Arquivo da categoria: Economia

O violento silêncio de um novo começo ~ Slavoj Zizek

[IHU, 18 nov 11/El País, 17 nov 11; tradução Cepat] O que fazer depois da ocupação de Wall Street, com os protestos que começaram longe (Oriente Médio, Grécia, Espanha, Reino Unido) atingiram o centro e agora, fortalecidos, estão se espalhando pelo mundo? Um dos maiores perigos que enfrentam os manifestantes é enamorarem-se por si mesmos. Em São Francisco, numa concentração de solidariedade a Wall Street, no 16 de outubro de 2011, se ouviu um convite para participar no protesto, como se fosse uma concentração hippie dos anos sessenta: “Perguntaram qual é o nosso programa. Estamos aqui para nos divertir”.

Organizar uma acampamento é legal, mas o que realmente importa é o que sobra no dia seguinte, o que muda em nossa vida cotidiana. Os manifestantes devem enamorar-se do trabalho duro e paciente. Não são um final, mas um começo, e sua mensagem fundamental é: quebrou-se o tabu, não vivemos no melhor mundo possível, e temos o direito e mesmo o dever, de pensar em alternativas. Em uma espécie de tríade hegeliana, a esquerda ocidental voltou aos seus princípios depois de abandonar o chamado “fundamentalismo da luta de classes” pela pluralidade de lutas anti-racistas, feministas, etc, o problema fundamental volta a ser o “capitalismo”. A primeira lição deve ser: não devemos culpar as pessoas, nem atitudes. O problema não é a corrupção ou a ganância, é o sistema que nos empurra a ser corrupto. A solução não é “a rua em frente a Wall Street”, mas sim mudar o sistema no qual a rua não pode funcionar sem Wall Street. Continue lendo

A desglobalização e seus inimigos ~ por Frédéric Lordon

Equilibradas sobre o fio da dívida pública, as economias ocidentais pulam de crise em crise. Cúpulas em que se decide a sorte de um país são rotina para os políticos, que, há três anos, assumem um papel de pronto-socorro das finanças. Mas um outro caminho tem sido aberto, quem tem medo da desglobalização?

[Frédéric Lordon, Le Monde Diplomatique, 16 nov 11] No início, as coisas eram simples: havia a razão, que andava em círculos, e a insanidade. Os racionais estabeleceram que a globalização era a realização da felicidade, e todos aqueles que não tivessem o bom gosto de acreditar nisso deviam ser trancafiados. Por duas décadas, essa “razão” impediu metodicamente qualquer debate, concordando em abrir-se apenas quando sobreveio o espetáculo da maior crise do capitalismo.

Os terríveis efeitos da mega-austeridade europeia se farão sentir realmente na França a partir do primeiro semestre de 2012. No cruzamento entre delírio financeiro, política econômica tutelada pelo mercado e deslocalizações que prosseguem durante a crise, a globalização promete mostrar-se em seus mais ofuscantes trajes: desemprego, precariedade, desigualdade, perda da soberania popular.

A liberalização financeira e o poder acionário, a construção da Europa com base na escolha deliberada de expor a política econômica à disciplina do mercado financeiro, a concorrência livre e leal são todas aquelas coisas intocáveis que devem ser ditas (contra o inferno das que não devem ser ditas) para poder continuar apertando a mão do ministro, ser convidado para falar na televisão, ser consultado pelos partidos (de esquerda e direita) – em uma palavra, ser amado pelas instituições. Continue lendo

Amazônia está longe de cumprir Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, mostra relatório

[Luana Lourenço*, Agência Brasil, 17 nov 11] Belém (PA) - Com 34 milhões de habitantes em nove países, a Amazônia tem indicadores sociais ainda distantes dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). A avaliação considera indicadores de nove países que compartilham a floresta: o Brasil, a Bolívia, Colômbia, o Equador, Peru, a Venezuela, o Suriname, a Guiana e a Guiana Francesa e está no relatório A Amazônia e os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio.

A pesquisa foi organizada pela Articulação Regional Amazônica (ARA) e divulgada durante o encontro Cenários e Perspectivas da Pan-Amazônia, organizado pelo Fórum Amazônia Sustentável.

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio propõem metas para melhorar indicadores de pobreza, educação, saúde, desigualdade de gênero, mortalidade infantil e materna e de meio ambiente. Estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, os ODM têm metas a serem cumpridas até 2015.

