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Filme analisa dominação holandesa no Nordeste

influencia holandesa nordestePor que o povo brasileiro teria saudades de um invasor? É com essa pergunta que a diretora Monica Schmiedt dá início ao documentário “Doce Brasil Holandês”, em que investiga o legado e o contorno mitológico dos 24 anos de dominação holandesa no Nordeste do Brasil, de 1630 a 1654.

“Sempre achei Maurício de Nassau um personagem muito interessante, assim como a ideia de uma nostalgia nassoviana”, diz a cineasta, citando expressão criada pelo pesquisador Evaldo Cabral de Mello para designar a saudade do progresso e da cidadania que os anos de governo Nassau inspiravam.

Para isso, Schmiedt entrevista historiadores especialistas na invasão holandesa e alguns dos mais de mil recifenses que carregam como sobrenome uma versão brasileira da herança daquele tempo: os Vanderlei, descendentes dos Van Der Ley.

Nessa linha, o filme reúne duas historiadoras que dividem essa ascendência: a brasileira Kalina Vanderlei e a alemã Sabrina Van Der Ley. Juntas, elas exploram o que um dia foi a Mauritsstadt, ou simplesmente Maurícia, no coração do Recife antigo. Uma cidade planejada que exibia a maior ponte do novo mundo. Elas debatem questões de urbanismo e de identidade que emanam do cruzamento entre Brasil e Holanda.

Entre relatos e debates, “Doce Brasil Holandês” aponta o mito para então desconstruí-lo, sem negar os méritos reais da ocupação. Apesar de imprimir na capital pernambucana um projeto humanista de cidade, Nassau não era um diplomata do governo da Holanda, mas um funcionário da Companhia das Índicas Ocidentais. Como bom comerciante, se cercou de eficiente projeto de marketing.

Cores e tipos brasileiros

Nassau promoveu o maior projeto de registro iconográfico do Brasil-Colônia, colocando as cores e os tipos brasileiros no mapa dos europeus a partir do traçado dos pintores Franz Post e Albert Eckhout. O legado artístico e urbanístico da invasão vai de encontro a um suposto complexo de inferioridade do brasileiro, fomentando o pensamento de que o Brasil seria um país melhor se os holandeses tivessem aqui ficado.

“Ao resgatar um passado glorioso, e mostrar que ele não foi tão glorioso assim, quero contribuir para que a gente mereça a nossa história e repense a maneira como temos tratado as nossas cidades”, diz Schmiedt. A tal “nostalgia nassoviana” desaba quando o filme aponta para as ex-colônias da Holanda. O subdesenvolvimento do Suriname e o fantasma do apartheid que insiste em assombrar a África do Sul mostram que a expulsão dos holandeses do Nordeste, em 1654, foi um bom negócio para o Brasil.

DOCE BRASIL HOLANDÊS
Direção: Monica Schmiedt
Quando: amanhã, às 20h, e sábado (17) no IMS, no Rio de Janeiro; quarta (14) no Ponto Cine, no Rio, e no Reserva Cultural, em São Paulo; quinta (15) no Cine Santa, no Rio
Classificação: 14 anos

Fonte: Folha Online, 12 abr 2010

Por Fernanda Mena

Em concentração de renda, Brasil rural só não supera Namíbia

Um “país” dentro do Brasil com 30 milhões de habitantes, com a quadragésima (40a) maior população do mundo, atrás apenas de Brasil e Argentina na América do Sul. Este “numeroso contingente” que forma a “nação” do Brasil rural, mesmo que cada vez menos quantitativa em comparação às multidões dos centros urbanos, continua sendo relevante.

De acordo com estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), que analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, “as dificuldades a que essa população [rural brasileira] está sujeita produzem, do ponto de vista social, grandes impactos”.

A acentuada desigualdade – já destacada em outros levantamentos como o Censo Agropecuário 2006 – é um dos principais traços desta “pátria” fora das cidades. A concentração de renda dos domicílios rurais brasileiros, aferida segundo o índice de Gini, atinge 0,727. Guardadas as devidas particularidades e apenas a titulo de comparação em termos de grandeza, no mundo todo, somente a Namíbia, com 0,743, apresenta índice maior, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2009 das Nações Unidas . Quanto maior o índice (que vai de 0 a 1), maior a concentração.

Países com concentração acima 0,6 se enquadram nos “níveis extremamente altos de desigualdade social”. Além da Namíbia, apenas Comores (0,643) – formada por três ilhas entre a Costa Oriental de África e Madagascar – e Botsuana (0,61) fazem parte do grupo. O Brasil como um todo é o atrás apenas dos três países africanos já citados e de Haiti (0,595), Angola (0,586), Colômbia (0,585), Bolívia (0,582), África do Sul (0,578) e Honduras (0,553).

“A questão da concentração do patrimônio rural no Brasil precisa ser resolvida. O fortalecimento da democracia implica distribuir melhor esse patrimônio”, comentou Brancolina Ferreira, coordenadora de Desenvolvimento Rural da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) e uma das autoras da publicação. “Grande parte da mídia demoniza os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. Eles contribuíram muito para a democratização no campo, que ainda tem um longo caminho a percorrer”, completou.

Além da concentração, também surpreende a quantidade de não remunerados em empreendimento do grupo agrícola: eles representam 43% da mão de obra rurícola (veja divisão abaixo). Uma das hipóteses plausíveis sugeridas no estudo do Ipea é que a maior parte desses trabalhadores vive em domicílio em que a família possui alguma fonte de renda.

“Porém, dada a expressividade do número de não remunerados no total da força de trabalho ocupada, é provável que no interior deste contingente encontremos relações precárias de trabalho e desemprego”, completa o estudo. Na avaliação do Ipea, este cenário de vulnerabilidade “confirma a atualidade e urgência da reforma agrária como única forma de superar as condições precárias de vida e a pobreza que caracteriza o meio rural brasileiro”.

Ocupação

Quase 70% dos grupamentos agrícola estão fora de qualquer relação de assalariamento – 43% de não-remunerados e 25% de trabalhadores por conta própria. “Este elevado contingente está sujeito a uma renda instável, sujeita a um conjunto de fatores sobre os quais os trabalhadores não possuem controle”, prossegue o comunicado divulgado pelo Ipea na última quinta-feira (1º). “O risco de uma renda insuficiente ao provimento de bens necessidades básicas reforça a importância da previdência social e dos programas sociais de transferência de renda do governo federal no meio rural”.

A confirmação do emprego temporário como “elemento estruturante do mercado de trabalho agrícola, respondendo por 43% de empregados ocupados” (confira Gráfico) também sobressai no trabalho do Ipea sobre a PNAD 2008. “A alta taxa de participação dos temporários sintetiza algumas das características ainda dominantes na área rural: sazonalidade das ocupações, relações de trabalho altamente instáveis, baixos salários, trabalho braçal e extenuante e péssimas condições de trabalho”, analisa o instituto.

Grau de formalização

A forte desigualdade entre homens e mulheres nas ocupações agrícolas (Tabela I) constitui outro aspecto observado nos dados. “A proporção de mulheres em atividades precárias e não remuneradas (incluindo a produção para o próprio consumo) é significativamente maior que a de homens dedicados a estas atividades. O mesmo não se verifica nas atividades remuneradas, em que os homens representam mais que 85% da força de trabalho empregada em todas as condições de ocupação”, sublinha o Ipea.

