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Número de milionários cresce com asiáticos no topo da lista

Golden golfballs in gift set for luxury play

O distinto grupo da sociedade agora é composto por 10 milhões de pessoas que, juntas, acumulam 39 trilhões de dólares. E um dado curioso: a Suíça concentra a maior densidade mundial de milionários.

Em 2009, ano de maior tensão econômica da última década, um seleto grupo mostrou-se invulnerável à crise financeira mundial. Os ricos não só se tornaram mais numerosos como também ainda mais ricos.

O total de milionários subiu 17%, realcançando a marca de 10 milhões de pessoas, revelou uma pesquisa do banco de investimentos Merril Lynch e da empresa de consultoria Capgemini. A pesquisa considera indivíduos que acumulam pelo menos um milhão de dólares em patrimônio líquido.

A soma de seus patrimônios chegou a 39 trilhões de dólares, registrando um crescimento de 19% em relação ao anterior.

“Nós vemos uma clara indicação de recuperação e, em algumas áreas, um retorno à opulência e ao crescimento do ano de 2007”, esclareceu Sallie Krawcheck, diretora de Administração de Patrimônio do Bank of America.

Europa fica para trás

O rápido aumento de riqueza do grupo deve-se em grande parte aos mercados emergentes, especialmente Índia, Brasil e China. Pela primeira vez, os milionários asiáticos ultrapassaram os europeus. “Depois de cair 14,2% em 2008 para a 2,4 milhões, a população milionária da região Ásia-Pacífico voltou a crescer em 2009, chegando a 3 milhões de pessoas”, afirma a pesquisa.

O patrimônio conjunto dos milionários asiáticos soma 9,7 trilhões contra 9,5 trilhões dos europeus. A explicação para a inversão no ranking estaria no maior ganho de capitais na região da Ásia-Pacífico, enquanto que os rendimentos na Europa, apesar de consideráveis, foram inferiores.

Na lista dos mais ricos, estão 2,87 milhões de cidadãos dos Estados Unidos, seguidos por japoneses (1,65 milhão), alemães (861 mil) e chineses (477 mil).

Ainda segundo a pesquisa, a Suíça possui a maior densidade mundial de milionários: de cada mil suíços, pelo menos 35 possuem um milhão de dólares.

Reflexo nas compras

Com a recuperação dos mercados financeiros no último ano, os gastos com carros, iates, arte, jóias e demais objetos de luxo voltou a crescer em 2009, embora não tenha atingido os níveis de 2007. A expectativa para 2010 é que a movimentação do setor volte a crescer em 2010.

A BMW, por exemplo, registrou um crescimento de dois dígitos na China e no Brasil no ano passado. Também a Audi obteve um crescimento significativo no mercado chinês.

Depois de uma temporada complicada para os fabricantes de iates, o setor comemorou o reaquecimento nas vendas no primeiro trimestre de 2010. Nos Estados Unidos, tais empresas registraram um aumento de 30% neste período em comparação com o mesmo período em 2009.

A China foi também um dos únicos países a registrar um aumento da demanda por obras de arte: enquanto mundialmente houve uma queda de 45% nos lucros com leilões de arte em 2008, a China obteve um crescimento de 25% no setor, que lá movimentou 830 milhões de dólares.

Fonte: DW, 23 jun 2010

Peru supera Colômbia e é maior produtor em toneladas de folha de coca

Um estudo das Nações Unidas divulgado nesta terça-feira em Viena afirma que o Peru passou a ser o maior produtor mundial de folha de coca, superando a Colômbia pela primeira vez em dez anos.

De Bogotá, na Colômbia, o coordenador técnico do estudo, Leonardo Correa, disse à BBC Brasil que em 2009 o Peru foi responsável por 45% da produção da folha de coca da região andina, e a Colômbia, por 39%.

“O Peru produziu 119 mil toneladas e a Colômbia 103 mil toneladas. Em termos de área cultivada, a Colômbia continua a ser líder, mas em toneladas volta a ser o Peru”, afirmou Correa, do Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos da ONU.

O especialista observou ainda que o Peru registrou o quarto ano seguido de expansão de área cultivada, e a Colômbia, o segundo.

“Ainda falta muito para a Colômbia, mas o país tem registrado avanços neste setor. No caso do Peru, a tendência é contrária”, disse.

Queda no cultivo

De acordo com o levantamento da ONU, o cultivo na Colômbia diminuiu 16%, no ano passado, chegando a 68 mil hectares, uma queda de quase 60% em relação há dez anos.

No Peru a produção aumentou pelo quarto ano consecutivo, passando de 56.100 hectares, em 2008, para 59.900, em 2009.

“As notícias sobre o Peru são preocupantes”, disse em Viena o diretor-executivo do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), Antonio Maria Costa.

Costa sugeriu que o governo peruano implemente medidas, “em todas as frentes” para reverter esta expansão da produção da folha de coca.

O diretor-executivo do escritório da ONU atribuiu ao “enorme” investimento em “recursos humanos e financeiros” os resultados positivos registrados na Colômbia.

A ONU informou ainda que a produção da folha de coca caiu 5% na região andina, em 2009 comparando a 2008. A redução foi de 167 mil hectares em 2008, para 158 mil hectares em 2009.

O resultado ocorreu devido à queda de 16% deste cultivo na Colômbia e apesar da forte alta nesta produção no Peru e leve expansão, de 1%, na Bolívia – terceiro produtor mundial – com 30.900 mil hectares cultivados.

De acordo com a ONU, a rentabilidade das folhas de coca caiu 10% na Bolívia em 2009 frente a 2008, passando de US$ 293 milhões para US$ 265 milhões.

Em Lima, o chefe da entidade estatal Devida, de combate às drogas, Rómulo Pizarro, disse ao jornal El Comercio que existe “um sentimento de frustração” diante da expansão da área plantada com folhas de coca, apesar das medidas do governo.