Desde a década de 1990, a Amazônia registrou melhoria na maioria dos indicadores, mas os avanços não foram significativos e ainda deixam os índices regionais abaixo das médias nacionais. Dos oito objetivos estabelecidos até 2015, apenas um já foi alcançado na parte amazônica de todos países analisados no estudo: a eliminação da desigualdade de escolaridade entre homens e mulheres. Continue lendo

O roubo do século ~ por Silvio Caccia Bava

Os bancos ficaram grandes demais. Maiores e mais poderosos que os governos, eles hoje mandam no mundo e impõem as regras do jogo financeiro internacional.

[Le Monde Diplomatique, 16 nov 11] Na crise de 2007/2008 eles impuseram que os governos pagassem as suas contas com dinheiro público, quando suas especulações no mercado não deram certo. Agora, em uma situação muito mais delicada, com os governos já endividados pelo movimento anterior, novamente essas instituições cobram o socorro dos governos nacionais e mesmo da União Européia.

Desconhecendo as lições da crise anterior e até mesmo aumentando os riscos de praticar uma especulação ainda mais intensa, muitos desses grandes bancos estão hoje super expostos num duplo sentido: tanto pela operação especulativa com derivativos, alavancando seu capital na proporção de até 1:50, como é o caso do banco francês Societé Générale; como pela compra de títulos dos governos da Grécia, Espanha, Portugal, obrigados a aceitar taxas de juros escorchantes pelo risco embutido no empréstimo. Hoje, os títulos da Grécia, pelo default anunciado, isto é, pela ameaça real do calote, valem no mercado menos que metade do seu valor de face e, se os bancos que os detém tiverem que se desfazer deles, terão grandes prejuízos. O efeito conjugado dessas duas frentes de especulação leva a um estado de endividamento dos grandes bancos internacionais que ameaça sua solvência. Continue lendo

Metade da população brasileira vivia com menos de um salário mínimo em 2010

[Flávia Villela, Agência Brasil, 16 nov 11] Metade da população recebeu mensalmente, durante o ano de 2010, até R$ 375 – valor inferior ao salário mínimo, de R$ 510, pago na época, embora a média nacional de rendimento domiciliar per capita fosse R$ 668. Apesar da tendência de redução observada nos últimos anos, os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram que a desigualdade de renda ainda é bastante acentuada.

Além disso, os 10% mais ricos da população brasileira ficaram, em 2010, com 44,5% do total de rendimentos, enquanto os 10% mais pobres, 1,1%.

Os dados fazem parte dos resultados definitivos do universo do Censo 2010 divulgado hoje (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

No que se refere ao rendimento médio mensal domiciliar per capta, os 10% com os rendimentos mais elevados ganhavam R$ 9.501, enquanto as famílias mais pobres viviam com apenas R$ 225 por mês.

De todos os brasileiros acima de 10 anos de idade que têm com rendimentos, 0,5% recebiam mais de R$ 10,2 mil mensais na cidades e 0,1% no campo. Na área rural, 46,1% recebiam R$ 596. Na zona urbana, esse valor alcançou R$ 1.294. Continue lendo

Fome pode ser risco de segurança para o mundo

Em 2050, será preciso alimentar 9 bilhões de seres humanos. Especialistas temem que a produção de gêneros alimentícios não mais acompanhe o crescimento demográfico: conflitos podem ser a consequência.

[DW, 13 nov 11] Diante das revoltas dos famintos em Paris e Londres, no final do século 18, o pastor e economista inglês Robert Malthus desenvolveu a teoria segundo a qual a Terra, com seus recursos limitados, só seria capaz de alimentar um número limitado de pessoas. Caso a população humana ultrapassasse esse limite, ela sofreria redução, através de ondas de fome, pestes ou guerra.

Desde a Antiguidade, as revoltas causadas pela fome são um fenômeno recorrente. No ano 57 a.C., o estadista e filósofo Marco Túlio Cícero registrava os ferozes protestos em Roma devido ao aumento drástico do preço do pão. “Reinava uma inflação aguda e a fome ameaçava. E, como se não bastasse, ocorreram apedrejamentos.”

Nos anos seguintes, depois de nada menos de oito grandes crises de fome em Roma, os imperadores adotaram medidas preventivas. Os cereais egípcios passaram a ser monopolizados, servindo principalmente ao abastecimento da Itália e da capital. Assim, os soberanos preveniram novos levantes e asseguraram seu poder político. Continue lendo

Ipea: distribuição de renda melhorou em 30 anos. Paraíba teve o melhor desempenho.