Para Brancolina, da Disoc, o quadro é preoupante não só pela grande quantidade de trabalhadores rurais que estão fora de qualquer relação de assalariamento, mas também por causa das condições enfrentadas por elas (inclusive quanto às dificuldades de acesso à educação). “As mulheres funcionam como um exército de reserva de trabalhadores do campo. Elas não possuem renda e muitas vezes trabalham em substituição aos homens, que se locomovem para outras frentes de trabalho em busca de melhores salários”.

Participação homens/mulheres

“À concentração urbana dos trabalhadores se contrapõe uma baixa participação da população rural no total de ocupados, resultado de todo o processo de concentração fundiária e de expulsão da população rural ao longo do século XX”, avalia o Ipea. As políticas dirigidas ao fortalecimento do agronegócio, frisa o instituto, “intensificam e reproduzem esta herança”.

Renda

O rendimento médio mensal do trabalho principal para a família nas áreas rurais do país se limita a 35% (R$ 360) do rendimento médio mensal do trabalho principal daqueles que vivem nas cidades (R$ 1.017). Quando o critério adotado é a atividade propriamente dita, esta diferença aumenta: o rendimento médio mensal do trabalho principal agrícola (R$ 335) é menor que um terço (32,8%) do rendimento médio de atividades não-agrícolas (R$ 1.020).
Os números que evidenciam a discrepância entre as realidades rural e urbana no Brasil ficam evidentes nas Tabelas II e III (veja abaixo) e são complementados por outros indicadores. A renda média mensal da População Economicamente Ativa (PEA), residente em área rural, representa apenas 43% da renda de mesmo tipo auferida pela PEA com domicílio em área urbana.

Tanto o rendimento médio no meio rural quanto o rendimento médio de atividade agrícola detectados em 2008 sequer alcançavam o salário mínimo da época (R$ 415). A verificação de rendimentos menores que o mínimo transparece nos rendimentos por classes. A partir desta divisão, é possível notar que 43% das pessoas com 10 anos ou mais, ocupadas na atividade agrícola (Tabela IV), simplesmente não tinham nenhum rendimento.

Os rendimentos médios mensais dos empregados permanentes e dos trabalhadores por conta própria eram, como mostra a Tabela V, bastante próximos entre si: R$ 567 e R$ 509, respectivamente. Enquanto o rendimento médio mensal do empregado temporário era de R$ 344 em 2008, a média do empregador, com pelo menos um empregado, era de R$ 2.552. Em suma, os temporários e os permanentes ganhavam, respectivamente, cerca de 13,4% e 22,2% da quantia média acumulada pelos empregadores.

A distribuição dos rendimentos médios mensais da PEA pelas diferentes regiões do país também é revaladora. A renda média no Nordeste não ultrapassava R$ 296, inferior ao salário mínimo, justamente na região onde é maior a proporção de pessoas vivendo em áreas rurais – e a média dos valores correspondentes nas demais regiões do país era de R$ 578,75. Vale ressaltar ainda que a grande maioria das ocupações no meio rural (em torno de 70%), detectada pela PNAD 2008, estava ligada à agricultura familiar, que responde ainda por cerca de 70% da produção de alimentos no Brasil.

Panorama

Conforme dados selecionados da PNAD 2008, os domicílios rurais abrigam pouco mais de 16% do total de habitantes do País. “A diferença em relação ao tamanho da população das cidades, amplamente majoritária, tem por vezes suscitado a opinião de que a questão agrária perdeu muito de sua importância, e que a questão social se transferiu, junto com os milhões de trabalhadores migrantes, para a cidade”, realça o comunicado.

Os autores do comunicado específico sobre o meio rural lembram que “a dinâmica da modernização econômica, que engendrou a acelerada urbanização do país, teve, nas áreas rurais, um caráter conservador: transformou a base técnica da produção, obrigando a mão de obra a migrar para as cidades, sem contudo alterar o padrão fundiário dominante”.

“A expressiva repercussão do Censo Agropecuário 2006, os debates fortemente polarizados que a divulgação de seus resultados suscitou, e outras controvérsias relativas ao meio rural, como a proposta de reajuste dos índices de produtividade, confirmam, por si só, a permanência da questão agrária”, completa o estudo, que julga as políticas públicas de desenvolvimento rural e o aprimoramento constante das informações relativas aos modos de vida e produção da população do campo como “imprescindíveis”.

Nas regiões Nordeste e Norte, por exemplo, a população rural bate 27,6% e 22%, respectivamente. Mais urbanizada do País, a Região Sudeste tem só 8% de sua população residindo na zona rural. A mesma região, porém, abriga a segunda maior concentração de população rural (20,5% da soma nacional). Nesse quesito, a Região Sudeste só perde para a Região Nordeste, que concentra 48% da população rural, como frisa o documento do Ipea.

Na zona urbana, a taxa de analfabetismo para pessoas acima de 15 anos é de 7,5%. Na zona rural, esta mesma taxa chega a 23,5%. A população mais escolarizada, com mais de 11 anos de estudo, representa mais de 40% da população urbana e apenas 12,8% da população rural. A maioria da população do campo (73%) sequer completou o ensino fundamental.

De 2004 para 2008, a porcentagem de domicílios abastecidos por energia elétrica subiu de 81% para 91%, em grande medida graças ao Programa Luz para Todos de eletrificação rural, implementado pelo governo federal.

Por meio dos indicadores da PNAD 2008, o comunicado do Ipea mostra que apenas um terço dos domicílios rurais não possui água encanada. Nas cidades, este percentual não atinge 3%. Outro relatório apresentado no final de março pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) revelou que 23% das casas nas áreas rurais do Brasil eram atendidas por saneamento básico em 2008. A cobertura é inferior aos dados recolhidos pelas Nações Unidas acerca da área rural de países da África e da Ásia como Sudão (24%), Nepal (24%), Nigéria (25%) e Afeganistão (25%).

Fonte: Reporter Brasil, 6 abr 2010

Pesquisa revela que Nordeste é a região que menos beneficia pobres

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“A região Nordeste e seus estados são os que menos demonstram um resultado em favor dos pobres”. Essa é uma das conclusões que pesquisadores do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), da Universidade Federal do Ceará (UFC), obtiveram com a pesquisa “Sobre a qualidade do crescimento econômico no Brasil de 1995 a 2008: uma análise comparativa entre estados e regiões brasileiras”.

De acordo com Flávio Ataliba, coordenador do LEP, a pesquisa, divulgada no início desta semana, teve o objetivo de “identificar o padrão de crescimento econômico no Brasil”.  A ideia era saber se, durante esses 13 anos, o crescimento no país “beneficiou mais os pobres ou não”.

Além de analisar o período inteiro, o estudo procurou qualificar o tipo de crescimento ocorrido no país, regiões e estados brasileiros nos períodos de 1995-2002 (governo de Fernando Henrique Cardoso) e de 2003-2008 (governo de Luiz Inácio Lula da Silva). No entanto, Ataliba ressalta que a intenção não foi avaliar os governos ou as políticas econômicas, já que a pesquisa não levou em consideração fatores relevantes para esse tipo de discussão.

O coordenador do Laboratório revela que o crescimento econômico foi diferente entre as regiões brasileiras. Segundo ele, de modo geral, as regiões Sul e Sudeste apresentaram um padrão de renda benéfico para a população mais pobre, sendo que o mesmo não foi observado no Nordeste.

Ataliba explica que a renda na região Nordeste aumentou, no entanto, a classe mais pobre não foi beneficiada. “O crescimento da renda no Nordeste foi maior que nas outras regiões, mas a qualidade dessa renda foi menor”, resume. Diferente do que ocorreu no Sul e Sudeste, que geraram um padrão de renda favorável aos mais pobres.

