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OMS: mais de 1,8 milhão de jovens morrem todos os anos por causas preveníveis

A cifra é alta e assusta: a cada ano, mais de 1,8 milhão de jovens entre 15 e 24 anos morrem em todo o mundo por causas que poderiam ser prevenidas. Isso é o que afirma o Relatório Mundial de Saúde 2010, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Gravidez precoce, HIV, tabaco, álcool e violência são alguns dos problemas destacados no informe.

A preocupação com a saúde desse público não é por acaso. De acordo com informações do relatório, apesar de a maioria dos jovens estar em boas condições de saúde, muitos sofrem com doenças que prejudicam o crescimento e o desenvolvimento pleno.

Além disso, muitas ações que são iniciadas na juventude podem prejudicar a pessoa na vida adulta, como o consumo de álcool e tabaco. “Quase dois terços das mortes prematuras e um terço da carga total de morbidade em adultos associam-se a enfermidades ou comportamentos que começaram em sua juventude, entre elas o consumo de tabaco, a falta de atividade física, as relações sexuais sem proteção e a exposição à violência”, destaca o resumo do documento.

O número de casos de infecção por HIV, por exemplo, é crescente entre os jovens. Segundo a OMS, 40% dos novos casos de HIV registrados entre adultos em 2008 foram de pessoas entre 15 e 24 anos. Acredita-se que há, em todo o mundo, mais de 5,7 milhões de jovens afetados pelo HIV/Aids. “Na atualidade, entre os jovens, só 30% dos homens e 19% das mulheres têm conhecimentos amplos e corretos para proteger-se contra o vírus”, aponta.

As drogas consideradas lícitas em muitos países, como álcool e tabaco, também são causas de problemas de saúde entre a população jovem. A OMS estima que cerca de 150 milhões de jovens consumam tabaco, número que vem aumentado em nível global, principalmente entre as mulheres.

O uso do álcool também é destaque no relatório, o qual aponta que o consumo excessivo da bebida “reduz o autocontrole e aumenta as condutas de risco”. De acordo com o documento, o uso abusivo do álcool é uma das causas principais de acidentes de trânsito e de violências, situações que tiram a vida de milhares de jovens todos os anos.

Prova disso são os números revelados pela OMS. Segundo o informe deste ano, a cada dia, aproximadamente 565 pessoas de 10 a 29 anos morrem por conta da violência interpessoal. Número não muito distante das mortes no trânsito. “Estima-se que os traumatismos causados pelo trânsito provoquem a morte de uns mil jovens a cada dia”, apresenta.

Outro ponto que preocupa a Organização Mundial da Saúde é a saúde mental. Conforme o relatório, em um ano, aproximadamente 20% dos adolescentes sofrem problemas desse tipo, como depressão ou ansiedade, que podem aumentar quando passam por experiências de violência, humilhação e pobreza.

A gravidez precoce também não é deixada de lado pela OMS no documento. De acordo com ele, a cada ano, pelo menos 16 milhões de meninas entre 15 e 19 anos tornam-se mães, o que representa aproximadamente 11% dos nascimentos registrados em todo o mundo.

“A grande maioria desses nascimentos são produzidos em países em desenvolvimento. O risco de morrer por causas relacionadas com a gravidez é muito maior nas adolescentes que nas mulheres adultas. Quanto mais jovem a adolescente, maior é o risco”, comenta.

O relatório completo ainda não está disponível para consulta online, mas o resumo já pode ser lido em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs345/es/index.html

Fonte: Adital, 19 ago 2010

Uma nova geração de narcisistas [Época]

Os jovens exigem de si e dos outros nada menos que a beleza absoluta. Até onde isso pode levar?

Foi em março do ano passado, pouco antes de o verão terminar, que o estudante paulistano F., de 16 anos, tomou a decisão: não haveria mais luz em seu banheiro. Ele não queria ver o próprio rosto refletido no espelho. Detestava sua imagem. Havia quase um ano que ele reclamava com a mãe, advogada, sobre suas “rugas” – pequenas linhas de expressão no canto dos olhos, praticamente imperceptíveis. “Meu filho sempre foi bonito, alvo de elogios de todos”, diz ela. “Mas, adolescente, começou a inventar imperfeições.” O estudante queria fazer tratamentos para ficar com a pele (que nem sequer tinha espinhas) “completamente lisa”. Implicava com os poros do rosto. Quando ele retirou as lâmpadas do banheiro, a mãe o levou a uma dermatologista, que acabou atuando mais como psicóloga do que em sua própria especialidade. “Receitei uns sabonetes para ele sossegar, mas passávamos as consultas conversando”, afirma a médica. “Cheguei a apresentá-lo a uma jovem atriz, paciente minha, para ele se convencer de que a pele perfeita dos famosos das revistas não existe na vida real.” Aos poucos, auxiliado por um psicólogo, F. dominou sua ansiedade. Hoje ainda consome hidratantes, mas dá mais atenção à faculdade de engenharia, recém-iniciada.

Histórias como a de F. estão chegando aos consultórios de dermatologistas e cirurgiões plásticos – além de nas salas dos psicólogos. Os adolescentes querem mudar o corpo, guiados por uma percepção estética exacerbada e irrealista. O belo não é mais suficiente para eles. Querem ser perfeitos: pele sem máculas, rosto sem assimetrias, cabelos iguais aos de seus ídolos. Com esse tipo de sensibilidade, pequenos defeitos (ou mesmo particularidades de origem racial) são motivo de vergonha ou depressão.

“Somos uma sociedade obcecada pela beleza, disposta a persegui-la a qualquer custo”, afirma Nancy Etcoff, psicóloga da Universidade Harvard. Pesquisadora do tema há duas décadas e autora do livro A lei do mais belo, ela diz que crianças e adolescentes atuais estão mais preocupados com a aparência do que em qualquer outro período da história. “É uma preocupação torturante e cotidiana”, afirma. Os americanos cunharam a expressão “geração diva” para definir os jovens e os adolescentes tomados pelo ideal da perfeição física. Na semana passada, uma pesquisa com 200 jovens americanos, realizada pela Universidade Rutgers-Canden, em Nova Jersey, constatou que aqueles que acompanham reality shows sobre cirurgias plásticas são mais propensos a realizar esse tipo de cirurgia. “O que os adolescentes pensam sobre seu corpo hoje vai contribuir para o próprio conceito de saúde que terão no futuro”, diz Charlotte Markey, uma das pesquisadoras. E não só nos Estados Unidos.

“O espelho está distorcido”, afirma o cirurgião plástico Ivo Pitanguy. “O adolescente está programado para captar informação e absorve como ninguém essa busca pela perfeição em nosso tempo.” Pitanguy acredita que vivemos a “era da visibilidade”, na qual a forma e a imagem são os valores sociais mais importantes. Em seu consultório e nas palestras, ele diz deparar com necessidades estéticas cada vez mais elaboradas, nem sempre “coerentes com a realidade”. Qual é a fração da juventude brasileira que vive essa tremenda ansiedade estética? Não se sabe, mas médicos e psicólogos sugerem que ela não se restringe apenas aos privilegiados. O imperativo da beleza atinge todos os grupos sociais, e cada um gasta o que pode. Uma pesquisa encomendada nos Estados Unidos pela Associação Cristã de Moços (YMCA, na sigla em inglês) descobriu que garotas pobres estão gastando em produtos e tratamentos de beleza um dinheiro desproporcional. Economizado, ele poderia garantir o pagamento da universidade. E o futuro profissional dessas garotas.

