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Teologia Selvagem ~ Hélio Schwartsman

penguin

Deu no Datafolha: 25% dos brasileiros acreditam em algo parecido com Adão e Eva; 59% tentam conciliar Deus e alguns fundamentos da seleção natural, mais ou menos como foi proposto por Charles Darwin 150 anos atrás; e apenas 8% se atêm a fatos biológicos e apostam no darwinismo sem a interferência divina. A reportagem completa que escrevi para a versão impressa da Folha pode ser lida aqui.

Ao contrário dos mais otimistas, que celebraram o fato de termos menos criacionistas da Terra jovem do que os EUA (onde eles são 44%) e estarmos em linha com várias nações da Europa (onde a maioria dos países tem taxas na casa dos 20 e poucos por cento), não vejo motivos para nos regozijarmos. Afinal, um de cada quatro brasileiros acha que a Terra tem menos de dez mil anos e que o homem surgiu a partir de um passe de mágica de Deus, que depois teria arrancado a costela do pobre Adão para fazer brotar-lhe uma fêmea.

Que as pessoas acreditassem nessas balelas na Idade do Bronze, quando não havia explicações alternativas, vá lá. Que continuem a sustentar esses mitos numa era em que a ciência fornece modelos muito mais verossímeis, razoáveis e fortemente embasados na empiria é prova de nem mesmo milhões de anos de seleção natural bastaram para produzir uma espécie uniformemente inteligente.

Não é, contudo, o criacionismo da Terra jovem que eu pretendo combater hoje. Essa é uma posição que se autodestrói sozinha: se a Bíblia de fato não contém erros e traz toda a ciência e a ética de que precisamos, como afirma essa gente, então estamos autorizados a manter haréns, escravizar argentinos para ajudar no trabalho doméstico, apedrejar hereges e, em caso de aperto financeiro, vender nossas filhas no mercado de escravos. Não sou um especialista, mas acho que até as obras do Marquês de Sade trazem uma moral mais elevada do que a do “bom livro”.

O que me interessa aqui é perscrutar um pouco mais fundo a posição dos 59% que tentam juntar Deus e Darwin. Hoje, excepcionalmente, não vou ficar advogando pelo ateísmo. Mesmo que Deus exista (do que duvido), não há a menor necessidade de inseri-Lo no modelo explicativo da evolução das espécies, o qual apesar de ser “apenas” uma teoria (a lei da gravidade, assim como todas as proposições científicas, são necessariamente “apenas” teorias) conta com todas as corroborações necessárias para que o consideremos tão comprovado quanto dezenas de outras teorias das quais nos utilizamos diariamente sem tentar contrabandear nenhum elemento divino. Assim como ninguém diz que a Terra descreve sua órbita ao redor do Sol “guiada por Deus” ou que os objetos caem com um empurrãozinho celeste, não há razão para colocar um ente supremo projetando cada animal ou cuidando diuturnamente da criação para que o bolo não desande.

Como católicos e alguns protestantes já perceberam, em termos puramente lógicos Darwin e Deus não estão em campos opostos. Não é preciso mais do que uma teologia só um pouco mais sofisticada do que a dos fundamentalistas bíblicos para conceber um Deus compatível com a seleção natural. Afinal de contas, Ele é que seria o criador de todas as leis naturais, incluindo a capacidade de pais transmitirem certas características genéticas a seus filhos e a ocorrência de um certo nível de “crueldade” no mundo, pelo qual apenas alguns indivíduos sobrevivem para reproduzir-se. E isso é tudo o que precisamos para instalar a seleção natural, seja na Terra ou qualquer outro ponto do Universo.

E não é difícil para qualquer religioso com um pouco de imaginação empurrar Deus um bocadinho para o lado e deixar a evolução fluir. Ele precisa apenas adquirir características um pouco mais deístas ou leibnizianas, o que não foi um problema nem mesmo para o um papa como Pio 12, o qual, na encíclica “Humani generis”, de 1950, classificou o darwinismo como “hipótese séria”. Quarenta e seis anos mais tarde, seria a vez de João Paulo 2º declarar que a evolução era “mais do que uma hipótese”.

Só que o mundo não vive apenas de lógica (às vezes até me pergunto se essa não é uma arte ameaçada de extinção). No plano psicológico, Deus e Darwin são, sim, adversários ferrenhos. Alguns católicos já perceberam isso e ensaiaram uma revisão no posicionamento da Santa Sé.

Em 2005, num artigo para o jornal “The New York Times”, o arcebispo de Viena, Cristoph cardeal Schönborn, lançou um inesperado ataque à teoria darwinista da evolução das espécies. O dignitário, que é visto como teologicamente próximo ao papa Bento 16, afirmou que a noção darwiniana de ancestralidade comum entre os seres vivos pode estar de acordo com a doutrina católica, mas que os conceitos de mutações aleatórias e seleção natural sem direção ou finalidade certamente não estão. Schönborn também aproveitou para qualificar declarações de João Paulo 2º simpáticas ao darwinismo como “vagas e desimportantes”.

Como o leitor já deve ter reparado, embora as noções de seleção natural e um Deus pessoal que realize um ou outro milagre de vez em quando possam coexistir, trata-se de uma convivência um pouco forçada (não natural, para empregar um termo em voga). Na esfera do simbólico, ou bem há um Deus atuante e com um propósito, ou bem somos o produto da inopinada mistura de carbono com mais dois ou três elementos químicos baratos.

E, se há uma ideia que as religiões abominam, é a de que estamos abandonados à própria sorte num mundo sem propósito. É a “Geworfenheit” heideggeriana. E, se esse conceito de abandono não está embutido no neodarwinismo, a teoria pelo menos torna explicável o surgimento da multiplicidade de seres vivos que habita o planeta. Com Darwin, Deus se torna mais irrelevante. E essa é uma ideia difícil de engolir para todos aqueles que acalentam a hipótese de um ente supremo.

Assim, eu não me surpreenderia se os religiosos que flertaram com o darwinismo comecem a dele afastar-se. Certamente não de volta para o criacionismo bíblico, mas para uma sistematização da teoria do design inteligente, a qual, embora seja epistemologicamente insustentável (não passa do velho criacionismo vestindo um jaleco de cientista), parece gozar de forte popularidade em todo o mundo. Ela é, por assim dizer, a consequência natural da teologia selvagem que procura reunir Deus e o bê-á-bá da ciência ensinada nas escolas.

Com o fim das disputas ideológicas em torno do modo de produção, é cada vez mais para temas como evolução, aborto, drogas que as guerras culturais tendem a migrar.

Hélio Schwartsman

Fonte: Folha Online, 8 abr 2010

La tuberculosis, más peligrosa que nunca

La tuberculosis acompaña al hombre desde hace milenios y es más resistente que nunca, advierte Mario Raviglioni, experto de la OMC. Brasil y Perú son los más afectados en América Latina.