“Com efeito, novamente se verifica o Nordeste e seus estados como os principais destaques no que tange a menor capacidade de combate à pobreza, e em geral, por beneficiar certas classes e em outros casos devido ao aumento na concentração de renda”, destaca o estudo.

Professor Ataliba ressalta ainda a questão da desigualdade social, muito presente no Nordeste. “O crescimento [econômico] no Sul Sudeste foi menor, mas a desigualdade caiu bastantes”, revela, lembrando que, mesmo não tendo forte crescimento econômico, as regiões Sul e Sudeste são as que têm renda mais alta.

Na opinião dele, é necessário mais investimentos em políticas e, principalmente, na melhoria da educação nessa região. Apesar de não abordar na pesquisa, Ataliba acredita que, dessa forma, o Nordeste conseguirá se aproximar das outras regiões.

“E embora não seja objetivo do trabalho, como um dos resultados, verificou-se que as três metodologias convergem para o fato da região Nordeste e de seus estados não estarem reduzindo os indicadores de pobreza ao comparar com os demais que foram analisados no país. Com efeito, se nada for feito pelo setor público, o que os dados mostram é que há uma tendência de formação de uma espécie de ‘clubes de convergência de pobreza’, onde de um lado deve-se ter a região Nordeste (e seus estados) e de outro as demais regiões (e seus estados)”, apresenta a pesquisa.

O estudo completo está disponível em: http://www.caen.ufc.br/noticias/arquivos/pesquisa_lep_ensaio22-100330.pdf

Fonte: Adital, jornalista Karol Assunção, 1 abr 2010

Brasil tem mais de 24 milhões de fumantes habituais, aponta PNAD

O Brasil somava 24,6 milhões de fumantes correntes (habituais) com 15 anos ou mais de idade em 2008, ou o equivalente a 17,2% da população com de 15 anos ou mais de idade (143,0 milhões) naquele ano, segundo mostra o suplemento de Saúde da PNAD 2008, divulgado nesta quarta-feira, 31.

Além disso, no total da população nessa faixa etária, 15,1% eram fumantes diários e 2,1% eram fumantes ocasionais (só fumam tomando um chope, por exemplo), enquanto 82,5% (117,9 milhões) da população eram não fumantes e 0,3% (464 mil) não declararam.

Segundo a pesquisa, dos 82,5% de não fumantes, 13,3% (19 milhões) eram ex-fumantes diários e 69,0% nunca foram fumantes diários, enquanto 65,8% nunca fumaram. A região Sul tinha o maior porcentual de fumantes correntes (19,3%).

O levantamento mostra que a incidência do tabagismo entre os homens era maior, sendo que 21,5% deles eram fumantes correntes, contra 13,2% das mulheres. Quanto ao tipo de produto de tabaco, 17,2% fumavam qualquer produto de tabaco fumado, 14,7% cigarro industrializado, 4,4% cigarro de palha ou enrolado à mão e 0,7% outros produtos de tabaco. O Nordeste tinha o maior porcentual dos que fumavam cigarro de palha ou enrolado à mão (7,0%).

Da Agência Estado

Por Jacqueline Farid, em 31 mar 2010

João Pessoa aparece em pesquisa como 4ª Capital mais violenta do País

gun, arma, revólver, violência

[Texto de Wellington Farias, publicado no Portal Correio, 30 mar 2010]

A cidade de João Pessoa figura em 4º lugar entre as Capitais brasileiras com os mais elevados índices de violência do Brasil. O Estado da Paraíba, no entanto, não está nem entre os dez mais violentos do País.

Os dados são do Mapa da Violência 2010, divulgado nesta terça-feira (30) e publicado no Portal Uol. Pelo mapa, o Estado de Alagoas e sua Capital, Maceió, lideram o ranking de mortes violentas no país. A reportagem do Uol, na íntegra, é a seguinte: Continue lendo

O discurso religioso na comunicação

Yellow bridge

Por Rogério Faria Tavares*

Belo poema recitado com esperança pela humanidade ao longo dos tempos, a religião tem sido uma das formas mais empregadas pela espécie para organizar e esclarecer suas relações com os mistérios que permeiam a criação, a existência e a morte e para cultivar as dimensões mais sutis (ou transcendentes) de sua experiência na Terra, o que se costuma chamar, com grande freqüência, de espiritualidade. Importante elemento formador da visão de mundo e da cultura de praticamente todos os povos, a religião também é portadora de ensinamentos éticos e morais que moldaram civilizações, influenciaram o curso da história e definiram vários de seus avanços e retrocessos.

Capaz de mobilizar numerosos contingentes populacionais em torno de ideologias e condutas específicas, já serviu aos mais variados propósitos: foi usada como justificativa para guerras e para a celebração da paz; para a construção de palácios e a derrubada de impérios; a promoção de virtudes e de vícios; a divulgação da fraternidade e da compaixão, da intolerância e do ódio.

A religião sempre gerou alto impacto sobre as comunidades humanas e, em muitos casos, conseguiu dividi-las e reagrupá-las segundo seus mandamentos. Por muitos séculos, prevaleceu no campo da política e da administração da convivência coletiva, chegando a influenciar até, em diversas ocasiões, o modelo de trocas econômicas. Em muitas nações, notadamente no hemisfério oriental, prossegue até hoje comandando os negócios do Estado e gerindo a produção das normas jurídicas.

Amor, solidariedade e justiça

Responsável por revelações sagradas e enunciadora da “verdade”, a religião sempre foi muito eficiente para conferir sentido à vida de milhões de indivíduos. Ao longo de seu percurso como uma das mais prestigiadas dimensões da atuação humana, desenvolveu importante poder de comunicação e consolidou imenso público disposto a consumir com avidez e convicção a sua mensagem, potente o bastante para resolver impasses e dirimir dúvidas, superar o medo, trazer o consolo, aliviar a dor e afastar o absurdo e o imponderável, aceitar o passado, enfrentar o presente e acreditar no futuro.

Competente na elaboração de mitologias e hábil no uso de recursos como a linguagem simbólica, a religião dominou com desenvoltura as técnicas típicas da oralidade. Quando a tecnologia para a transmissão de idéias ainda estava em seus primórdios, a informação religiosa já estava entre as mais difundidas. Na medida em que o progresso ia engendrando outros modos de distribuição de conteúdo, a religião aprendia, rapidamente, a beneficiar-se deles. Foi o que ela soube fazer quando surgiram a escrita, o livro e a palavra impressa. E é o que ela faz até hoje, quando ocupa espaço no rádio, na televisão e nas mídias digitais.

Não há fenômeno mais previsível, portanto, que a presença do discurso religioso nos meios de comunicação de massa. A religião está na vida do povo. Como estaria ausente dos jornais, do rádio e da televisão? Essa presença não deve ser vista como negativa. Ainda que seja acusada de iludir e manipular as multidões (o que, em incontáveis episódios da história, de fato ocorreu), a religião também oferece oportunidades valiosas, e talvez inigualáveis, para refinar e elevar os padrões de conduta costumeiros da espécie humana. Ela lança um olhar fundamental sobre a realidade e propõe forma particular de representá-la e vivê-la. Sua mensagem essencial quase sempre aponta no sentido da promoção do amor, da solidariedade e da justiça, valores que ajudam o ser humano a viver melhor e mais feliz.

Respeito absoluto por outra fé

Não há nada mais natural e compreensível que a intensa presença do discurso religioso na mídia. A religião sempre quer a ampla disseminação de seus paradigmas, conquistar adeptos, perseguir sonhos de hegemonia, estabelecer territórios e manter-se notória e vigorosa. É anseio maior de toda e qualquer religião tornar-se perene e universal, atravessando as diferentes épocas históricas e alargando suas fronteiras geográficas, conservando e atualizando a sua validade e seduzindo as novas gerações.

