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Perguntas e Respostas sobre a Síria ~ por Luís Leiria

Afinal, quem são os alauítas, a seita religiosa predominante no regime sírio? E o que é o Baath? É normal que numa república haja sucessão dinástica? O regime sírio é “progressista? Eis algumas das perguntas a que procuramos responder.

[Luis Leiria, Esquerda.net, 29 fev 12]

Quando foram definidas as atuais fronteiras da Síria?

Depois da Primeira Guerra Mundial, que marcou o fim do Império Otomano, França e Grã-Bretanha partilharam entre si a região, dividida a régua e esquadro em negociações secretas que decorreram em 1916, e que tiveram como representantes de cada lado os diplomatas François Georges-Picot e Sir Mark Sykes. O acordo Sykes-Picot, como ficou conhecido, criou as fronteiras da atual Síria, que são apenas uma parte da Síria histórica. Esta compreendia, além da Síria atual, o Líbano, a Jordânia e a Palestina. Depois da entrada das tropas francesas em Damasco em 1920, começou o mandato francês sobre o território, que só terminou no final da II Guerra Mundial.

Quando ocorreu a independência da Síria?

Em 1946, depois de longas negociações com os franceses. Hachem al-Atassi foi o primeiro presidente sírio, país que, desde o início, se conformou como uma república. Continue lendo

Hospitais sírios se converteram em centros de tortura, diz ONU [inclui vídeo]

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Alguns hospitais sírios se transformaram em centros de tortura para os feridos nos protestos contra o regime de Bashar al Assad, afirmou nesta terça-feira o Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas.

[FolhaSP/EFE, 6 mar 12] Genebra – “Em vários casos, as missões de investigação da ONU comprovaram que os hospitais viraram centros de tortura para os feridos nos conflitos”, declarou em entrevista coletiva Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos.

Ele confirmou também que as autoridades exigem dos funcionários dos hospitais que “não tratem ou curem” os feridos que participaram dos protestos.

“As ambulâncias foram orientadas ainda a levar os feridos para os centros de detenção em vez de os hospitais”, revelou.

‘CUMPLICIDADE’

Colville afirmou que foi comprovada “a cumplicidade” de alguns médicos nos processos de repressão nos hospitais.
Como essa situação era conhecida da população e das equipes médicas, nas últimas semanas foram criadas clínicas e centros de saúde clandestinos em garagens e apartamentos.

“Infelizmente, parece que as forças de segurança descobriram algumas dessas clínicas e também as transformaram em centros de tortura”, explicou Colville.

O porta-voz lembrou que a tortura não é uma “novidade” na Síria, já que havia sido legitimada desde 1963 “sob o escudo da permanente lei de emergência”.

“Maus-tratos, tortura psicológica, suspensão do corpo pelos pés e confinamento são comuns nas últimas quatro décadas na Síria, uma situação que se agravou a níveis indescritíveis nos últimos meses”.

O porta-voz lembrou que a tortura, quando é sistemática, constitui crime contra a humanidade.

Exército sírio bombardeia ponte de fuga para o Líbano

O Exército sírio executou um grande ataque contra a cidade de Hirak, berço da rebelião, e bombardeou uma ponte pela qual transita a maioria dos habitantes que fogem para o Líbano, informaram ONGs ligadas à oposição.

[FolhaSP/France Presse, 6 mar 12] Damasco – A pressão militar contra os rebeldes acontece quatro dias antes da viagem a Damasco de Kofi Annan, emissário da ONU e da Liga Árabe, para negociar um cessar-fogo.

Durante a manhã, o Exército bombardeou na localidade de Rableh uma ponte usada pelos sírios em fuga para o Líbano, denunciou o OSDH (Observatório Sírio dos Direitos Humanos).

O bombardeio não provocou vítimas, mas inutilizou a ponte, que cruza o rio Orontes, perto da fronteira libanesa. Continue lendo

Governo sírio bloqueia serviço de mensagens instantâneas

Serviço de mensagens instantâneas gratuitas foi  bloqueado no país; ‘dia triste para a liberdade’, diz empresa

[Estadão/EFE, 5 mar 12] Madri – O popular serviço de mensagem instantânea WhatsApp foi bloqueado na Síria, informou nesta segunda-feira, 5, a própria companhia em sua conta oficial no Twitter. A empresa disse que hoje é “um dia triste para a liberdade”, mas não informou se a medida era temporária ou definitiva.

