Arquivo da categoria: Brasil

Insegurança alimentar diminui, mas ainda atinge 30,2% dos domicílios brasileiros

[Publicado pelo IBGE, 26 nov 2010]

O número de domicílios brasileiros que se encontrava em algum grau de insegurança alimentar caiu de 34,9% para 30,2% entre 2004 e 2009. Isso significa que, no ano passado, 65,6 milhões de pessoas residentes em 17,7 milhões de domicílios apresentavam alguma restrição alimentar ou, pelo menos, alguma preocupação com a possibilidade de ocorrer restrição devido à falta de recursos para adquirir alimentos. Estes dados são revelados pelo levantamento suplementar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009 sobre segurança alimentar, que registrou, ainda, que 69,8% dos 58,6 milhões domicílios particulares no Brasil estavam em situação de segurança alimentar. Eram 40,9 milhões de residências com 126,2 milhões de pessoas, o equivalente a 65,8% dos moradores em domicílios particulares do país.

A pesquisa constatou, ainda, que a insegurança de alimentos era mais aguda nas regiões Norte e Nordeste, atingindo, respectivamente, 40,3% e 46,1% dos domicílios. Além disso, segundo algumas variáveis socioeconômicas, a insegurança alimentar era maior em domicílios com rendimento mensal domiciliar per capita inferior a meio salário mínimo por pessoa (55%), naqueles onde residiam menores de 18 anos (37,2%), entre os pretos e pardos (43,4%) e para aqueles com menos de 1 ano de estudo (20,2% – moderada ou grave).

Assim como a edição de 2004, o levantamento de 2009 foi realizado em convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Continue lendo

O desafio da educação

Executivos contam como lidam com o apagão de profissionais e apontam possíveis soluções para o problema

[Texto de Luis de França, publicado na Você S/A, 28 out 2010]

O medo de um apagão de profissionais provocado pelos gargalos da educação, que não consegue formar mão de obra qualificada na quantidade que o mercado demanda, preocupa 63% dos presidentes de empresa no Brasil. Uma pesquisa realizada pela consultoria PricewaterhouseCoopers com 1 150 executivos de grandes corporações no mundo (70 deles brasileiros) mostra que essa inquietação supera outras ameaças ao desenvolvimento, como os custos de energia, as mudanças climáticas e até mesmo a escassez de recursos naturais. Em ano de eleição presidencial, essa deveria ser a bandeira dos candidatos, mas até o fechamento desta edição os três primeiros colocados na corrida presidencial ainda não tinham apresentado um plano de governo que contemple o assunto. Não por acaso, os brasileiros são os mais céticos em relação à capacidade do governo de resolver o problema. Enquanto na China, 52% dos CEOs acreditam que o governo está combatendo o mal da falta de mão de obra qualificada, na Holanda essa confiança no governo é de 37%, na Índia é de 33% e no Brasil é de apenas 10%.

Uma das alternativas para resolver a questão é o maior investimento na formação técnica. “O Brasil tem de investir em cursos técnicos, que é uma qualificação rápida e em dois anos o profissional consegue entrar no mercado de trabalho”, diz Juan Quiró, presidente do Grupo Advento e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Mas, para isso, é necessário mapear o país e verificar as vocações produtivas de cada região e focar em cursos específicos para cada habilidade.” Continue lendo

Êxodo de brasileiros volta a ganhar força em 2009 e é recorde na década

[Texto de Júlia Dias Carneiro, BBC Brasil, 22 nov 2010]

Apesar da crise nos países ricos, o êxodo de brasileiros para o exterior voltou a ganhar força em 2009 após cair em 2008 e atingiu o maior patamar da década, sugere um levantamento realizado a partir do saldo de entradas e saídas nos aeroportos brasileiros.

Em 2009, o número de passageiros que entraram e saíram do Brasil por via aérea apontou para uma saída líquida de aproximadamente 90 mil pessoas.

No ano anterior, os números revelavam um fenômeno inverso. O saldo foi negativo, indicando que, em 2008, cerca de 28 mil pessoas a mais entraram no país em relação aos que saíram.