Essa vocação da religião para a massiva comunicação pública, entretanto, só pode realizar-se, pelo menos nos países em que vige o Estado (laico) de Direito, como é o caso do Brasil, dentro da plena observância das regras jurídicas postas pelo ordenamento pátrio para o relacionamento harmonioso entre os cidadãos.

Responsável por consagrar, em distintos incisos de seu artigo quinto, a liberdade de expressão, a liberdade de consciência e de crença e o livre exercício dos cultos religiosos, a Constituição Federal de 88 oferece as garantias necessárias para que a cidadania possa professar, se for de sua vontade, o credo que bem entender, sem submeter-se a constrangimentos ou represálias.

Em primeiro lugar, isso significa que qualquer corrente de pensamento religioso pode manifestar-se sem restrições, inclusive pelos meios de comunicação. (As sérias distorções causadas pelo acesso desigual aos recursos financeiros para investir em mídia são tema complexo, deslocado para debate posterior.) Em segundo lugar, significa que, quando ocupa os meios de comunicação, a religião deve tratar com absoluto respeito todas as pessoas e instituições que pratiquem outra fé ou divulguem visão distinta da sua.

Pluralismo e convivência pacífica

Vale lembrar, igualmente, que os ateus ou agnósticos merecem exatamente o mesmo apreço normativo conferido pela ordem jurídica aos que crêem. Eles jamais poderão ter seus direitos e liberdades ameaçados ou tolhidos sob nenhum pretexto. Por isso, quando ocupa a mídia, a religião não pode tratá-los com desprezo, preconceito ou discriminação.

Quando ocupa a mídia, uma religião não pode formular ofensas ou ataques que maculem a reputação de outra. Também não é aceitável que trate qualquer delas como algo primitivo, excêntrico, exótico, ameaçador ou diabólico. Agredir esta ou aquela crença religiosa é atitude que merece repulsa social e repressão legal imediata. Quando isso ocorre no rádio ou na televisão é fato ainda mais grave, já que ambos são serviços de interesse público explorados sob regime de concessão.

Finalmente, não é possível, no contexto de uma democracia política como a nossa, conceder qualquer vantagem a determinada religião em detrimento das demais, uma vez que todas propiciam legítimas respostas aos anseios de fé dos cidadãos. Todas são dignas de idêntica consideração, independente da matriz cultural ou étnica a que estejam eventualmente filiadas. Não se pode instituir a menor hierarquia entre elas, nenhuma ordem de precedência ou sistema de privilégios. (Obviamente, não se pode chamar de religião o que é somente a prática do charlatanismo, o comércio dos milagres e de curas com fins de enriquecimento fácil tipificado como crime pelo artigo 283 do Código Penal Brasileiro.)

A atitude reclamada pela razão é fomentar o ecumenismo e o diálogo interreligioso, tão desejado e tão viável, haja visto o expressivo número de pontos comuns a todos os credos. O pluralismo e a convivência pacífica entre as diferenças são duas das expressões mais saudáveis de uma sociedade democrática. A sociedade brasileira não pode tolerar os intolerantes. Seria perigoso demais para o futuro com que sonhamos.

Fonte: Observatório de Imprensa, 16 março 2010

*Rogério Faria Tavares é advogado, jornalista, mestre em Direito Constitucional (UFMG) e doutorando em Direito Internacional pela Universidade Autônoma de Madri

Fraudes em nome de Deus

iluminated window with sculptures and paintings

Por Dalmo de Abreu Dallari

Um fenômeno social que vem ganhando corpo nos últimos tempos é o aparecimento de grupos autodenominados religiosos, que, geralmente sob a direção de um líder, arrebanham adeptos, atraindo pessoas, quase sempre pouco esclarecidas ou socialmente frágeis, ou, ainda, dissidentes políticos ou religiosos aos quais oferecem um instrumento de oposição, e logo procuram formalizar a existência do grupo como uma nova igreja. E assim procuram obter proveitos materiais de várias espécies, em fraude à lei. Isso explica o aparecimento de novas igrejas em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil.

Percebendo a ocorrência desse fenômeno e desejando conhecê-lo melhor, para, entre outras coisas, despertar a opinião pública para os graves prejuízos individuais e sociais que isso pode acarretar, dois jornalistas ligados à Folha de S.Paulo, Cláudio Ângelo, editor de Ciência, e o repórter Rafael Garcia, decidiram criar experimentalmente uma nova igreja, evidentemente fundada numa fantasiosa crença religiosa.

Para tanto, com o objetivo de evidenciar a tranquila possibilidade legal de consumar essa fraude, solicitaram a orientação de um dos mais prestigiosos escritórios de advocacia de São Paulo, respeitadíssimo pelo alto nível de conhecimentos e pelo rigoroso padrão ético de seus integrantes – o escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian Associados. E assim adotaram as providências legalmente exigidas para concretizar a criação da igreja de fantasia.

Exploração da ignorância

Verificaram, então, que não existem requisitos teológicos ou doutrinários para a criação de uma igreja, não havendo também a exigência de um número mínimo de fiéis. Redigiram um documento de fundação do que denominaram Igreja Heliocêntrica do Sagrado Evangelho e fizeram a inscrição da entidade no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, obtendo assim o número do CNPJ.

Com base nesse documento abriram uma conta bancária, fazendo várias aplicações financeiras, gozando de isenção dos tributos normalmente incidentes sobre operações dessa espécie, pois, segundo a Constituição, no artigo 150, inciso VI, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre templos de qualquer culto.

Nessa mesma linha, a nova igreja poderá adquirir e vender imóveis, realizar transações econômicas, cobrar pela prestação de serviços e praticar outros atos que beneficiem pessoalmente os criadores e dirigentes da igreja, sem que sejam obrigados a pagar o IPVA, o IPTU, o ISS e qualquer outro tributo. E como as igrejas são absolutamente livres para definir sua organização e direção e para admitir e manter seus sacerdotes, que, nessa condição, ficam isentos da obrigação de prestar o serviço militar obrigatório, um dos dirigentes designou seus próprios filhos como sacerdotes, garantindo-lhes, desse modo, essa isenção, devendo-se ainda acrescentar que, além desse privilégio legal, os sacerdotes terão direito a prisão especial, se forem envolvidos numa ocorrência policial.

Acrescente-se, ainda, que os dirigentes da igreja poderão indicar os imóveis de sua residência como sendo templos da igreja e assim ficarão isentos dos tributos municipais.

Essa iniciativa dos jornalistas, levada a efeito discretamente e sem procurar provocar escândalo, é merecedora do maior elogio e deve ser amplamente divulgada, para chamar a atenção dos que podem e devem influir para impedir a multiplicação fraudulenta de igrejas. Essa fraude deve merecer especial atenção dos legisladores e dos governos, pois além de acarretar enormes prejuízos a todo o povo, por criar a possibilidade de intensa atividade econômico-financeira sonegando tributos, alimentam-se da exploração da ignorância e da fragilidade de pessoas das camadas mais pobres da população.

Ação educativa

Bem ilustrativo da audácia desses exploradores da ignorância e da ingenuidade de pessoas mais simples é a notícia da criação de uma linha telefônica para falar com Deus, fato divulgado pelo jornal francês Le Monde (4/3/2010, pág.26).

Conforme registra com ironia aquele jornal, foi criado um novo serviço telefônico, “Le Fil du Seigneur”, iniciativa da sociedade Aabas Interactive. Fornecendo os dois números disponíveis para as ligações, informa o jornal que o custo das ligações é de 15 centavos de euro para as ligações comuns e de 34 centavos para as ligações urgentes e diretamente dirigidas a Deus.