Fonte: BBC, 22 jun 2010

Relatório da ONU vê ‘diversificação’ no mercado de drogas ilegais no mundo

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A produção e o consumo das principais drogas tradicionais estão em queda ou controlados no mundo, mas há sinais do aumento do uso de novas substâncias sintéticas, principalmente em países em desenvolvimento, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira pela Organização das Nações Unidas.

Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas da UNODC (agência da ONU para drogas e crime), o cultivo de coca, matéria prima para a cocaína, caiu entre 12% e 18% entre 2007 e 2009.

No mesmo período, segundo o relatório, o cultivo da papoula, matéria prima do ópio e da heroína, teria caído 23%. A agência espera uma queda ainda mais acentuada neste ano, por conta de uma praga que ataca as plantações no Afeganistão, o maior produtor mundial.

O relatório não traz dados específicos sobre cultivo de maconha, mas a agência da ONU observa uma redução no consumo da droga nos seus principais mercados – América do Norte e Europa.

Ainda assim, a maconha se mantém como a droga ilegal mais consumida no mundo. O relatório estima que entre 130 milhões e 190 milhões de pessoas consumiram a droga no último ano.

Anfetaminas

Segundo a UNODC, porém, o uso de estimulantes do grupo anfetamínico (ATS, na sigla em inglês) está em alta no mundo e deve ultrapassar em breve o número combinado de usuários de heroína e cocaína.

O relatório também menciona o aumento no abuso de drogas legais.

A agência da ONU observa que o combate ao tráfico e ao consumo de drogas sintéticas, produzidas em laboratórios, é mais difícil do que o combate às drogas tradicionais, produzidas à base de plantas.

Muitas vezes essas drogas sintéticas não são proibidas pelas leis dos países ou são produzidas a partir de substâncias legais. Além disso, muitos laboratórios estão localizados próximos aos consumidores, evitando longas rotas de tráfico internacional, como acontece com as drogas tradicionais.

“Essas novas drogas provocam um duplo problema. Primeiro, elas são desenvolvidas a uma velocidade muito maior do que as normas regulatórias e a aplicação da lei consegue acompanhar. Em segundo, o marketing é muito perspicaz, já que elas são produzidas para atender a preferências específicas em cada situação”, afirma o diretor-executivo da UNODC, o italiano Antonio Maria Costa.

Segundo o relatório, o número de laboratórios clandestinos de drogas sintéticas detectados cresceu 20% em 2008, incluindo países onde nunca antes haviam sido detectados laboratórios do tipo – o Brasil é citado como um desses países.

Para Costa, os dados mostram a dificuldade no combate às drogas. “Não resolveremos o problema das drogas no mundo se simplesmente empurrarmos o abuso de cocaína e heroína para outras substâncias que provocam dependência. E há um número ilimitado delas, produzidos em laboratórios mafiosos a custos baixos”, disse.

Novos mercados

O relatório da UNODC também destaca um aumento no consumo de drogas em geral em países antes livres do problema.

Entre os movimentos detectados estão o aumento no consumo de heroína no leste da África, o aumento do consumo de cocaína na América do Sul e no oeste da África e o aumento da produção e do consumo de drogas sintéticas no Oriente Médio e no Sudeste Asiático.

“Não resolveremos o problema mundial das drogas transferindo o consumo do mundo desenvolvido para o mundo em desenvolvimento”, advertiu Costa.

“Os países mais pobres não estão em uma posição de absorver as consequências do aumento do consumo de drogas. O mundo em desenvolvimento enfrenta uma crise iminente que poderia escravizar milhões na miséria da dependência de drogas”, afirma.

O documento adverte ainda para a influência desestabilizadora do tráfico de drogas sobre países de trânsito no tráfico de drogas, principalmente a cocaína.

Segundo a agência da ONU, o poder econômico e a violência relacionados ao tráfico pode ameaçar a segurança e a soberania dos países. O relatório cita a preocupação com o aumento da violência no México, na América Central e no oeste da África em particular.

Apesar de a coca ser cultivada apenas em três países – Colômbia, Peru e Bolívia -, o relatório identifica uma crescente diversificação nas rotas de tráfico da cocaína.

Segundo o relatório, 51% das drogas apreendidas em carregamentos marítimos com direção à Europa entre 2006 e 2008 tinham origem na Venezuela. O Brasil era a origem de 10% dos carregamentos. A Colômbia, maior produtor mundial de coca até o ano passado, foi identificada como a origem de apenas 5% da droga apreendida.

Fonte:  BBC, 23 jun 2010

Genocídio Feminino?

Assassinatos de mulheres na América Central alcança níveis epidêmicos

O termo epidemia é definido pela incidência, em curto período de tempo, de um grande número de casos de uma doença. Na América Central, porém, o que vem apresentando níveis epidêmicos é o número de assassinatos indiscriminados de mulheres por seus parceiros, parentes ou desconhecidos – o feminicídio.

A morte intencional e violenta de mulheres rapidamente avança na região. Em poucos anos, o total de assassinatos de mulheres na América Central duplicou, passando de 1.006 em 2003 para dois mil em 2009. Oitenta por cento destes delitos foram classificados como feminicídios e a maioria das vítimas tinha entre 20 e 29 anos. Frente aos números, diversas organizações ligadas aos direitos das mulheres lançaram um apelo às instituições nacionais para que prontamente se manifestem sobre o assunto.

De acordo com a pesquisa “Não esquecemos, nem aceitamos: Genocídio de mulheres na América Central”, realizada pelo Commca (Conselho de Ministérios da Mulher Centro Americanas), em conjunto com o Cefemina (Centro Feminista de Informação e Ação) e o Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), Guatemala, Honduras e El Salvador são os países com maior índice de feminicídio “ao registrarem até 18 mortes para cada 100 mil cidadãs”.

Segundo o estudo divulgado na semana passada, entre 2000 e 2007 os casos de genocídio feminino na Guatemala aumentaram 183%, em Honduras, 150% e em El Salvador, 111%. O aumento de crimes contra mulheres foi o dobro dos assassinatos de homens em todos esses países.