Una tercera parte de la población mundial está infectada de tuberculosis, la enfermedad que más muertes ha causado en la historia de la humanidad y que la acompaña desde hace milenios.  Ahora alcanza niveles de resistencia sin precedentes.

Una nueva epidemia de tuberculosis resistente a múltiples fármacos causó 150.000 muertes en 2008 e infectó a casi 440.000 personas en todo el mundo, según un estudio publicado por la Organización Mundial de la Salud (OMS). Según la agencia de la ONU, la llamada MDR-TB se está propagando y exhorta a los países a instalar laboratorios para combatirla.

“Lo que me preocupa a mí, y a todos los que trabajamos en este campo, es que ahora se ven las tasas más altas de tuberculosis multirresistente jamás registradas en la historia del control de la tuberculosis”, afirma el doctor Mario Raviglione, director del programa de la OMS “Alto a la Tuberculosis”.

La temida multiresistencia

El experto señala que los niveles récord más altos se ven en la antigua Unión Soviética. “Hay una vulnerabilidad en regiones en el noroeste de Rusia, en donde se registra el 28 por ciento de los casos de multiresistencia. En términos de cifras, las regiones más afectadas son China y la India, que acaparan la mitad de los 440.000 casos registrados”.

El experto explica que la llamada MDR -TB no es una nueva cepa, sino que entre los cientos de miles de distintas bacterias de tuberculosis, cada una puede adquirir resistencia. “El problema es que cuando un paciente no es tratado de manera adecuada, entonces no hay una selección y todos los bacilos se convierten en multiresistentes. Si la multiresistencia a antibióticos aparece en las cepas más virulentas como la llamada W-Beijing, que se ha propagado en todo el mundo, entonces se convierte en una enfermedad muy agresiva y letal.

Distintas organizaciones temen que las cepas W-Beijing se puedan diseminar y hacerse resistentes a los tratamientos actuales, es por ello que investigadores de distintos países, entre ellos del Instituto Max Planck de Berlín, buscan investigar y prevenir su propagación.

Tan vieja como los faraones

El experto señala que la tuberculosis es una vieja enfermedad que estuvo Egipto en el tiempo de los faraones y también ha sido detectada en momias en el Perú. Este bacilo ha encontrado un equilibrio en los seres humanos favoreciendo la transmisión. Hay que pensar que 2.000 millones de personas, una tercera parte de la población mundial es transmisora de tuberculosis”, afirma.

América Latina representa entre un 5 a 6 por ciento de todos los casos registrados de tuberculosis en general. “Brasil es uno de los que forma parte de los 22 países más afectados del mundo y el que lidera la región, esto se debe a que es un gran país con una enorme población”, el experto añade que incluso cuando el índice per cápita en el país sudamericano es relativamente bajo, el número de casos es de cerca de 90.000 infecciones al año.

Después de Brasil, le sigue el Perú, uno de los países con la mayor incidencia, seguido de Colombia, Honduras y Haití. “En cuanto a la tuberculosis multiresistente Perú lidera el subcontinente, con 2.500 casos, seguido de Brasil.

Se espera pronto una vacuna

El experto afirma que la ciencia espera una vacuna que suceda a la llamada BCG, introducida en 1922 y casi con un siglo de antigüedad. “La vacuna no es suficientemente efectiva en adultos que son los principales transmisores del bacilo y aunque hay esfuerzos por crear una vacuna, no la tendremos antes del 2015”.

Las dificultades en crear una vacuna radica en el hecho de que el sistema de inmunidad humano reacciona de manera muy compleja a la tuberculosis. “Hay vacunas muy sencillas como la del tétano, la influenza o el polio. Pero en el caso de la tuberculosis el cuerpo humano trata de protegerse creando anticuerpos, pero nadie realmente ha entendido como funciona”.

Adicionalmente se trata de una enfermedad que ha sabido encontrar un equilibrio. “Favorece la transmisión pero no mata a todos los infectados, si lo hiciera se exterminaría a si misma. Compárelo con el virus del Ébola que mata a un 95 por ciento de las personas que se infectan”, apunta Raviglioni.

El experto apunta que la estrategia internacional contra la tuberculosis puesta en marcha por la OMS en la década de los 90 fue exitosa porque salvó a 9 millones de personas de una muerte segura. “En Perú vimos el caso más exitoso en el mundo”. El experto exhorta a los países a buscar una rápida detección, diagnóstico y tratamiento para evitar que siga la propagación.

El Día Mundial de la Tuberculosis fue proclamado por la ONU para alertar a la comunidad internacional sobre una enfermedad que sigue siendo letal y recuerda un 24 de marzo de 1882, cuando el microbiólogo alemán Robert Koch, publicara sus descubrimientos en torno a lo que sería llamado el “bacilo de Koch”.

Autora: Eva Usi

Editor: José Ospina Valencia

DW, 25 mar 2010

O discurso religioso na comunicação

Yellow bridge

Por Rogério Faria Tavares*

Belo poema recitado com esperança pela humanidade ao longo dos tempos, a religião tem sido uma das formas mais empregadas pela espécie para organizar e esclarecer suas relações com os mistérios que permeiam a criação, a existência e a morte e para cultivar as dimensões mais sutis (ou transcendentes) de sua experiência na Terra, o que se costuma chamar, com grande freqüência, de espiritualidade. Importante elemento formador da visão de mundo e da cultura de praticamente todos os povos, a religião também é portadora de ensinamentos éticos e morais que moldaram civilizações, influenciaram o curso da história e definiram vários de seus avanços e retrocessos.

Capaz de mobilizar numerosos contingentes populacionais em torno de ideologias e condutas específicas, já serviu aos mais variados propósitos: foi usada como justificativa para guerras e para a celebração da paz; para a construção de palácios e a derrubada de impérios; a promoção de virtudes e de vícios; a divulgação da fraternidade e da compaixão, da intolerância e do ódio.

A religião sempre gerou alto impacto sobre as comunidades humanas e, em muitos casos, conseguiu dividi-las e reagrupá-las segundo seus mandamentos. Por muitos séculos, prevaleceu no campo da política e da administração da convivência coletiva, chegando a influenciar até, em diversas ocasiões, o modelo de trocas econômicas. Em muitas nações, notadamente no hemisfério oriental, prossegue até hoje comandando os negócios do Estado e gerindo a produção das normas jurídicas.

Amor, solidariedade e justiça

Responsável por revelações sagradas e enunciadora da “verdade”, a religião sempre foi muito eficiente para conferir sentido à vida de milhões de indivíduos. Ao longo de seu percurso como uma das mais prestigiadas dimensões da atuação humana, desenvolveu importante poder de comunicação e consolidou imenso público disposto a consumir com avidez e convicção a sua mensagem, potente o bastante para resolver impasses e dirimir dúvidas, superar o medo, trazer o consolo, aliviar a dor e afastar o absurdo e o imponderável, aceitar o passado, enfrentar o presente e acreditar no futuro.