Quem ligar para o serviço ouvirá uma gravação dizendo : “Você está em presença de Deus para o recolhimento e a prece a fim de receber sua graça”. Acrescenta o jornal, sempre ironizando, que os promotores desse piedoso serviço não estão autorizados a conceder absolvição por telefone, mas os interessados podem deixar sua confissão. E para acentuar os objetivos de apoio e edificação espiritual, uma gravação diz no início: “Para receber conselhos, digite 1; para confessar, digite 2 ; para escutar confissões de outros, digite 3”.

Parece absurda a criação de um “serviço” dessa natureza, mas o fato de ele continuar existindo é um sinal de que também existem usuários, o que deixa evidente que há ambiente para audácias desse tipo.

Num pronunciamento recente, o presidente da Ordem dos Advogados de Angola chamou a atenção para o surgimento e a multiplicação de práticas ilegais naquele país, ligadas justamente à exploração de crenças religiosas. E observou : “Não me surpreende o surgimento de crimes ligados à exploração religiosa, porque onde há pobreza, ignorância e um nível cultural extremamente baixo há propensão para que essas práticas religiosas duvidosas prevaleçam e tenham espaço”.

E sublinhando que a legislação angolana exige um mínimo de cem mil aderentes para a existência de uma igreja, o que considera bom mas insuficiente para impedir as fraudes, acrescentou que “é responsabilidade do Estado, nos termos da lei, controlar para que o direito de liberdade religiosa não seja utilizado para fins contrários ao que está previsto na Constituição”, considerando necessária uma ação educativa do Estado, mas também uma ação repressiva, para impedir práticas que, sob a máscara de atividades religiosas, prejudiquem os direitos de outros cidadãos e a própria ordem pública.

Necessário e urgente

Observe-se, afinal, que esse fenômeno da exploração religiosa, muito oportunamente posto em evidência pelos jornalistas da Folha de S.Paulo, vem preocupando vários países da Europa. Assim, na França já estão em vigor três leis tratando de questões relativas ao surto de organizações religiosas e suas repercussões legais. A primeira é de 18 de dezembro de 1998 e cuida, sobretudo, do problema do acesso de crianças à escola, que é obrigação dos pais e vinha enfrentando obstáculos sob alegação de motivos religiosos. A segunda, de 15 de junho de 2000, deu legitimidade às associações civis que lutam contra as seitas para propor ou integrar ações judiciais, inclusive na área penal, nesse âmbito. A terceira lei, de 12 de junho de 2001, trata dos movimentos sectários que atentam contra os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Esta lei permite a propositura de ação contra fatos que podem ser qualificados como “abusos fraudulentos do estado de ignorância ou de fragilidade”, com agravantes quando praticados contra crianças ou pessoas em situação de fraqueza.

Essas questões já vêm sendo objeto de considerações do Conselho da Europa, que em 1992 fez recomendações relativamente às seitas e aos novos movimentos religiosos e em 1999 reforçou seu pronunciamento considerando as atividades ilegais das seitas. Como fica evidente, há uma situação nova envolvendo as questões religiosas, com efeitos graves sobre os direitos.

Por tudo isso, é muito oportuna a advertência sobre o que vem ocorrendo no Brasil nessa área. A Constituição brasileira declara inviolável a liberdade de consciência e de crença, mas ao mesmo tempo diz, no artigo 5°, inciso XVII, que é plena a liberdade de associação “para fins lícitos”. É evidente que o uso fraudulento da invocação religiosa nada tem a ver com a liberdade de crença e, ainda mais, por suas conseqüências de ordem prática, acarreta graves prejuízos a todo o povo, confere privilégios injustos e cria uma situação de conflito, opondo as organizações desonestas às instituições que se fundamentam, autenticamente, em crenças religiosas.

Assim, pois, é necessário e urgente que o tema seja posto entre as prioridades brasileiras, para que se tenha uma legislação que, mantendo a laicidade do Estado, garanta a liberdade de crença com pluralidade, coibindo a invocação fraudulenta dessa liberdade.

Fonte: Observatório de Imprensa, 16 março 2010

*Dalmo Dallari é jurista, professor emérito da Faculdade de Direito da USP

Situação de Guaranis no Brasil é a pior entre os indígenas das Américas

As condições de vida e os direitos dos povos indígenas Guarani do Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste brasileiro, estão sendo extremamente violados e ameaçados. Se comparados com outras etnias das Américas, os indígenas estão entre os que vivem em piores condições.

Foram estas as constatações do relatório produzido pela Survival International para o Comitê para Eliminação da Discriminação Racial da Organização das Nações Unidas (Cerd ONU).O relatório, que será divulgado em 21 de março, Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, revela que problemas como assassinatos, suicídios, desnutrição, alcoolismo e deslocamentos forçados estão no topo das situações extremas enfrentadas pelos Guarani. O fator predominante para o desencadeamento das problemáticas é o não reconhecimento do direito a terra.

Após visita ao Brasil, em novembro de 2009, a comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, constatou que a situação de descaso com os indígenas Guarani se contrapõe totalmente ao progresso econômico do país.Em outubro do mesmo ano, a ex-ministra do Meio Ambiente, Senadora Marina Silva, também esteve no Mato grosso do Sul e declarou que “os problemas enfrentados pela população indígena ‘são de natureza muito grave’ e que os 45 mil índios do Estado enfrentam um verdadeiro ‘apartheid social’, devido à falta de garantias para que possam exercer seus direitos”.

Após assistirem de mãos atadas ao roubo de suas terras e constatarem as recusas do governo brasileiro e do Estado do Mato Grosso do Sul em reconhecerem seus direitos a terra, o povo Guarani está sendo obrigado a “se envolver em trabalhos forçados” ou oferecer sua mão de obra por uma remuneração miserável para sobreviver.

Uma das principais causas da tomada de territórios Guarani é o crescente interesse nas terras para a produção de cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol, e para a plantação de soja e chá, além da criação de gado e para programas de assentamento do governo. Por estes motivos, grandes comunidades indígenas têm como última opção montar acampamentos na beira de rodovias, onde são alvos fáceis de atropelamentos e da ação de pistoleiros contratados por fazendeiros.

O saqueio das terras também acarreta a existência de “aldeias superlotadas”, onde a população depende de ajuda do governo para sobreviver e passa por problemas de deterioração da saúde e desnutrição. A prova, é que os Guarani do Brasil tem expectativa de vida mais de 20 anos abaixo da média nacional.

Esta soma de fatores é também o principal motivo desencadeador de suicídios. De acordo com o relatório da Survival que será encaminhado para a ONU, o índice de suicídio entre os Guarani é um dos mais altos no mundo. Mais de 625 indígenas tiraram a vida desde 1991, entre eles, crianças de apenas nove anos. Em 2005, o índice de suicídio entre os Guarani foi 19 vezes mais alto do que o índice nacional.

Com o inevitável deslocamento para outros territórios, ocorre uma desestruturação da sociedade Guarani. Os homens vão em busca de trabalhos temporários em fazendas e refinarias saindo do convívio de suas famílias e abandonando seus modos de organização social. A não aceitação dos despejos forçados ocasiona detenções injustas, destruição de casas e comunidades e assassinatos.