“(O ano de) 2008 foi claramente um ano especial. A crise veio muito forte e atingiu o mercado de trabalho, principalmente nos países para onde a migração estava se dirigindo. Em 2009, a saída líquida voltou a aumentar. Foi uma velocidade surpreendente”, considera Victor Hugo Klagsbrunn, autor do levantamento que aponta para o que o autor chama de “saldo migratório”, calculado com base em dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

O pesquisador ressalta que os números não devem ser tomados como um indicador absoluto, mas servem como termômetro para identificar tendências na migração de brasileiros – movimento que carece de indicadores oficiais. Continue lendo

Em crise, magistério atrai cada vez menos

[Texto de Alessandra Duarte e Carolina Benevides, O Globo, 20 nov 2010]

RIO – Com a professora de História doente, e sem que a escola conseguisse substituto, o jeito foi os alunos fazerem as vezes de professor: em julho de 2009, três alunos do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Ernesto Faria deram aula dessa disciplina para colegas que estavam no 1º e no 2º ano. A falta de professores que atinge os ensinos fundamental e médio é um problema que começa nos bancos das universidades, onde os alunos não querem mais se formar como professor.

Um levantamento dos últimos censos escolares do Inep mostra que, de 2005 a 2008, caiu 12,4% o número de concluintes de cursos superiores de “formação de professores de matérias específicas” – o item, no censo escolar, que abriga licenciaturas como as de Português, Matemática, Química e Física. Se eram 77.749 em 2005, foram para 68.128 em 2008 – ano que viu 817 alunos concluírem cursos de “formação de professores em Português”, enquanto o de Direito formou 85 mil, e cursos de Administração, 103 mil.

O dado vai ao encontro de números da Fundação Carlos Chagas que dão conta de que, em média, 70% dos alunos que entram em cursos de licenciatura desistem antes de completá-lo. Continue lendo

Quem são os ianomâmis?

Visitantes de outras aldeias se preparam para a entrada na maloca onde se realizou a Quarta Assembleia da Hutukara Associação Yanomami, em Toototobi (AM)

[Texto de Marcelo Leite, publicado na Folha SP, 21 nov 2010]

Os primeiros contatos sistemáticos de brancos com ianomâmis, em território brasileiro, aconteceram nos anos 1940. Antes disso, só se conheciam as informações coletadas por viajantes como o etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg, que travou contato com os ianomâmis em 1911-1913 e escreveu sobre suas guerras com a etnia dos iecuanas, e os relatos esporádicos de seringueiros, castanheiros e piaçabeiros que topavam acidentalmente com aqueles índios nômades, falantes de uma língua desconhecida e temidos por povos vizinhos como poderosos guerreiros e feiticieiros. Militares da Comissão Brasileira de Demarcação de Limites (CBDL) percorrem várias vezes as montanhas que servem como divisor de águas entre as bacias do Orenoco e do Amazonas, entre 1938 e 1945, com a missão de fixar a fronteira entre Brasil e Venezuela.

Foi o início de uma demanda irreprimível dos índios por objetos de metal, como machados e terçados. E foi também o início de uma fabulação ambígua sobre os ianomâmis, em que se misturam imagens de um povo idilicamente isolado, ainda chamado de “guaharibos”, com as de grupos violentos e vingativos. Imbuído do positivismo benevolente que o futuro marechal Rondon imprimiria ao Serviço de Proteção ao Índio, Rubens Nelson Alves relata a expedição de 1942-1943 à região do rio Mucajaí como emissária do mundo civilizado, portadora de paz e amizade para “um grande império silvícola”. Dois anos antes no Demini, porém, um acampamento de base da CBDL sofrera um ataque dos ianomâmis, com vários feridos. Continue lendo

Sertão da Paraíba tem surto de doenças genéticas; casamento entre primos é a causa

[Texto de Sabine Righetti, publicado na Folha SP, 21 nov 2010]

A bióloga paulistana Silvana Santos foi para o Nordeste há cerca de uma década por causa da sua vizinha. Ela quis entender a origem da misteriosa doença da moradora da casa ao lado.

Como relatava a própria mulher, a moléstia era comum na sua cidade natal, Serrinha dos Pintos, no sertão do Rio Grande do Norte. Santos descobriu no Nordeste mais 70 casos de uma doença até então desconhecida, a síndrome Spoan, que paralisa os membros inferiores e afeta a visão. Era o mesmo mal de sua vizinha.

Depois de descrever a Spoan pela primeira vez em artigo científico de 2005, a bióloga encontrou outros problemas genéticos no sertão, causados por um mesmo motivo: o casamento consanguíneo entre primos.

Em Serrinha dos Pintos, 32% dos casamentos envolvem primos de primeiro e segundo grau. Todos os afetados pela síndrome são descendentes de um ancestral comum, que chegou à região há mais de século.