A ansiedade em torno da beleza já foi captada pela literatura. Uma sociedade em que todos são igualmente belos é o tema do best-seller Feios, do escritor americano Scott Westerfeld, lançado no Brasil pela Editora Record. O livro se passa num mundo imaginário, onde, ao completar 16 anos, todos têm direito a uma plástica radical que os tornará não apenas bonitos, mas perfeitos. As feições são corrigidas e a pele é trocada por outra, sem espinhas nem manchas. Os ossos são substituídos por uma liga artificial, mais leve e resistente. A partir daí, os adolescentes saem dos alojamentos da “Vila Feia” e passam a frequentar “Nova Perfeição” – uma região rica, de festas grandiosas e aventuras esportivas. Sonho de todo adolescente? “Não se pode negar que pessoas bonitas têm mais oportunidades de emprego, de amizade, de sucesso”, disse o escritor a ÉPOCA. “A beleza é hoje o maior referencial de nossa sociedade. A busca da perfeição tomou conta até de quem ainda não percebeu.”

Coordenadora do Laboratório de Doenças da Beleza da PUC-RJ, a psicóloga Joana de Vilhena diz que a percepção que os jovens têm do próprio corpo obedece a um misto de ambiente familiar e cultura. “Uma sociedade de espetáculo e de consumo como a nossa inunda o jovem de belas imagens e o incita a consumi-las”, afirma. Como dissociar a magreza cada vez mais visível de modelos e atrizes do boom de transtornos alimentares de nosso tempo? Estima-se que haja 100 mil adolescentes anoréxicos ou bulímicos no Brasil, sendo 90% mulheres de 12 a 20 anos.

Um novo tipo de distúrbio que vem sendo estudado na última década parece intimamente ligado à obsessão pela beleza dos adolescentes: o transtorno dismórfico corporal (TDC). Quem sofre de TDC não tem uma percepção adequada da própria imagem. Vê defeitos que não existem ou aumenta os existentes. Como consequência, o doente coloca aquela “imperfeição” no centro de sua vida e preocupa-se em tempo integral com a possibilidade de superá-la. Um dos exemplos de provável vítima desse tipo de transtorno foi o cantor Michael Jackson, que passou a vida refazendo sua aparência.

“O pedaço vira o todo”, diz a dermatologista Luciana Conrado, pioneira em estudos do TDC no país. Em 2003, ela constatou, em seu consultório, um número expressivo de jovens querendo tratamentos desnecessários. Acabou desenvolvendo uma tese de mestrado na Universidade de São Paulo (USP), na qual uniu as áreas de dermatologia e psiquiatria. “No Brasil, os adolescentes tendem a sofrer muito com a autoimagem por causa da diversidade e das misturas raciais, que produzem biotipos diferentes do padrão europeu, valorizado por eles”, afirma.

Fonte: Revista Época, 20 ago 1020

Os dez mandamentos do populismo ~ Enrique Krauze

O populismo na América Latina adotou um amálgama desconcertante de posições ideológicas. Esquerdas e direitas poderiam reivindicar a paternidade do populismo, todas ao conjuro da palavra mágica “povo”. Populista quintessencial foi o general Juan Domingo Perón, que havia atestado diretamente a ascensão do fascismo italiano e admirava Mussolini a ponto de querer “erigir-lhe um monumento em cada esquina”.

Populista pós-moderno é Hugo Chávez, que venera Fidel Castro a ponto de tentar converter a Venezuela numa colônia experimental do “novo socialismo”. Os extremos se tocam, são cara e coroa de um mesmo fenômeno político cuja caracterização não se deve tentar, contudo, pela via de seu conteúdo ideológico, mas sim de seu funcionamento. Proponho dez traços.

1 – O populismo exalta o líder carismático. Não há populismo sem a figura do homem providencial que resolverá os problemas do povo. “A entrega ao carisma do profeta, do caudilho na guerra ou do grande demagogo – recorda Max Weber – não ocorre porque a mande o costume ou a norma legal, mas porque os homens crêem nele.”

2 – O populista não só usa e abusa da palavra: ele se apropria dela. A palavra é o veículo específico de seu carisma. O populista se sente o intérprete supremo da verdade geral e também a agência de notícias do povo. Fala com o povo de modo constante, incita suas paixões, “ilumina o caminho”, e faz isso sem restrições nem intermediários. Weber assinala que o caudilhismo político surge primeiro nas cidades-Estado do Mediterrâneo na figura do “demagogo”. Aristóteles sustenta que a demagogia é a causa principal das “revoluções nas democracias”, e percebe uma convergência entre o poder militar e o poder da retórica que parece uma prefiguração de Perón e Chávez: “Nos tempos antigos, quando o demagogo era também general, a democracia se transformava em tirania.” Mais tarde desenvolveu-se a habilidade retórica e chegou a hora dos demagogos puros: “Agora os que dirigem o povo são os que sabem falar.” Há 25 séculos essa distorção da verdade pública se desenvolvia na Ágora real; no século 20 ela o fez na Ágora virtual das ondas sonoras e visuais: de Mussolini (e Goebbels), Perón aprendeu a importância política do rádio para hipnotizar as massas. E Chávez superou o mentor Fidel ao usar até o paroxismo a oratória televisiva.

3 – O populismo fabrica a verdade. Os populistas levam às últimas conseqüências o provérbio latino: “Vox populi, vox Dei.” Mas como Deus não se manifesta todos os dias e o povo não tem uma única voz, o governo “popular” interpreta a voz do povo, eleva essa versão à condição de verdade oficial, e sonha com decretar a verdade única. Os populistas abominam a liberdade de expressão. Confundem a crítica com inimizade militante, por isso buscam desprestigiá-la, controlá-la, silenciá-la. Na Argentina peronista, os jornais oficiais – incluindo um órgão nazista – contavam com generosos privilégios, mas a imprensa livre esteve a um passo de desaparecer. A situação venezuelana, com a “lei da mordaça” pendendo como uma espada sobre a liberdade de expressão, aponta no mesmo sentido; terminará por esmagá-la.

4 – O populista usa de modo discricionário os recursos públicos. Não tem paciência com as sutilezas da economia e das finanças. O erário é seu patrimônio privado, que ele pode usar para enriquecer-se ou para embarcar em projetos que considere importantes ou gloriosos sem levar em conta os custos. O populista tem uma concepção mágica da economia: para ele, todo gasto é investimento. A ignorância ou incompreensão dos governos populistas em matéria econômica se traduziu em desastres descomunais dos quais os países levam décadas para se recuperar.

5 – O populista divide diretamente a riqueza. O que não é criticável em si (sobretudo em países pobres, onde há argumentos extremamente sérios para dividir, de fato, uma parte da receita, à margem das dispendiosas burocracias estatais e prevenindo efeitos inflacionários), mas o populista não divide de graça: focaliza sua ajuda e a cobra em obediência. “Vocês têm o dever de pedir!”, exclamava Evita a seus beneficiários. Criou-se assim uma idéia fictícia da realidade econômica e entronizou-se uma mentalidade assistencialista. No fim, quem pagava a conta? Não a própria Evita (que cobrou seus serviços com juros e resguardou na Suíça suas contas multimilionárias), mas sim as reservas acumuladas em décadas, os próprios operários com suas doações “voluntárias” e, sobretudo, a posteridade endividada, devorada pela inflação. Quanto à Venezuela, até as estatísticas oficiais admitem que a pobreza aumentou, mas a improdutividade do assistencialismo só será sentida no futuro, quando os preços dispararem e o regime levar às últimas conseqüências seu propósito ditatorial.