Em suas conclusões, a Survival International apela ao Cerd a fim de que o governo brasileiro tome uma série de medidas que visem garantir os direitos e o respeito ao modo de vida dos Guarani. No topo das reivindicações está a finalização, em caráter de urgência, do programa de demarcação das terras. Também é pedido que seja respeitada a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e a Convenção 169 da OIT sobre os direitos de povos indígenas. Outras reivindicações estão relacionadas à agilização dos casos de disputa de terras, fim da impunidade dos crimes cometidos contra os Guarani e medidas para que os indígenas não sejam ilegalmente detidos.

Para ler o relatório na íntegra, acesse: http://assets.survival-international.org/documents/208/Survival_Guarani_Report_Portuguese-2.pdf

Fonte: Natasha Pitts, Adital, 18 março 2010

Brasil amplia presença nos países africanos de língua portuguesa

Presença das novelas da Globo nos países africanos de língua portuguesa é só o lado visível de um fenômeno que tem também aspectos econômicos e políticos: o crescente interesse do Brasil pelas ex-colônias de Portugal.

Quem anda pelas ruas de Maputo, capital de Moçambique, pode facilmente ouvir jovens usando gírias tiradas de novelas da Globo, como “Eu sou chique, bem!” e “Tá podendo!”.

Nas bancas de jornais de Luanda, capital de Angola, revistas especializadas em televisão estampam atrizes brasileiras na capa, como Taís Araújo e Juliana Paes.

Também em Luanda é fácil encontrar franquias de redes populares no Brasil, como Bob’s, Mundo Verde e O Boticário. Isso sem falar nos templos da Igreja Universal do Reino de Deus, presente em todos os países africanos de língua portuguesa.

As novelas da Globo, as lanchonetes do Bob’s e os templos da igreja de Edir Macedo são apenas a face visível de um fenômeno relativamente recente: a crescente presença brasileira nas antigas colônias portuguesas na África. Além do visível aspecto cultural, essa presença possui um viés econômico e outro político.

Relações econômicas priorizam Angola e Moçambique

O lado econômico é especialmente forte na relação com Angola – cuja independência, em 1975, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer. Apenas quatro anos depois, a Petrobras chegava ao país africano, hoje o terceiro maior produtor de petróleo da África.

Mas, segundo o site da petrolífera, foi só recentemente – a partir de novembro de 2006 – que a empresa passou a atuar de forma mais agressiva em Angola, como operadora em três blocos de exploração de petróleo.

Também forte em Angola é a Construtora Norberto Odebrecht, que está no país desde 1984, quando iniciou a construção da hidrelétrica de Capanda, com capacidade de geração de 520 megawatts.

Hoje a empresa atua em diversos setores, como a construção de rodovias e em projetos de pavimentação, saneamento e urbanização, empregando mais de 24 mil pessoas.

“As relações do Brasil com Angola são muito mais intensas e muito mais antigas”, afirma o sociólogo alemão Gerhard Seibert, do Centro de Estudos Africanos de Lisboa. “Mas Moçambique também desempenha um papel econômico cada vez maior.”

Na província de Tete, no centro de Moçambique, a mineradora brasileira Vale está investindo 1,3 bilhão de dólares para extrair carvão de uma das maiores minas não exploradas do mundo. A produção anual deverá chegar a 11 milhões de toneladas a partir de dezembro de 2010 e empregar 1,5 mil pessoas. O contrato foi assinado em 2007.

Brasil busca papel maior no cenário internacional

No aspecto político, Seibert vê uma clara mudança na política brasileira para a África com a chegada à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2003.

Lula foi o presidente brasileiro que mais viagens fez à África – foram dez até o final de 2009, incluindo todos os países de língua portuguesa, alguns mais de uma vez. Também no seu governo, o número de países africanos nos quais o Brasil possui representação diplomática passou de 18 para 34.

Na opinião de Seibert, essa valorização da África na política externa brasileira segue objetivos econômicos: a busca de mercados para produtos e empresas brasileiras e a garantia de matérias-primas.

Mas há, também, objetivos políticos: “As relações com a África fazem parte de uma política externa que tenta dar um papel maior ao Brasil no contexto internacional, e isso inclui a ambição de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU”.

Para o especialista, a África é só uma parte da política externa “mais expansiva” adotada pelo governo Lula. Ela inclui ainda a maior presença do país em fóruns internacionais como o G20 ou as reuniões com os países BRIC (Rússia, Índia e China).

Já Lula apresenta sua política africana como o pagamento de uma dívida, afirmando que o Brasil tem um compromisso moral e ético com o continente, uma referência ao passado escravagista brasileiro. O presidente gosta de repetir que o Brasil é o país com a maior população negra fora da África.

Estudar no Brasil

As frequentes visitas à África trouxeram popularidade a Lula no continente, o que, somado ao mundo idílico apresentado em várias novelas televisivas, acaba por reforçar uma imagem positiva do Brasil.

“A imagem que temos do Brasil é muito boa, até porque a mídia que vem do Brasil são as novelas”, conta o universitário são-tomense Edileny Lima de Souza, que estuda administração de empresas na PUC em Porto Alegre.

O guineense Francisco Ialá, que cursa Direito na mesma universidade, diz que também no seu país a imagem do Brasil é muito boa. “As novelas que mais passam na Guiné-Bissau são as brasileiras. Toda a cultura brasileira influencia a Guiné-Bissau.”

Ambos encontraram um Brasil diferente do que aquele que conheciam pela televisão. “As novelas brasileiras não retratam a situação como ela é. É mais glamour, praia e coisas boas, sem os problemas de infraestrutura, desigualdade e preconceito. São coisas que eu vivenciei e não esperava”, diz Edileny

Edileny e Francisco estão entre os quase 4 mil africanos selecionados para estudar no Brasil entre os anos de 2000 e 2009. Eles receberam uma bolsa de estudos do programa PEC-G, do Ministério das Relações Exteriores.

Na África, os principais beneficiados pelo programa são os países de língua portuguesa, Cabo Verde e Guiné-Bissau à frente. A maioria dos estudantes volta ao seu país de origem. Estudar no Brasil é algo comum entre os cabo-verdianos – até o primeiro-ministro do país, José Maria Neves, estudou na Fundação Getúlio Vargas (FGV) nos anos 1980.

Para Edileny e Francisco, o Brasil desempenha um importante papel no ensino superior. “Para os países lusófonos em desenvolvimento, o Brasil desempenha um papel importante na formação de quadros profissionais”, diz Edileny, que afirma: “Volto para São Tomé porque quero ajudar meu país a crescer.”

Autor: Alexandre Schossler

Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: DW, 22 março 2010

Exclusão digital pode prejudicar economia brasileira, dizem especialistas

Miscellaneous electrical wires on a house in F...

Com apenas um terço de sua população com acesso à internet e um índice de penetração de banda larga menor que o de países como Argentina, Chile e México, o Brasil corre o risco de ver seu crescimento econômico comprometido devido a este atraso, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

De acordo com dados do IBGE, mais de 65% dos brasileiros com mais de dez anos de idade não acessam a rede mundial, sendo que a grande maioria destes (60%) não o faz por não saber como ou por não ter acesso a computadores.

O número de desconectados no Brasil é muito maior, por exemplo, que o da Coreia do Sul – onde quase 78% da população tem acesso à rede -, que de grande parte dos países da Europa Ocidental e até mesmo que o do Uruguai, onde cerca de 40% das pessoas acessa a internet.

A situação do acesso a conexões de banda larga, fundamentais para que se possa aproveitar todas as possibilidades multimídia da internet, ainda é mais grave.

A União Internacional de Telecomunicações, agência da ONU para questões de comunicação e tecnologia, estima que apenas 5,26% dos brasileiros tenham acesso a conexões rápidas.

O número é bem inferior à penetração da banda larga na Argentina, que é de 7,99%, Chile, onde a penetração é de 8,49%, e México, onde este índice é de 7%.

