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A História não absolverá os pastores da brutalidade

Texto de Augusto Nunes, 9 mar 2010

Os privilégios, mesuras e gentilezas dispensados ao assassino italiano Cesare Battisti ou ao narcoterrorista colombiano “Padre” Medina atestam que, em homenagem à companheirada, Lula promove a perseguido político qualquer bandido comum. O tratamento cruel reservado aos oposicionistas encarcerados em Cuba, sobretudo aos que ousam protestar no interior das cadeias, comprova que, para atender a ditadores companheiros, o presidente brasileiro rebaixa a bandido comum qualquer perseguido político.

“Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos”, acaba de decretar o rábula estagiário que, preso durante uns poucos dias ─ por determinação da Justiça e do governo brasileiros, segundo o raciocínio cafajeste do próprio Lula ─ entrou na farra da anistia, embolsa uma pensão mensal injustificável e segue distribuindo dinheiro aos sócios do assalto legalizado. “Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto dos direitos humanos para libertar pessoas”, continuou o monumento à ignorância jeca que nunca leu uma linha sobre as lutas pela independência da Índia, que nem faz ideia de quem foi Mahatma Gandhi, que não sabe o que é resistência pacífica.

“Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”, completou o chefe de governo que, por viver cercado de delinquentes, age como se a atividade política fosse uma atividade ilícita como outra qualquer. Nem os carcereiros fizeram comentários tão repulsivos sobre o grupo de cubanos castigados  por crimes de consciência. Condenado em 2003 a três anos de cadeia, o pedreiro Orlando Zapata Tamayo morreu no 85° dia da greve de fome a que recorreu para protestar contra torpezas jurídicas que multiplicaram por dez o tempo de prisão. Foi acusado por Lula, entre um sorriso e outro ao lado do carrasco, de se deixar morrer.

Outros prisioneiros decidiram há dias repetir a saga de Zapata. Para justificar antecipadamente a aplicação da pena de morte oficiosa, o presidente que transforma ladrões vulgares em homens incomuns, e absolve liminarmente até homicidas, acaba de compará-los a militantes do PCC. A História não absolverá os pastores da brutalidade. “Lula é cúmplice da tirania dos Castro”, constatou em entrevista à Folha o jornalista e psicólogo Guillermo Fariñas, em greve de fome há 15 dias.

Em Cuba, gente presa sem motivo entra em greve de fome para tentar sobreviver com dignidade. No Brasil, gente inexplicavelmente em liberdade festeja a boa vida em almoços e jantares patrocinados pela Presidência da República. Os bandidos soltos em Brasília só se recusarão a comer se houver uma queda insuportável na qualidade das refeições servidas nos palácios do poder.

http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/

Aluno de hoje não quer ser o educador de amanhã

Rodrigo Zavala * – Portal Adital, 1 mar 2010

Se uma boa educação só é possível por meio de bons educadores, o mais recente estudo realizado pela Fundação Victor Civita (FVC), encomendado à Fundação Carlos Chagas (FCC), traz preocupação a quem se interessa pelo assunto. Ao pesquisar sobre a atratividade de jovens à carreira de docente, o levantamento mostra que apenas 2% dos estudantes do terceiro ano do ensino médio pensam em atuar em sala de aula.

Com 1.501 alunos participantes, o estudo foi aplicado em 18 escolas públicas e privadas de oito municípios (em cinco regiões do país) selecionadas por seu tamanho, abrangência regional, densidade de alunos e oportunidades de emprego. Segundo estes estudantes, as más condições de trabalho, a baixa remuneração e o pouco reconhecimento social são os motivos para se manterem longe da sala dos professores.

“Esse é um tema central e de médio prazo para a melhoria da qualidade de educação no país. O principal é mudar a formação para criar essa atratividade”, afirma o secretário estadual de Educação de São Paulo, Paulo Renato Souza.

Curiosamente, há uma semana (26/02), o ex-ministro da Educação culpou a má formação dos professores pelo mau desempenho registrado nas provas de matemática aplicadas a estudantes do ensino médio pelo Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). Segundo os dados, 58,3% dos estudantes que concluem essa etapa têm conhecimento insuficiente da disciplina.

Dados complementares O resultado da pesquisa da Fundação Victor Civita está em concordância com outros levantamentos complementares. Basta ver o Censo da Educação Superior de 2009, em que se demonstra que cursos ligados à formação de professores têm uma relação candidato/vaga, no mínimo, desfavorável.

Por exemplo, a Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular, o maior vestibular do país) oferece 109 opções de cursos e Pedagogia, em São Paulo, ocupa a 90ª posição. Em Ribeirão Preto cai para 92ª Licenciaturas e disciplinas da Educação Básica são ainda menos procuradas pelos jovens.

“A análise dos resultados mostra que existe uma contradição entre desejo e possibilidade. Os alunos entendem a relevância do profissional e a nobreza de seu trabalho. Porém, acreditam que a o educador é desvalorizado e desrespeitado e sua profissão é frustrante e repleta de dificuldades”, argumenta a responsável pela pesquisa, Bernardete Gatti, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.

O paradoxo trazido pela especialista traz um aspecto positivo nas entrelinhas. Apesar de não se sentirem compelidos para o trabalho em sala de aula, reconhecem o professor como fundamental na formação. “De modo geral, todos os estudantes mostraram muita consciência dos problemas educacionais, não apenas deles, mas do país”, lembra Bernardete.

Déficit

O resultado prático do pouco estímulo à carreira do professor é transparente:
a demanda por profissionais é sensivelmente maior do que a oferta. Segundo estimativas do Inep, do Ministério da Educação, o déficit de professores com formação adequada à área que lecionam chega a 710 mil no ensino médio e nas séries finais do ensino fundamental.

Como esses professores são substituídos precária e temporariamente por pessoas não qualificadas para o cargo, existe no país o que se chama de “escassez oculta”. Afinal, no papel, a aula existe; uma espécie de auto-engano, no qual sofre o educando.