6 – O populista alimenta o ódio de classes. “As revoluções nas democracias são causadas sobretudo pela intemperança dos demagogos”, explica Aristóteles. O conteúdo dessa intemperança foi o ódio contra os ricos: “Algumas vezes por sua política de denúncias… e outras atacando-os como classe, (os demagogos) incitam contra eles o povo.” Os populistas latino-americanos correspondem à definição clássica, com uma nuance: fustigam “os ricos”, mas atraem os “empresários patrióticos” que apóiam o seu regime. O populista não busca, necessariamente, abolir o mercado: sujeita seus agentes e os manipula a seu favor.

7 – O populista mobiliza permanentemente os grupos sociais. O populismo apela, organiza, inflama as massas. A praça pública é o teatro onde comparece “Sua Majestade, o Povo” para demonstrar sua força e escutar as inventivas contra “os maus” de dentro e de fora. “O povo”, claro, não é a soma de vontades individuais expressas em um voto e representadas por um Parlamento; nem sequer a encarnação da “vontade geral” de Rousseau, mas uma massa seletiva e vociferante que caracterizou outro clássico, Marx – não Karl, mas Groucho: “O poder para os que gritam ‘O poder para o povo!'”

8 – O populismo fustiga sistematicamente o “inimigo externo”. Imune à crítica e alérgico à autocrítica, precisando apontar bodes expiatórios para os fracassos, o regime populista (mais nacionalista que patriótico) precisa desviar a atenção interna para o adversário de fora. A Argentina peronista reavivou as velhas (e explicáveis) paixões antiamericanas que ferviam na América Latina desde a guerra de 1898, mas Fidel converteu essa paixão na essência de seu triste regime, definido pelo que odeia, não pelo que ama, aspira ou consegue. E Chávez levou sua retórica antiamericana a expressões de baixeza que até seu mentor Fidel (talvez) consideraria de mau gosto. Ao mesmo tempo, faz representar nas ruas de Caracas simulacros de defesa contra uma invasão que só existe em sua imaginação, mas em que um setor importante da população venezuelana (contrária, em geral, ao modelo cubano) acaba acreditando.

9 – O populismo despreza a ordem legal. Há na cultura política ibero-americana um apego atávico à “lei natural” e uma desconfiança das leis feitas pelo homem. Por isso, uma vez no poder (como Chávez), o caudilho tende a se apoderar do Congresso e induzir a “justiça direta” (“popular”, “bolivariana”), arremedo de uma Fuenteovejuna -a obra teatral de Lope de Vega sobre abuso de poder e justiça – que, para os efeitos práticos, é a justiça que o próprio líder decreta. Hoje, o Congresso e o Judiciário são um apêndice de Chávez, como na Argentina o eram de Perón e Evita, que suprimiram a imunidade parlamentar e depuraram, segundo a sua conveniência, o Poder Judiciário.

10 – O populismo mina, domina e, em último recurso, domestica ou cancela as instituições da democracia liberal. Ele abomina os limites a seu poder, considera-os aristocráticos, oligárquicos, contrários à “vontade popular”. No limite de sua carreira, Evita buscou sua candidatura à vice-presidência. Perón se negou a apoiá-la. Se houvesse sobrevivido, seria impensável imaginá-la tramando a derrubada do marido? Não por acaso, em seus tempos aziagos de atriz radiofônica, representara Catarina, a Grande. Quanto a Chávez, ele declarou que seu horizonte mínimo é o ano 2020.

Por que renasce de tempos em tempos a erva daninha do populismo na América Latina? As razões são diversas e complexas, mas aponto duas. Em primeiro lugar, porque suas raízes se fundem em uma noção mais antiga de “soberania popular” que os neo-escolásticos do século 16 e 17 propagaram nos domínios espanhóis, que teve uma influência decisiva nas guerras de independência de Buenos Aires ao México. O populismo tem, além disso, uma natureza perversamente “moderada” ou “provisória”: não termina sendo plenamente ditatorial nem totalitário; por isso alimenta sem cessar a enganosa ilusão de um futuro melhor, mascara os desastres que provoca, posterga o exame objetivo de seus atos, amansa a crítica, adultera a verdade, adormece, corrompe e degrada o espírito público. Desde os gregos até o século 21, passando pelo aterrador século 20, a lição é clara: o efeito inevitável da demagogia é subverter a democracia.

Enrique Krauze é historiador mexicano

Fonte: Estado de SP, 15 abr 2006

Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 [Resumo]

Entre 2000 e 2008, o percentual de municípios brasileiros que tinham rede geral de abastecimento de água em pelo menos um distrito aumentou de 97,9% para 99,4%; o manejo dos resíduos sólidos (que inclui coleta e destinação final do lixo e limpeza pública) passou a existir em todos os municípios em 2008, frente a 99,4% deles em 2000;e os serviços de manejo de águas pluviais (drenagem urbana), que existiam em 78,6% dos municípios em 2000, chegaram a 94,5% em 2008. Nesses oito anos, o único serviço de saneamento que não chegou próximo à totalidade de municípios foi a coleta de esgoto por rede geral, que estava presente em 52,2% dos municípios em 2000 e passou a 55,2% em 2008. Entretanto, nos municípios em que o serviço existia, houve, no mesmo período, um aumento dos que registraram ampliação ou melhoria no sistema de esgotamento, de 58% para 79,9% do total, e dos domicílios atendidos, de 33,5% para 44%. Em 2008, 68,8% do esgoto coletado era tratado – percentual bastante superior aos 35,3% de 2000, embora menos de um terço dos municípios (28,5%) fizessem o tratamento, com acentuadas diferenças regionais nesse percentual, que alcançou 78,4% dos municípios no estado de São Paulo e 1,4% no Maranhão.

Em oito anos, o percentual de municípios que destinavam seus resíduos a vazadouros a céu aberto caiu de 72,3% para 50,8%, enquanto os que utilizavam aterros sanitários cresceram de 17,3% para 27,7%. Ao mesmo tempo, o número de programas de coleta seletiva dobrou, passando de 451 em 2000 para 994 em 2008, concentrando-se, sobretudo, nas regiões Sul e Sudeste, onde, respectivamente, 46% e 32,4% dos municípios informaram ter coleta seletiva em todos os distritos. Esses são alguns dos destaques da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) 2008, que investiga os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de águas pluviais e manejo de resíduos sólidos, tendo como fonte de informação as entidades formais (com CNPJ) prestadoras desses serviços em todos os municípios brasileiros. Essas entidades englobam órgãos públicos ou privados, tais como autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, consórcios públicos, empresas privadas, fundações, associações etc. A pesquisa foi realizada em convênio com o Ministério das Cidades e contou com a participação de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de técnicos especialistas da área.

De acordo com a PNSB 2008, em somente 17% dos municípios as prefeituras realizavam o abastecimento de água de forma exclusiva, ficando a prestação desse serviço, em maior medida, com outras entidades (58,2%) ou de forma combinada (24,7%). A situação se invertia quando se tratava do serviço de coleta de esgoto: em 55,6 % dos municípios, as prefeituras executavam o serviço de forma exclusiva, e 41,6% tinham a execução sob a responsabilidade de outras entidades. O manejo de águas pluviais era executado quase que exclusivamente pelas prefeituras municipais (98,6%). No manejo dos resíduos sólidos a maior parte das prefeituras se incumbia exclusivamente da prestação dos serviços (59,1%), enquanto em 31,2% delas a forma de execução compreendia outras entidades.