Com o objetivo de corrigir este déficit, o governo chegou a anunciar um Plano Nacional de Banda Larga, que pretende elevar a penetração das conexões rápidas no país para 45% até 2014. A implementação do programa, no entanto, deve ficar para o próximo governo.

Desenvolvimento e preço

PENETRAÇÃO DE BANDA LARGA

Suécia – 37,3%*

Dinamarca – 36,8%*

Chile – 8,49%

Argentina – 7,99%

Uruguai – 7,3%

México – 7 %

Brasil – 5,26%

*Países com maior penetração de banda larga (Fonte: UIT)

Mas não é só no ranking de penetração de banda larga que o Brasil está atrás de países com estrutura e economia similares.

Um estudo divulgado pela União Internacional de Telecomunicações no final de fevereiro coloca o Brasil atrás de Argentina, Uruguai, Chile e até Trinidad e Tobago em um ranking de desenvolvimento de Tecnologias de Informação e Comunicação, área conhecida pela sigla TIC.

Entre os motivos que levam o Brasil a registrar tal atraso estão problemas institucionais, de infraestrutura e as dimensões territoriais do país, que dificultam a instalação de uma grande rede de banda larga, por exemplo.

Especialistas ouvidos pela BBC Brasil, no entanto, apontam os altos custos de conexão como um dos principais entraves para que a maioria dos brasileiros tenha acesso à internet.

“O Brasil tem os custos de conexão mais caros do planeta. Hoje, nosso maior problema de infraestrutura é o ‘custo Brasil de telecomunicação’ e, este é um dos grandes problemas para aumentar o uso da internet”, diz o sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e ex-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, órgão ligado à Casa Civil da Presidência da República.

De fato, a União Internacional de Telecomunicações aponta que Brasil está no grupo de países onde mais se paga para ter acesso a serviços como internet, telefone fixo e celular.

José Carlos Cavalcanti, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco e ex-secretário executivo de Tecnologia, Inovação e Ensino Superior do Estado, atribui os custos à elevada carga tributária e diz que pequenas variações no preço de acesso à internet poderiam já ter impacto na demanda.

“Para cada 1% de redução no preço de um computador ou na tarifa de internet, a demanda aumenta 0,5%. Já se houver um aumento de 1% na renda das pessoas, a demanda aumenta 0,5%”, diz Cavalcanti, citando um estudo de 2006 conduzido por ele para a Microsoft.

Crescimento perdido

É difícil mensurar o quanto o Brasil vem perdendo em termos de crescimento econômico e de empregos com este atraso.

Dados da consultoria McKinsey&Company, no entanto, apontam que um aumento de 10% nas conexões de banda larga pode levar a um crescimento entre 0,1% e 1,4% no PIB de um país. Uma outra pesquisa, do Banco Mundial, indica que este crescimento pode ser de 1,38% em países subdesenvolvidos.

Segundo a pesquisa da McKinsey, este crescimento econômico se dá por cinco fatores: primeiro devido ao impacto direto do investimento na rede de banda larga, depois pelo efeito da melhoria na indústria, seguido por aumento nos investimentos estrangeiros diretos e na produtividade e por uma melhora no acesso da população a informações.

O mesmo estudo diz que se a penetração da banda larga na América Latina atingisse o mesmo nível da Europa Ocidental, 1,7 milhão de empregos poderiam ser criados na região.

Autor de estimativas mais cautelosas, Raul Katz, professor da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, afirma que se o Brasil superasse seu déficit de banda larga – que ele estima ser de 5 milhões de conexões – nosso PIB poderia ter um crescimento de 0,08 pontos percentuais.

‘PIB, PIB Virtual e FIB’

Mas não é só crescimento do PIB que o Brasil perde com o fato de a maior parte de sua população ainda estar desconectada.

Para Gilson Schwartz, coordenador do centro de pesquisas Cidade do Conhecimento, da Universidade de São Paulo, esta perda causada pela desconectividade se dá em três categorias distintas.

A primeira é a perda em termos de emprego e renda. Outra categoria, mais difícil de mensurar, é o que ele chama de ‘PIB virtual’, ou seja, toda a produção, negócios e os serviços que poderiam ser feitos completamente dentro da rede e que não são feitos devido aos altos níveis de desconexão.

Quando você não tem banda larga, desenvolvimento digital, você está tirando trabalho e lazer. Nesse sentido você pode dizer que o déficit provocado pelo atraso digital é ainda maior do que o de qualquer setor tradicional

Gilson Schwartz, economista

Schwartz aponta ainda que as dificuldades de acesso à internet no Brasil trazem perdas em um “campo social, que mistura entretenimento, sexualidade, cidadania e identidade”.

“Quando você não tem banda larga, desenvolvimento digital, você está tirando trabalho e lazer. Nesse sentido você pode dizer que o déficit provocado pelo atraso digital é ainda maior do que o de qualquer setor tradicional”, diz.

“Sem dúvida alguma, sociabilidade, sexualidade, amizade e alegria estão cada vez mais disponíveis nas novas mídias, e quem não está acessando isso está perdendo aquele outro PIB, o FIB, felicidade interna bruta. Assim (com a exclusão digital), a gente perde no PIB, no PIB virtual e no FIB”.

Fonte:

Caio Quero, da BBC Brasil em São Paulo, 16 mar 2010

Os apóstolos da morte ~ por Jorge A. Barros

Após uma semana numa clínica de desintoxicação de notícias de crime, voltei numa sexta-feira de horrores. A perda do cartunista Glauco – assassinado em São Paulo – é realmente lamentável.  Ele e o filho, Raoni, foram mortos a tiros disparados pelo estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes. É um crime tenebroso, mas totalmente contextualizado pela época de grandes contradições que vivemos. Um artista decide se recolher e funda na própria casa, na periferia de São Paulo, uma célula do Santo Daime (veja o site da entidade), que é uma seita baseada na busca do autoconhecimento por meio de uma bebida alucinógena, a ayahuasca,  que é considerada pelo Conselho Nacional Antidrogas uma droga legal  para fins religiosos. O cartunista e seu filho faziam parte da seita, uma comunidade religiosa com o objetivo de paz social e harmonia interior. E, distantes dos perigos e da correria da capital paulista, acabam sendo mortos por um integrante da própria seita.

A primeira  versão de assalto sem dúvida pode ter sido uma tentativa de tirar o foco do Santo Daime. Assim como ocorre no corporativismo, todo religioso tem uma tendência natural de proteger as instituições e os valores nos quais se baseiam sua fé. Mas o poder público – polícia, Justiça e Ministério Público – não pode ser conduzido por princípios religiosos. Portanto devem fazer uma investigação rigorosa. Sem medo de até mesmo comprovar que o uso da ayahusca, ainda que legalizada para fins religiosos, teve alguma influência no crime.

Se o assassino faz mesmo parte da comunidade religiosa o episódio traz à tona  outro aspecto que pode ser encontrado em outros grupos religiosos: um certo desprezo pela própria fé. E mais: a forte evidência de que cada vez menos a fé religiosa influi no comportamento ético do indivíduo, como diz o jornalista Carlos Fernandes, editor-chefe da revista “Cristianismo Hoje”. A falsa sensação de que não existe mais um deus no controle de tudo leva religiosos a praticarem atos que entram em conflito com princípios éticos e morais não apenas da religião, mas da própria sociedade. Não é à toa que cada vez mais religiosos praticam crimes, inclusive intepretando os livros sagrados a seu bel prazer, e fingindo ignorar o império das leis, regido por uma bíblia que vale para crentes, ateus e agnósticos – o Código Penal.

