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IBGE: 11,4 milhões de brasileiros vivem em favelas e ocupações

Em 2010, o país possuía 6.329 aglomerados subnormais (assentamentos irregulares conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros) em 323 dos 5.565 municípios brasileiros.

[JB, 21 dez 11] Eles concentravam 6,0% da população brasileira (11.425.644 pessoas), distribuídos em 3.224.529 domicílios particulares ocupados (5,6% do total).

Vinte regiões metropolitanas concentravam 88,6% desses domicílios, e quase metade (49,8%) dos domicílios de aglomerados estavam na Região Sudeste. O levantamento, parte dos dados do Censo Demográfico 2010, foi divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE e também traça o perfil de serviços, como água e esgoto, disponíveis nesses locais de ocupação irregular. Continue lendo

Uma revolução agroindustrial no horizonte?

De todos os efeitos que a rápida ascensão da China tiveram sobre a economia mundial na última década, a alta dos preços dos alimentos e de outras matérias-primas é, certamente, um dos que mais despertam a atenção dos economistas. Em poucos anos, muitas commodities ficaram duas ou três vezes mais caras do que no início dos anos 2000. E, apesar dos revéses sofridos após o estouro da crise financeira americana, em 2008, e do agravamento dos problemas europeus, nos últimos meses, os preços se mantêm bem acima das médias históricas.

[Gerson Freitas Jr, Valor, 21 dez 11] Poucos estudiosos acreditam se tratar de um movimento de curto prazo. Pelo contrário, para a maioria, a escalada dos últimos anos parece sepultar de vez a era das matérias-primas baratas, uma das bases que sustentaram o crescimento econômico durante o século 20. Agora, economistas de várias tendências se veem obrigados a repensar as questões relacionadas aos recursos naturais e ao desenvolvimento econômico dos países produtores de commodities. E, como nunca, dispostos a questionar dogmas como a disseminada “maldição dos recursos naturais”. Afinal, é possível para países como o Brasil se desenvolver a partir de setores como a agricultura? Continue lendo

Cerca de 25% da população rural vive em situação de pobreza extrema

Segundo o IBGE, a miséria atinge 16.270 milhões da população brasileira. Na zona rural, o percentual de miseráveis é mais elevado.

[G1, 18 dez 11] Já faz algum tempo que o Brasil virou uma das maiores potências agrícola do mundo, produzindo o suficiente para alimentar sua população e importando pouco de outros países. O país também é grande exportador de carne, soja, frutas, café, milho e algodão. No entanto, é no campo, onde é gerada toda essa riqueza, que o Brasil ainda tem um grande número de pessoas vivendo à beira da miséria – uma dívida social que assombra.

Dos anos 90 para cá, o Brasil passou por grandes mudanças: ganhou uma nova moeda, conseguiu dominar a inflação, criou programas sociais importantes e a economia voltou a crescer. Só na última década, 40 milhões de pessoas entraram para a classe média no Brasil e a pobreza caiu ao menor nível da história. Atualmente, as categorias de renda mais elevadas e a vasta classe média brasileira já somam, juntas, cerca de 70% da população do país. Continue lendo

A fome no mundo é um problema político

Cereais: de alimento básico a objeto de especulação

Em tese, há alimentos para todos. Se mesmo assim uma em cada sete pessoas passa fome, pode-se dizer que essa é uma situação politicamente tolerada, argumenta a editora-chefe da Deutsche Welle, Ute Schaeffer.

[DW, dez 11] Um mundo sem fome, com 7 bilhões de pessoas bem alimentadas e bem nutridas, seria possível. Nosso planeta produz alimentos suficientes. A fome não é um problema causado pela natureza ou cuja razão está apenas nas crises. A fome é politicamente tolerada. Ela é aceita porque há “coisas mais importantes”, por exemplo as vozes dos consumidores e agricultores europeus.