Em áreas como a de Física, o porcentual de docentes graduados no campo de saber específico é de apenas 25,2%. Na de Química, o total é de 38,2%.

Esse panorama se mostra ainda mais dramático se considerado que 41% do corpo docente brasileiro têm mais de 41 anos e está próximo da aposentadoria. Os últimos Censos Escolares da Educação Básica mostraram que o número de aposentadorias tende a superar o número de formandos nos próximos anos.

Resultados práticos

Com esses dados, não é difícil entender porque, nem mesmo a escola tem atraído seus alunos. Segundo o Censo Escolar de 2006, do Ministério da Educação (MEC), do total da população entre 15 e 17 anos (cerca de 10 milhões), 3,6 milhões matricularam-se no ensino médio – 1 milhão sequer havia concluído do ensino fundamental.

Com a evasão, apenas 1,8 milhão se formou. Quando analisado o comportamento dos jovens de 18 a 24 anos, os dados são ainda mais desastrosos: 68% não freqüentam a escola. Destes, 34% sequer trabalham.

“Hoje faltam profissionais para uma série de postos de trabalho. Essa tendência tende a se agravar futuramente, se não houver ações para enfrentar o problema, pois a qualificação de um profissional prescinde no mínimo do ensino médio completo. Para um país como o Brasil, que pretende crescer, esse é um sério entrave”, analisa a diretora-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel,

Patrocinado pela Abril Educação, o Instituto Unibanco e o Itaú BBA, o estudo Atratividade da Carreira Docente no Brasil pode ser acessado livremente por interessados.

* Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife)

Caatinga teve 16 mil quilômetros quadrados desmatados em seis anos

Luciane Kohlmann – CANAL RURAL

A Caatinga perdeu mais de 16 mil quilômetros quadrados de mata em seis anos, o equivalente a 2% da área total. Mas o maior problema é que quase a metade da vegetação típica do nordeste brasileiro não existe mais.

O balanço do Ministério do Meio Ambiente mostra que, entre 2002 e 2008, Bahia e Ceará foram os Estados que mais desmataram a Caatinga.

As cidades que lideram o ranking de destruição do bioma são:

1 – Acopiara (CE)
2 – Tauá (CE)
3 – Bom Jesus da Lapa (BA)
4 – Campo Formoso (BA)
5 – Boa Viagem (CE)

A produção de lenha e de carvão foram as grandes responsáveis pelo desmatamento da Caatinga, segundo o governo federal. Em seguida, aparece a pecuária bovina que, ao contrário da criação de cabras e ovelhas, acaba destruindo totalmente a vegetação. O Ministério pretende lançar até 28 de abril, Dia Nacional da Caatinga, um plano para preservar essa vegetação.

– Não haverá solução para a defesa da caatinga sem mudar a matriz energética, com o uso de energia eólica, de pequenas centrais hidrelétricas e do gás natural. Tudo isso tem que ser pensado como alternativas para ter atividade econômica, que gere emprego e renda sem destruir a Caatinga num ritmo de 16 mil quilômetros quadrados em seis anos – diz o ministro Carlos Minc.

Nesta quarta, dia 4, começa em Juazeiro, na Bahia, e em Petrolina, em Pernambuco, um encontro entre os governos federal e dos Estados da região Nordeste, além de produtores e bancos para discutir o combate ao desmatamento da Caatinga.

Surge no Piauí o maior parque de caatinga do Brasil

Fonte: O Globo – 24 fev 2010

O Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí, vai anexar 300 mil hectares de terra a partir de março, tornando-se a maior área de preservação de caatinga no Brasil. No total, serão mais de 802 mil hectares de um bioma único no mundo, onde a terra, seca na maior parte do ano, faz surgir plantas de raízes fortes e profundas e animais resistentes.

A área a ser incorporada é a da Serra Vermelha, uma grande chapada de 4.900 km quadrados que abriga água que não se vê. Estão nela as nascentes do Rio Piauí, onde a água só corre nos períodos de chuva, e do Rio Itaueira, onde a calha, sempre seca, forma um corredor de absorção de toda a chuva que cai na região.

Sem que se aviste a olho nu, este rio sem água abastece aquele que é um dos maiores lençóis freáticos do país, o do Vale do Gurgueia, e grandes lagoas piauienses, como a Lagoa do Rio Grande.

– O chapadão funciona como uma enorme esponja. Absorve a água e abastece rios e lagoas da região – explica José Wilmington Paes Landim Ribeiro, agrônomo que dirige o Parque das Confusões desde 1999.

Para se ter uma idéia, o Vale do Gurgueia inclui poços que jorram água a 60 metros de altura. Conhecidos como ‘poços jorrantes’, eles foram abertos na década de 70, quando exploradores perfuraram a região atrás de petróleo e descobriram ali o líquido bem mais precioso.

Sem valor imediato para a descoberta, a água jorrou a céu aberto por 30 anos no meio do semiárido, conhecido justamente pela carência dela. Só recentemente foram providenciados registros para conter o desperdício.

Dois municípios vão doar terras

Criado em 1998, o Parque Nacional da Serra das Confusões abrange atualmente, com seus 502.411 hectares, terras de sete municípios – Jurema, Tamburil do Piaui, Canto do Buriti, Alvorada do Gurgueia, Cristino Castro, Bom Jesus e Guaribas – este último considerado exemplo da pobreza no país, por ter o menor PIB per capita, e, por isso mesmo, escolhido para o lançamento do Programa Fome Zero.

Com a nova área a ser anexada, serão incorporadas partes dos municípios de Bom Jesus – o maior doador de terra para a ampliação – e Santa Luz.

A delimitação da área, já negociada entre os governos federal e do Piauí, deve ficar pronta até o início de março, a tempo de aproveitar uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao estado para que o decreto seja assinado.

A idéia é que o novo perímetro do parque contorne os bolsões comunitários, evitando desapropriações desnecessárias e pendências por ocupações a serem indenizadas.