Competente na elaboração de mitologias e hábil no uso de recursos como a linguagem simbólica, a religião dominou com desenvoltura as técnicas típicas da oralidade. Quando a tecnologia para a transmissão de idéias ainda estava em seus primórdios, a informação religiosa já estava entre as mais difundidas. Na medida em que o progresso ia engendrando outros modos de distribuição de conteúdo, a religião aprendia, rapidamente, a beneficiar-se deles. Foi o que ela soube fazer quando surgiram a escrita, o livro e a palavra impressa. E é o que ela faz até hoje, quando ocupa espaço no rádio, na televisão e nas mídias digitais.

Não há fenômeno mais previsível, portanto, que a presença do discurso religioso nos meios de comunicação de massa. A religião está na vida do povo. Como estaria ausente dos jornais, do rádio e da televisão? Essa presença não deve ser vista como negativa. Ainda que seja acusada de iludir e manipular as multidões (o que, em incontáveis episódios da história, de fato ocorreu), a religião também oferece oportunidades valiosas, e talvez inigualáveis, para refinar e elevar os padrões de conduta costumeiros da espécie humana. Ela lança um olhar fundamental sobre a realidade e propõe forma particular de representá-la e vivê-la. Sua mensagem essencial quase sempre aponta no sentido da promoção do amor, da solidariedade e da justiça, valores que ajudam o ser humano a viver melhor e mais feliz.

Respeito absoluto por outra fé

Não há nada mais natural e compreensível que a intensa presença do discurso religioso na mídia. A religião sempre quer a ampla disseminação de seus paradigmas, conquistar adeptos, perseguir sonhos de hegemonia, estabelecer territórios e manter-se notória e vigorosa. É anseio maior de toda e qualquer religião tornar-se perene e universal, atravessando as diferentes épocas históricas e alargando suas fronteiras geográficas, conservando e atualizando a sua validade e seduzindo as novas gerações.

Essa vocação da religião para a massiva comunicação pública, entretanto, só pode realizar-se, pelo menos nos países em que vige o Estado (laico) de Direito, como é o caso do Brasil, dentro da plena observância das regras jurídicas postas pelo ordenamento pátrio para o relacionamento harmonioso entre os cidadãos.

Responsável por consagrar, em distintos incisos de seu artigo quinto, a liberdade de expressão, a liberdade de consciência e de crença e o livre exercício dos cultos religiosos, a Constituição Federal de 88 oferece as garantias necessárias para que a cidadania possa professar, se for de sua vontade, o credo que bem entender, sem submeter-se a constrangimentos ou represálias.

Em primeiro lugar, isso significa que qualquer corrente de pensamento religioso pode manifestar-se sem restrições, inclusive pelos meios de comunicação. (As sérias distorções causadas pelo acesso desigual aos recursos financeiros para investir em mídia são tema complexo, deslocado para debate posterior.) Em segundo lugar, significa que, quando ocupa os meios de comunicação, a religião deve tratar com absoluto respeito todas as pessoas e instituições que pratiquem outra fé ou divulguem visão distinta da sua.

Pluralismo e convivência pacífica

Vale lembrar, igualmente, que os ateus ou agnósticos merecem exatamente o mesmo apreço normativo conferido pela ordem jurídica aos que crêem. Eles jamais poderão ter seus direitos e liberdades ameaçados ou tolhidos sob nenhum pretexto. Por isso, quando ocupa a mídia, a religião não pode tratá-los com desprezo, preconceito ou discriminação.

Quando ocupa a mídia, uma religião não pode formular ofensas ou ataques que maculem a reputação de outra. Também não é aceitável que trate qualquer delas como algo primitivo, excêntrico, exótico, ameaçador ou diabólico. Agredir esta ou aquela crença religiosa é atitude que merece repulsa social e repressão legal imediata. Quando isso ocorre no rádio ou na televisão é fato ainda mais grave, já que ambos são serviços de interesse público explorados sob regime de concessão.

Finalmente, não é possível, no contexto de uma democracia política como a nossa, conceder qualquer vantagem a determinada religião em detrimento das demais, uma vez que todas propiciam legítimas respostas aos anseios de fé dos cidadãos. Todas são dignas de idêntica consideração, independente da matriz cultural ou étnica a que estejam eventualmente filiadas. Não se pode instituir a menor hierarquia entre elas, nenhuma ordem de precedência ou sistema de privilégios. (Obviamente, não se pode chamar de religião o que é somente a prática do charlatanismo, o comércio dos milagres e de curas com fins de enriquecimento fácil tipificado como crime pelo artigo 283 do Código Penal Brasileiro.)

A atitude reclamada pela razão é fomentar o ecumenismo e o diálogo interreligioso, tão desejado e tão viável, haja visto o expressivo número de pontos comuns a todos os credos. O pluralismo e a convivência pacífica entre as diferenças são duas das expressões mais saudáveis de uma sociedade democrática. A sociedade brasileira não pode tolerar os intolerantes. Seria perigoso demais para o futuro com que sonhamos.

Fonte: Observatório de Imprensa, 16 março 2010

*Rogério Faria Tavares é advogado, jornalista, mestre em Direito Constitucional (UFMG) e doutorando em Direito Internacional pela Universidade Autônoma de Madri

Fraudes em nome de Deus

iluminated window with sculptures and paintings

Por Dalmo de Abreu Dallari

Um fenômeno social que vem ganhando corpo nos últimos tempos é o aparecimento de grupos autodenominados religiosos, que, geralmente sob a direção de um líder, arrebanham adeptos, atraindo pessoas, quase sempre pouco esclarecidas ou socialmente frágeis, ou, ainda, dissidentes políticos ou religiosos aos quais oferecem um instrumento de oposição, e logo procuram formalizar a existência do grupo como uma nova igreja. E assim procuram obter proveitos materiais de várias espécies, em fraude à lei. Isso explica o aparecimento de novas igrejas em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil.

Percebendo a ocorrência desse fenômeno e desejando conhecê-lo melhor, para, entre outras coisas, despertar a opinião pública para os graves prejuízos individuais e sociais que isso pode acarretar, dois jornalistas ligados à Folha de S.Paulo, Cláudio Ângelo, editor de Ciência, e o repórter Rafael Garcia, decidiram criar experimentalmente uma nova igreja, evidentemente fundada numa fantasiosa crença religiosa.

Para tanto, com o objetivo de evidenciar a tranquila possibilidade legal de consumar essa fraude, solicitaram a orientação de um dos mais prestigiosos escritórios de advocacia de São Paulo, respeitadíssimo pelo alto nível de conhecimentos e pelo rigoroso padrão ético de seus integrantes – o escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian Associados. E assim adotaram as providências legalmente exigidas para concretizar a criação da igreja de fantasia.