Se nós, europeus, levássemos mesmo a sério nossos sermões sobre solidariedade, teríamos que cortar os subsídios agrícolas no continente, revolucionar os sistemas de comércio e aumentar o preço dos alimentos nos países industrializados.

As vozes dos famintos, contudo, não contam. Eles não têm lobby. Passa-se fome sobretudo – por mais bizarro que isso soe – nas regiões onde os alimentos são produzidos, ou seja, no campo, onde as pessoas vivem da agricultura familiar e não têm seus interesses representados nas instituições econômicas multilaterais. Continue lendo

Europa ainda tem ‘ilhas de prosperidade’ em meio à crise

Suécia, Finlândia, Noruega e Luxemburgo são países que não sofreram com turbulência.

[João Sorima Neto, O Globo, 13 dez 11] Desemprego, risco de calote da dívida, recessão econômica. Nos últimos tempos, esse tem sido o cenário de alguns países europeus que adotaram o euro como moeda única. A gastança desenfreada dos governos já levou à lona países como a Grécia, Portugal e Irlanda, que tiveram que pedir ajuda internacional para não quebrar. Agora, estão na mira a Itália, a Espanha e até a França. Essas nações têm sido pressionadas pelos investidores a pagar juro muito alto para se financiar no mercado. Mas a Europa não é só caos. No meio desse furacão econômico, sem solução aparente, existem algumas “ilhas de prosperidade”, onde, por enquanto, a crise do euro ainda não chegou com força.

Tome o exemplo da Suécia. O país não adotou o euro como moeda, embora integre a União Europeia. Os títulos da dívida suecos mantêm a classificação AAA dada por agências de rating e o Tesouro sueco não tem dificuldades para rolar seus papéis no mercado. A Suécia paga juros até mais baixos do que a Alemanha, que se viu forçada a oferecer taxa de 2,3% para se financiar. Este ano, a economia sueca deve crescer 4%, um número impensável até para a própria Alemanha, a economia mais forte da Europa, que deve crescer 0,5% em 2011. Continue lendo

Cinco cidades concentravam um quarto do PIB em 2009, diz IBGE

[Pedro Soares, Folha SP, 14 dez 11] Em 2009, aproximadamente 25% de toda a geração de renda do país estava concentrada em apenas cinco municípios: São Paulo (12%), Rio de Janeiro (5,4%), Brasília (4,1%), Curitiba (1,4%) e Belo Horizonte (1,4%). Juntos, eles representavam, porém, uma fatia menor da população do país (12,6%), o que ilustra a concentração do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas) no país.

Em 2008, a lista de cidades que abocanhavam um quarto do PIB continha mais um município, Manaus, segundo dados da pesquisa PIB dos Municípios, divulgada neste quarta-feira (14) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na outra ponta, 1.302 municípios representavam apenas 1% do PIB do país em 2009. São cidades como São Félix do Tocantins, que tinha o menor PIB do país. Entre as capitais, Boa Vista (RR), Rio Branco (RO) e Palmas registraram os mais baixos PIBs. Continue lendo

Apesar de redução, Brasil mantém maior desigualdade entre Bric, diz OCDE

[BBC Brasil, 5 dez 11] O Brasil foi o único entre os chamados Bric – grupo que inclui ainda Rússia, Índia e China – a reduzir o abismo entre ricos e pobres em 15 anos, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Mas o relatório salienta que apesar dessa redução, a desigualdade no Brasil ainda é a maior entre os países do grupo.

Enquanto o índice Gini, que mede a desigualdade de um país, caiu de 0,61 para 0,55 no Brasil entre 1993 e 2008, em todos os outros que são considerados as ‘vedetes’ dos emergentes esse índice passou para um valor mais alto. Quanto menor o índice Gini, melhor.