Em todo o Nordeste, apenas um parque hoje é maior do que o da Serra das Confusões. Trata-se do Parque das Nascentes do Rio Parnaíba, com sede no Piauí e que abrange parte dos estados da Bahia, Maranhão e Tocantins. São 733 hectares. O bioma, porém, é o cerrado.

Outros parques de caatinga são o da Serra da Capivara (Piauí), Catimbau (Pernambuco), Chapada Diamantina (Bahia) e Cavernas Peruaçu (Minas Gerais). Juntos, porém, eles somam cerca de 400 hectares, apenas metade da nova área do Parque Nacional das Confusões

– O país está devendo muito para a proteção da caatinga. É o bioma mais alterado pela ação do homem e nunca se deu muita importância a ele. Achavam que era um bioma pobre, sem muito a desvendar – diz Ribeiro.

Com a importância crescente dos temas ligados ao meio ambiente no planeta, os pesquisadores começaram a perceber que a caatinga, única no mundo, abriga espécies que nenhum outro lugar é capaz de acolher.

Castigada pelo clima, a flora é rica. São cerca de 930 espécies lenhosas, herbáceas, de cactos ou bromélias. Nos períodos de seca, as folhas de muitas delas caem justamente para evitar transpiração e perda de água. As raízes são profundas e exuberantes, capazes de captar umidade na maior profundidade possível.

A fauna é de bichos fortes. O Carcará, árvore de rapina, é uma delas. Os lagartos que seguem a cor da vegetação para se camuflar durante o inverno e a seca são, pelo menos, de 47 espécies – sete deles sem pés. A mais recente encontrada está sendo descrita por pesquisadores da USP e chama-se Calyptommatus confusionibus. Só de serpentes, são 45 espécies.

Das 18 espécies de aves endêmicas da caatinga, 13 estão presentes do Parque da Serra das Confusões. Há ainda o veado catingueiro, a onça parda, o tamanduá e o tatu-bola, muitos na lista de ameaçados de extinção.

– A caatinga, depois de anos de esquecimento, tem agora prioridade máxima de preservação para que sua biodiversidade seja protegida – diz o diretor do parque.

A pressão da soja

Rodeado pela agricultura familiar e de subsistência, o Parque Nacional da Serra das Confusões vai crescer para não diminuir. Esta é a tese das autoridades e ambientalistas envolvidos no projeto.

A paisagem cinematográfica, repleta de cânions, vales, formações rochosas, grutas e sítios arqueológicos sofreu, ao longo do tempo, a ação das carvoarias clandestinas.

A vegetação da caatinga, à primeira vista escassa, sempre abasteceu fornos industriais no Nordeste, onde o carvão ainda hoje é importante matriz energética. O corte, porém, era com machados, feitos por gente que nasceu e sempre morou ali e tem no carvão e na lenha única fonte de renda.

A ameaça, agora, vem da soja. Dono de plantações mais recentes e consideradas das mais produtivas de todo o país, o Piauí corre o risco de ver a expansão da soja passar das áreas de cerrado para as de caatinga por causa da especulação em torno do preço da terra.

As chamadas terras de altitude, não exploradas pela agricultura familiar, para os grandes produtores de soja se tornam uma nova fronteira de ocupação. Com plantio e colheita mecanizados e uso de adubo em larga escala, fazendeiros de outros estados lançam olhos sobre o chão árido que, até agora, parecia ser só dos lagartos.

O preço compensa: a diferença entre o cerrado e a caatinga é de R$ 1.000 para R$ 50 por hectare.

O desmatamento e a interferência no bioma é a principal questão.

– Na medida em que desmata e o solo deixa de absorver, a água vai correr em superfície e a esponja deixa de existir – explica Ribeiro, referindo-se ao chapadão da Serra Vermelha.

Turismo ecológico

No projeto do parque ampliado, a compensação financeira parece mais distante, mas pode incluir mais gente. No lugar de grandes fazendas mecanizadas, com uso restrito de mão-de-obra, o projeto propõe a criação de infraestrutura para o turismo ecológico, atraindo inicialmente os estrangeiros, já interessados na área da Serra da Capivara, diante apenas 80 km da Serra das Confusões na medida portão a portão.

Estruturas para turismo em grutas, trilhas e até museus a céu aberto nas áreas de sítios arqueológicos e pinturas rupestres estão em fase licitação.

– A preocupação maior é conter o avanço da soja em direção ao parque. Nossa obrigação é proteger a unidade – afirma Ribeiro.

O bioma

Segundo informações do Ibama, a caatinga corresponde a 6,83% do território nacional e se estende por 10 estados. A caatinga ocupa 100% do Ceará, 95% do Rio Grande do Norte, 92% da Paraíba, 83% de Pernambuco e 63% do Piauí. Na Bahia (54%), Alagoas (48%) e Sergipe (49%) corresponde a cerca de metade do território. Áreas menores estão em Minas Gerais (2%) e Maranhão (1%).

O termo Caatinga é originário do tupi-guarani e significa mata branca. Na seca, as folhas caem. No período de chuvas, ficam verdes. Os rios também são intermitentes e ficam secos durante parte do ano.

“Teologia da Libertação é traidora dos pobres e de sua real dignidade”, diz arcebispo emérito do RJ

Do Gaudium Press, 15 fev 10

O arcebispo emérito da arquidiocese do Rio de Janeiro, Cardeal Eugenio de Araujo Sales, em artigo publicado esta semana no site da arquidiocese, assinala o “apelo urgente” que o Papa Bento XVI endereçou ao episcopado brasileiro que esteve em visita ad limina ao pontífice no ano passado.

Embora esse apelo feito pelo Papa tenha sido dirigido aos bispos dos Regionais 3 e 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) durante a visita, o arcebispo emérito avalia que o apelo “não se limitou aos bispos que estavam presentes”, mas, como sempre nessas visitas, o recado do Papa se dirige ao “episcopado inteiro e a toda a Igreja no Brasil”.