Apesar de ter um número menor de feminicídios, a pesquisa trouxe dados muito preocupantes também de outros países da região e Caribe. Na Nicarágua, Costa Rica, Panamá e Republica Dominicana a quantidade de assassinatos duplicou entre 2000 e 2007, assim como a relação vítimas/população feminina, que era de entre duas e quatro mortes para cada 100 mil cidadãs.

“É um crescimento muito preocupante, que deve nos alarmar. O fenômeno do genocídio feminino está alcançando a categoria de epidemia na Guatemala, El Salvador e Honduras. Nos demais países da região surgem sinais de que existem as mesmas condições para que esse nível seja alcançado”, relatou ao Opera Mundi a coordenadora da pesquisa e diretora do Cefemina, Ana Carcedo.

Segundo ela, “outros indicadores que comprovam a gravidade da situação são o crescimento muito mais rápido dos genocídios femininos do que dos homicídios de homens e uma evidente mudança de situação onde se consumam estes genocídios”.

Causas e cenários

A literatura especializada indica que existem três tipos de feminicídio: íntimo, não íntimo e por conexão. Íntimo são assassinatos cometidos por homens com quem a vítima tinha uma relação íntima, familiar ou de convivência próxima. O feminicídio não íntimo acontece quando o crime é cometido por homens com quem a vítima não tinha qualquer relação, frequentemente envolvendo ataque sexual.

Já o feminicídio por conexão envolve mulheres assassinadas “na linha de fogo”, ou seja, quando um homem tenta matar uma mulher e outra é atingida. Este caso se relaciona a parentes, filhas ou outras pessoas que tentaram interferir ou que simplesmente foram envolvidas na ação. “No passado, a maior parte dos feminicídios era do tipo íntimo. Entretanto, hoje, as investigações mostraram o surgimento de contextos sociais e econômicos de desigualdade que facilitam os crimes”, contou Carcedo.

“Estamos falando”, continua ela, “da questão das mulheres, de redes de exploração sexual, a vingança do homem perpetrada nos corpos das mulheres, do crime organizado e das máfias, dos grupos armados que atuam coletivamente para matar mulheres”. Segundo a pesquisadora, as novas situações têm um peso significativo no aumento dos feminicídios.

Entre as principais causas dos genocídios femininos estão fatores sociológicos. Há “um desmanche muito forte das sociedades com base no impulso das políticas de desenvolvimento atuais, baseadas no neoliberalismo”. As políticas de governos da região “transformaram tudo em mercadoria, colocaram preço na vida, destruíram as redes sociais de apoio e transformaram rapidamente as relações entre gêneros, desfavorecendo as mulheres”, explicou.

Carcedo assinalou que há uma transformação das relações de poder na sociedade centro-americana: “Existe uma ofensiva sem precedentes, fundamentalista, que está colocando a mulher como um objeto dispensável. Quando alguém diz que as mulheres têm ganhado muitos direitos e que é preciso acabar com isso, que a vida de uma mulher vale menos do que a de um feto, que é preciso castigá-la, a mensagem é a de que essas vidas não valem nada. Isso contribui para um considerável aumento da misoginia”, avaliou a pesquisadora do Cefemina.

Para Mônica Zalaquett, diretora do Ceprev (Centro de Prevenção da Violência), os confrontos de gênero geraram um forte choque com a mentalidade existente “de crenças, culturas, estereótipos arraigados”, o que gera um paradigma. “Quando um homem perde poder, ele está deixando uma parte da sua própria identidade masculina, que está indissoluvelmente associado ao trabalho e ao papel de provedor. Este papel está se transferindo para as mulheres, que começam a ter mais protagonismo do que antes e isto também a sobrecarrega”, afirmou.

Zalaquett acredita que as mudanças não estão se refletindo dentro de casa. “Temos forçado mudanças nas relações de poder tradicionais, mas no âmbito familiar a mulher continua totalmente desprotegida, presa a uma terra de ninguém onde impera a impunidade e a ditadura familiar. É difícil que a mulher possa defender-se nessa situação. Temos masculinizado as mulheres sem feminilizar os homens”, analisou a especialista. Além da perda de poder do homem, outros importantes detonadores da violência são a crise econômica e o consequente desemprego.

“Atualmente existe um fenômeno de revanche do homem contra a mulher. Se trata de uma verdadeira crise do modelo machista tradicional e aparentemente ninguém se importa”, lamentou Zalaquett.

Histórias reais

A nicaraguense Silvia de Los Angeles Aguirre foi assassinada pelo marido em 2004. Ele a embebedou e, com a esposa desacordada, a cortou várias vezes, mutilando seu corpo (cabeça e perna esquerda). E quando Silvia ainda tinha sinais vitais, o marido fez um corte entre o tórax e o abdômen.

Conforme relatava a história da irmã, Sonia del Carmem disse que ela “era um ser humano e foi massacrada de forma desumana”. Silvia era mãe de duas crianças.

Em 2005, o assassino foi condenado a 30 anos de prisão. Em 2008, obteve uma redução da pena por bom comportamento e no ano passado pediu liberdade condicional. “Mas ainda não sabemos onde está a cabeça e a perna da minha irmã”, relatou Sonia em Manágua, durante a apresentação da pesquisa. “Nós a enterramos aos pedaços. Como puderam me dizer que ele havia mudado porque se converteu ao Evangelho e que por isso queriam lhe dar a liberdade condicional?”, perguntou, indignada.

O pedido foi recusado pela Justiça. “Estou aqui pela memória da minha irmã, para contar sua história e a luta que travamos para que seu assassino fosse condenado, para que episódios como este não voltem a acontecer.”

Cecília Torres Hernandez, ativista da RMCV (Rede de Mulheres contra a Violência), norte da Nicarágua, se tornou outra vítima de feminicídio em 2006. “Cecília era uma mulher humilde, muito firme e com uma grande convicção dos direitos das mulheres, do direito de viverem livres da violência. Segura de sua cidadania. Por isso lutou e deu sua vida”, relatou o Grupo Venancia, organização que luta pelos direitos das mulheres.