Quanto à existência de instrumentos legais reguladores dos serviços de saneamento básico, constatou-se que o abastecimento de água era regulado em 32,5% dos municípios, o esgotamento sanitário, em 18,4%, e o manejo de águas pluviais, em 18%.

Em 2008, 5.531 (99,4%) dos 5.564 municípios brasileiros tinham abastecimento de água por rede geral, mesmo que apenas em parte do município. Entre 1989 e 2008 a cobertura desse serviço cresceu 3,5%, sendo que o maior avanço foi na região Norte (de 86,9% para 98,4% dos municípios). Desde 2000, o Sudeste é a única região com todos os municípios abastecidos por rede geral de água em pelo menos um distrito.

Em 33 municípios distribuídos em nove estados não havia rede geral de abastecimento de água, afetando cerca de 320 mil pessoas. Essa situação vem diminuindo sistematicamente no país: em 1989, eram 180 municípios sem rede de água, e em 2000, 116. Dos 33 municípios sem rede de água em 2008, 21 se localizavam na região Nordeste, com destaque para os estados da Paraíba (11 municípios) e Piauí (5), e 7 estavam na região Norte, com destaque para o estado de Rondônia (4 municípios).

Além desses 33 municípios sem rede geral de abastecimento de água em nenhum distrito, outras 794 cidades tinham ao menos um distrito em que também não havia rede, somando 827 municípios (14,9% do total) em que a água era fornecida por formas alternativas, como carros-pipas e poços particulares. O Nordeste tinha o maior percentual de municípios com outras formas de abastecimento (30,1%), sendo que os maiores percentuais entre os estados estavam no Piauí (58,3%), Ceará (35,9%) e Maranhão (30,4%).

6,6% dos municípios fornecem água sem tratamento

Em 2008, a maior parte dos municípios (87,2%) distribuía a água totalmente tratada. Em 6,2% dos municípios a água distribuída era apenas parcialmente tratada e em 6,6% a água não tinha nenhum tratamento. Em 2000, os municípios onde não se realizava nenhum tipo de tratamento na água representavam 18,1% do total. A região com maior percentual de municípios distribuindo água sem nenhum tratamento em 2008 era a Norte (20,8%), onde Pará (40%) e Amazonas (38,7%) tinham os maiores percentuais. Em seguida vinha o Nordeste (7,9%), com destaque para Piauí (24,3%) e Maranhão (21,8%).

Dos municípios que forneciam água sem tratamento, 99,7% tinham população de até 50 mil habitantes e densidade demográfica menor que 80 mil habitantes por quilômetro quadrado. A fluoretação da água para prevenção da cárie dental era realizada em 3.351 municípios (60,6% do total).

Em 1.296 municípios (23,4%) ocorreu racionamento de água em 2008, e as regiões com maior ocorrência foram Nordeste (40,5%) e Norte (24,9%). No Nordeste chama a atenção o conjunto de municípios em Pernambuco (77,3%), Ceará (48,9%) e Rio Grande do Norte (46,7%); no Norte, os de Amazonas (43,5) e Pará (41,4%). Os motivos mais apontados pelos municípios eram seca/estiagem (50,5%), insuficiência de água no manancial (39,7%), deficiência na produção (34,5%) e deficiência na distribuição (29,2%).

Menos de um terço dos municípios têm leis para proteção de mananciais

Em 1.749 municípios havia legislação municipal sobre proteção de mananciais (fontes de água utilizadas para abastecimento) em 2008. Dentre os 3.141 municípios (56,4% do total) que efetuam captação superficial de água, 83,2% informaram alguma proteção: isolamento com cerca (85,7%), preservação da vegetação (54,3%) e a proibição de despejos (44,6%). Menos da metade (45,1%) dos municípios brasileiros tinham legislação que exigia aprovação e implantação de sistema de abastecimento de água para loteamentos novos.

Domicílios atendidos por rede de água aumentam 30,8% entre 2000 e 2008

O número de domicílios abastecidos por rede geral de água cresceu 30,8%, de 34,6 milhões, em 2000, para 45,3 milhões, em 2008, segundo a PNSB. O maior crescimento foi no Nordeste (39,2%) e no Centro-Oeste (39,1%), e o menor no Norte (23,1%).

Os 5.531 municípios do país com abastecimento de água por rede geral tinham mais de 40 milhões de ligações das quais 84,2% contavam com medidores. Nos últimos oito anos, cresceu 30,8% no país o uso de hidrômetros, com destaque para o Norte (54,2%) e Centro-Oeste (53,1%). Os menores crescimentos foram no Sudeste (28,9%) e Nordeste (38,8%). No Sudeste, o baixo crescimento deveu-se aos avanços já obtidos: a região tem 92,5% das ligações de água com medidores.

Em 2008, em 94% dos municípios beneficiados por rede geral de distribuição, havia cobrança pelo serviço de abastecimento de água. A região Sul apresentava o menor percentual de municípios que não faziam cobrança (0,7%) e a Norte, o maior (13,6%).

A PNSB 2008 indica que 55,2% dos municípios brasileiros tinham serviço de esgotamento sanitário por rede coletora, três pontos percentuais acima do índice verificado em 2000 (52,2%). Os melhores desempenhos foram encontrados nos estados de São Paulo (apenas 1 dos 645 municípios não tinha o serviço) e Espírito Santo (2 de 78 sem coleta de esgoto). A principal solução alternativa adotada pelos municípios que não possuíam rede de coleta de esgoto sanitário, foi a construção de fossas sépticas, que aumentou 7,4% em relação ao levantamento de 2000.

Apenas o Sudeste registrava percentual elevado de municípios com rede coletora de esgoto em 2008 (95,1%). Nas outras quatro regiões, menos da metade dos municípios tinham o serviço: Nordeste (45,7%), Sul (39,7%), Centro-Oeste (28,3%) e Norte (13,4%). Apenas oito unidades da federação possuíam mais da metade dos municípios com rede geral coletora, sendo os casos extremos São Paulo (99,8%) e Piauí (4,5%).

Entre 2000 e 2008, o avanço no percentual de municípios com rede coletora de esgoto foi considerável no Norte (de 7,1% em 2000 para 13,4% em 2008) e no Centro-Oeste (de 17,9% para 28,3%). Já nas regiões com maior número de municípios, as melhoras foram pouco significativas: Sudeste (de 92,9% em 2000 para 95,1% em 2008) e Sul (de 38,9% para 39,7%). No Nordeste, houve pouca variação no registro dos municípios cobertos pelo serviço (de 42,9% em 2000 para 45,7% em 2008).

A presença de rede geral coletora de esgoto era mais elevada nos municípios de maior população. Todos aqueles com mais de 500 mil habitantes possuíam esse serviço, que também estava presente em mais de 90% dos municípios com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. Com cobertura abaixo da média nacional estavam apenas os municípios com menos de 50 mil habitantes.