De acordo o texto do cardeal, na visita dos bispos brasileiros, o pontífice recordou as circunstâncias prementes que 25 anos atrás exigiam uma clara orientação da Santa Sé no documento “Libertatis Nuntius” que, em sua primeira linha, afirma que o “Evangelho é a mensagem da liberdade e a força da libertação”.

Para Dom Eugenio Salles, daquele documento a Igreja recebia “grande luz”, mas não faltava “a animosidade dos que queriam receber e obscurecer e difamar essa doutrina”.

Bento XVI afirmou, continua Dom Eugenio Sales, com “palavras claras e sempre muito mais convidativas para uma reflexão serena do que repreensivas”, a gravidade da crise provocada por uma teologia que tinha, inicialmente, “motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores”, a doutrina chamada de Teologia da Libertação.

“O Papa lembrou a gravidade da crise, provocada, também e essencialmente na Igreja no Brasil, por uma teologia que tinha, em seu início, motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores. Tais rumos doutrinários da Teologia chamavam-se Teologia da Libertação”, observa Dom Eugenio.

Dessa forma, é tarefa de todos os pastores do episcopado brasileiro de acolher a palavra do Papa e se lembrarem da crise provocada na época que tornou quase “impossível o diálogo e a discussão serena”. Por causa disso, recorda Dom Eugenio Sales, a Igreja no Brasil, em alguns lugares, “sofre consequências dolorosas daqueles desvios”.

Dom Eugenio Sales reforça ainda mais as palavras de Bento XVI [que, por sua vez, citou as palavras de João Paulo II] quando recorda sua observação sobre a Teologia da Libertação. Para Bento XVI, a Teologia da Libertação “negligenciava a regra da Fé da Igreja que provém da unidade que o Espírito Santo estabeleceu entre a tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério vivo”.

“Os três não podem subsistir independentes entre si. Por isso, hoje ainda, as sequelas da Teologia da Libertação se mostram essencialmente ao nível da Eclesiologia, ao nível da vida e da união da Igreja. A Igreja continua enfraquecida, em algumas partes, pela rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia. Cria-se assim nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas”, diz a mensagem de Bento XVI destacada pelo cardeal em seu artigo.

Infelizmente, ressalta o cardeal, certas Teologias da Libertação caíram em um grave unilateralismo. “Para o Evangelho da libertação, é fundamental a libertação do pecado”, assinala. Muitas Teologias da Libertação se distanciaram do “verdadeiro Evangelho libertador”, diz. “Foram identificadas coisas muito boas com as graves questões sociais, culturais, econômicas e políticas, mas já não mostravam seu real enraizamento no Evangelho, embora vagamente citado, e chegaram até a apelar explicitamente à ‘análise marxista'”.

“Devem-se exigir não só palavras retóricas, mas ações que na prática se comprometem com cada pessoa, com cada comunidade e com a história”, afirmou o cardeal.

Tal compromisso não se enraíza na dignidade que Deus dá ao homem e se apresenta Libertadora e, dessa forma, a tal Teologia é, na realidade, “traidora dos pobres e de sua real dignidade”.

Bento XVI sabe, pondera o prelado, que muitos pontos da Teologia da Libertação estão ultrapassados e sabe também que a Igreja no Brasil sobre ainda “devastadoras sequelas nesse desvio doutrinário”.

Ao final, Dom Eugenio de Araujo Sales afirma ser “quase” um juramento a observação feita por Bento XVI ao conclamar os bispos e agentes de Pastoral de todo o Brasil que, “no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras da Santa Cruz”.

O estresse chegou ao sertão

José Avelange Oliveira*, no Portal Adital

Estamos incorporando de tal forma o ritmo do mundo ultramoderno que fazemos tudo com superficialidade, sejam as tarefas mais corriqueiras ou as mais profundas desta vida. Estudamos, conseguimos até ser aprovados; mas, pouco aprendemos. Oramos, temos até muitos compromissos religiosos; mas, pouco nos aprofundamos na experiência com Deus. Se não é assim, como explicar o fato de sermos ao mesmo tempo pessoas tão religiosas e às vezes tão egoístas e insensíveis frente à realidade dos pobres? São pobres de bens e pobres de atenção. Não lhes garantimos o pão cotidiano e muito menos uma palavra, um minuto de presença solidária, a eles que são os excluídos do sistema. Estamos por demais ocupados para refletir sobre esta urgente questão. Há movimentos eclesiais cujos membros efetuam visitas missionárias que costumam ser muito válidas, mas este tipo de iniciativa não pode ficar restrito às atividades meramente religiosas que às vezes tendem ao proselitismo.Acredito que nossa juventude seja bastante influenciada pela cultura dos grandes centros urbanos, disseminada país afora principalmente através da televisão e, por isso, não pensa a vida em comunidade, a não ser aquelas comunidades do Orkut, que têm lá seu valor, mas são o que são: virtuais.

Nesse sentido, já não temos tempo para os outros nem para nós mesmos, de maneira ideal. Pensamentos se sucedem na velocidade dos desejos instigados pela mídia. O que não está no filme, o que não é visto pela tevê nem se acha implícito na letra das músicas vulgares parece antiquado, démodé. Então, segue-se a busca imprudente da felicidade, que não raro termina em estresse e depressão.

Com isso, não pretendo negar a importância genuína do prazer nem vou esperar por uma geração de jovens beatos, como sonham alguns líderes conservadores que pronunciam sermões caducos em nossas igrejas modernas. Às vezes são, inclusive, jovens padres que falam como velhos conservadores. A intenção é boa, mas a eficácia do método é duvidosa.

Parece-me mais proveitoso ajudar as pessoas a integrar suas dimensões afetivas, religiosas e profissionais. Para tanto, é oportuno contar com psicólogos, educadores e artistas, mas principalmente com o próprio indivíduo. Enquanto não houver um reconhecimento íntimo de que estamos trilhando um caminho certo para o estresse, não vamos conseguir melhorar nem fazer melhor também a sociedade.