”Para Cecília, não bastava trabalhar para ajudar a família. Interessou-se pelos direitos das mulheres e participou de várias redes de apoio. Tornou-se promotora dos direitos humanos, parteira de sua comunidade e agente de saúde”, diz o relatório. Lutou durante anos para que o ex-companheiro da filha Noemi reconhecesse a paternidade da neta e pagasse pensão alimentícia. Levou o caso aos tribunais e, em 2006, obteve sentença favorável.

Em 3 de abril de 2007, Cecília estava em sua casa quando o ex-companheiro da filha passou o braço por cima de seus ombros e disse: “Cecília, vim acertar as contas com você”. O rapaz sacou um punhal da cintura e o cravou no estômago da mulher.

As crianças, que estavam na cozinha, correram para se esconder. A outra filha, Josefina, ao ver a mãe ferida, saiu para pedir ajuda. Jhonny a derrubou no chão e também lhe feriu com o punhal, no abdômen.

Ao ver o que acontecia, Cecília, sangrando, teve forças para pegar uma pedra e jogar contra o homem enfurecido que, apesar de não ter sido atingido, deixou Josefina fugir. Mas Cecília não teve escapatória. Jhonny a alcançou e acertou seis punhaladas, segundo relato do Grupo Venancia.

Fonte: Ópera Mundi, 29 maio 2010

Cabeça de galo e queijo de coalho ~ Ignácio de Loyola Brandão

JOÃO PESSOA – Numa barraca à beira-mar, vi o sujeito comendo um bolo de mandioca. Antes de me decidir, perguntei a ele: “Está bom?” Ele me avaliou, pareceu ter me aprovado: “Rapaz. Vou te dizer que está bem bom.” A todos a quem você agradece, “obrigado”, vem a resposta afável: “Disponha.” A cidade é aconchegante e o povo, hospitaleiro e alegre. Durante uma semana, aconteceu a 1ª Bienal de Livros da capital da Paraíba, promovida pela Acessus, do Salustiano Fagundes, o Salu, que vem implantando feiras de livros pelo Nordeste. Pioneiras na região, são pequenas ainda, mas despertam curiosidade e atraem o público. O poder público podia se comover mais e dar importância maior à cultura, entrando no jogo. Um dia, essas bienais serão tradição, como têm hoje Porto Alegre, Passo Fundo, Paraty. Começar é preciso (Por que essa ordem indireta? Pirei?) Em João Pessoa falaram Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna, Zuenir Ventura e outros. Gente da pesada.

Não esquecer que a Paraíba é a terra de José Lins do Rego, Augusto dos Anjos, Edilberto Coutinho, Ernani Sátiro, Perminio Asfora, Políbio Alves, Aldo Lopes. E, claro, de José Américo de Almeida. Também de Ariano Suassuna que ali nasceu, aliás no Palácio, uma vez que seu pai foi governador. Conta-se que, anos mais tarde, Ariano, ao voltar à cidade, foi visitar a casa em que nasceu. Um funcionário empertigado, ao vê-lo em mangas de camisa, botou a mão em seu peito: “Não se entra no palácio sem paletó e gravata!” E Ariano, enfezado: “Pois entro! Andei descalço e pelado nestes quartos e corredores, não vou entrar de camisa?” Como não citar o nosso José Nêumanne, poeta e romancista, saboroso contador de causos?

A Paraíba, chamada de “pequenina e heróica”, teve a mais doce cana-de-açúcar e o melhor pau-brasil do mundo, segundo a crônica ultramarina. Hoje tem o melhor sisal, o algodão de fibra longa, um abacaxi dulcíssimo, o Pérola, um rebanho caprino insuperável, uma indústria têxtil em plena evolução e cerâmica de primeira linha. Paraibanos ficam bravos e alguém não cita o Cabo Branco, como o ponto mais oriental das Américas, o que é contestado por outros Estados, mas eles comprovam com alguns metros a mais.

Para visitar a cidade é preciso ter o privilégio de contar com acompanhantes como Chico Pereira, artistas plástico, designer, historiador, apaixonado, e com Vladimir Neiva, ao lado. Nenhum detalhe nos escapa. Ao fim do dia, depois de olhar a paisagem do alto do Hotel Globo (nada a ver com a televisão, nada, era o antigo hotel dos comerciantes junto ao porto) você está apaixonado. A imensidão verde, os mangues, os canaviais ao longe, o Rio Parahyba correndo manso, deslumbraram também Franz Post, que ali esteve quando a Paraíba era a terceira capitânia em importância, antes da invasão holandesa. A paisagem hipnotiza e paralisa, é impossível arredar pé.
No entanto, é preciso partir para chegar à igreja menina dos olhos de Darcy Ribeiro, que a considerava um dos monumentos barrocos mais belos do mundo, a de São Francisco. E o crítico Clarival do Prado Valadares a definiu como a igreja mais bonita do Brasil. Novo deslumbramento. Ao chegar, deite-se no chão e contemple o teto, com as pinturas em trompe l’oeil. O que a arte moderna diz que foi inventada por ela, já estava neste teto havia séculos. Conforme você muda de lugar, as figuras se modificam e as colunas se inclinam. Pela janela da fachada, o sol, determinada hora do dia, penetra e se reflete em um crucifixo dourado que resplandece, transmitindo a “glória do Senhor”. Sabiam tudo os arquitetos da época. Tanto que em pleno inverno – estava 33°C – a igreja é fresca e a brisa circula. Apaixonado pela igreja e por sua terra, Chico Pereira se transfigura em êxtase, conhece e mostra cada detalhe, aponta para o púlpito que avança para a nave com uma decoração assombrosa, requintada. Então, percebemos que o tempo parou.