No conjunto do país, entre os municípios que possuíam o serviço, o número de domicílios com acesso à rede geral de esgotamento sanitário teve um avanço de 39,5% no período. As maiores altas foram registradas no Nordeste (64,7%) e no Norte (89,9%). O percentual de domicílios com acesso à rede geral de esgoto passou de 33,5% em 2000 para 44% em 2008. Apenas no Sudeste mais da metade dos domicílios (69,8%) tinham acesso à rede geral, seguido do Centro-Oeste (33,7%), Sul (30,2%), Nordeste (22,4%) e Norte (3,8%). As únicas unidades da federação com mais da metade dos domicílios atendidos eram Distrito Federal (86,3%), São Paulo (82,1%), e Minas Gerais (68,9%). Rio de Janeiro (49,2%) e Paraná (46,3%) ficavam próximos da marca de 50% e se situavam acima da média nacional (44%). Os demais estados tinham menos de um terço dos domicílios atendidos, ficando Amapá (3,5%), Pará (1,7%) e Rondônia (1,6%) com as menores coberturas.

Em 2008, 79,9% dos municípios ampliaram ou melhoraram o sistema de esgotamento

De 2000 para 2008 aumentou o percentual de municípios com serviço de coleta de esgoto sanitário que realizaram ampliações ou melhorias no sistema ou em parte(s) dele. Em 2008, 79,9% deles estavam ampliando ou melhorando o serviço, contra 58% em 2000. O avanço ocorreu em quase todas as regiões, com destaques para o Centro-Oeste, cuja taxa de melhorias ou ampliações passou de 50% dos municípios em 2000 para 78% em 2008; e para o Nordeste, de 47,6% para 73,1%. A exceção foi o Norte, cujo percentual de ampliações e melhorias se reduziu (de 53,1% para 48,3%). Os maiores percentuais foram encontrados no Sudeste (85,4%), Centro-Oeste (78%) e Sul (77,5%). Em 2008 a ampliação ou melhoria do sistema deu-se principalmente na rede coletora (88%) e nas ligações prediais (78,6%).

Menos de 1/3 dos municípios fazem tratamento de esgoto

Apenas 28,5% dos municípios brasileiros com esgotamento por rede geral fazia tratamento de esgoto (pelo menos um distrito do município tratava o esgoto coletado, mesmo que parte dele). Entre as regiões, o Sudeste liderava (48,4%), seguido do Centro-Oeste (25,3%), Sul (24,1%), Nordeste (19%) e Norte (7,6%). Com exceção do Distrito Federal, em apenas três unidades da federação mais da metade dos municípios tratavam seu esgoto: São Paulo (78,4%), Espírito Santo (69,2%) e Rio de Janeiro (58,7%). Os menores percentuais foram registrados em Sergipe (9,3%); Amazonas (4,8%); Pará (4,2%); Rondônia (3,8%); Piauí (2,2%) e Maranhão (1,4%).

Apesar de menos de um terço dos municípios terem tratamento de esgoto, o volume tratado representava 68,8% do total coletado no país. Houve melhora considerável frente a 2000 e 1989, quando o percentual de tratamento era, respectivamente, de 35,3% e 19,9%. E em grandes produtores como são os municípios com mais de 1 milhão de habitantes, o percentual de esgoto tratado foi superior a 90%.

Os vazadouros a céu aberto, conhecidos como “lixões”, ainda são o destino final dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios brasileiros, mas esse quadro teve uma mudança significativa nos últimos 20 anos: em 1989, eles representavam o destino final de resíduos sólidos em 88,2% dos municípios. As regiões Nordeste (89,3%) e Norte (85,5%) registraram as maiores proporções de municípios que destinavam seus resíduos aos lixões, enquanto as regiões Sul (15,8%) e Sudeste (18,7%) apresentaram os menores percentuais. Paralelamente, houve uma expansão no destino dos resíduos para os aterros sanitários, solução mais adequada, que passou de 17,3% dos municípios, em 2000, para 27,7%, em 2008.

Em todo o país, aproximadamente 26,8% dos municípios que possuíam serviço de manejo de resíduos sólidos sabiam da presença de catadores nas unidades de disposição final de resíduos sólidos. A maior quantidade estava nas regiões Centro-Oeste e Nordeste: 46% e 43%, respectivamente. Destacavam-se os municípios do Mato Grosso do Sul (57,7% sabiam da existência de catadores) e de Goiás (52,8%), na região Centro-Oeste, e, na região Nordeste, os municípios de Pernambuco (67%), Alagoas (64%) e Ceará (60%).

Número de programas de coleta seletiva aumentou de 58 para 994 em 20 anos

Os programas de coleta seletiva de resíduos sólidos aumentaram de 58 identificados em 1989 para 451 em 2000 e alcançando o patamar de 994 em 2008. O avanço se deu, sobretudo, nas regiões Sul e Sudeste, onde, respectivamente, 46% e 32,4% dos municípios informaram ter programas de coleta seletiva que cobriam todo o município.

Os municípios com serviço de coleta seletiva separavam, prioritariamente, papel e/ou papelão, plástico, vidro e metal (materiais ferrosos e não ferrosos), sendo que os principais compradores desses materiais eram os comerciantes de recicláveis (53,9%), as indústrias recicladoras (19,4%), entidades beneficentes (12,1%) e outras entidades (18,3%).

A erosão (destruição e arrastamento do solo pela chuva) no perímetro urbano afetava, em 2008, 27,3% dos municípios brasileiros que faziam manejo de águas pluviais (5.256 no total). Entre os principais fatores indicados como causas desse problema, estavam as condições geológicas e morfológicas (47,8%) e as ocupações intensas e desordenadas do solo (46,4%).

Dos municípios que informaram ter manejo de águas pluviais, 48,7% declararam não ter tido problemas com inundações nos últimos cinco anos, nem pontos de estrangulamento no sistema de drenagem. Já 27,4% informaram condição exatamente oposta; deles, 60,7% disseram haver ocupação urbana em áreas inundáveis naturalmente por cursos d’água e 48,1% informaram que havia áreas urbanas irregulares em baixios naturalmente inundáveis. A ocupação irregular era o principal fator agravante de inundações e alagamentos nas regiões Norte (50%) e Nordeste (45,8%) e dividia a mesma percentagem (35,5%) com a obstrução de bueiros e vias na região Centro-Oeste. No Sul e no Sudeste, a situação se invertia, e a obstrução era o principal fator (54,5% e 50,3%, respectivamente).

Um em cada três municípios tem áreas de risco urbanas que demandam drenagem especial

Um grupo de 1.933 municípios (34,7% do total) relatou ter, em seu perímetro urbano, áreas de risco que demandam drenagem especial. Os municípios declararam que as áreas sem infraestrutura de drenagem (62,6%) e as áreas de baixios (depressões) sujeitas a inundações e/ou proliferação de transmissores de doenças (56,8%) eram os tipos mais encontrados e suscetíveis a riscos no perímetro urbano. No Sudeste, percentual significativo (56%) era atribuído às áreas em taludes (planos inclinados que limitam aterros) e encostas sujeitas a deslizamentos, configuração geomorfológica peculiar aos estados desta região.

Fonte: IBGE – Comunicação Social, 20 ago 2010

Quase metade das cidades não tem acesso à rede de esgoto

Quase metade dos municípios brasileiros, ou 44,8% do total, não era servida com uma rede de saneamento em 2008, de acordo com um levantamento divulgado nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A oferta do serviço também era bastante desigual. Enquanto no Estado de São Paulo a rede de esgoto chegava a 99,8% das cidades, no Piauí apenas 4,5% dos municípios eram atendidos.

Quando o cálculo é feito por domicílios, o resultado é ainda mais preocupante: 56% dos brasileiros, ou seja, a maioria da população, não tinham acesso ao serviço de coleta de esgoto há dois anos.

