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Sonho de sociedade sem Estado e a Teologia ~ Jung Mo Sung

No artigo anterior, “Fé e política: de novo?”, eu disse que por diversos motivos a teologia da libertação latinoamericana não elaborou uma teologia política, uma teologia do Estado. A grande maioria dos livros e textos menores sobre a fé e política ou de teologia política tratou da inserção dos cristãos nas lutas sociais ou de como a fé cristã nos impulsiona à luta contra o sistema capitalista. Muito pouco sobre a criação de um novo tipo de Estado, do papel do Estado ou da democracia na “nova sociedade”.

É claro que nas lutas sociais estava também incluída a inserção nos partidos de esquerda e nas eleições. Porém, não havia muita clareza das diferenças dos funcionamentos e das lógicas entre o campo das comunidades eclesiais, das lutas dos movimentos sociais e da política. Isso já aparecia desde o início da década de 1980, na dificuldade de diálogo e de relacionamento entre os cristãos engajados na militância política e as suas comunidades eclesiais de origem. E muitas vezes os próprios militantes acabavam deixando a política (no sentido estrito) porque se desiludiam com as lutas internas no partido e com a própria dinâmica do mundo político. No fundo esperavam encontrar na política um espaço de construção do “bem comum”, mas só viam “a luta pelo poder”. Essa é uma das razões que levam os cristãos comprometidos com o Reino de Deus e lutam por uma sociedade mais humana e justa a se encaminharem mais para as lutas sociais e se afastarem da política.

O problema é que sem a ação do Estado (seja pela criação de novas leis ou de políticas econômicas e sociais) as reivindicações dos movimentos sociais não se tornam direitos garantidos para toda a sociedade, até mesmo para setores que, de tão fracos, não conseguem se articular em movimentos e nem se vêem como sujeitos portadores de direitos. Além disso, a luta contra o capitalismo neoliberal globalizado pressupõe ações do Estado para limitar e regular o mercado.Não podemos nos esquecer que a grande consigna do neoliberalismo é a redução do Estado ao mínimo, sem não falar nos radicais que exigem o fim do Estado, para que o mercado e a sociedade funcionem “livremente”. E para que o mercado funcionasse “livremente”, caberia ao Estado somente a função de garantir os contratos e a segurança, isto é, somente a função de gerenciamento; deixando para trás todas as discussões sobre a democracia e as formas institucionais de “negociação” dos interesses conflitantes no interior da sociedade.

A política como a construção do bem comum é uma visão boa e ampla da política, mas esta não é suficiente para criticar radicalmente, pela raiz, a proposta neoliberal. Pois também concebe o Estado como um simples gerenciador da economia e da sociedade. Ele não teria funções e lógicas específicas que mereceriam reflexões e ações específicas. Essa é, na minha opinião, uma das razões pela qual a teologia latinoamericana não produziu uma teologia do Estado. Nós temos muita teologia sobre a Igreja, mas quase nada sobre o Estado. Parece que depois da “derrubada” do capitalismo não haveria necessidade de se criar um novo tipo de Estado e um novo tipo de democracia, ou mesmo que no processo da luta não haveria necessidade de ir transformando o Estado. Bastaria um líder justo e honesto para administrar a nova sociedade. No fundo é a reprodução do mito do “rei justo”, “rei messias”, para os dias de hoje e da ilusão de que a utopia de uma nova sociedade sem conflitos entre interesses, porque uma sociedade sem nenhum tipo de escassez e sem pessoas com visões diferentes e conflitantes sobre o que é o melhor para a sociedade, sem pessoas que desejam o que é do próximo, (ver o décimo mandamento de Deus), é empiricamente possível.

É interessante notar que encontramos também no marxismo essa visão negativa do Estado. Nos países socialistas, a política também foi reduzida a mera administração enquanto se destruiria o próprio Estado no caminharia para uma sociedade sem Estado. Por isso, neles não havia ou não há democracia de pluripartidarismo. Pois quando se pensa que não há conflito de visões e de interesses, basta um só partido para administrar o país.

Parece que muitos dos neoliberais, marxistas e cristãos da linha da libertação coincidem na sua visão negativa do Estado. Precisamos colocar urgentemente na pauta da discussão teológica e dos debates pastorais a questão da democracia (muito além da democracia burguesa) e do Estado, isto é, uma Teologia Política na perspectiva da libertação.

Jung Mo Sung é Coord. Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo. Autor, com Hugo Assmann, de “Deus em nós: o reinado que acontece no amor solidário aos pobres”, Paulus.
Fonte: Adital

Por que persiste a Igreja-poder? ~ Leonardo Boff

Vou abordar um tema incômodo, mas incontornável: como pode a instituição-Igreja, como a descrevi num artigo anterior, com características autoritárias, absolutistas e excludentes se perpetuar na história? A ideologia dominante responde: “só porque é divina”. Na verdade, este exercício de poder não tem nada de divino. Era o que Jesus exatamente não queria. Ele queria a hierodulia (sagrado serviço) e não a hierarquia (sagrado poder). Mas esta se impôs através dos tempos.