“As famílias conhecem a sua árvore genealógica, mas a maioria não aceita que as doenças genéticas são causadas pelos casamentos com pessoas do mesmo sangue”, afirma a pesquisadora.

Hoje, Santos é professora da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), instituição à qual se vinculou de tanto estudar a região. Continue lendo

Maioria dos jovens está fora do ensino superior

Em 2009, apenas 14,4% da população de 18 a 24 anos – faixa etária esperada para o ingresso na educação superior – estava matriculada nessa etapa de ensino. É o que aponta a análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE).

De acordo com o estudo, esse fato se deve “aos entraves observados no fluxo escolar do ensino fundamental e médio, que têm elevada taxa de evasão e baixa taxa média esperada de conclusão”. Isso significa que o estudante termina o ensino médio após a idade esperada – 17 anos – e ingressa na universidade com atraso. Considerando a taxa de frequência bruta, 30,3% dos jovens de 18 a 24 anos estavam estudando em 2009.

O acesso é diferente em cada região. Enquanto no Sul, 19,2% dos jovens na faixa etária analisada frequentavam o ensino superior em 2009, no Nordeste o índice era inferior a 10%. Entre os jovens de 18 a 24 anos da zona rural, apenas 4,3% tinham acesso a cursos superiores, contra 18,2% da população que vive na cidade. Também há desigualdade no acesso entre negros (8,3%) e brancos (21,3%).

Ainda levará cinco anos para que a população brasileira atinja a escolaridade mínima prevista originalmente na Constituição Federal – ensino fundamental completo ou oito anos de estudo. É o que aponta a análise do Ipea. Continue lendo

Registro Civil 2009 ~ Estatísticas IBGE

Número de casamentos cai pela primeira vez desde 2002: 2,3%

O total de casamentos ocorridos e registrados em 2009 caiu 2,3%, em relação a 2008 na população de 15 ou mais anos de idade, causando queda de 0,2 pontos na taxa de nupcialidade (casamentos por mil habitantes nessa faixa etária), a primeira retração desde 2002.

O Acre ficou com a maior taxa de nupcialidade (11,2‰, quase o dobro da taxa nacional de 6,5‰), e também teve maior percentual de divórcios do tipo direto (98,3%).

As mulheres estão casando cada vez mais tarde e o percentual de casamentos em que a mulher é mais velha do que o homem está aumentando gradativamente (de 19,3% em 1999 para 23,0% em 2009). Os casamentos em que um dos cônjuges é divorciado ou viúvo passaram de 10,6% em 1999 para 17,6% em 2009. As separações se mantiveram estáveis entre 2008 e 2009, enquanto as taxas de divórcios diminuíram ligeiramente (de 1,5‰ para 1,4‰), porém mantêm-se mais elevadas que em 1999.

Entre 1999 e 2009, aumentou o percentual de divórcios de casais sem filhos (de 25,6% para 37,9% do total de divórcios) e com filhos maiores (de 12,0% para 24,4%), enquanto os divórcios de casais com filhos menores caíram de 43,1% para 31,4%, após a instituição do divórcio por via administrativa em 2007. Apesar da guarda materna dos filhos ainda ser majoritária (87,6% em 2009), os divórcios com guarda compartilhada aumentaram de 2,7% em 2004 para 4,7% em 2009.

O sub-registro de nascimentos (nascimentos estimados para o ano de referência e não registrados até o primeiro trimestre do ano seguinte) continua diminuindo (de 20,7% em 1999 para 8,2% em 2009). As diferenças regionais, porém, permanecem altas: enquanto os registros extemporâneos (nascimentos notificados em anos posteriores ao ano de referência) foram poucos em São Paulo (1,6%), Paraná (2,2%) e Santa Catarina (2,2%), chegam a percentuais significativos no Amazonas (34,1%), Pará (30,8%) e Roraima (26,8%).

Os estados da região Norte também se destacam pelo percentual de nascimentos ocorridos em domicílios, especialmente Acre (10,8%) e Amazonas (10,7%), enquanto 97,7% dos nascimentos no Brasil aconteceram em hospitais e, deles, 26,1% ocorreram fora do município de residência da mãe. De 2004 a 2009, o número de nascimentos aumentou entre mães com idade a partir de 25 anos e decresceu nas faixas etárias mais baixas.