Felizmente, o centro da cidade antiga foi “esquecido” ou desprezado pela especulação imobiliária, de maneira que ainda permanecem de pé vários palacetes, casas coloniais, sobrados, (o Pavilhão Chinês, onde as pessoas iam tomar chá à tarde, é lindo, merecia mais cuidado) vestígios de uma arquitetura que fez da cidade uma centro sofisticado. No entanto, assinale-se uma tristeza. Aliás, duas. A Petrobrás, que se orgulha tanto de incentivar a cultura nacional (e realmente patrocina coisas belas) e defender o patrimônio histórico, comete um crime. Quem vai visitar a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, magnífica, imponente, símbolo da resistência paraibana, chora. O forte foi esmagado, oprimido e desapareceu envolvido pelos gigantescos tanques de combustível da Petrobrás. Um crime, impiedade. Além disso, a visão do rio foi ocupada e se dissolveu, obscurecida por uma torre moderna, a do Moinho Tambaú. Curioso, parece que não existe Patrimônio Histórico neste Brasil. As boas cabeças da Paraíba lamentam e choram.

Era domingo e, de repente, estávamos numa casa à beira da praia. O Neiva, da Grasset, uma das grandes gráficas do Estado, abriu e porta e disse: “Chegaram na hora. Vão experimentar cabeça de galo.” Um prato típico. Para quem chega de uma noitada e precisa se retemperar. Tremi. Não gosto de frango, detesto, é trauma de infância e juventude – era comida de pobre, tinha todo dia, lembro-me do cheiro da água quente quando tiravam as penas. Cabeça de galo? Me imaginei comendo a cabeça da ave, chupando ossinhos. Teria de ser gentil fazer o sacrifício? Mas quando chegou, me deliciei. É um caldo quente, pelando, com ervas variadas, pimenta e um ovo jogado dentro. Revigorante, alucinante. O nome vem do lugar onde ele nasceu, um boteco onde os boêmios chegavam de madrugada e queriam se recompor.

Como não queria sair sem uma boa carne-de-sol, me lavaram à Tábua de Carne. Perfeito. Filé de carne-de-sol no ponto exato, manteiga da terra, na garrafa, pirão de queijo, paçoca e feijão verde. Sobremesa? Abacaxi Pérola ou queijo de coalho com melaço. Há quem resista? Nas conversas com Chico Pereira e Vladimir soube das pesquisas e experiências nutricionais que vêm sendo feitas por especialistas com resultados excepcionais. No tocante à carne caprina, lembrar que bode é prato requintado. E os cheios de imaginação locais criaram o Mac Bode – um sucesso – e o Mac Cheiro (corruptela de macacheira), outro êxito. Quem não gostou foi o MacDonald’s que protestou e processou. De nada adiantou, a coisa pegou. Saia da normalidade, jogue-se no seu país. Mac Bode e Mac Cheiro. Anote.

© O Estado de S. Paulo -  2.junho.2006 – Caderno 2

No tener acceso a Internet genera más angustia que la privación de sexo

Cuatro de cada diez españoles (el 42%) reconocen que la situación que más angustia les provoca es saber que no podrán conectarse a Internet durante una semana; mientras que sólo el 37% reconoce que lo que más ansiedad les provoca es no mantener relaciones sexuales.

Y es que, según un estudio realizado por conZumo en base a más de 600 respuestas de internautas, Internet se ha convertido en algo tan fundamental en la vida de los españoles que estos lo sitúan incluso por delante del sexo en su orden de prioridades.

El 75% de los encuestados ha confesado que navegar por la red les ha hecho perder tiempo de sueño

Así las cosas, el 42% de los hombres y mujeres – no se revelaron diferencias entre sexos – afirma que lo que les provoca más angustia es saber que no podrán acceder a Internet durante una semana, una situación seguida de cerca por la privación de relaciones sexuales durante el mismo periodo, algo que es lo que más angustia al 34% de mujeres y al 42% de los hombres.

El móvil tampoco se queda atrás en esta comparativa y dos de cada diez españoles (24% de mujeres y 16% de hombres)declaran que no poder emplearlo en una semana les provocaría ansiedad.

Las horas de sueño también se ven alteradas por el uso de Internet. Así, el 75% de los encuestados ha confesado que navegar por la red les ha hecho perder tiempo de sueño, mientras que sólo el 13% han respondido que el culpable es el teléfono móvil. El sexo, por su parte, quita el sueño al 30%, muy por debajo de lo que consigue Internet.

Pero, ¿y si ponen a los españoles en el aprieto de elegir entre un ordenador con acceso a Internet, un teléfono móvil o su pareja para pasar un mes recluido en una celda? Ante esta situación la pareja sale ganando con un 57%, si bien Internet no obtiene malos resultados ya que un 39% de los españoles lo prefiere a estar con su pareja. El teléfono móvil, por su parte, es el gran olvidado ante una situación así, puesto que sólo un 4% elegiría un móvil de última generación.

En cuanto al tiempo máximo sin practicar estas actividades, el teléfono móvil se convierte en algo imprescindible, ya que el 70% de los encuestados no han pasado más de un día sin usarlo. Le sigue Internet con un 51% y tan sólo un 18% respondieron que practican sexo todos los días.

Fonte: EUROPA PRESS 27 mayo 2010

Entusiasmo e desilusão marcam processos históricos ~ Judt

Em um artigo recente, o historiador Tony Judt (pronuncia-se “jud”), 62, comentou a paixão do pai por exóticos carros franceses — ou que, ao menos, eram vistos assim no Reino Unido da década de 1960.

O Citroën DS 19 branco em que a família cruzava a Londres da época podia ser incomum, mas a relação que o motorista mantinha com a máquina já se popularizava.

Não à toa, defende Judt, a geração que chegou à maturidade no pós-Guerra, à qual pertencia seu pai, amava o automóvel.

Finalmente acessíveis à classe média, mas ainda não hegemônicos na vida urbana, os carros deram corpo e mecânica a anseios de liberdade e à prosperidade econômica recém-alcançada.

Décadas depois, boa parte do encanto desapareceu em meio a congestionamentos. Judt, como muitos de sua geração em países ricos, não nutre simpatia por carros –representantes, em sua opinião, de “separação e egoísmo nas formas mais socialmente disfuncionais”.

A crítica ao “egoísmo”, registrada no relato do historiador, é hoje algo tão raro quanto Citroëns DS 19 em Londres há cinco décadas.

Formado em instituições-símbolo da academia europeia –a Universidade de Cambridge e a Escola Normal Superior, em Paris–, Judt é provavelmente o principal intelectual social-democrata em atividade.