Ainda de acordo com o levantamento, de todo o volume de esgoto gerado no país em 2008, 31% não passou por qualquer tipo de tratamento.

Ao contrário de outros serviços básicos, como luz e coleta de lixo, que evoluíram nos oito anos anteriores, o saneamento deixou a desejar no período. Em 2000, esse serviço chegava a 52,2% das cidades.

A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) 2008 investiga a oferta de diversos serviços básicos, tendo como fonte de informação as entidades prestadoras desses serviços em todos os municípios brasileiros.

Água encanada, por exemplo, chegava a 99,4% dos municípios em 2008, enquanto a coleta de lixo atingia a totalidade (100%) das cidades brasileiras.

Fonte: BBC Brasil, 20 ago 2010

[ÁUDIO] Membros das etnias sinto e rom sofrem discriminação na Europa

Eles são discriminados e indesejados: em torno de 10 milhões de membros das etnias sinto e rom vivem na União Europeia. Eles têm licença para circular pelo continente, apesar disso enfrentam resistência da política.

Membros das etnias sinto e rom sofrem discriminação na Europa (3.03′)

Fonte: DW, 8 ago 2010

França inicia deportação controversa de cidadãos da etnia rom

Após evacuação compulsória de assentamentos de cidadãos da etnia rom na França, Sarkozy concretiza ameaça e inicia deportação dos mesmos para Romênia e Bulgária. Até fins de agosto, 700 roms serão expulsos do país.

A França deu início ao processo de deportação dos membros da etnia rom: nesta quinta-feira (19/08), um grupo de 93 pessoas deixou o país rumo a Bucareste, a capital romena: 14 deles voaram de Paris e outros 79 de Lyon. Na próxima sexta-feira (20/08), outros 132 roms devem seguir para a cidade romena de Timisoara.

Oficialmente, trata-se, segundo as autoridades francesas, de “deportações voluntárias”, supostamente impulsionadas por um “parco incentivo financeiro” por parte do governo francês: cada adulto recebe 300 euros e cada criança 100 euros pela viagem de volta à Romênia.

Como os cidadãos da etnia rom, originários da Romênia e da Bulgária, são cidadãos da União Europeia, eles podem regressar à França – ou a qualquer outro país do bloco – a qualquer momento. A partir de setembro próximo, as autoridades francesas pretendem instituir o registro de impressões digitais de cada cidadão que receber o auxílio-retorno no país, a fim de evitar “que alguém receba a ajuda várias vezes”.

Até o final do mês de agosto, 700 roms deverão ser expulsos da França. Nas duas últimas semanas, a polícia francesa dissolveu mais de 50 assentamentos ilegais de membros da etnia no país. Em julho último, o presidente Nicolas Sarkozy havia anunciado o início de uma política linha-dura contra os roms, após tumultos ocorridos em acampanhamentos no país.

Reações adversas

As autoridades romenas mostraram-se “preocupadas” com os prodecimentos adotados pela França. O ministro romeno das Relações Exteriores, Teodor Baconschi, denunciou os “descarrilhamentos populistas” e as “reações xenófobas” do governo francês. O presidente romeno, Traian Basescu, salientou que as deportações demonstram a necessidade urgente de um plano europeu de integração para as comunidades rom.

O ministro francês do Interior, Brice Hortefeux, deverá reunir-se na próxima semana com representantes da etnia para discutir a situação. Estima-se que aproximadamente 10 mil roms, provenientes da Romênia e da Bulgária, já tenham retornado a seus países de origem no ano passado. As atuais deportações, no entanto, são as primeiras desde o anúncio de Sarkozy de adoção de uma política mais severa em relação à minoria étnica.

UE observa procedimentos

Matthew Newman, porta-voz da Comissão Européia, informou que a situação vem sendo acompanhada “com muita atenção” pelo órgão. O ministério francês do Exterior, por sua vez, assegura que os procedimentos de deportação dos cidadãos da entnia rom não estão em desacordo com as diretrizes europeias.

“As medidas adotadas pelas autoridades francesas com relação ao desmantelamento de acampamentos ilegais estão completamente de acordo com as normas europeias e não afetam, de forma alguma, o livre trânsito dos cidadãos europeus, definido pelos tratados do bloco”, afirmou o porta-voz do ministério francês de Relações Exteriores, Bernard Valero.

Na França, vivem atualmente cerca de 15 mil roms originários do Leste Europeu. Na Romênia, a comunidade é composta por 530 mil membros, segundo o censo nacional. De acordo com algumas ONGs, no entanto, há 2,5 milhões de roms vivendo no país, sendo que muitos deles omitem a origem temendo serem discriminados.

NP/afp/dpa
Revisão: Soraia Vilela

Fonte: DW, 19 ago 2010

Vítima relata vida marcada por violência de rituais satânicos [ÁUDIO]

Estupro, tortura e dor fazem parte de rituais

Após crescer em ambiente de brutalidade das missas negras frequentadas por seus pais, vítima contou à DW o que acontecia em tais cerimônias. Ela vive hoje em asilo para mulheres traumatizadas.

Ouça a reportagem completa

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Fonte: DW, 17 ago 2010

Aumenta crença de alemães em superstições

Contrariando estereótipo de povo frio e racional, estudo mostra que a superstição faz eco na vida dos alemães. Apenas 32% das pessoas negam influência do sobrenatural.

Nos tempos da ciência e da evolução tecnológica, o medo e as crenças em poderes ocultos se mostram a cada dia mais presentes no cotidiano alemão. Foi isso o que mostrou uma pesquisa realizada pelo Instituto de Opinião Pública Allensbach.

E a crença irracional em símbolos que representam boa ou má sorte aumentou entre o povo da Alemanha, revelou também o estudo.

Talismãs e medos

As estatísticas mostram que 42% dos alemães acreditam no trevo de quatro folhas, 36% gostariam de cruzar de vez um quando com um limpador de chaminés e 40% crêem na sorte associada a uma estrela cadente.

Os maus presságios associados a número 13 são muito mais temidos. Mais de um quarto da população alemã não descarta o sentido da magia dos números. E não é piada, com tantas coincidências relativas ao 13.

Na Última Ceia havia 13 pessoas, a vinda do Anticristo acontece no capítulo 13 do Apocalipse, e no tarô este número faz referência à morte.

Por outro lado, 25% dos alemães evitariam, se pudessem, que um gato preto cruzasse o seu caminho. No Egito o gato já era considerado um animal de poder. Além disso, na Idade Média, se associava o gato preto com as bruxas – o que certamente deu origem à superstição.

Aumenta a tendência

O instituto realiza estes estudos sobre as superstições desde 1973. E das conclusões se deduz que estas crenças atingem muito mais gente agora do que em épocas anteriores.

Comparando os números atuais com os dos anos 70, somente a metade das pessoas acreditava na relação entre um meteorito que caía do céu e a boa sorte que isso traria a quem o observasse.

No caso do trevo de quatro folhas, somente 26% acreditava em seus “poderes”, enquanto agora o número de fãs da planta chega a 42% – o índice dos que temem o número 13 aumentou de 17% para 28% nos últimos trinta anos.

Fonte: DW, 10 mai 2005

[Nordeste] Pré-adolescentes são os principais alvos de violência doméstica em Fortaleza

Pesquisadora da USP analisou 343 casos registrados no IML da cidade no 2º semestre de 2008

A violência doméstica praticada contra crianças e adolescentes na região metropolitana de Fortaleza (CE) predomina na faixa etária de 10 a 14 anos. Hellena Carvalho, médica legista responsável por uma pesquisa sobre o tema, aponta que os pré-adolescentes representam 39,1% dos casos levantados.

