano dos países mais pobres seguem sempre o mesmo caminho que os leva aos maiores bancos das democracias ocidentais. É um crime contra a humanidade. A reportagem é de Eduardo Febbro e publicado pelo Página/12, 27-03-2011. A tradução é do Cepat.

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Um crime contra a humanidade. Silencioso, sem violência aparente. Uma espantosa máquina de pilhagem dos povos levada a cabo com a cumplicidade do sistema bancário mundial. As fortunas dos ditadores estão dormindo nos bancos ocidentais enquanto dezenas de milhares de pessoas morrem de fome ou não têm condições de pagar o tratamento da Aids.

Jean Claude Duvalier no Haiti, Ali Ben na Tunísia, Hosni Mubarak no Egito, Joseph Mobutu no Zaire (atual República Democrática do Congo), Sanu Abacha na Nigéria, Omar Bongo no Gabão, Manuel Noriega no Panamá, Um-ssa Mu-Traoré em Mali Augusto Pinochet no Chile, Muammar Kadafi na Líbia, Ferdinand Marcos nas Filipinas e N’guesso Sassu no Congo Brazzaville.  As fortunas desses tiranos são depositados em bancos internacionais ou transformadas em investimento fabulosos em propriedades em Londres, Paris, Nova York ou Dubai. Continue lendo

Fim da pobreza no Brasil é inatingível, diz economista

[Estadão, 28 mar 11] Para o economista Marcelo Neri, especialista em políticas públicas de combate à pobreza, a meta de erradicação da miséria é inatingível, mas buscá-la é algo positivo. Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff teria sido mais realista se apresentasse como objetivo a redução da miséria pela metade até o fim de seu governo.

A declaração da presidente Dilma de que a erradicação da miséria talvez não se concretiza até 2014 é um sinal de que a meta é ambiciosa demais?
A meta é ambiciosa, sim. Teoricamente, basta existir ainda uma pessoa miserável para perder essa guerra. Seria mais realista se comprometer a reduzir a miséria à metade. Mas também é difícil ser contra a meta da erradicação. Não é possível erradicar a pobreza, mas é viável reduzir muito o peso desse problema. O fim da pobreza é uma espécie de Santo Graal: é inatingível, mas a busca por ele enobrece o espírito da sociedade brasileira. Continue lendo

Biocombustíveis, especulação e catástrofes elevam preço de alimentos

Escassez de alimento preocupa populações de países em desenvolvimento em 2011

[DW, 13 mar 11]  A diretriz da União Europeia que obriga os países-membros a usar 10% de energias renováveis no setor de transportes até 2020 gerou polêmica não somente entre governo e oposição na Alemanha, mas também entre os próprios motoristas. Eles têm dúvidas se seus carros aceitam a nova mistura de combustível fóssil com ingredientes de base vegetal.

Para as organizações de combate à fome, esse não é nem de longe o maior problema: um maior emprego de combustíveis de base vegetal também pode ter efeito nos preços dos alimentos.

Em setembro de 2010, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) anunciara que o número de pessoas passando fome no mundo caíra para menos de 1 bilhão em setembro de 2010. Ao mesmo tempo, o diretor-geral da FAO, Jaques Diouf, alertava para o aumento dos preços dos alimentos. Ele identificava a variação de preços nas bolsas de valores como um sinal preocupante.

Os biocombustíveis são apontados como causa da elevação do preço dos alimentos no mercado internacional. Mas não são a única.

Catástrofes naturais

Em 2010 havia sinais claros de que uma crise na produção de alimentos se aproximava. As secas na Rússia provocaram a devastação de imensas áreas pelas queimadas. O primeiro-ministro Vladimir Putin chegou a proibir as exportações de grãos. A medida causou impacto em vários países porque a Rússia é um dos principais exportadores de trigo.

No Paquistão, as cheias arruinaram imensas plantações em áreas tidas como “celeiros” do país. Poucos dias depois, os alimentos dispararam, ficando cerca de três a quatro vezes mais caros. Continue lendo

Violência, pobreza e desigualdade

[Texto de Xavier Caño Tamayo, publicado originalmente no CCS – Centro de Colaborações Solidárias, traduzido por Adital, 17 dez 2010]

O último Latinobarômetro indica que cresce o apoio à democracia na América Latina (61% dos entrevistados). Porém, também mostra que 27% de mortes violentas no mundo acontecem na América Latina, apesar de que sua população não atinge 9% do total do planeta. Nos últimos 10 anos, 1.200.000 pessoas foram mortas violentamente na região.

Favelas ocupadas pela polícia militar, gangues assassinas na América Central; matanças no México; 25.000 desaparecidos forçosos, assassinatos e massacres na Colômbia… Somente a Costa Rica, Cuba, o Peru, a Argentina, o Chile e o Uruguai apresentam índices abaixo do que se considera violência epidêmica: 8 homicídios por ano por cada 100.000 habitantes. A maior taxa de assassinatos do mundo se dá na América Latina.

Como explicar tão terrível realidade? Os latinoamericanos são violentos por natureza? Alguma maldição foi lançada sobre a América Latina? Continue lendo

Bolsa Família tem que ser revisto para que país acabe com miséria, defendem economistas

[Gilberto Costa, Agência Brasil, 12 dez 2010]

O principal programa social do governo federal, o Bolsa Família, terá de ser modificado e ampliado se a presidenta eleita Dilma Rousseff quiser cumprir a promessa de erradicar a miséria. Esta é a avaliação dos especialistas em pobreza ouvidos pela Agência Brasil: Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Ricardo Paes e Barros, também do Ipea.