Vítima desde 2008 de uma doença neuromuscular que paralisa seu corpo, ele continua a publicar artigos e livros em que ataca o pensamento conservador e a crescente desigualdade econômica na Europa e nos EUA.

Ao mesmo tempo, defende as conquistas do Estado de Bem-Estar Social.

Muitos desses artigos, escritos antes do diagnóstico, estão em “Reflexões Sobre um Século Esquecido”, lançada esta semana no Brasil.

Ali se pode constatar que, assim como o carro do pai, Judt não se encaixa bem na paisagem _no caso dele, a hegemonia intelectual das últimas décadas.

LÓGICA CONTÁBIL

De família judaica, o historiador é um dos mais ferozes críticos de Israel, segundo ele, um país “imaturo”, “adolescente”. Mas os nacionalismos não o incomodam mais do que o modelo americano de divisão identitária étnica da população.

Em contraste com arautos de uma nova ordem mundial, pós-Guerra Fria e 11 de Setembro, Judt vê mais continuidade do que ruptura entre a época atual e os dilemas do século 20.

Sobretudo, é um crítico do crescente esvaziamento das perspectivas éticas e sociais nos debates políticos de décadas recentes, marcados pelo que acredita ser uma vazia lógica contábil, economicista. “Esquecemos como pensar politicamente”, escreve.

Muitos de seus textos se dedicam a desvendar os processos históricos que desaguaram na atual hegemonia conservadora, crítica do Estado-providência.

E ela é filha do “esquecimento”, defende Judt.

A geração que construiu os mecanismos distributivos das atuais sociedades europeias, que edificou eficientes sistemas de proteção social, educação e saúde públicas, havia vivido a experiência comum da Grande Depressão e da Segunda Guerra.

Seus líderes temiam as possíveis consequências de políticas que disseminassem injustiças sociais ou desigualdades econômicas.

A prosperidade que legaram aos filhos, nos países ricos, diminuiu o significado coletivo daquelas experiências traumáticas e dos temores a elas associados.

Os benefícios do Estado de Bem-Estar Social pareciam garantidos, defende Judt, ao mesmo tempo em que se abria espaço para a crítica aos seus excessos –na arrecadação de impostos e nos gastos públicos.

CICLO NATURAL

Mas a história não termina aí. “Creio que existe um ciclo natural de entusiasmo e desilusão, que se cruza com um ciclo parecido, de esquecimento e reaprendizado”, diz.

O mais recente ciclo de hegemonia ideológica, que diminuiu o papel do debate político e social, pode estar próximo do fim, afirma.

Os valores estritamente contábeis das últimas décadas já fazem sentir seus efeitos perniciosos na atual crise econômica e na crescente desigualdade das sociedades americana e britânica.

Há espaço, aposta, para um renovado apelo dos valores que ajudaram a edificar o Estado de Bem-Estar Social.

Fonte: Folha Online, 25 maio 2010

O sexo triste dos jovens ~ Lya Luft

Abstract seventies star design that is ideal a...

“A nós, adultos, cabe não desviar os olhos, mas trabalhar na esperança de que um dia nossos adolescentes conheçam o sexo com ternura”

Procuro ser aberta ao novo, ao que me agrada no novo e também ao que exige um certo tempo para ser assimilado. Às vezes há o que não vale a pena ser assimilado, então, vou buscar outras paisagens. Eventualmente não sabemos se vale ou não, então, a gente fica humilde e espera.

Uma novidade (para mim) espantosa, narrada e confirmada em mais de um lugar no país, é dessas que não quero assimilar. Se possível, enterrava numa cova funda, varrida para baixo de mil tapetes, fazia de conta que não existia: o sexo (ou simulacro de sexo) sem encanto, sem afeto, sem tesão, o sexo triste ao qual são coagidos pré-adolescentes, quase crianças, em famílias de classe média e alta. Essas que pensamos estar menos expostas às crueldades da vida.

Talvez eles não precisem comer lixo, correr das balas dos bandidos, suportar brutalidades e incestos, tanto quanto os mais desvalidos. Seu mal vem sob outro pretexto: o de ser moderno e livre, ser aceito numa tribo, causar admiração ou inveja. Cresce, que eu saiba, o número de meninas de 12 a 14 anos grávidas.

O impensável ocorre muitas vezes em festinhas nas quais se servem bebidas alcoólicas (que elas tomam, ou pagariam mico diante das amigas, e com essa desculpa convencem os pais confusos), não há nenhum adulto por perto (seria outro mico, e assim elas chantageiam os pais omissos), e ninguém imaginaria o que ia rolar.

Nessas ocasiões pode rolar coisa assombrosa sob o signo da falta de informação, autoridade e ação paternas. Nem sempre, mas acontece. Crianças bêbadas no chão do banheiro de clubes chiques, adultos cuidando para não sujar o sapato no vômito não são novidade (ambulância na porta, porque algumas dessas meninas ou meninos passam mal de verdade); quantas meninas consigo beijar na boca numa festinha dessas? Em quantos meninos consigo fazer sexo oral?

Sexo que vai congelando as emoções ou traz uma doença venérea, quem sabe uma absurda gravidez – interrompida num aborto, de sérias consequências nessa idade, ou mantida numa criança que vai parir outra criança.

“Roubaram a sexualidade desses meninos”, me diz uma experiente terapeuta. Não deixaram tesão nem emoção, mas uma espécie de agoniado espanto, nessas criaturas inexperientes que descobrem seu corpo da pior maneira, ou aprendem a ignorá-lo, estimuladas ou coagidas por incredulidade ou fragilidade familiar, pelo bombardeio de temas escatológicos que nos assola na TV e na internet, com cenas grotescas, gracejos grosseiros em torno do assunto – “valores” e “pudor”, palavras hoje tão arcaicas.