Exploração da ignorância

Verificaram, então, que não existem requisitos teológicos ou doutrinários para a criação de uma igreja, não havendo também a exigência de um número mínimo de fiéis. Redigiram um documento de fundação do que denominaram Igreja Heliocêntrica do Sagrado Evangelho e fizeram a inscrição da entidade no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, obtendo assim o número do CNPJ.

Com base nesse documento abriram uma conta bancária, fazendo várias aplicações financeiras, gozando de isenção dos tributos normalmente incidentes sobre operações dessa espécie, pois, segundo a Constituição, no artigo 150, inciso VI, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre templos de qualquer culto.

Nessa mesma linha, a nova igreja poderá adquirir e vender imóveis, realizar transações econômicas, cobrar pela prestação de serviços e praticar outros atos que beneficiem pessoalmente os criadores e dirigentes da igreja, sem que sejam obrigados a pagar o IPVA, o IPTU, o ISS e qualquer outro tributo. E como as igrejas são absolutamente livres para definir sua organização e direção e para admitir e manter seus sacerdotes, que, nessa condição, ficam isentos da obrigação de prestar o serviço militar obrigatório, um dos dirigentes designou seus próprios filhos como sacerdotes, garantindo-lhes, desse modo, essa isenção, devendo-se ainda acrescentar que, além desse privilégio legal, os sacerdotes terão direito a prisão especial, se forem envolvidos numa ocorrência policial.

Acrescente-se, ainda, que os dirigentes da igreja poderão indicar os imóveis de sua residência como sendo templos da igreja e assim ficarão isentos dos tributos municipais.

Essa iniciativa dos jornalistas, levada a efeito discretamente e sem procurar provocar escândalo, é merecedora do maior elogio e deve ser amplamente divulgada, para chamar a atenção dos que podem e devem influir para impedir a multiplicação fraudulenta de igrejas. Essa fraude deve merecer especial atenção dos legisladores e dos governos, pois além de acarretar enormes prejuízos a todo o povo, por criar a possibilidade de intensa atividade econômico-financeira sonegando tributos, alimentam-se da exploração da ignorância e da fragilidade de pessoas das camadas mais pobres da população.

Ação educativa

Bem ilustrativo da audácia desses exploradores da ignorância e da ingenuidade de pessoas mais simples é a notícia da criação de uma linha telefônica para falar com Deus, fato divulgado pelo jornal francês Le Monde (4/3/2010, pág.26).

Conforme registra com ironia aquele jornal, foi criado um novo serviço telefônico, “Le Fil du Seigneur”, iniciativa da sociedade Aabas Interactive. Fornecendo os dois números disponíveis para as ligações, informa o jornal que o custo das ligações é de 15 centavos de euro para as ligações comuns e de 34 centavos para as ligações urgentes e diretamente dirigidas a Deus.

Quem ligar para o serviço ouvirá uma gravação dizendo : “Você está em presença de Deus para o recolhimento e a prece a fim de receber sua graça”. Acrescenta o jornal, sempre ironizando, que os promotores desse piedoso serviço não estão autorizados a conceder absolvição por telefone, mas os interessados podem deixar sua confissão. E para acentuar os objetivos de apoio e edificação espiritual, uma gravação diz no início: “Para receber conselhos, digite 1; para confessar, digite 2 ; para escutar confissões de outros, digite 3”.

Parece absurda a criação de um “serviço” dessa natureza, mas o fato de ele continuar existindo é um sinal de que também existem usuários, o que deixa evidente que há ambiente para audácias desse tipo.

Num pronunciamento recente, o presidente da Ordem dos Advogados de Angola chamou a atenção para o surgimento e a multiplicação de práticas ilegais naquele país, ligadas justamente à exploração de crenças religiosas. E observou : “Não me surpreende o surgimento de crimes ligados à exploração religiosa, porque onde há pobreza, ignorância e um nível cultural extremamente baixo há propensão para que essas práticas religiosas duvidosas prevaleçam e tenham espaço”.

E sublinhando que a legislação angolana exige um mínimo de cem mil aderentes para a existência de uma igreja, o que considera bom mas insuficiente para impedir as fraudes, acrescentou que “é responsabilidade do Estado, nos termos da lei, controlar para que o direito de liberdade religiosa não seja utilizado para fins contrários ao que está previsto na Constituição”, considerando necessária uma ação educativa do Estado, mas também uma ação repressiva, para impedir práticas que, sob a máscara de atividades religiosas, prejudiquem os direitos de outros cidadãos e a própria ordem pública.

Necessário e urgente

Observe-se, afinal, que esse fenômeno da exploração religiosa, muito oportunamente posto em evidência pelos jornalistas da Folha de S.Paulo, vem preocupando vários países da Europa. Assim, na França já estão em vigor três leis tratando de questões relativas ao surto de organizações religiosas e suas repercussões legais. A primeira é de 18 de dezembro de 1998 e cuida, sobretudo, do problema do acesso de crianças à escola, que é obrigação dos pais e vinha enfrentando obstáculos sob alegação de motivos religiosos. A segunda, de 15 de junho de 2000, deu legitimidade às associações civis que lutam contra as seitas para propor ou integrar ações judiciais, inclusive na área penal, nesse âmbito. A terceira lei, de 12 de junho de 2001, trata dos movimentos sectários que atentam contra os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Esta lei permite a propositura de ação contra fatos que podem ser qualificados como “abusos fraudulentos do estado de ignorância ou de fragilidade”, com agravantes quando praticados contra crianças ou pessoas em situação de fraqueza.

Essas questões já vêm sendo objeto de considerações do Conselho da Europa, que em 1992 fez recomendações relativamente às seitas e aos novos movimentos religiosos e em 1999 reforçou seu pronunciamento considerando as atividades ilegais das seitas. Como fica evidente, há uma situação nova envolvendo as questões religiosas, com efeitos graves sobre os direitos.

Por tudo isso, é muito oportuna a advertência sobre o que vem ocorrendo no Brasil nessa área. A Constituição brasileira declara inviolável a liberdade de consciência e de crença, mas ao mesmo tempo diz, no artigo 5°, inciso XVII, que é plena a liberdade de associação “para fins lícitos”. É evidente que o uso fraudulento da invocação religiosa nada tem a ver com a liberdade de crença e, ainda mais, por suas conseqüências de ordem prática, acarreta graves prejuízos a todo o povo, confere privilégios injustos e cria uma situação de conflito, opondo as organizações desonestas às instituições que se fundamentam, autenticamente, em crenças religiosas.

Assim, pois, é necessário e urgente que o tema seja posto entre as prioridades brasileiras, para que se tenha uma legislação que, mantendo a laicidade do Estado, garanta a liberdade de crença com pluralidade, coibindo a invocação fraudulenta dessa liberdade.

Fonte: Observatório de Imprensa, 16 março 2010

*Dalmo Dallari é jurista, professor emérito da Faculdade de Direito da USP

Dawkins preaches to the deluded against the divine

richard dawkinsLIKE revivalists from an alternative universe, 2500 hardcore believers in the absence of religion packed into the Global Atheists Convention in Melbourne last weekend to give a hero’s welcome to the high priest of belief in unbelief, Richard Dawkins.