Pochmann recomenda que o Bolsa Família suba de status e deixe de ser um programa ministerial e para tornar-se uma política regulamentada em lei, como acontece, por exemplo, com o seguro-desemprego. Para ele, a extinção da indigência força a ampliação do volume de recursos e do universo de pessoas beneficiadas. “É preciso dar acesso às famílias na medida em que se cadastra [as famílias]. Há famílias que estão cadastradas, mas não são beneficiadas”, lembra.

Além de ampliação e agilidade, o presidente do Ipea sugere integração dos programas sociais. “Nós estamos entrando no núcleo duro da pobreza, o que é um pouco mais difícil. Será preciso adotar ações mais articuladas e mais integradas, um painel de ações direcionado para esse núcleo”, avalia. Continue lendo

Número de casas vazias supera déficit habitacional brasileiro, indica Censo 2010

[ÉPOCA, com Agência Brasil, 11 dez 2010] Há cerca de 200 mil moradias vagas a mais do que o necessário para todas as famílias brasileiras viverem em locais considerados adequados

Os primeiros dados do Censo 2010 divulgados pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de domicílios vagos no país é maior que o déficit habitacional brasileiro.

Existem hoje no Brasil, segundo o censo, pouco mais de 6,07 milhões de domicílios vagos, incluindo os que estão em construção. O número não leva em conta as moradias de ocupação ocasional (de veraneio, por exemplo) nem casas cujos moradores estavam temporariamente ausentes durante a pesquisa. Mesmo assim, essa quantidade supera em cerca de 200 mil o número de habitações que precisariam ser construídas para que todas as famílias brasileiras vivessem em locais considerados adequados: 5,8 milhões.

Esse déficit habitacional foi calculado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) com base em outro levantamento do IBGE, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O déficit soma a quantidade de famílias que declaram não ter um teto, que habitam locais inadequados ou que compartilham uma mesma moradia e pretendem se mudar. Não leva em conta as famílias que vivem em casas adequadas de aluguel.

O censo mostrou que São Paulo é o estado com o maior número de domicílios vagos. O número de moradias vazias chega a 1,112 milhão. Já de acordo com o Sinduscon-SP, são 1,127 milhão de famílias sem teto ou sem uma casa adequada. Portanto, na hipótese de que essas casas vagas fossem ocupadas por uma família, só 15 mil moradias precisariam ser construídas para solucionar o déficit habitacional do estado.

Minas Gerais é o segundo estado com o maior número de habitações vazias. São cerca de 689 mil, segundo o censo. Se todas as 444 mil famílias que compõem o déficit habitacional de Minas estimado pelo Sinduscon-SP mudassem para uma das moradias vagas, ainda sobrariam 245 mil domicílios desocupados.

O Ministério da Cidades, responsável pelas políticas de habitação do país, informou em nota que o governo federal criou no ano passado o programa Minha Casa, Minha Vida visando a reduzir o déficit habitacional brasileiro em 1 milhão de unidades. O órgão não comentou a diferença entre o número de imóveis vazios e a demanda por moradia no país. Afirmou, porém, que a construção de 816 mil casas já foi contratada. Dessas, 40% serão destinadas a famílias com renda mensal até R$ 1.395.

Municípios brasileiros com melhor e pior distribuição de renda

[Publicado por Rudá Ricci, em seu blog, 29 nov 2010]

A Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa – ABEP desenvolveu o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) que estima o poder de compra das famílias, classificando-as em classes econômicas: A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E.

Segundo a classificação as classes são:

  • A1 a renda familiar é de R$ 14.366,00;
  • A2 de R$ 8.099,00;
  • B1 de R$ 4.558,00;
  • B2 de R$ 2.327,00;
  • C1 de R$ 1.391,00;
  • C2 de R$ 933,00;
  • D de R$ 618,00;
  • E de R$ 403,00 (dados mais atualizados de 2008 ainda válidos para 2010). Continue lendo

Os latifúndios de ideias ~ por Ladislau Dowbor

A concentração de renda e a destruição ambiental continuam sendo os nossos grandes desafios. São facetas diferentes da mesma dinâmica: na prática, estamos destruindo o planeta para a satisfação consumista de uma minoria, e deixando de atender os problemas realmente centrais. Como explicar que, com tantas tecnologias, produtividade e modernidade, estejamos reproduzindo o atraso? Em particular, como a sociedade do conhecimento pode se transformar em vetor de desigualdade?

O prêmio Nobel Kenneth Arrow considera que os autores de “Apropriação indébita: como os ricos estão tomando a nossa herança comum”, Gar Alperovitz e Lew Daly, “se baseiam em fontes impecáveis e as usam com maestria. Todo mundo irá aprender ao ler este livro”. Eu, que não sou nenhum prêmio Nobel, venho aqui contribuir com a minha modesta recomendação, transformando o meu prefácio em instrumento de divulgação. Mania de professor, querer comunicar o entusiasmo de boas leituras. E recomendação a não economistas: os autores deste livro têm suficiente inteligência para não precisar se esconder atrás de equações. A leitura flui.

A quem vai o fruto do nosso trabalho, e em que proporções? É a eterna questão do controle dos nossos processos produtivos. Na era da economia rural, os ricos se apropriavam do fruto do trabalho social, por serem donos da terra. Na era industrial, por serem donos da fábrica. E na era da economia do conhecimento, a propriedade intelectual se apresenta como a grande avenida de acesso a uma posição privilegiada na sociedade. Mas para isso, é preciso restringir o acesso generalizado ao conhecimento, pois se todos tiverem acesso, como se cobrará o pedágio, como se assegurará a vantagem de minorias? Continue lendo