Tanta ansiedade por fazer e por vencer profissionalmente, afetivamente, traz os nervos à flor da pele, gera medo vago, que pode desembocar em distúrbio do pânico, um pânico que já se faz coletivo, até nestas cidades encravadas naquilo que um dia se chamou de sertão.

O sertão modernizou-se. Recebe os sinais das parabólicas e das antenas de internet, gigabytes de muita pressa, de modismos e pouco tempo dedicado à educação, inclusive à educação dos próprios hábitos. Mas, quem de nós estará imune às novidades boas e ruins de nosso século?

O estresse deve ser individualmente considerado, remoído, orado no silêncio de nosso quarto, e coletivamente discutido para que as pessoas não se tornem escravas de um estilo de vida que traz em uma das mãos o encantamento tecnológico e na outra a aflição da saúde física e mental ameaçada pela pressa, pelo julgamento superficial das coisas e das outras pessoas.

Não  é assim que temos atravessado nossas existências? Pouca leitura, meditação quase nula, roupas apertadas e contas a pagar e mais aquela comum ilusão de que os anos já não passam devagar, como acontecia em nossa infância. “Viu como esta semana passou voando?” É o que todos dizem. Nada disso!

É verdade. O planeta está ameaçado, mas ainda não foi alterado o curso do tempo, a não ser dentro de cada um. Portanto, compete a cada um cuidar dos próprios pensamentos; controlar melhor o próprio tempo, conforme já observou Pe. Roque Schneider. Segundo ele, o tempo é como uma mala. Bem arrumada, cabe mais. Um “mais” que bem pode ser “menos”, na medida em que escolhemos o que é realmente importante e desprezamos o que é superficial para a jornada. Este é um cuidado que hoje se faz necessário, até mesmo aqui, no sertão.

* Animador da Fraternidade Ecumênica Sal & Luz, licenciado em Letras (Univ. Estadual da Bahia), com qualificação em Psicologia Social (Univ. Aberta do Brasil) e em Teologia (Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana)

Autor de violência sexual é próximo da vítima, alertam especialistas

Da Agência Brasil, 7 fev 10

Autores de crimes sexuais costumam usar estratégias para seduzir e atrair crianças e adolescentes. Por isso, os pais devem estar sempre alerta em relação às pessoas que se aproximam de seus filhos.

“O abusador é sempre amigo. Está dentro de casa, é uma pessoa dócil. Qualquer um põe a mão no fogo por ele, que não deixa rastro. É diferente do estuprador, que é truculento”, alerta o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga casos de abuso e exploração sexual, pornografia infantil e tráfico de crianças e adolescentes.

De acordo com a delegada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Brasília, Gláucia Cristina Ésper, os pedófilos “não têm cara de tarado, não são agressores natos e estão muito próximos”.

“O pedófilo frequenta os lugares onde há muita criança, gosta de comer em fast food, lê coisas de criança, dá presentes e joga videogame. Geralmente, ele não teve uma infância bem resolvida. Tem uma vida meio infantil também, e estar naquele meio facilita pegar a sua presa”, diz a delegada.

Segundo a historiadora e socióloga Adriana Miranda, as redes de exploração sexual também fazem uso de atrativos para se aproximar das crianças. “O que tem se observado é que dentro da rede de exploração a pessoa que se aproxima da criança é sempre uma mulher bem vestida, que tem carro, celular e aparelho MP3.”

Para a psicóloga Karen Michel Esber, o autor de violência sexual usa várias formas para se aproximar da vítima: desde a sedução até a força física. A especialista chama a atenção para a educação das crianças. “Se houvesse mais conversa, existiria menos abuso”, afirma a psicóloga ao ressaltar que as crianças deveriam ser educadas para prevenir, identificar e avisar alguém de confiança sobre o assédio, inclusive quando ocorre dentro de casa.

De acordo com a especialista, as crianças precisam saber distinguir situações de assédio e estar preparadas, inclusive, para a tentativa de abuso familiar. “Esse toque que meu pai está fazendo, não é o de que eu gosto. Então eu vou falar com a minha mãe que, naquele dia, me disse que se eu sentisse o que não gosto, eu deveria falar com ela.”

A orientação da psicóloga Mônica Café é que os pais conversem mais sobre sexualidade com seus filhos e trabalhem a autonomia da criança. “O que vai impedir o abuso é a autonomia da criança. Ela vai ter que dizer não. Os autores de violência sexual vão às crianças que são mais frágeis.”

Karen Asber confirma que a iniciativa e o protagonismo das crianças podem salvá-las. Ela se lembra de uma entrevista que fez com um pedófilo preso em Goiânia que afirmou: “você acha que eu abuso de qualquer menino? Eu abuso do quietinho e reprimido. O espertinho vai contar”.

De acordo com Valéria Brain, também psicóloga, o comportamento da criança muda após o abuso. “Piora o rendimento escolar, ela passa a ter medo de certos adultos, tem pesadelo, regressão de comportamento [como fazer xixi na cama] ou pode até mesmo ficar com a sexualidade exacerbada.”

A psiquiatra do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Lia Rodrigues Lopes admite que as vítimas de violência sexual têm mais riscos de desenvolver transtornos mentais, como depressão, humor bipolar e ansiedade, e, no futuro, reproduzir os abusos. “Existe uma maior chance, sim, de o pedófilo de hoje ter sido a vítima no passado”, afirma.

Número de abortos legais cai 42% entre 2008 e 2009

Por Ullisses Campbell, no Correio Braziliense, 8 fev 10

São Paulo — Um levantamento inédito feito pelo Ministério da Saúde revela que o número de mulheres que procuram o Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer aborto com autorização judicial caiu 42% entre os anos de 2008 e 2009.

Na avaliação do próprio governo, o número de abortos legais realizados no Brasil vem reduzindo ano a ano desde 2005 por causa do aumento na distribuição de contraceptivos, como camisinhas, anticoncepcionais e principalmente a pílula do dia seguinte. Só no ano passado, o Ministério da Saúde entregou 152 mil cartelas de contraceptivo de emergência.