Segundo ela, esse dado contradiz alguns estudos na área. “As pesquisas apontam que normalmente a violência doméstica acontece com a faixa etária de zero a 9 anos, na infância, em função da própria condição de defesa da criança e da maior dependência de seus cuidadores”, afirma.

O motivo da predominância da violência na faixa etária de 10 a 14 anos não foi estudado, mas Hellena acredita que as características do próprio contexto da Região Nordeste podem ter influenciado. Mas isso é apenas uma hipótese.

O trabalho da médica faz parte de sua tese de doutorado defendida pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, sob orientação da professora Maria Helena Jorge. Nele, Hellena analisou 343 casos de violência doméstica registrados no Instituto Médico Legal (IML) de Fortaleza no segundo semestre de 2008. Os casos são de crianças e adolescentes vítimas de atos violentos cometidos pelos próprios pais ou responsáveis, como uso de força física, abuso sexual ou negligência.

O que mais chamou a atenção dela foi a declaração de alguns pais (cerca de 40%) que justificavam por que batiam nos filhos. “Eles acreditam que bater educa os filhos. Argumentavam que também apanharam de seus pais e diziam: ‘Eu sei que isso vai dar vergonha na cara deles’”, conta.

Outro ponto que Hellena destaca é a falta de profissionais nas áreas de saúde e de educação que denunciam esse tipo de violência. Dos casos analisados, nenhum foi notificado por profissional de saúde, e apenas 1,7% foi delatado por profissionais de educação.

A médica lembra que, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), esses profissionais são obrigados a procurar o Conselho Tutelar, mesmo em casos suspeitos, com a finalidade de abrir uma investigação.

“Acredito que esses profissionais de saúde não têm a formação adequada sobre a violência doméstica como um problema de saúde pública. Na educação, os professores não estão devidamente capacitados, além daqueles que acham que não devem se meter ou têm medo de retaliações”, afirma Hellena. “É um problema complexo, que não dá para explicar com um único motivo”, completa.

Na pesquisa, o principal notificante foi a mãe, em 48,4% dos casos. Em apenas 4% das ocorrência, a vítima foi o principal denunciante.

Caracterização

Para complementar as informações sobre vítima, família, agressor e circunstâncias em que ocorreu a violência, a pesquisa usou um formulário específico, aplicado ao responsável, acompanhante e vítima, quando as condições assim o permitiram.

Foram constatados 172 casos de violência física, 167 de violência sexual e 4 de violência múltipla, que envolve mais de um tipo de violência (sendo três casos de violência física e sexual e um caso de violência física e negligência). As vítimas de violência física se distribuíram equitativamente entre os sexos (feminino, 55% e masculino, 45%), enquanto nos casos de violência sexual foi observado que o sexo feminino corresponde a 82% das vítimas. Nessa situação, o principal agressor foi o padrasto (32,3%), seguido do pai (30%).

Hellena aponta um dado que vai contra o esperado: quase 50% dos casos de violência doméstica contra crianças e adolescentes ocorreram em famílias nucleares, ou seja, aquelas formadas por pai, mãe e filho(s) que convivem na mesma casa. Segundo a médica, os estudos, em geral, apontam que as famílias não nucleares estão mais sujeitas à violência doméstica.

Independente da característica dos casos, segundo a legista, os estudos estão demonstrando que a violência vai contra a saúde física e mental das pessoas. “A vítima, ao chegar à fase adulta, tem mais chances de apresentar problemas de saúde como depressão, esquizofrenia e hipertensão”, explica.

Fonte: Estadão, 12 ago 2010

Desigualdade social no Brasil ~ por Frei Betto

Relatório da ONU (Pnud), divulgado em julho, aponta o Brasil como o terceiro pior índice de desigualdade no mundo. Quanto à distância entre pobres e ricos, nosso país empata com o Equador e só fica atrás de Bolívia, Haiti, Madagascar, Camarões, Tailândia e África do Sul.

Aqui temos uma das piores distribuições de renda do planeta. Entre os 15 países com maior diferença entre ricos e pobres, 10 se encontram na América Latina e Caribe. Mulheres (que recebem salários menores que os homens), negros e indígenas são os mais afetados pela desigualdade social. No Brasil, apenas 5,1% dos brancos sobrevivem com o equivalente a 30 dólares por mês (cerca de R$ 54). O percentual sobe para 10,6% em relação a índios e negros.

Na América Latina, há menos desigualdade na Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai. A ONU aponta como principais causas da disparidade social a falta de acesso à educação, a política fiscal injusta, os baixos salários e a dificuldade de dispor de serviços básicos, como saúde, saneamento e transporte.

É verdade que nos últimos dez anos o governo brasileiro investiu na redução da miséria. Nem por isso se conseguiu evitar que a desigualdade se propague entre as futuras gerações. Segundo a ONU, 58% da população brasileira mantém o mesmo perfil social de pobreza entre duas gerações. No Canadá e países escandinavos, este índice é de 19%.

O que permite a redução da desigualdade é, em especial, o acesso à educação de qualidade. No Brasil, em cada grupo de 100 habitantes, apenas 9 possuem diploma universitário. Basta dizer que, a cada ano, 130 mil jovens, em todo o Brasil, ingressam nos cursos de engenharia. Sobram 50 mil vagas… E apenas 30 mil chegam a se formar. Os demais desistem por falta de capacidade para prosseguir os estudos, de recursos para pagar a mensalidade ou necessidade de abandonar o curso para garantir um lugar no mercado de trabalho.

Nas eleições deste ano votarão 135 milhões de brasileiros. Dos quais, 53% não terminaram o ensino fundamental. Que futuro terá este país se a sangria da desescolaridade não for estancada?

Há, sim, melhoras em nosso país. Entre 2001 e 2008, a renda dos 10% mais pobres cresceu seis vezes mais rapidamente que a dos 10% mais ricos. A dos ricos cresceu 11,2%; a dos pobres, 72%. No entanto, há 25 anos, de acordo com dados do IPEA, este índice não muda: metade da renda total do Brasil está em mãos dos 10% mais ricos do país. E os 50% mais pobres dividem entre si apenas 10% da riqueza nacional.

Para operar uma drástica redução na desigualdade imperante em nosso país é urgente promover a reforma agrária e multiplicar os mecanismos de transferência de renda, como a Previdência Social. Hoje, 81,2 milhões de brasileiros são beneficiados pelo sistema previdenciário, que promove de fato distribuição de renda.

Mais da metade da população do Brasil detém menos de 3% das propriedades rurais. E apenas 46 mil proprietários são donos de metade das terras. Nossa estrutura fundiária é a mesma desde o Brasil império! E quem dá emprego no campo não é o latifúndio nem o agronegócio, é a agricultura familiar, que ocupa apenas 24% das terras, mas emprega 75% dos trabalhadores rurais.

Hoje, os programas de transferência de renda do governo – incluindo assistência social, Bolsa Família e aposentadorias – representam 20% do total da renda das famílias brasileiras. Em 2008, 18,7 milhões de pessoas viviam com menos de Ï€ do salário mínimo. Se não fossem as políticas de transferência, seriam 40,5 milhões. Isso significa que, nesses últimos anos, o governo Lula tirou da miséria 21,8 milhões de pessoas. Em 1978, apenas 8,3% das famílias brasileiras recebiam transferência de renda. Em 2008 eram 58,3%.