Serviços de mensagem deste tipo estão revolucionando a comunicação e vem desempenhando um papel importante na mobilização de cidadãos contra governos, o que vem ocorrendo com frequencia na Primavera Árabe.

Esta não é a primeira vez que regimes autoritários bloqueiam este tipo de serviço.

A popularidade do dispositivo é tanta que as principais operadoras de telefonia celular do mundo deverão oferecer a partir do ano que vem um sistema similar ao WhatsApp que funcionaria na maioria dos aparelhos.

Mortes na Síria: Dois jornalistas e um repórter-cidadão

A morte de dois jornalistas ocidentais, Mary Colvin e Rémi Ochlic, no bairro dissidente de Baba Amr, em Homs, Síria, na quarta-feira (22/2), lançou os olhos do mundo sobre esta cidade que é a capital da província do mesmo nome e faz fronteira com o Líbano, ao norte, e com a Jordânia e o Iraque, ao sul.

[Sergio da Motta e Albuquerque, Observatório da Imprensa, 28 fev 12] O fogo de artilharia pesada continua sem cessar sobre a cidade revoltada. O mundo assiste ao massacre indeciso entre os “corredores de fuga” (sugestão dos franceses) para os sitiados, sem fazer nada e esperar, ou aceitar a argumentação pró-Bashar Al-Assad da Rússia e da China, que não aceitam de forma alguma a intervenção militar no país árabe.

A China teme qualquer revolta muçulmana porque receia as repercussões no Sinkiang, predominantemente islâmico e povoado por etnias de origem turca. A Rússia teme a queda do partido socialista Baath, a autocracia laica que controla o país desde 1963. Os russos acreditam que o partido é o último bastião das ideias seculares no mundo árabe. Na realidade, é um resquício do pan-arabismo leigo de Gamal Abdel Nasser que se transformou numa organização assassina.

Quem quiser saber mais sobre o partido Baath deve ler o livro O Espião de Damasco: o caso de Eli Cohen (Editora Artenova, 1971). É uma história real que mostra os bastidores íntimos do partido nos anos 1960: um conjunto de oficiais das forças armadas, profissionais liberais, comerciantes ricos e autoridades públicas oriundas das mais diversas etnias, religiões e tribos do país, que impunham uma unidade autoritária ao país. Acima de todos estava a cúpula militar com os comandantes das forças armadas do país. O partido seguiu a doutrina do pan-arabismo de Nasser em seu início, mas degenerou em ditaduras cruéis em alguns países árabes de maioria sunita. A revolta no mundo árabe é uma rebelião sunita. Continue lendo

Presidente do Iêmen promete perseguir militantes da Al Qaeda

[Mohammed Mustafa, Reuters/Estadão, 5 mar 12] O novo presidente do Iêmen prometeu nesta segunda-feira (5 mar 12) perseguir até o último esconderijo os militantes ligados à Al Qaeda que foram responsáveis pela morte de mais de 110 soldados, no seu mais letal ataque ao Exército local.

Os militantes anunciaram também a captura de 70 soldados num ataque realizado após atentados suicidas contra dois quartéis nos arredores de Zinjibar (sul), no domingo. Foi o mais letal incidente no Iêmen desde a posse do presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi.

Na segunda-feira, militantes do grupo Ansar al Sharia, ligado à Al Qaeda, desfilaram com equipamentos militares capturados no ataque. Continue lendo

Jornalistas cidadãos da Síria desafiam a morte para divulgar imagens

Ativistas munidos de câmeras e equipamentos de edição burlam ataques aéreos e internet lenta.

[BBC Brasil, 5 mar 12] Dois ativistas sírios descreveram como se tornaram jornalistas cidadãos e como conseguem divulgar imagens gravadas secretamente que expõem a violenta repressão contra manifestantes praticada pelo regime sírio.

Os dois militantes estariam radicados na cidade de Al Qusair, próxima à fronteira com o Líbano.

Os ativistas se identificaram como Mohammad e Abu Abdallah.

A dupla afirmou que um dos maiores entraves aos seus esforços tem sido as lentas conexões de internet com a quais têm de arcar.

Com a conexão disponível é preciso esperar até três horas para publicar um vídeo de 30 segundos na internet.