The bestselling author of The God Delusion was similarly fawned over by the Australian media, which uncritically lapped up everything he said.

This was even after (or perhaps because) he referred to the Pope as a Nazi, which managed to combine defamation of the pontiff with implicit Holocaust denial.

By comparison, Family First senator Steve Fielding may feel he got off lightly when Dawkins described him merely as more stupid than an earthworm.

For someone who has made a career out of telling everyone how much more tolerant the world would be if only religion were obliterated from the human psyche, Dawkins manages to appear remarkably intolerant towards anyone who disagrees with him.

The fact is, however, the shine has come off Dawkins. For sure, he remains a superstar for the legions who loathe religion. But, nevertheless, a strong feeling has developed in less credulous quarters that he has gone too far.

While he was writing about the “selfish gene” and the “blind watchmaker”, he received a respectful reception even from those who might have disagreed with him but were nevertheless impressed by the imaginative brio and dazzling fluency of his argument. But then he left biology behind and became the self-appointed universal crusader against God. Flying the flag of Darwinism, he went to war against religion on the grounds that any belief that did not follow the rules of scientific inquiry was prima facie evidence of imbecility or insanity.

He became the apostle of scientism, the ideology that says everything in the universe has a materialist explanation and must answer to the rules of empirical scientific evidence; to believe anything else is irrational.

A second’s thought tells one this is absurd. Love, law and philosophy are not scientific yet they are not irrational. So it is scientism that seems to be irrational.

As for Dawkins’s claim that religion is responsible for the ills of the world, this is demonstrably a wild distortion. Some of the worst horrors in human history – the French revolutionary terror, Nazism, communism – have been atheist creeds. And although terrible things indeed have been done in the name of religion, the fact remains that Christianity and the Hebrew Bible form the foundation stone of Western civilisation and its great cause of human equality and freedom.

Through such hubristic overreach, Dawkins has opened himself up to attack from quarters that, unlike the theologians he routinely knocks around the park, he cannot so easily disdain.

Books taking his arguments apart on his own purported ground of scientific reason have been published by a growing number of eminent scientists and philosophers, including mathematicians David Berlinski and John Lennox, biochemist Alister McGrath, geneticist Francis Collins, and philosopher and recanting atheist Anthony Flew.

These have itemised his many howlers, sloppy assertions, internal contradictions, unscientific reasoning and illogicality. His responses to these stellar intellects are fascinating. He claims they cannot possibly have meant what they wrote, or they are senile, or their scientific credentials are somehow obviated by the fact they are practising Christians.

Indeed, he seems almost to believe that, since everyone who believes in God is stupid or evil and Christians are stupid and evil because they believe in God, those who oppose him must be Christian and can be treated with contempt.

I had first-hand experience of this when, addressing an audience of US atheists, he accused me of “lying for Jesus” by misquoting him. This came as something of a surprise since I am a Jew. Moreover, far from me misquoting him, which was not the case, he had in fact ascribed to me words that had been written by someone else.

This anecdote raises in turn the most intriguing question of all about Dawkins. Just why is he so angry and why does he hate religion so much? After all, as many religious scientists can attest, science and religion are – contrary to his claim – not incompatible at all.

A clue lies in his insistence that a principal reason for believing that there could be no intelligence behind the origin of life is that the alternative – God – is unthinkable. This terror of such an alternative was summed up by a similarly minded geneticist as the fear that pursuing such thinking to its logical ends might allow “the divine foot in the door”.

Such concern is telling because it suggests a lack of confidence by the Dawkins camp in its own position and a corresponding fear of rigorous thinking.

To stamp out the terrifying possibility of even a divine toe peeping over the threshold, all opposition has to be shut down. And so the great paradox is that the arch-hater of religious intolerance himself behaves with the zeal of a religious fundamentalist and, despite excoriating religion for stifling debate, does this in spades.

An illuminating example was provided by an atheists summer camp for children last year in Britain that Dawkins backed. The children who took part were to be taught to be critical thinkers, yet all discussion of religion was ruthlessly excluded.

Far from opening young minds, this was shutting them in the ostensible cause of reason.

Such indoctrination is a hallmark of the fundamentalist who knows he is not just right but righteous. So all who oppose him are by definition not just wrong but evil. Which is why alternative views must be howled down or suppressed.

This is, of course, the characteristic of all totalitarian regimes, including religious inquisitions. Which is why Dawkins can lay claim to being not the most enlightened thinker on the planet, as his acolytes regard him, but instead the Savonarola of scientism and an intolerant closer of minds.

Melanie Phillips’s new book, The World Turned Upside Down: The Global Battle over God, Truth and Power, will be published by Encounter, New York, on April 20.

Source: Melanie Phillips
From: The Australian – March 16, 2010

Catholic Church, and religion in general, losing Latinos in USA

Latino population growth over the past two decades has boosted numbers in the Catholic Church, but a new, in-depth analysis shows Latinos’ allegiance to Catholicism is waning as some move toward other Christian denominations or claim no religion at all.

A report out today by researchers at Trinity College in Hartford, Conn., finds Latino religious identification increasingly diverse and more “Americanized.”

The analysis, based on data from the 2008 American Religious Identification Survey, compares responses to phone surveys in 1990 and 2008 conducted in English and Spanish. The 2008 sample included 3,169 people who identified themselves as Latinos.

“What you see is growing diversity — away from Catholicism and splitting between those who join evangelical or Protestant groups or no religion,” says report co-author Barry Kosmin, a sociologist and director of the Institute for the Study of Secularism in Society and Culture at Trinity College. Among findings:

•From 1990 to 2008, the Catholic Church in the USA added an estimated 11 million adults, including 9 million Latinos. In 1990, Latinos made up 20% of the total Catholic population, but by 2008, it rose to 32%.

•Those who claimed “no religion” rose from fewer than 1 million (6% of U.S. Latinos) in 1990 to nearly 4 million (12% of Latinos) in 2008.

“As Latinos or any other ethnic group assimilates to American culture, they pick up the values of the broader American culture and are somewhat less likely to identify with the religious identification, or any other identification, that marked their parents or grandparents,” says Mary Gautier, a senior researcher at the Center for Applied Research in the Apostolate at Georgetown University.

The new data send a clear message, says Allan Figueroa Deck, a Catholic priest and executive director of the Secretariat of Cultural Diversity in the Church, a program of the U.S. Conference of Catholic Bishops.

“The biggest challenge the Catholic Church faces is the movement of Latino people not to other religions but rather to a secular way of life in which religion is no longer very important,” he says. “We really need to ask ourselves why that is and what response the church can develop for this challenge.”