O estado que teve o melhor desempenho na redução da desigualdade no rendimento domiciliar, no período em análise, foi a Paraíba.

[Stênio Ribeiro, Agência Brasil, 10 nov 11] A desigualdade na distribuição de renda do país diminuiu 22,8% nos últimos 30 anos, de acordo com pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgada hoje (10). O índice ou coeficiente de Gini, que mede a desigualdade, caiu de 0,31 (em 1980) para 0,24 (em 2010). Quanto mais baixo o índice, melhor a distribuição de renda.

Levantamento feito com base nos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que a desigualdade no rendimento domiciliar per capita nos municípios brasileiros caiu mais nas regiões Nordeste (-39,3%), Centro-Oeste (-37,5%), Sul (-29,6%) e Sudeste (-26,3%). A menor redução, de 14,9%, ocorreu na Região Norte.

O estado que teve o melhor desempenho na redução da desigualdade no rendimento domiciliar, no período em análise, foi a Paraíba, com queda de 47,9% no índice de Gini, e foi acompanhado por melhoras em quase todas as unidades da Federação, com exceção do Amapá e de Roraima que tiveram as desigualdades aumentadas em 14,8% e 22,8%, respectivamente.

A pesquisa aponta o aumento da desigualdade na distribuição de renda entre regiões. Em 1980, a maior diferença era de 14,7% entre as regiões de maior índice (0,23 no Sudeste) e de menor índice (0,19 no Centro-Oeste). Em 2010, a diferença aumentou para 53,8%, comparando-se o maior índice (0,18 no Norte) ao menor coeficiente (0,12 no Centro-Oeste).

Edição: Juliana Andrade

 

Classe C já está no Facebook, dizem analistas de mercado

Usuários falam de possibilidade de `orkutização´ do Facebook

A classe C já começa a fazer parte dos usuários brasileiros do Facebook, de acordo com analistas do mercado de mídias sociais. Atualmente, o site de rede social americano tem cerca de 21 milhões de usuários brasileiros, número que cresceu 133% nos últimos seis meses.

[Camilla Costa, BBC Brasil, 7 jul 11] “O Facebook já foi uma rede social de classe A, mas hoje está acessível a todas as classes. As pessoas estão entrando porque seus amigos estão indo para lá”, disse Rosário de Pompéia, diretora executiva da consultoria de estratégia em mídias sociais le Fil, à BBC Brasil.

Segundo os especialistas, o site, que ainda é associado a usuários de maior poder aquisitivo, ganhou mais força entre as classes mais baixas a partir do lançamento de sua versão em português, em 2008. A novidade trouxe, além de mais usuários, mais oportunidades de negócios para a empresa de Mark Zuckerberg, que abriu seu primeiro escritório no Brasil no último mês de março. Continue lendo

Em dois anos, mais de 10 milhões entram na classe C, diz estudo

Mais de 10 milhões de brasileiros foram incorporados à classe C no período que vai de 2009 e 2011, em um crescimento de 9,12% deste estrato econômico que vem sendo chamado de “nova classe média brasileira”, segundo um estudo da FGV divulgado nesta segunda-feira.

De acordo com a pesquisa ‘Os Emergentes dos Emergentes: Reflexões Globais e Ações Globais para a Nova Classe Média Brasileira’, a classe C ganhou mais 10.524.842 de pessoas entre 2009 e 2011, contra 2.558.799 que ingressaram nas classes A e B no mesmo período.

Com isso, segundo o estudo, a “nova classe média” brasileira passou, nos últimos dois anos, de 50,45% da população para 55,05%, contabilizando mais de 100 milhões de integrantes.

Já a classe D perdeu 5.543.969 de brasileiros entre 2009 e 2011 (encolhimento de 14,02%), enquanto a classe E teve redução de 4.146.862 no mesmo período (decréscimo de 15,9%).

No período entre 2003 e 2011, de acordo com a pesquisa da FGV, 39.589.412 de brasileiros entraram na classe C, enquanto 9.195.974 ingressaram nas classes A e B.

Já a classe D perdeu 7.976.346 pessoas (redução de 24,03%) e a classe E perdeu 24.637.406 (decréscimo de 54,18%).