Além disso, no Brasil os 20% mais pobres viram sua renda crescer em média 6,6% ao ano na década de 2000, mais de três vezes mais rápido que a dos 20% mais ricos, de 1,8%. Isso representa uma aceleração de um processo que já havia começado nos anos 1990, afirmou o relatório.

Entretanto, observou a OCDE, o Gini do Brasil ainda é maior que em todos os Bric. É também o dobro da média dos ricos. Continue lendo

Cresce o índice de adolescentes que vivem em extrema pobreza, segundo o Unicef

[Gilberto Costa, Agência Brasil, 30 nov 11] O percentual de adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos que vivem em famílias de extrema pobreza (até um quarto de salário mínimo per capita) cresceu entre 2004 e 2009. Segundo relatório Situação da Adolescência Brasileira 2011, do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), o percentual passou de 16,3% para 17,6%. No mesmo período, a situação de extrema pobreza da população em geral caiu de 12,4% para 11,9%.

Segundo o documento do Unicef, os adolescentes são mais vulneráveis que outros segmentos da população e, entre eles, a desigualdade aumenta problemas de trabalho precário, dependência química, abuso sexual e homicídios.

Enquanto a taxa de homicídios da população em geral era 20 a cada 100 mil, na população de 15 a 19 anos é  43,2 a cada 100 mil.

Os adolescentes negros entre 12 e 18 anos, segundo o Unicef, têm o risco 3,7 vezes maior de ser assassinado. Já um adolescente indígena tem 3 vezes mais chance de ser analfabeto. Do total de 500 mil adolescentes analfabetos, 68,4% são meninos. Para cada oito meninos de 13 a 19 anos infectados com HIV/aids há dez meninas com o mesmo vírus.

O relatório indica situação de maior pobreza entre os adolescentes em comunidades, assentamentos e favelas e também entre aqueles que vivem na Amazônia e no Semiárido.

Cepal: América Latina teve avanços consistentes no combate à pobreza na última década

[Martha Beck, O Globo, 29 nov 11] A América Latina e o Caribe fizeram avanços consistentes no combate à pobreza e às desigualdades na última década, afirma o Panorama Social 2011, publicado nesta terça-feira pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Segundo o documento, nem mesmo a crise financeira mundial impediu a melhora dos indicadores.

Em 2009, o índice de pobreza na região ficou em 33%, incluindo 13,1% de pessoas em condições de pobreza extrema ou indigência. Em termos absolutos, essas cifras equivalem a 184 milhões de pobres, das quais 73 milhões são indigentes. Já em 2010, a pobreza voltou a cair, passando para 31,4%, enquanto a indigência atingiu 12,3% da população. Esse é o menor patamar dos últimos 20 anos.

“A partir das projeções de crescimento do PIB e das previsões da evolução da inflação em cada país, cabe esperar que em 2011 a taxa de pobreza se reduza levemente”, destaca o documento da Cepal. Continue lendo

Desigualdade entre regiões brasileiras diminui, aponta IBGE

[Pedro Soares, Folha SP, 23 nov 11] Ainda que de modo lento, segue o processo de redução da desigualdade regional da economia brasileira. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto) das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste ganharam participação de 2002 para 2009. Em contrapartida, o Sudeste manteve a tendência de redução de seu peso.

No intervalo de 2002 a 2009, o Nordeste passou de 13% de participação no PIB para 13,5%. O Norte saltou de 4,7% para 5%. Já o Centro-Oeste teve o maior avanço: de 8,8% para 9,6% –sob influência da expansão da fronteira agrícola e do peso da maior administração pública, concentrada no Distrito Federal.

Já as regiões mais ricas perderam espaço. O Sudeste viu seu peso cair de 56,7% para 55,3%de 2002 a 2009. O Sul cedeu de 16,9% para 16,5%.

De 2008 a 2009, o Nordeste teve o maior avanço e ganhou 0,4 ponto percentual. Seu peso em 2008 era de 13,1%.