Efeito da pressão de uma sociedade imbecilizada pela ordem geral de que ser moderno é liberar-se cada vez mais, sem saber que dessa forma mais nos aprisionamos. Precisamos estar na crista da onda em tudo, tão longe ainda da nossa vida adulta: sendo as mais gostosas e os mais espertos, desprezando os professores e iludindo os pais, sendo melancolicamente precoces em algumas coisas e tão infantilizados e ignorantes em outras, nisso incluindo nosso próprio corpo, emoções, saúde e vitalidade.

A nós, adultos, cabe não desviar os olhos, mas trabalhar na esperança (caso a tenhamos) de que nossos adolescentezinhos, às vezes ainda crianças, vivam de maneira natural essa delicada fase, e um dia conheçam o sexo com ternura, na tensão de sua idade – forte e boa, imprevista e imprevisível, com seu grão de medo e perigo, beleza e segredo.

Que essas criaturinhas sejam mais informadas e mais conscientes do que, muito mais protegidas que elas, nós éramos. Mas seguras e saudáveis, não precisando lesar sua bela e complexa intimidade com tamanha violência mascarada de liberdade ou brincadeira. Sobretudo, sem serem estimuladas a lidar de modo tão insensato com algo que pode lhes causar traumas profundos, ou anular um aspecto muito rico de sua vida.

É difícil, mas a gente precisaria inventar um movimento consciente, cuidadoso, responsável, contra essa onda sombria que quer transformar nossas crianças em duendes pornográficos, deixando feias cicatrizes, e fechando-lhes boa parte do caminho do crescimento e do aprendizado amoroso.

Fonte: Revista Veja, 23 maio 2010

Italianos aprendem português com livro feito por crianças de Juripiranga (PB)

Quando ouviu a sugestão de fazer um livro digital com seus alunos, a professora Jocileia Izidorio, que dá aula para uma turma de correção de fluxo na cidade de Juripiranga, na Paraíba (a 60 km de João Pessoa), não imaginava que a obra iria terminar na Itália –e traduzida. “Fiquei bestinha com a história”, disse.

O livro, feito por 15 crianças com idades entre 8 e 15 anos, retrata o cotidiano da cidade do interior paraibano com cerca de 10 mil habitantes e economia baseada na produção de vassouras com palha de carnaúba. O tema –“Juripiranga, este é o meu lugar”– foi sugerido pelas próprias crianças. A edição digital ficou a cargo da Editora Plus, uma organização sem fins lucrativos e especializada em e-books.

“A gente falou da cultura de Juripiranga. Foi feito gradualmente: o campo, a produção da vassoura. Eu e os alunos visitamos. Eles escreviam o que eles viam. Não foi nada imposto. Eles escolhiam os temas”, afirmou.

A linguagem fácil e descomplicada chamou a atenção do professor José Fernando Tavares, que dá aula de português brasileiro em San Benedetto del Tronto, no litoral italiano do mar Adriático. Ele é designer dos livros da editora online e decidiu usar o “Juripiranga” em sala. Foi o suficiente para os alunos se empolgarem e mandarem traduzir a obra.

“Usei o livro como texto para leitura e análise de frases simples e também como exercício de tradução para o italiano. Como o pessoal gostou do livro, decidimos fazer uma tradução mais profissional. Aproveitando das traduções feitas na sala de aula, mandei o material para um meu amigo brasileiro que vive há anos na Itália e que trabalha como tradutor”, disse Tavares.

A turma de Jocileia, na época, era destinada a estudantes que tinham baixo rendimento nas séries que cursavam e acabavam encaminhados à correção de fluxo. Fazer o livro foi um projeto que animou a garotada.  “Saber que um livro foi pra outro país tornou ainda mais orgulho”, afirmou.

Se quiser fazer o download do livro, basta acessar a página na Editora Plus.

Fonte: Portal uol, 22 maio 2010

Pesquisas apontam características do mercado sexual no país

Sete pequisas  realizadas pelo Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra  Criança e o Adolescente, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Comissão Interestadual de Combate à Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes da Região Centro-Oeste (Circo), mostram as primeiras impressões sobre o mercado sexual no Brasil.

O objetivo das pesquisas é fazer um diagnóstico qualitativo para municiar as entidades e órgãos governamentais que atuam no enfrentamento à exploração sexual.   “Compreendendo como a exploração sexual ocorre, teremos melhores condições para enfrentá-la”, afirma a pesquisadora Estela Scandola, representante do Comitê Nacional em Mato Grosso do Sul.

O conjunto de estudos está sendo feito em áreas de fronteira, em garimpos, na BR-163, em comunidades indígenas, em áreas de transporte fluvial, no setor sucroalcooleiro (locais de plantação de cana-de-açúcar e destilarias de álcool) e em locais de atendimento às vítimas de violência sexual.

O estudo mostra  que a exploração sexual está inserida nas relações de trabalho e, como como nas demais cadeias produtivas, aparece em três vértices: a demanda, a oferta e o mercado. Mulheres, crianças e adolescentes produzem mercadoria e por vezes são mercadorias que produzem mercadorias.

A pesquisa do setor sucroalcooleiro já está em fase de conclusão, mas ainda não tem data para ser lançada.  O trabalho  foi realizado em cidades onde toda a economia e a vida social e cultural giram em torno de duas ou três megadestilarias de álcool. O estudo mostra que a presença deste setor impacta decisivamente na organização da cidade e na construção de um único modelo de desenvolvimento.

Segunda Estela, observou-se na pesquisa que antes da instalação de um empreendimento desse porte ocorre toda uma preparação anterior do local, a viabilização de moradias, de pontos para alimentação e também do comércio sexual que vai atuar na localidade.

“Temos percebido que o comércio sexual sempre chega antes e depois vai se reabastecendo para manter os trabalhadores e aplainar a saudade das famílias. Dos empregados menos remunerados ao mais alto escalão da indústria, todos se servem do comércio sexual local”, destaca Estela.

De acordo com a pesquisaora, os preconceitos e as discriminações presentes em toda a sociedade são sedimentados no mercado sexual. “Na plantação de cana, se a menina tiver um caso com o cortador de cana, é exploração sexual, mas, se ela estiver com um funcionário bem remunerado da empresa, está namorando.”