Comparando com o ano anterior, o aumento na distribuição gratuita desse medicamento foi de 508%. “A tendência é aumentar ainda mais o acesso das mulheres às pílulas do dia seguinte para evitar gravidez indesejada por causa de acidentes de percursos”, avisa Lena Peres, coordenadora da área técnica da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde.

Para ter acesso à pílula que evita gravidez, Lena diz que a paciente precisa ter em mãos uma receita médica e seguir até o posto de saúde mais próximo. No consultório, os profissionais dão a receita praticamente a todas as mulheres de 15 a 49 anos que desejam evitar a gravidez. “Elas geralmente dizem que não tinham camisinha na hora do sexo e que ficaram com receio de engravidar”, conta o médico Ricardo Porto, do posto de saúde da Vila Mariana, São Paulo.

A advogada brasiliense C.S.R, 28 anos, recorre à pílula do dia seguinte sempre que se esquece de tomar o anticoncepcional ou quando o namorado não está com camisinha. Em todo o ano passado, a jovem tomou três vezes a pílula. Todas compradas em farmácias e sem receita médica. “Não estou pensando em ter filhos agora porque ainda estou me firmando profissionalmente”, justifica.

Para o médico ginecologista Jefferson Drezett, assessor do Comitê Latinoamericano de Anticoncepção de Emergência, a distribuição de pílula do dia seguinte nos postos de saúde vai fazer cair, no futuro, uma estatística negativa. “A cada dois dias, uma mulher morre no Brasil por causa de abortos feitos clandestinamente”, diz.

Recurso

A designer A.A.D, 31 anos, recorreu a um aborto quando tinha 17 anos. O namorado, então com 19 anos, ficou assustado quando ela confirmou a gravidez, que estava em seis semanas. Assustada com a possibilidade de ser mãe muito jovem e apavorada porque o namorado não ia assumir o bebê, decidiu interromper a gestação. O namorado foi à farmácia e comprou Citotec, um abortivo comum. “Tomei e fui deitar. Em seguida, tive uma contração no útero e muita cólica. Fui ao banheiro, sentei-me no vaso sanitário e minha menstruação veio de uma só vez. (…) Não tive coragem de olhar para o feto. Sabia que existia uma criança ali. Quase não consegui dar a descarga”, relata emocionada. A designer carregou culpa por vários anos até engravidar pela segunda vez e ter uma filha.

Membro da Comissão de Cidadania e Reprodução, uma entidade não governamental, a socióloga Thaís Lapa, comemora o fato de os abortos estarem em queda no SUS graças à distribuição das pílulas. Mas ela faz o seguinte alerta: é possível que a diminuição do número de abortos possa estar relacionada à falta de hospitais que ofereçam o procedimento de interrupção de gravidez legal. Atualmente, apenas 60 hospitais estão credenciados pelo governo para a realização de “esvaziamento uterino”, termo usado pelo Ministério da Saúde.

“Acho que esse dado que mostra a queda de abortos deveria ser melhor analisado, até porque aumentou o número de curetagens”, diz Thaís. Estatísticas processadas pelo departamento da Saúde da Mulher apontam que o número de curetagem feita em postos de atendimento público aumentou 37% entre 2008 e 2009. Geralmente esse procedimento ocorre quando a mulher tenta fazer aborto em casa ou em clínicas clandestinas e acaba tendo complicações.

“O Brasil é um estado laico. A Igreja Católica tem o direito de se manifestar, mas o governo tem o dever de amparar as mulheres que não desejam ter filhos”

Lena Peres, coordenadora da área de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde

“O Ministério da Saúde está enganando a população porque a pílula do dia seguinte é um método tão abortivo quanto o Citotec”

Dom Antônio Duarte, médico, bispo auxiliar do Rio e membro da Pastoral da Vida

Igreja discorda das estatísticas

O aumento na distribuição de pílulas do dia seguinte pelo governo federal não é motivo de comemoração entre quem é contra o aborto. A entidade que mais critica é a Igreja Católica. O bispo auxiliar do Rio de Janeiro e membro da Pastoral da Vida e Família da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Antônio Augusto Duarte, é médico. Ele diz que realizou uma pesquisa científica no laboratório que fabrica a pílula distribuída pelo governo e concluiu que ela é tão abortiva quanto o Citotec. “O governo deveria dar todas as informações científicas para não enganar a população, já tão desamparada nos seus direitos à verdade, à segurança e à saúde”, critica o religioso.

Segundo a pesquisa de dom Antônio, a pílula do dia seguinte age impedindo que o esperma chegue até a parede uterina usando os mesmos mecanismos do Citotec numa proporção menor. “O ciclo da vida começa na fecundação. Usar a pílula é um microaborto”, define o religioso. Por outro lado, o bispo ressalta que a Igreja perdoa e ampara as mulheres que se submetem à contracepção de emergência.

Na avaliação de dom Antônio, o Ministério Público vem conseguindo diminuir o número de abortos legais feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas isso não significa que estejam ocorrendo menos interrupções de gravidez no país. “Todo mundo sabe que as mulheres estão fazendo abortos em casa tomando remédios e usando métodos rudimentares.”

Como o SUS só realiza aborto com autorização judicial, dom Antônio argumenta que os juízes podem ter negado mais autorização em 2009 do que no ano anterior, o que faz com que as mulheres recorram a outros meios que não sejam o hospital público.

Segundo uma pesquisa feita pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em 781 processos judiciais de todo o país, 31% das ações que tratam de aborto no Brasil referem-se a interrupções de gravidez causadas por violência contra gestantes. As ações pesquisadas tramitavam pelos Tribunais de Justiça de todos os estados, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF) entre 2001 e 2006.

Do total de processos vinculando aborto à violência, 67% eram da Região Sudeste, 20% da Sul, 7% da Centro-Oeste, 4% da Nordeste e 2% da Norte. Segundo o estudo, essa relação está diretamente ligada ao maior acesso ao Judiciário nos estados mais desenvolvidos do país. Quanto à tipificação penal, 63% tratavam de “homicídio e aborto não consentido”. Em segundo lugar destacavam-se casos de “violência sexual de criança ou adolescente até 14 anos e aborto”, com 10%.