Mesmo com o processo de descontração regional, apenas oito Estados –SP, RJ, MG, RS, PR, BA, DF e SC– detinham 78,1% da economia nacional em 2009. Sozinho, São Paulo abocanhava um terço do PIB –exatos 33,5%–, mas esse percentual era maior em 2002, de 34,6%.

Já em termos de crescimento econômico, a liderança em 2009 ficou com Rondônia, com alta de 7,3%, seguido por Piauí –6,2%. O pior resultado foi o do Espírito Santo, com queda de 6,7%.

Em São Paulo, a retração foi de 0,8% em razão do fraco desempenho da indústria, ramo importante na economia do Estado e que teve forte impacto da crise iniciada em 2008. O mesmo ocorreu com o Espírito Santo. Na média nacional, o PIB teve retração de 0,3% em 2009.

”Occupy”: as Igrejas dos EUA estão só olhando

[Massimo Faggioli*, IHU, 22 nov 11] Intelectuais, padres e religiosos norte-americanos estão muito mais presentes e atentos ao que acontece nos vários locais de ocupação do que os bispos. O paradoxo é que uma Igreja Católica cada vez mais atenta a não se fazer “assimilar” pela cultura norte-americana se adaptou a uma cultura econômica liberal, que tem mais a ver com o calvinismo dos fundadores do que com a tradição da doutrina social da Igreja Católica.

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Até o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, líder da Comunhão Anglicana, deu atenção ao movimento de protesto contra os centros de poder financeiro que acontecem em Londres. Muito mais poderosa é a voz da religião do outro lado do Atlântico, em uma “nação com a alma de uma igreja”, como os Estados Unidos: o protesto evacuado do Zuccotti Park, em Nova York, só podia encontrar refúgio em uma igreja, Trinity Church.

No início do século XX, o social gospel das igrejas que lidavam com a questão social amplificada pela imigração estabeleceu as bases morais (e, em alguns casos, também legislativas) para aquilo que se tornou o New Deal de Roosevelt.

Nos EUA de hoje, a posição das igrejas norte-americanas é indicativa do papel do protesto chamado de “Occupy Wall Street”. Todo fenômeno social e político nos EUA tem um aspecto religioso. Continue lendo

Michel Foucault, o Jornal Nacional e a Chevron ~ Luís Eustáquio Soares

[Observatório da Imprensa, 22 nov 11] Michel Foucault inicia seu extraordinário livro Arqueologia do Saber (1969) questionando algumas identidades fixas que orientam as nossas vidas, na suposição de que elas sejam eternas e que sempre tenham existido. O que é o sujeito? O que é uma pessoa, com sua identidade de gênero, étnica, econômica? Existe alguém que seja ele mesmo, uma identidade fixa, definida?

Quem sou eu?

Este é, pois, o primeiro axioma: não existe sujeito integralmente ele mesmo.

Somos muitos, com algumas tendências que prevalecem através das quais me fazem pensar ser eu mesmo um comunista, um poeta, um professor, um homem, um brasileiro, mineiro, com uma biografia marcada pela pobreza e pela ação solidária e socialista de minha mãe, que tem 15 filhos e que isso e isso e isso. Percebo-me a partir desses viveres que vivi, embora não sejam de forma alguma isolados, apenas meus, mas também de muitas outras pessoas: milhares, milhões, bilhões.

E eis que chego ao segundo axioma: eu não sou eu mesmo, mas um arquivo de experiências de vidas, inclusive de vidas antípodas das que acredito ser eu mesmo. Eu sou também ditador, torturador, indiferente, cínico, assassino.

Crenças de fixidez identitária

E eis que alcanço o terceiro axioma: sou o mundo inteiro, todas as possibilidades de ser, no atual presente histórico, embora manifeste tudo isso tendo em vista as misturas que fui realizando no decorrer de minha vida, a partir das migalhas de ser – em função da pobreza –, que pude catar aqui e ali. Continue lendo