By Sharon Jayson, USA TODAY, March 16, 2010

Os apóstolos da morte ~ por Jorge A. Barros

Após uma semana numa clínica de desintoxicação de notícias de crime, voltei numa sexta-feira de horrores. A perda do cartunista Glauco – assassinado em São Paulo – é realmente lamentável.  Ele e o filho, Raoni, foram mortos a tiros disparados pelo estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes. É um crime tenebroso, mas totalmente contextualizado pela época de grandes contradições que vivemos. Um artista decide se recolher e funda na própria casa, na periferia de São Paulo, uma célula do Santo Daime (veja o site da entidade), que é uma seita baseada na busca do autoconhecimento por meio de uma bebida alucinógena, a ayahuasca,  que é considerada pelo Conselho Nacional Antidrogas uma droga legal  para fins religiosos. O cartunista e seu filho faziam parte da seita, uma comunidade religiosa com o objetivo de paz social e harmonia interior. E, distantes dos perigos e da correria da capital paulista, acabam sendo mortos por um integrante da própria seita.

A primeira  versão de assalto sem dúvida pode ter sido uma tentativa de tirar o foco do Santo Daime. Assim como ocorre no corporativismo, todo religioso tem uma tendência natural de proteger as instituições e os valores nos quais se baseiam sua fé. Mas o poder público – polícia, Justiça e Ministério Público – não pode ser conduzido por princípios religiosos. Portanto devem fazer uma investigação rigorosa. Sem medo de até mesmo comprovar que o uso da ayahusca, ainda que legalizada para fins religiosos, teve alguma influência no crime.

Se o assassino faz mesmo parte da comunidade religiosa o episódio traz à tona  outro aspecto que pode ser encontrado em outros grupos religiosos: um certo desprezo pela própria fé. E mais: a forte evidência de que cada vez menos a fé religiosa influi no comportamento ético do indivíduo, como diz o jornalista Carlos Fernandes, editor-chefe da revista “Cristianismo Hoje”. A falsa sensação de que não existe mais um deus no controle de tudo leva religiosos a praticarem atos que entram em conflito com princípios éticos e morais não apenas da religião, mas da própria sociedade. Não é à toa que cada vez mais religiosos praticam crimes, inclusive intepretando os livros sagrados a seu bel prazer, e fingindo ignorar o império das leis, regido por uma bíblia que vale para crentes, ateus e agnósticos – o Código Penal.

Nesse ponto, a prisão de três pastores evangélicos acusados de traficar sete fuzis – da Bolívia para São Gonçalo, no Rio – é episódio ainda mais vergonhoso para os que comungam da suposta fé dos criminosos. Eles seriam da Igreja Mundial do Poder de Deus, uma facção da Igreja Universal do Reino de Deus. Seu fundador, Valdemiro Santiago – que se autointitula apóstolo – é ex-bispo da Universal e reza na mesma cartilha mercantilista do bispo Macedo, inspirada por sua vez na Teologia da Prosperidade, que valoriza os bens materiais como sinal de sucesso na fé cristã. Na Teologia da Prosperidade não há lugar para cristãos que sejam economicamente pobres ou tenham alguma doença. A lógica perversa é de que se Jesus levou seus pecados na cruz, você não pode ter uma vida dura, com doenças e falta de dinheiro. A meu ver, é uma teologia apropriada ao modelo do neoliberalismo, da ditadura do mercado, em que você adquire bens e valores na prateleira do supermercado, pagando até com cheques pré-datados. A loja virtual da Igreja Mundial do Poder de Deus dá uma mostra disso.

O que preocupa nesse novo clone da Universal, que parece ser a Igreja Mundial do Poder de Deus, é que três de seus líderes deram um passo além, rumo à ilegalidade, transportando fuzis desmontados para levá-los a uma quadrilha de traficantes. São armas de guerra, que serão usadas para mandar pessoas pro inferno, o lugar que os religiosos tanto temem. Até que se prove o contrário – dando-lhes uma última chance de defesa – esses ditos pastores são nada menos que apóstolos da morte travestidos de homens de Deus.

Fonte: O Globo, 12 mar 2010

¿El boom del ateísmo?

religious lady

¿Está de moda ser ateo? A juzgar por algunos acontecimientos en varias partes del mundo, la respuesta podría ser afirmativa.

En el Reino Unido esta semana abrió un campamento de verano un tanto particular: a Dios no le está permitido entrar.

Es que no lo organizan los scouts ni grupos religiosos.

Camp Quest es el primero pensado para jóvenes de padres ateos. La idea es fomentarles el pensamiento crítico a niños de entre 7 y 17 años y que disfruten un campamento “libre de dogmas religiosos”.

Está “dedicado a mejorar la condición humana a través de la investigación racional, el pensamiento crítico y creativo, el método científico… y la separación de la religión y el Estado”, aseguran los organizadores.

Los niños también jugarán, claro.

¿Nueva militancia?

La idea de este tipo de campamentos, que ya se realizan desde hace 13 años en Estados Unidos, coincide con una necesidad expresada por Richard Dawkins, biólogo evolutivo británico y uno de los principales defensores del ateísmo.

El primer campamento ateo en el Reino Unido abrió sus puertas esta semana.

Dawkins, conocido por su beligerancia antirreligiosa, ha escrito el libro “La Falsa Ilusión de Dios”, un manifiesto sobre la no existencia de un creador divino, y “El Gen Egoísta”, entre otras obras.

Dawkins aboga por una nueva militancia que defienda el derecho de las personas a expresar libremente el hecho de no creer en Dios. Y que esto se traduzca en una mayor presencia de los no creyentes en la sociedad.

Ha emprendido campañas a favor del ateísmo y el libre pensamiento como la Out Campaign (Campaña para darse a conocer), donde se insta a los no creyentes a que “salgan del clóset” y se “liberen” porque, se asegura, “los ateos son más numerosos que lo que la mayoría de la gente piensa”.

Pero no se trata solamente de darse a conocer. La idea es tener voz y voto en las discusiones sobre aspectos fundamentales en la sociedad. Así como cuando se hacen consultas para resolver dilemas se llama a grupos religiosos para que participen en el debate, cada vez más personas en todo el mundo están señalando que hace falta el punto de vista de quienes no tienen a un dios como punto de referencia de su código moral.

Esto además de asuntos más pragmáticos. Tradicionalmente las religiones han tenido un monopolio cuando se trata de acompañar a la gente en momentos cruciales de su vida. Los ateos están buscando una alternativa que le pueda ofrecer a quienes piensan como ellos una alternativa que no choque con su forma de pensar. Se trata, por ejemplo, de hacerle fácil a una familia en duelo marcar el momento con algún tipo de ceremonia que no les genere un problema moral.

Ateísmo sobre ruedas

“Probablemente Dios no existe así que deja de preocuparte y disfruta tu vida”, eso se podía leer en los autobuses.

El Reino Unido ya había mostrado estar a la vanguardia de estos movimientos cuando el año pasado los tradicionales autobuses de Londres empezaron a circular con un llamativo afiche.