Consumo de crack cresce sem controle no Brasil

Fonte: O Globo, 7 fev 10

O crack, droga derivada da cocaína, está se tornando um flagelo nacional, espalhada pelo país em diferentes classes sociais e tomando até salas de aula, contam Catarina Alencastro e Odilon Rios em reportagem publicada pelo GLOBO neste domingo.

Em Maceió, a imagem dos santos despedaçados, num altar da escola estadual Benício Dantas, virou o símbolo da derrota dos professores na luta contra o tráfico de drogas. Invadida várias vezes, a escola já teve salas, pavilhões, corredores e banheiros destruídos e reconstruídos várias vezes. Há dois registros de tiroteio na escola, o ginásio de esportes virou uma cracolândia, e os alunos fumam maconha nas salas de aula. No turno da tarde, 25% dos estudantes desistiram de estudar na escola ano passado. Casos como esse são rotina em Maceió. Dados do Ministério Público Estadual indicam que 30% dos alunos das 120 escolas da rede pública estadual na capital alagoana, entre 10 e 20 anos, estão envolvidos com o tráfico ou viraram viciados.

Os dados oficiais mais recentes mostram que essa tragédia se repete em outras capitais e cidades brasileiras. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em sua última publicação, revelou um aumento na circulação do crack no Brasil. Em 2002, 200 quilos da droga foram apreendidos. Em 2007 – último dado disponível – foram 578 quilos apreendidos. O montante equivale a 81,7% do crack apreendido na América do Sul.

Em todo o país, os serviços de atendimento a dependentes químicos relatam que mais e mais pessoas, independentemente da classe social, vêm nos últimos anos procurando ajuda para se livrar do vício do crack. A droga já é a segunda maior causa de procura por atendimento nos centros do SUS especializados em abuso de álcool e drogas, o CAPS-AD. Nesses locais, o crack só perde para a bebida.

– A rede de tratamento em algumas regiões foi surpreendida pelo aumento da procura pelo tratamento (do crack), principalmente nas grandes cidades – constata Pedro Gabriel Delgado, coordenador do Programa de Saúde Mental do Ministério da Saúde.

No Rio, o Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas (Projad), ligado ao Instituto de Psiquiatria da UFRJ, tem dados preliminares de um estudo ainda não publicado. Nele, constata-se que, em março de 2007, só 15% dos entrevistados haviam experimentado o crack. Em junho de 2008, esse percentual subiu para 25%. O número de pessoas que tinha usado a droga nos últimos 30 dias em março de 2007 não chegava a 1%; em junho de 2008, eram 10%. A prefeitura do Rio estima que pelo menos 800 pessoas em situação de risco (moradores de rua, principalmente) são viciadas em crack.

Em Salvador, de 2006 a 2009, 5.618 novos usuários passaram a ser atendidos pelo Programa de Redução de Danos da Universidade Federal da Bahia, um dos principais centros de estudos sobre o assunto. O alvo da pesquisa foi a população de rua e se refere só aos que aceitaram começar um processo para abandonar o vício. Para se ter uma ideia do problema, em 2006, só 26% dos novos usuários de drogas atendidos eram consumidores de crack. Em 2009, a proporção pulou para 34%; em 2008, chegou a 37,8%. Já uma pesquisa de amostra realizada com pacientes internados por dependência química, em 2006, em Porto Alegre, revelou que 43% estavam ali por conta do crack.

Um dos motivos do aumento do consumo da droga é que muitos usuários de cocaína injetável migraram para o crack, após o boom da epidemia de HIV que surpreendeu esse grupo, diz o professor Félix Henrique Kessler, vice-diretor do Centro de Pesquisa em álcool e drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

” Depois que se fica dependente de crack, é difícil sair. O melhor é não entrar nessa “

– Quase todos os usuários de cocaína injetável migraram para o crack – diz.

Os dados oficiais mais recentes sobre o tema são de 2005 e dão conta de que pelo menos 380 mil brasileiros fumavam, regularmente, a pedra feita com o subproduto da cocaína. Para combater o problema, o Ministério da Saúde aposta em diversificar o tratamento. A abordagem de usuários nas ruas é uma das estratégias. A exemplo do que ocorre em Salvador, Rio e outras 12 capitais montarão consultórios de rua para atrair pacientes que resistem a procurar ajuda.

– Depois que se fica dependente de crack, é difícil sair. O melhor é não entrar nessa – alerta o professor Kessler.

Operação do GOE prende 10 índios Potiguaras

O Norte, 4 fev 2010

Operação do GOE prende 10 índios potiguaras acusados latrocínios e assaltos no litoral

A Operação “Potiguara” prendeu no início da manhã desta quinta-feira, dia 4, um grupo formado por 10 índios de aldeias do litoral norte do estado acusados de assaltos e latrocínios. Um dos presos é filho de um cacique. A ação foi realizada por policiais civis e miltiares.

Os índios aterrorizavam principalmente a região que envolve os municípios de Mataraca, Marcação, Rio Tinto e Baia da Traição.

O delegado Valber Virgulino, que comanda o Grupo de Operações Especiais (GOE), informou que os índios foram levados para a Central de Polícia, em João Pessoa.

As prisões ocorreram com autorização da Justiça. Foram expedidos 13 mandados de prisão, sendo que 10 foram cumpridos. Os índios moravam em aldeias dos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e Mataraca. O delegado informou que uma arma foi apreendida na casa de um dos acusados.

Na Operação Potiguara também foi encontrada uma arma que teria sido utilizada em um dos crimes praticados pelo grupo. Segundo a polícia, há indícios de que os acusados atuavam em conjunto, mas ainda não é possível caracterizar formação de quadrilha.