É uma falácia dizer que, ao promover transferência de renda, o governo está “sustentando vagabundos”. O governo sustenta vagabundos quando não pune os corruptos, o nepotismo, as licitações fajutas, a malversação de dinheiro público. Transferir renda aos mais pobres é dever, em especial num país em que o governo irriga o mercado financeiro engordando a fortuna dos especuladores que nada produzem. A questão reside em ensinar a pescar, em vez de dar o peixe. Entenda-se: encontrar a porta de saída do Bolsa Família.

Todas as pesquisas comprovam que os mais pobres, ao obterem um pouco mais de renda, investem em qualidade de vida, como saúde, educação e moradia.

O Brasil é rico, mas não é justo.

Fonte: Correio da Cidadania, 10 ago 2010

Pobreza e subdesenvolvimento favorecem avanço do terrorismo na África

Povo tuaregue é símbolo do turismo no Saara e sofre com as consequências do terrorismo

Raptos na região do Sahel vitimam geralmente cidadãos ocidentais – ao menos é o que as manchetes da mídia europeia dão a entender. O último caso ocorreu no final de julho, quando foi encontrado o cadáver do francês Michel Germaneau, de 78 anos.

Mas também os moradores da região são vítimas do terrorismo, que afeta os seus meios de subsistência. Muitos deles dependem há séculos do comércio e, desde há algumas décadas, também do turismo.

Os tuaregues, por exempo, são um orgulhoso povo do deserto. Com seus grandes e brilhantes lenços azuis e brancos na cabeça, eles são um símbolo para o turismo no Saara, região onde moram.

Ou ao menos eram, até alguns anos atrás – nesse meio tempo o turismo no Saara praticamente desapareceu. A falta de segurança, os sequestros, os assassinatos de visitantes ocidentais geraram manchetes e alertas contra viagens à região.

Turistas ficam longe

O terrorismo teve consequências devastadoras para o seu povo, afirma o tuaregue Mano Aghali. Ele descreve como o terrorismo roubou o sustento das pessoas na região de Agadez, no norte do Níger:

“Muitos de nós viviam do turismo: os vendedores e principalmente os guias turísticos. A assim chamada rebelião de 2007 e as suas consequências foram um verdadeiro choque para essas pessoas, pois há poucas opções para elas fazerem outras coisas. A maioria nem mesmo participou da rebelião, nunca lutou. E hoje não têm ocupação.”

O que Aghali chama de “segunda rebelião” começou em 2007: ataques violentos a policiais e militares e combates entre rebeldes e soldados elevaram a insegurança no norte do Níger.

Tráfico de drogas e armas

Mas essa revolta, descrita pelo governo como uma rebelião dos tuaregues, foi diferente da anterior, na qual os tuaregues haviam lutado por melhorias na região e por maior participação política. A nova onda de violência iniciada em 2007 não tinha nada a ver com causas políticas dos tuaregues, como Aghali aponta.

“A verdadeira força motriz do conflito não eram os tuaregues, mas pessoas que queriam lucrar com o tráfico de drogas e de armas na região. Elas usaram as causas dos tuaregues como escudo protetor das suas ações, escondendo-se atrás da afirmação: ‘Deixem-nos lutar pelas causas dos tuaregues! Deixem-nos lutar pelas causas da região de Agadez!'”

Como deputado, Aghali se empenha exatamente por essas causas. Como fundador da ONG Hedtamat, ele quer aumentar as chances de educação e formação profissional e trazer desenvolvimento para os tuaregues do Níger, sua terra natal.

Aghali luta há anos por uma melhor representação do seu povo no Parlamento, em partidos políticos e em instituições. E isso – melhores condições para o seu povo – não estava em questão em 2007, explica.

Para ele, desde o início o conflito foi uma grande derrota para o seu povo e para todo o país, pois destruiu os meios de subsistência numa região já marcada pela pobreza extrema e contribuiu para a disseminação do terrorismo. “Toda a região é uma área de insegurança. Os antigos rebeldes continuam por lá, toda região está cheia de minas. E novos atores estão se espalhando.”

Terroristas em diversas regiões africanas

Mas que “novos atores” são esses? Em todo o continente africano há hoje uma série de grupos extremistas islâmicos ativos. E muitos deles cometeram atos terroristas nas últimas semanas.

Já há cinco anos que o grupo autointitulado Boko Haram (algo como “Educação é Pecado”) aterroriza regiões do norte da Nigéria. Entre o estado de Bauchi e a região de Agadez encontram-se cerca de mil quilômetros de terra de ninguém. E em toda a área do Sahel, do sul da Argélia até o Níger, pequenos grupos da Al-Qaeda de Magreb espalham insegurança desde 2006.

No leste do continente, o estado fracassado da Somália é o ponto de partida de terroristas islâmicos para as regiões vizinhas: recentemente houve atos terroristas sangrentos em Uganda.

Entre os grupos terroristas ativos no Níger há muitos integrantes que não falam os idiomas locais: eles devem vir da Ásia ou de outras regiões da África, diz Aghali. Mas a eles se unem militantes locais, que são mais uma vez instrumentalizados.

“As pessoas na minha região correm o risco de serem manipuladas pela segunda vez. A primeira foi em 2007, com a onda de violência chamada de rebelião dos tuaregues. ‘Venham, venham!’, diziam na época, ‘nós lutamos pelas causas dos tuaregues!”. Na verdade tratava-se apenas de tráfico de drogas e de armas. E hoje dizem às mesmas pessoas, na mesma região, no mesmo país: “Vamos lutar em nome do Islã!”

Espaço para a proliferação do terrorismo

A África é um espaço ideal para o terrorismo internacional. Na Somália, assim como no Afeganistão, no Paquistão e no Iêmen, a Al Qaeda usa o vácuo criado pela fraqueza do Estado. Outras áreas do continente estão totalmente fora de controle, desconectadas dos centros políticos, sem polícia ou forças armadas.

É assim que a África se torna uma área de refúgio e proteção para o terrorismo internacional. É sintomático que os atos terroristas proliferem onde a pobreza e o subdesenvolvimento predominam, como no norte da Nigéria. Lá é fácil conquistar seguidores. E as poucas chances de desenvolvimento nessas regiões correm o risco de desaparecer, como consequência do terrorismo.

Ajuda ao desenvolvimento em risco

No Níger, a cooperação oficial para o desenvolvimento está suspensa desde o recente golpe militar. E também o trabalho desenvolvido pela Hedtamat estará ameaçado caso não haja apoio externo. Isso elevaria ainda mais a pobreza e o perigo do extremismo.

Os tuaregues recebem ajuda dos escritórios da organização humanitária Care na Alemanha e em Luxemburgo, que há muitos anos trabalham em conjunto com a Hedtamat. O apoio necessita ser mantido neste momento, afirma coordenadora de projetos Christine Harth, da Care. Ela conhece bem a região e trabalha com os tuaregues da Hedtamat.

“Nós gostaríamos que fosse garantido mais espaço para as ONGs nos países em que a ajuda ao desenvolvimento oficial é cancelada. Gostaríamos de continuar nosso trabalho com parceiros como a Hedtamat, também para poder transmitir às pessoas a certeza de que elas não serão abandonadas.”

Autora: Ute Schaeffer (jd)
Revisão: Alexandre Schossler

Fonte: DW 12 ago 2010