Os números foram obtidos por meio do cruzamento de dados entre a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), ambas realizadas pelo IBGE.

[BBC Brasil, 27 jun 11]

O mercado da fome beneficia países doadores

Críticos dizem que ajuda humanitária agrava a dependência em muitos países africanos

Luta contra a fome – uma bandeira que praticamente todos levantam. Mas há acusações de que muitos dos que dizem querer ajudar na verdade se beneficiam da miséria alheia.

[DW, 7 nov 11] O Haiti é o exemplo típico de uma política que traz lucro para os países desenvolvidos e prejudica os pequenos agricultores locais – justamente as vítimas da fome. Essa é a avaliação do diplomata Jean Feyder, de Luxemburgo, presidente da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).

Em seu livro Mordshunger (em tradução livre “Fome voraz”), Feyder retrata o drama da ilha caribenha: até 30 anos atrás, os agricultores haitianos produziam arroz suficiente para a população do país. O Haiti foi então obrigado a reduzir suas taxas de importação de 50% para 3%. Alimentos subvencionados importados dos Estados Unidos arruinaram a agricultura local. Os produtores perderam seu meio de subsistência e cada vez mais pessoas começaram a passar fome. Continue lendo

Meta de reduzir pela metade a fome no mundo está longe de ser alcançada

Secas como na Etiópia pioram o problema da fome no mundo

Em 2000, a comunidade internacional se comprometeu a reduzir pela metade a fome no mundo, no prazo de 15 anos. Mas hoje já é possível afirmar que esse Objetivo do Milênio dificilmente será alcançado.

[DW, 3 nov 11] A fome é cruel. O estado de uma pessoa faminta piora em etapas. Quando, no final, o sistema imunológico entra em colapso, a morte chega de forma lenta, acompanhada de uma dor insuportável. Quase 25 mil pessoas no mundo morrem de fome todos os dias, o equivalente a uma morte a cada três segundos. “Morte por fome é assassinato”, diz o ex-relator especial para o Direito à Alimentação da ONU Jean Ziegler.

Em 2000, na Cúpula do Milênio, os líderes de todos os países-membros da ONU decidiram reduzir pela metade, até 2015, a proporção de pessoas afetadas pela fome no mundo. Na época, o número era estimado em 800 milhões. No mesmo período, o número de pessoas consideradas pobres também deveria cair pela metade.

A observação de que principalmente os pobres passam fome e não raro continuam pobres justamente porque padecem de fome crônica foi incluída de última hora no documento final graças à intervenção da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês). Continue lendo

O Banco Mundial no comando da invasão de terras

Enquanto as imagens da fome na África rodam o mundo, poucos sabem que esse problema está ligado a investimentos na compra de terras. Com isso, a Etiópia cede milhões de hectares para transnacionais que substituem a agricultura de subsistência pela exportação. Em nome do livre mercado, o BM encoraja esse movimento.

[Benoît Falaise, Le Monde Diplomatique, 2 set 2011] Três anos após a crise alimentar de 2008, a questão da fome ressurge no Chifre da África. Entre as causas do flagelo estão os investimentos fundiários de grande escala, que buscam estabelecer culturas alimentícias e energéticas onde houver terra arável disponível. Sua amplitude é inédita. São 45 milhões de hectares – o equivalente a cerca de dez vezes a média dos anos anteriores – que teriam mudado de mãos em 2009.1 Na verdade, é difícil distinguir os investimentos em vista daqueles decididos ou mais ou menos executados, tamanha a má vontade das empresas e dos Estados em entregar seus números. Mesmo o Banco Mundial afirma que teve enormes dificuldades para obter informações confiáveis, a ponto de ter tido de se basear, para redigir seu relatório sobre o assunto, publicado em setembro de 2010,2 nos dados – muito alarmantes – divulgados pela ONG Grain.3

Em princípio, essas compras de terra enquadram-se muito bem no discurso adotado pelo Banco Mundial após a crise de 2008.4 A instituição avalia que qualquer aporte de capitais externos a um país com déficit de poupança favorece seu desenvolvimento, portanto, os investimentos privados na agricultura contribuem para o desenvolvimento nacional e a luta contra a pobreza, exigência moral do século XXI. Nota-se, aliás, que a Sociedade Financeira Internacional (SFI), filial do Banco Mundial, tem um papel-chave na promoção de tais investimentos. Continue lendo