Paraíba tem municípios onde mais de 50% das crianças não possuem certidão de nascimento

Correio Braziliense, 03 fev 2010

Uma em cada seis crianças na Paraíba não possui certidão de nascimento. A situação é ainda mais grave no município de Areia de Baraúna, no Sertão, distante 257,8 quilômetros de João Pessoa, onde 53,5% das crianças não são registradas ao nascer.

Os números são da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que foram repassados pela Secretaria de Desenvolvimento Humano do Estado ao Ministério Público da Paraíba.

Apesar das campanhas realizadas no País para erradicar o problema do sub-registro de nascimentos, o estado da Paraíba o segundo na região Nordeste a apresentar a menor queda no percentual de crianças sem registro. Entre 2000 e 2007, o estado reduziu de 27,9% para 16,8%.

Para combater a situação atual, a coordenação do Centro Operacional de Apoio às Promotorias de João Pessoa (1° Caop) elaborou uma proposta de termo de compromisso de ajustamento de conduta que obriga os gestores municipais a desenvolverem ações permanentes para reverter o problema.

Além disso, o termo de compromisso quer que no prazo de 40 dias depois da assinatura do termo, toda a logística necessária para combater o sub-registro de nascimento esteja funcionando. O modelo do TAC será disponibilizado a todos os promotores de Justiça que atuam no Estado para que eles acionem os prefeitos.

O promotor de Justiça que coordena o 1° Caop, Adrio Nobre Leite, frisou que o TAC é uma medida que reforça a campanha de mobilização nacional contra o sub-registro e as medidas realizadas pelo Comitê Gestor Estadual.

Adrio Nobre Leite ressaltou que “a certidão de nascimento é um documento fundamental para todo brasileiro, passo inicial para o exercício da cidadania e, portanto, para garantia do princípio da dignidade da pessoa humana, permitindo o exercício de diversos direitos fundamentais consagrados constitucionalmente, inclusive através da perspectiva de obtenção de outros documentos”.

Pela proposta do MP, os órgãos municipais terão que identificar e diagnosticar as pessoas que ainda não têm registro de nascimento. Os trabalhos serão acompanhados e coordenados pelos comitês gestores referidos na Campanha de Mobilização Nacional pela Certidão de Nascimento e Documentação Básica ou por equipe designada, caso o município não disponha de comitê.

Além disso, as prefeituras também deverão mobilizar os agentes públicos que atuam nos programas e estratégias governamentais voltados para o atendimento à população (como os Centros de Referência de Assistência Social, o Programa Brasil Alfabetizado e Saúde da Família, por exemplo) na ação de diagnóstico sobre a existência de pessoas sem registro civil de nascimento e encaminhem os dados ao Comitê Gestor.

Na proposta do MP, a cada 30 dias, as secretarias municipais de Saúde encaminharão ao comitê informações sobre as pessoas nascidas vivas. O objetivo é que com essas informações seja feita a verificação da realização do registro de nascimento junto aos cartórios ou para que sejam tomadas as medidas capazes de garantir esse direito gratuitamente e no local de residência do interessado.

Os municípios que assinarem o TAC e descumprirem as obrigações serão acionados judicialmente pelo Ministério Público e pagarão multa diária por cada dia de descumprimento.

Brasil tem diferenças dentro de uma mesma classe social, diz pesquisa

Marli Moreira, da Agência Brasil, 3 fev 2010

Brasília – A definição das classes sociais em A, B,C, D e E escondem características que podem ser essenciais para melhor definir um novo produto de consumo ou mesmo onde e como os órgãos públicos devem realizar obras de serviços à população como um hospital. A constatação foi feita pela Serasa Experian, empresa de consultoria do setor privado, que realizou um estudo semelhante ao que já existe em 29 países.

Por meio do cruzamento de dados cadastrais da companhia, do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e da Pesquisa Nacional de Amostragem Domicialiar (PNAD), foi feita uma espécie de radiografia social.

Nesse mapeamento, foram identificados 39 segmentos distintos dentro de dez grupos ( A: Ricos, sofisticados e influentes; B: Prósperos e moradores urbanos; C: Assalariados urbanos; D: Empreendedores e comerciantes; E: Aspirantes sociais; F: Periferia jovem; G: Envelhecendo na periferia; H: Aposentadoria tranquila; I: Envelhecendo no interior; J: Brasil rural.

Todos foram separados em função da renda, da geografia, da demografia, de padrões estabelecidos, e estilo de vida. Entre eles estão moradores ribeirinhos da Grande Amazônia (1,47%), um dos sete do grupo Brasil Rural; aposentados rurais do Nordeste (4,03%), um dos três do grupo Envelhecendo no Interior e jovens trabalhadores de baixa renda (3,55%), um dos seis do grupo F (Periferia Jovem).

Segundo Juliano Marcílio, responsável pelo trabalho, o resultado é uma ferramenta de múltiplas aplicações. “Tanto pode ser usada por empresas quanto órgãos públicos”, disse ele, defendendo que “toda a empresa precisa entender melhor o ambiente e o consumidor final”.

Quanto ao uso por entidades governamentais, ele informou que uma campanha antitabagista, desenvolvida na Inglaterra, foi definida com base no mesmo tipo de conjunto de informações. Ela afirmou que “quando se fala da periferia se cria um arquétipo. Mas na nossa segmentação construímos nove segmentos distintos de moradores com anseios e desejos característicos”.

A socióloga Cristina Panella, um dos dez professores da Universidade de São Paulo que analisaram os dados, disse que o estudo permite “aumentar, consideravelmente, o entendimento dos diferentes grupos na sociedade brasileira e não só por uma única ótica”. Para ela, isso pode ajudar nas estratégias de marketing não apenas por partes das empresas do setor privado quanto de órgãos públicos.

Nesse trabalho, segundo ela, foi possível entender melhor, por exemplo, algumas mudanças sociais com o ingresso de famílias de baixa renda na classe média. Ela observou que em uma mesma residência, às vezes, passam a morar novos agregados da família e isso reduz o gasto médio da moradia.