“Probablemente Dios no existe así que deja de preocuparte y disfruta tu vida”, podía leerse.

La campaña atea fue organizada por The British Humanist Foundation (Fundación Humanista Británica) y apoyada por Dawkins.

La idea fue imitada en algunas ciudades españolas, con Barcelona a la cabeza.

El promotor en la capital catalana fue Albért Riba, presidente de la Unión de Ateos y Librepensadores de España, que agrupa a siete asociaciones en todo el país.

“Parecía que éramos dos o tres”

El “bus ateo” recorrió las calles de Barcelona a principios de 2009.

Riba le dijo a BBC Mundo que el objetivo de la campaña fue “darle visibilidad a los ateos, que parecía que éramos dos o tres en España y debatir cuál era nuestro papel social, posicionarnos”.

Aseguró que la Unión busca “transmitir que la moral de un ateo vale lo mismo que la de un católico. Eso la ciudadanía lo está empezando a entender pero la estructura eclesial, no”.

Riba explicó que los objetivos son “defender la libertad de conciencia, luchar por un Estado laico y difundir el pensamiento ateo”. También se “pretende pararle los pies a las religiones que tienen un alto grado de agresión y buscan imponer su forma de pensar”.

Consultado sobre si existe una nueva militancia del ateísmo, Riba dijo: “No queremos ni podemos salvar a nadie, ni vamos a enviar misioneros para decir que la salvación es el ateísmo. No vamos a hacer militancia en ese sentido, sino para crear puentes de diálogo”.

¿Qué pasa en América Latina?

La región cuenta, por ejemplo, con las dos mayores feligresías católicas del mundo: Brasil y México. Y otras religiones también mantienen una sólida presencia.

En Colombia, un Manual de Ateología, escrito por 16 personalidades que niegan o dudan de la existencia de dios se convirtió en un éxito de ventas, toda una sorpresa en un país donde el 90% de la población se declara cristiana.

Sin embargo, en una zona tradicionalmente fértil para la creencia divina, el movimiento ateo avanza, lentamente, y ya cuenta con algunas organizaciones e iniciativas.

En Colombia los ateos han empezado a salir del clóset.

El “Manual de Ateología”, escrito por 16 personalidades que niegan o dudan de la existencia de Dios se convirtió en un éxito de ventas, toda una sorpresa en un país donde el 90% de la población se declara cristiana.

En tanto, en Argentina, el año pasado se organizó el primer congreso de ateos.

Fernando Lozada, presidente del Congreso Nacional de Ateísmo, delegado de la Asociación Civil de Ateos en Argentina y promotor del evento, le dijo a BBC Mundo que “ahora la gente se anima más a decir que es ateo. Pasa lo que pasó con los grupos gays, la gente se anima a luchar por sus derechos, pero estamos en los inicios”.

Lozada explicó que se busca, entre otras cosas, “lograr que el ateísmo no sea mal visto en la sociedad, que logre el respeto como cualquier otra ideología o religión”.

Ahora la gente se anima más a decir que es ateo. Pasa lo que pasó con los grupos gays, la gente se anima a luchar por sus derechos, pero estamos en los inicios

Fernando Lozada, presidente del Congreso Nacional de Ateísmo de Argentina

Y le contó a BBC Mundo que en marzo de este año fue parte de una apostasía (negar la fe recibida en el bautismo y renunciar a la Iglesia Católica) en la que participaron 1.500 personas. “Como puede pasar con cualquier partido político o equipo de fútbol, uno debe poder desafiliarse”.

Lozada, que había sido bautizado y renunció en este evento, aseguró que “lo vio importante como un movimiento político, como una manera de presionar. Que las leyes estén influenciadas por una moral católica no es totalmente democrático, hace que haya que militar políticamente, no en el sentido partidario proselitista, sino social”.

Campamentos, autobuses y manuales… los ateos empiezan a mostrar su fervor (¿religioso? No, gracias), pero ¿estamos ante un nuevo movimiento?

BBC Mundo, 30 jul 2009

Ateos de todo el mundo se reúnen en Australia

dead trees

Ateos de todo el mundo se reúnen en la ciudad australiana de Melbourne en lo que se considera es el encuentro más grande de gente que celebra el no tener ninguna creencia religiosa.

Los ateos tienen previsto divulgar el contenido de un comunicado en donde expresarán de forma resumida lo que, según ellos, son los efectos negativos de la religión sobre la sociedad.

Todas las entradas para el evento se vendieron a principios de 2010.

Sin embargo, una reunión religiosa celebrada en el mismo lugar en diciembre pasado, atrajo tres veces más delegados que el encuentro de este viernes.

“Los efectos negativos de la religión”

Según el corresponsal de asuntos religiosos de la BBC, Christopher Landau, destacados ateos de todo el mundo, entre ellos Richard Dawkins -el autor de varios éxitos editoriales como “El gen egoísta”- se encuentran en Australia para festejar que no creen en ninguna religión.

Los asistentes discutirán sobre el Islam y el terrorismo en una sesión titulada “el costo de la vana ilusión” y escucharán sobre una propuesta para realizar una película que expondrá la cantidad de dinero que los contribuyentes gastan en el subsidio de religiones.

Seguidamente, se leerá un comunicado dirigido a los políticos del mundo, en el que se abordará lo que ellos denominan son “los efectos negativos de la religión en la sociedad”.

Los organizadores del encuentro parecen satisfechos con su poder de convocatoria, señaló Landau.

“Sin fervor”

Se habían escogido otros locales más pequeños dentro del Centro de Convenciones de Melbourne para realizar el evento, pero en enero se acabaron las 2.500 entradas que inicialmente salieron a la venta.

Los organizadores sostienen que el encuentro reunirá a científicos, filósofos, escritores y comediantes.

Existe la resolución de evitar lo que en una sesión se denomina el “fundamentalismo ateo”.

Se instará a los participantes a que eviten “el fervor de los misioneros” en su anhelo por promover su mensaje no religioso al mundo.

Sin embargo, de acuerdo con Landau, los ateos podrían enfrentar una lucha cuesta arriba. Esto debido a que en el mismo lugar en diciembre, se realizó el Parlamento Mundial de Religiones y congregó el triple de los delegados asistentes al evento ateo de este viernes.

Fonte: BBC Mundo, 12 mar 2010

Cifras de suicidios en España (1909-2008)

El otro día publicó JdJ en su blog Historias de España una interesante anotación sobre la evolución de las cifras de suicidio en España en el siglo XX. Como algunos datos me sonaron raros, miré la fuente original (básicamente, los Anuarios estadísticos del INE desde 1912) para cerciorarme. Al hacerlo, y teclear una buena colección de años, me percaté de que había dos cifras distintas. Una más bien vinculada a la estadística de defunciones según causa de muerte. La otra, publicada habitualmente junto a las cifras de movimiento natural de la población, o, más recientemente, en el marco de estadísticas sobre justicia, y que podríamos llamar (así la llama el INE en algunos anuarios) “estadística del suicidio”. Esta última recogía tanto suicidios consumados como suicidios en grado de tentativa. Los datos comparables, claro, serían los de suicidios consumados.