Quanto aos óbitos de jovens, em especial homens, a maior percentagem se refere a causas violentas (67,9% para homens de 15 a 24 anos). Nas regiões Nordeste e Sul, o percentual de óbitos de causa violeta aumentou para ambos os sexos, em oposição ao restante do país. Essas e outras informações estão disponíveis nas Estatísticas do Registro Civil, que refletem a totalidade dos registros de nascimentos, óbitos, casamentos, separações e divórcios declarados pelas varas de família, foros e varas cíveis. Continue lendo

Quem são e o que querem as mulheres de 20

Uma pesquisa exclusiva revela a rotina, as aspirações e os dilemas de uma geração de brasileiras que está adiando a entrada na vida adulta. Elas têm tudo o que suas mães e avós não tiveram – liberdade, dinheiro e carreira –, mas ainda sonham com filhos e o marido perfeito

Por Fernanda Colavitti

Quando fala sobre suas prioridades, a publicitária paulistana Cléia Lourenço, de 24 anos, não hesita. Diz que o investimento na carreira e na educação é seu principal objetivo. Formada há um ano, ela trabalha desde 2008 em uma agência de publicidade, na qual gerencia uma pequena equipe. Sua jornada diária é de dez horas. O excesso de trabalho é o motivo pelo qual está adiando para o ano que vem a pós-graduação e o curso de idiomas. “Quero mais experiência e reconhecimento”, afirma. Mesmo com tanta dedicação à carreira, a vida social da publicitária vai bem. Há um ano e meio sem namorado, ela diz que sai com amigos quase todos os dias e viaja nos fins de semana. O lazer consome 60% de sua renda. O resto ela gasta com a manutenção do carro e com roupas, mas ainda consegue guardar um pouco. Cléia mora com os pais, mas planeja morar sozinha no ano que vem. Quer ter mais liberdade. Quando o assunto são seus planos de longo prazo, porém, as expectativas são outras. “Daqui a uns cinco anos, penso em ter um relacionamento sério, casar e ter filhos”, afirma. “Tudo certinho, como manda o figurino.” Ela diz que depois de casar não pretende abrir mão da profissão, mas que vai trabalhar menos para se dedicar ao marido e aos filhos: “A ideia é trabalhar bastante agora para poder reduzir depois”. Continue lendo

A sexualidade do brasileiro

Flying butterfly with burning heart

Ivan Lessa, em sua coluna de hoje na BBC Brasil traz dados de uma pesquisa recente feita na América Latina sobre sexualidade. Ela traz dados interessantes. Veja um trecho do artigo:

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Não é só em criação de riquezas e novas classes sociais que o Brasil ocupa lugar de primazia na América Latina. A Tendencias Digitales, importante empresa especializada no mercado digital latino-americano, que investiga online seus mercados e audiências, sob encomenda do Grupo Diários America  (GDA), revelou há pouco que, numa pesquisa sobre a sexualidade dos latino-americanos, realizada em 11 países da região (inclusive Costa Rica e Puerto Rico), os brasileiros em particular, e talvez até em público, são o povo mais ligado ao sexo em suas diversas modalidades.

13,349 pessoas, via internet, foram pesquisadas e alguns resultados só surpreenderam os muito ingênuos. O Brasil é o país em que homens e mulheres têm o maior número de parceiros sexuais ao longo da vida. Uma média de 12 contra 10 do resto da América Latina em geral (inclusive Venezuela e Colômbia). Continue lendo

IBGE: 4 em cada 5 vítimas de morte violenta no Brasil são homens

Estudo aponta que 14,9% das mortes de homens em 2009 tiveram causa violenta.

A cada cinco pessoas que morrem por causas violentas no Brasil, quatro são homens e uma é mulher. A informação faz parte das Estatísticas do Registro Civil de 2009, divulgadas nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo os dados, 14,9% das mortes de homens em 2009 tiveram causas violentas, contra 16,2% em 2002. Para as mulheres, o percentual se manteve praticamente estável desde 2002, em cerca de 4%.

A proporção de mortes violentas de homens em relação às mulheres tem seu pico no Estado do Rio de Janeiro, onde 5,5 homens morrem por causas violentas para cada mulher. Em seguida, vêm Alagoas, Bahia e Paraíba (com 5,3) e Pernambuco (com 5,2).

O número de mortes violentas apresentou aumento no Norte e no Nordeste (no Norte, houve aumento de 16% para 18% em cinco anos) e redução no Sudeste (de 17% para 14%). Continue lendo