Nesse ponto, a prisão de três pastores evangélicos acusados de traficar sete fuzis – da Bolívia para São Gonçalo, no Rio – é episódio ainda mais vergonhoso para os que comungam da suposta fé dos criminosos. Eles seriam da Igreja Mundial do Poder de Deus, uma facção da Igreja Universal do Reino de Deus. Seu fundador, Valdemiro Santiago – que se autointitula apóstolo – é ex-bispo da Universal e reza na mesma cartilha mercantilista do bispo Macedo, inspirada por sua vez na Teologia da Prosperidade, que valoriza os bens materiais como sinal de sucesso na fé cristã. Na Teologia da Prosperidade não há lugar para cristãos que sejam economicamente pobres ou tenham alguma doença. A lógica perversa é de que se Jesus levou seus pecados na cruz, você não pode ter uma vida dura, com doenças e falta de dinheiro. A meu ver, é uma teologia apropriada ao modelo do neoliberalismo, da ditadura do mercado, em que você adquire bens e valores na prateleira do supermercado, pagando até com cheques pré-datados. A loja virtual da Igreja Mundial do Poder de Deus dá uma mostra disso.

O que preocupa nesse novo clone da Universal, que parece ser a Igreja Mundial do Poder de Deus, é que três de seus líderes deram um passo além, rumo à ilegalidade, transportando fuzis desmontados para levá-los a uma quadrilha de traficantes. São armas de guerra, que serão usadas para mandar pessoas pro inferno, o lugar que os religiosos tanto temem. Até que se prove o contrário – dando-lhes uma última chance de defesa – esses ditos pastores são nada menos que apóstolos da morte travestidos de homens de Deus.

Fonte: O Globo, 12 mar 2010

Brasil tem 18 bilionários na lista anual da Forbes

BBC Brasil, 11 mar 2010

O Brasil tem 18 pessoas ou famílias com fortunas acima de US$ 1 bilhão, segundo a tradicional lista anual da revista americana Forbes, divulgada na quarta-feira.

O país tem o maior número de bilionários da América Latina. O brasileiro mais rico, segundo a Forbes, é o empresário Eike Batista, que ocupa a 8ª posição geral na lista, com uma fortuna estimada em US$ 27 bilhões.

Batista, proprietário de uma série de empresas no ramo de mineração e petróleo, é também o integrante da lista, com mais de mil nomes, cuja fortuna mais cresceu de um ano para o outro – US$ 19,5 bilhões a mais.

Na lista do ano passado, ele também aparecia como o brasileiro mais rico, mas apenas na 61ª colocação geral. A relação de pouco menos de 800 bilionários contava com 13 brasileiros.

O empresário mexicano Carlos Slim, do setor de telecomunicações, ultrapassou o americano Bill Gates, fundador da Microsoft, e aparece neste ano pela primeira vez como a pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 53,5 bilhões.

Esta é a primeira vez desde 1994 que a lista de bilionários da Forbes não é encabeçada por um americano.

Apesar disso, os Estados Unidos ainda dominam amplamente a lista da revista, com 403 cidadãos do país com fortunas superiores a US$ 1 bilhão.

Recuperação

A lista deste ano traz 1.011 nomes de 55 países diferentes, indicando uma recuperação em relação ao ano passado, quando a crise econômica mundial havia enxugado a lista para 793 bilionários. Em 2008, a relação trazia 1.125 pessoas.

Segundo a revista, a fortuna acumulada dos dez mais ricos da lista cresceu de US$ 254 bilhões para US$ 342 bilhões no último ano.

“A economia global está se recuperando”, disse o editor-chefe da revista, Steve Forbes. “Os mercados financeiros também tiveram uma recuperação impressionante, principalmente nos mercados emergentes”, afirmou.

Entre os dez primeiros da lista, há quatro bilionários oriundos de países emergentes – além de Slim e de Batista, aparecem os indianos Mukesh Ambani e Lakshmi Mittal, na 5ª e na 6ª posições, respectivamente.

Mesmo sem nomes entre os dez primeiros, porém, a China é o país com o maior número de bilionários após os Estados Unidos – 64. Se considerados também os bilionários de Hong Kong, são 89 os chineses da lista.

Outro país emergente, a Rússia, aparece como o terceiro com o maior número de bilionários – 62.

Brasileiros

Os 18 brasileiros da lista da Forbes têm, juntos, uma fortuna de US$ 84,7 bilhões.

O segundo da lista é Jorge Paulo Lemann, sócio da cervejaria belgo-brasileira InBev, com uma fortuna de US$ 11,5 bilhões. Ele aparece na 48ª posição na lista geral.

O terceiro brasileiro mais rico, na 64ª posição da lista, é o banqueiro Joseph Safra, com uma fortuna acumulada de US$ 10 bilhões.

A família Steinbruch, dos grupos CSN e Vicunha, aparece na 136ª posição, com uma fortuna de US$ 5,5 bilhões.

Outros dois sócios da InBev aparecem sem seguida – Marcel Telles (152ª posição, fortuna de US$ 5,1 bilhões) e Carlos Alberto Sicupira (176ª posição, US$ 4,5 bilhões).

Em seguida estão o banqueiro Aloysio de Andrade Faria (201ª posição, US$ 4,2 bilhões), Abílio Diniz, do grupo Pão-de-Açúcar, e Antonio Ermírio de Moraes, da Votorantim, ambos empatados na 316ª posição, com US$ 3 bilhões, o banqueiro Moise Safra (421ª posição, US$ 2,3 bilhões), Elie Horn, da imobiliária Cyrella (437ª posição, US$ 2,2 bilhões), Antonio Luiz Seabra, da Natura (437ª posição, US$ 2,2 bilhões), Guilherme Peirão Leal, também da Natura (463ª posição, US$ 2,1 bilhões), Rubens Ometto, da produtora de álcool e açúcar Cosan (463ª posição, US$ 2,1 bilhões), o sino-brasileiro Liu Ming Chung, radicado em Hong Kong, da empresa de papel Nine Dragons (582ª posição, US$ 1,7 bilhão), João Alves de Queiroz Filho, da Hypermarcas (616ª posição, US$ 1,6 bilhão), Jayme Garfinkel, da seguradora Porto Seguro (828ª posição, US$ 1,2 bilhão) e o banqueiro Julio Bozano (880ª posição, US$ 1,1 bilhão).

América Latina

O Brasil é o país com o maior número de bilionários entre os 37 latino-americanos da lista. O México vem em seguida, com nove bilionários.

O Chile tem quatro bilionários na lista, entre eles o presidente eleito, Sebastián Piñera, que toma posse nesta quinta-feira. Ele tem uma fortuna estimada em US$ 2,2 bilhões e aparece em 437º lugar.

A Venezuela e a Colômbia têm dois bilionários cada na lista. A Argentina tem apenas um.

OS 10 MAIS RICOS DO MUNDO

1. Carlos Slim Helu (México) – US$ 53,5 bilhões

2. Bill Gates (EUA) – US$ 53 bilhões

3. Warren Buffet (EUA) – US$ 47 bilhões

4. Mukesh Ambani (Índia) – US$ 29 bilhões

5. Lakshmi Mittal (Índia) – US$ 28,7 bilhões

6. Lawrence Ellison (EUA) – US$ 28 bilhões

7. Bernard Arnault (França) – US$ 27,5 bilhões

8. Eike Batista (Brasil) – US$ 27 bilhões

9. Amancio Ortega (Espanha) – US$ 25 bilhões

10. Karl Albrecht (Alemanha) – US$ 23,5 bilhões

Fonte: Revista Forbes