Como pueden imaginarse, las series que pueden construirse a partir de ambas fuentes no coinciden siempre, y pueden variar bastante. Como ya me había puesto a teclear bastantes datos y los más recientes están disponibles con más facilidad, al final completé lo que yo tiendo a ver como dos series desde el año 1909 a 2008 (2006 para el caso de la “estadística del suicidio”, pues desde entonces usa las cifras de la otra serie).

Los resultados, en términos absolutos, los tienen en el gráfico siguiente.

Como ven, las dos (aparentes) series sólo coincidieron, más o menos, entre mediados de los cincuenta y mediados de los setenta, probablemente porque decidieron usar los datos de una para la otra, no porque coincidieran aun partiendo de métodos de recogida de datos distintos. Como ven hay diferencias muy notables en algunos periodos, lo que dificulta el análisis diacrónico de las cifras.

En cualquier caso, para ese tipo de análisis, hay que tener en cuenta que a lo largo del siglo XX el tamaño de la población española ha cambiado mucho. Es, por tanto, más conveniente calcular, siquiera, una tasa bruta de suicidios, por ejemplo, por 100.000 habitantes (1). Esa tasa la tienen en el gráfico siguiente.

Según la serie que usemos, las conclusiones serán distintas, la verdad, aunque ambas coinciden en tres desarrollos. Primero, la tasa parece estable en la década de los diez y los veinte, y quizá cae en 1932/33. O quizá es ruido estadístico. Si no lo es, entonces sí es llamativo, sobre todo en la serie fucsia, el pico del año 1939 (y siguientes, en esa misma serie, pero no en la azul).

Segundo, la tasa cae en los años cincuenta, sesenta y primeros setenta, más o menos.

Tercero, la tasa sube desde, más o menos, 1980 hasta cerca de la mitad de los noventa. Desde entonces, se habría mantenido o, incluso, habría caído.

Da la impresión de que la estadística de suicidio era al principio más completa que la de suicidios en las defunciones por causa de muerte, pero que no lo ha sido en los últimos treinta años. Si diéramos por mejor la serie fucsia hasta los ochenta y por mejor la serie azul desde entonces, la tasa de suicidios de los últimos años habría recuperado, superándolos un poco, los valores de principios del siglo XX.

El argumento sobre las causas de la evolución se lo dejo a ustedes, o a JdJ, si se apunta.

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(1) Sería mejor calcular una tasa teniendo en cuenta la distribución de edades de los suicidas y de la población, pero eso es casi imposible con datos fácilmente disponibles.

Fonte: http://wonkapistas.blogspot.com/

12 mar 2010

A História não absolverá os pastores da brutalidade

Texto de Augusto Nunes, 9 mar 2010

Os privilégios, mesuras e gentilezas dispensados ao assassino italiano Cesare Battisti ou ao narcoterrorista colombiano “Padre” Medina atestam que, em homenagem à companheirada, Lula promove a perseguido político qualquer bandido comum. O tratamento cruel reservado aos oposicionistas encarcerados em Cuba, sobretudo aos que ousam protestar no interior das cadeias, comprova que, para atender a ditadores companheiros, o presidente brasileiro rebaixa a bandido comum qualquer perseguido político.

“Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos”, acaba de decretar o rábula estagiário que, preso durante uns poucos dias ─ por determinação da Justiça e do governo brasileiros, segundo o raciocínio cafajeste do próprio Lula ─ entrou na farra da anistia, embolsa uma pensão mensal injustificável e segue distribuindo dinheiro aos sócios do assalto legalizado. “Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto dos direitos humanos para libertar pessoas”, continuou o monumento à ignorância jeca que nunca leu uma linha sobre as lutas pela independência da Índia, que nem faz ideia de quem foi Mahatma Gandhi, que não sabe o que é resistência pacífica.

“Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”, completou o chefe de governo que, por viver cercado de delinquentes, age como se a atividade política fosse uma atividade ilícita como outra qualquer. Nem os carcereiros fizeram comentários tão repulsivos sobre o grupo de cubanos castigados  por crimes de consciência. Condenado em 2003 a três anos de cadeia, o pedreiro Orlando Zapata Tamayo morreu no 85° dia da greve de fome a que recorreu para protestar contra torpezas jurídicas que multiplicaram por dez o tempo de prisão. Foi acusado por Lula, entre um sorriso e outro ao lado do carrasco, de se deixar morrer.

Outros prisioneiros decidiram há dias repetir a saga de Zapata. Para justificar antecipadamente a aplicação da pena de morte oficiosa, o presidente que transforma ladrões vulgares em homens incomuns, e absolve liminarmente até homicidas, acaba de compará-los a militantes do PCC. A História não absolverá os pastores da brutalidade. “Lula é cúmplice da tirania dos Castro”, constatou em entrevista à Folha o jornalista e psicólogo Guillermo Fariñas, em greve de fome há 15 dias.

Em Cuba, gente presa sem motivo entra em greve de fome para tentar sobreviver com dignidade. No Brasil, gente inexplicavelmente em liberdade festeja a boa vida em almoços e jantares patrocinados pela Presidência da República. Os bandidos soltos em Brasília só se recusarão a comer se houver uma queda insuportável na qualidade das refeições servidas nos palácios do poder.

http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/

Los alemanes desconfían de la Iglesia Católica

Después de los numerosos escándalos de abusos sexuales en el seno de la Iglesia Católica alemana, ésta ha perdido credibilidad ante la población, según una encuesta que arroja datos alarmantes.

Ni siquiera una tercera parte de los alemanes considera a la Iglesia una institución honesta, según una encuesta realizada por el instituto de Demoscopia Omni Quest, realizada entre un millar de personas y publicada por el diario Kölner Stadt-Anzeiger.

“Las cifras son alarmantes y no sólo son reflejo de la actual situación sino también son el resultado de una pérdida de credibilidad de largo plazo”, afirma Christian Weisner, co-iniciador del movimiento Somos Iglesia. Llama la atención a observadores que menos de la mitad de la población considerada católica, cree que su Iglesia es honesta y cercana a la gente.

“La Iglesia ignora a la gente en sus problemas cotidianos, pide por ejemplo, oraciones para las familias, pero se olvida de mencionar a aquellos que son padres o madres solteras o incluso a los solteros mismos”, afirma Weisner. Un 73,3 por ciento de los encuestados considera que la vida de los sacerdotes en celibato y los abusos sexuales a jóvenes están relacionados.

Tras los recientes escándalos de abusos sexuales por parte de sacerdotes católicos, el Partido Demócrata Liberal (FDP) exhortó a la Iglesia Católica a crear un fondo para compensar económicamente a las víctimas. (dapd, kna)

Edición: Eva Usi

DW Español, 27 fev 2010