As demais pesquisas ainda estão em fase de coleta de dados. No caso do garimpo, a pesquisa foi feita em cidades remanescentes de mineração. Segundo Estela, essas cidades têm o estigma do garimpo e não conseguem sair do novo patamar cultural de local de exploração sexual.  “A pesquisa aponta que, embora naquela cidade não exista mais garimpo, a cultura da exploração sexual permanece. Deixa tatuagens culturais.”

A pesquisadora destaca também informações sobre o estudo realizado na BR-163 em sete municípios de Mato Grosso do Sul. A rodovia federal liga o país do Rio Grande do Sul ao Pará. Em todos os municípios estudados, os resultados foram semelhantes.

“Continuamos  trabalhando com a ideia de uma sexualidade masculina incontrolável. As meninas são oferecidas, vão convencer os homens para a atividade sexual, e as mães são as responsáveis por não conseguirem manter as filhas em casa. Isso evidencia uma sociedade bastante conservadora”, salienta.

Para o enfrentamento à exploração sexual, Estela sugere que os organismos oficiais de financiamento imponham condicionalidades às empresas antes da aprovação do crédito.
“Os financiamentos oficiais deveriam exigir condições para não impactar, de forma tão desastrosa, os municípios. É preciso negociar a implantação do empreendimento, deixando claro os problemas  que serão vividos pela comunidade ”, conclui

Estela Scandola participou, nesta semana, em Brasília, do seminário Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes: Novas Estratégias de Enfrentamento, organizado pelo Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi) e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Fonte: Lisiane Wandscheer, 22 maio 2010
Agência Brasil

Uma em cada 5 mulheres de 40 anos já fez aborto

Uma em cada cinco brasileiras de 40 anos (22%) já fez pelo menos um aborto, aponta o maior levantamento sobre o tema realizado no País. Quando consideradas mulheres de todas as idades, uma em cada sete (15%) já abortaram. Ao contrário do que se imagina, a prática não está restrita a adolescentes solteiras ou a mulheres mais velhas. Cerca de 60% das mais de 2 mil entrevistadas interromperam a gestação no centro do período reprodutivo – entre 18 e 29 anos.

“A maioria é de mulheres casadas, religiosas, com filhos e baixa escolaridade”, revela a antropóloga da Universidade de Brasília Debora Diniz, autora principal do estudo. “Elas já têm a experiência da maternidade e tanta convicção de que não podem ter outro filho no momento que, mesmo correndo o risco de serem presas, interrompem a gestação”, diz.

Medicamentos abortivos foram usados em metade dos casos pesquisados. É provável que para a outra metade das mulheres a interrupção da gravidez tenha ocorrido em condições precárias de saúde, aponta o estudo. “Cerca de 55% das mulheres precisou ser internada por causa de complicações. Se o aborto seguro fosse garantido, isso seria evitado”, defende Debora.

“Os dados reafirmam a opinião já consolidada no Ministério da Saúde de que aborto é uma questão de saúde pública”, diz Adson França, assessor especial do ministro José Gomes Temporão. “Mostra que estamos no caminho certo ao ampliar a oferta de métodos contraceptivos no Sistema Único de Saúde (SUS).”

Financiada pela Fundação Nacional de Saúde, a Pesquisa Nacional de Aborto entrevistou 2.002 mulheres entre 18 e 39 anos de todo o País. A técnica utilizada é semelhante a de pesquisas eleitorais e, como o anonimato é garantido, estima-se uma margem de erro de apenas 2%.

Fonte: Agência Estado, 22 maio 2010

Empresa que fabrica iPhone na China tem oitavo suicídio em 2010

Balinese cremation tower during a ceremony

Um empregado das fábricas chinesas do gigante tecnológico taiuanês Foxconn, fabricante do iPhone para a Apple (entre outros produtos), se matou nesta sexta-feira ao se jogar de um prédio da empresa, no oitavo suicídio de um funcionário da empresa em 2010, segundo a agência oficial “Xinhua”.

O suicida, chamado Nan Gang, de 21 anos, se matou às 4h50 locais (17h50 de quinta-feira em Brasília), se jogando pela janela de um dos edifícios da companhia em Shenzhen, principal centro da indústria tecnológica da China.

A Foxconn, que faz parte do conglomerado taiuanês Hon Hai, registrou dez tentativas de suicídio entre seus empregados este ano — dois deles fracassaram.

A onda de incidentes deste tipo levou os responsáveis da empresa a contratarem psicólogos e até monges budistas que realizaram cerimônias para afastar “maus espíritos”.

Também foi implantado um sistema de atendimento psicológico por telefone para os trabalhadores, que, segundo seus responsáveis, atendeu cerca de 30 chamadas de operários com depressão e pensamentos suicidas.

Todas as vítimas eram jovens de entre 18 e 23 anos, que começavam a trabalhar na empresa. A estranha onda de suicídios motivou um intenso debate entre especialistas, que se perguntam se as novas gerações de trabalhadores chineses estão preparadas para aguentar as mesmas condições de trabalho de seus antecessores, após terem passado a infância e a adolescência de forma mais tranquila.

Apesar de a Foxconn ser uma empresa de grande prestígio entre os chineses, as condições são semelhantes às de milhares de indústrias de todo o país, com longas cargas horárias, grandes exigências aos trabalhadores e poucas ofertas de lazer e relaxamento para os funcionários, que vivem em cinzentos dormitórios quase sem contato com amigos e longe da família.

No entanto, também há especialistas que afirmam que a taxa de suicídios na Foxconn não é tão alarmante devido ao tamanho da empresa (que tem 700 mil trabalhadores, dos quais 400 mil estão em Shenzhen), e o número estaria abaixo da média nacional (14 suicídios por cada 100 mil habitantes).

A Foxconn também fabrica os consoles PlayStation, Wii e XBOX (para Sony, Nintendo e Microsoft, respectivamente) e o leitor eletrônico Kindle para a Amazon.

Antes dos suicídios deste ano, um empregado da mesma empresa se matou em 2009 após perder um protótipo de um novo iPhone.

Fonte: Efe, Pequim