Instituições autoritárias possuem uma mesma lógica de autoreprodução. Não é diferente com a Igreja-instituição. Em primeiro lugar, ela se julga a única verdadeira e tira o título de “igreja” a todas as demais. Em seguida cria-se um rigoroso enquadramento: um pensamento único, uma única dogmática, um único catecismo, um único direito canônico, uma única forma de liturgia. Não se tolera a crítica nem a criatividade, vistas como negação ou denunciadas como criadoras de uma Igreja paralela ou de um outro magistério.

Em segundo lugar, se usa a violência simbólica do controle, da repressão e da punição, não raro à custa dos direitos humanos. Facilmente o questionador é marginalizado, nega-se-lhe o direito de pregar, de escrever e de atuar na comunidade. O então Card. Joseph Ratzinger, Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, em seu mandato, puniu mais de cem teólogos. Nesta mesma lógica, pecados e crimes dos sacerdotes pedófilos ou outros delitos, como os financeiros, são mantidos ocultos para não prejudicar o bom nome da Igreja, sem o menor sentido de justiça para com as vítimas inocentes.

Em terceiro lugar, mitificam-se e quase idolatram-se as autoridades eclesiásticas principalmente o Papa que é o “doce Cristo na Terra”. Penso eu lá com meus botões: que doce Cristo representava o Papa Sérgio (904), assassino de seus dois predecessores ou o Papa João XII (955), eleito com a idade de 20 anos, adúltero e morto pelo marido traído ou, pior, o Papa Bento IX (1033), eleito com 15 anos de idade, um dos mais criminosos e indignos da história do papado, chegando a vender a dignidade papal por 1000 liras de prata?

Em quarto lugar, canonizam-se figuras cujas virtudes se enquadram no sistema, como a obediência cega, a contínua exaltação das autoridades e o “sentir com a Igreja (hierarquia)”, bem no estilo fascista segundo o qual “o chefe (o ducce, o Führer) sempre tem razão”.

Em quinto lugar, há pessoas e cristãos com natureza autoritária, que acima de tudo apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações. Estes secundam esse tipo de Igreja bem como regimes políticos autoritários e ditatoriais. Aliás, há uma estreita afinidade entre os regimes ditatoriais e a Igreja-poder como se viu com os ditadores Franco, Salazar, Mussolini, Pinochet e outros. Padres conservadores são facilmente feitos bispos e bispos fidelíssimos a Roma são promovidos, fomentando a subserviência. Esse bloco histórico-social-religioso se cristalizou e garantiu a continuidade a este tipo de Igreja.

Em sexto lugar, a Igreja-poder sabe do valor dos ritos e símbolos pois reforçam identidades conservadoras, pouco zelando por seus conteúdos, contanto que sejam mantidos inalteráveis e estritamente observados.

Em razão desta rigidez dogmática e canônica, a Igreja-instituição não é vivida como lar espiritual. Muitos emigram. Dizem sim ao cristianismo e não à Igreja-poder com a qual não se identificam. Dão-se conta das distorções feitas à herança de Jesus que pregou a liberdade e exaltou o amor incondicional.

Não obstante estas patologias, possuímos figuras como o Papa João XXIII, Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luiz Flávio Cappio e outros que não reproduzem o estilo autoritário, nem apresentam-se como autoridades eclesiásticas mas como pastores no meio do Povo de Deus. Apesar destas contradições, há um mérito que importa reconhecer: esse tipo autoritário de Igreja nunca deixou de nos legar os evangelhos, mesmo negando-os na prática, e assim permitindo-nos o acesso à mensagem revolucionária do Nazareno. Ela prega a libertação mas geralmente são outros que libertam.

Leonardo Boff é teólogo e professor emérito de ética da UERJ.

Os dez mandamentos do populismo ~ Enrique Krauze

O populismo na América Latina adotou um amálgama desconcertante de posições ideológicas. Esquerdas e direitas poderiam reivindicar a paternidade do populismo, todas ao conjuro da palavra mágica “povo”. Populista quintessencial foi o general Juan Domingo Perón, que havia atestado diretamente a ascensão do fascismo italiano e admirava Mussolini a ponto de querer “erigir-lhe um monumento em cada esquina”.

Populista pós-moderno é Hugo Chávez, que venera Fidel Castro a ponto de tentar converter a Venezuela numa colônia experimental do “novo socialismo”. Os extremos se tocam, são cara e coroa de um mesmo fenômeno político cuja caracterização não se deve tentar, contudo, pela via de seu conteúdo ideológico, mas sim de seu funcionamento. Proponho dez traços.

1 – O populismo exalta o líder carismático. Não há populismo sem a figura do homem providencial que resolverá os problemas do povo. “A entrega ao carisma do profeta, do caudilho na guerra ou do grande demagogo – recorda Max Weber – não ocorre porque a mande o costume ou a norma legal, mas porque os homens crêem nele.”

2 – O populista não só usa e abusa da palavra: ele se apropria dela. A palavra é o veículo específico de seu carisma. O populista se sente o intérprete supremo da verdade geral e também a agência de notícias do povo. Fala com o povo de modo constante, incita suas paixões, “ilumina o caminho”, e faz isso sem restrições nem intermediários. Weber assinala que o caudilhismo político surge primeiro nas cidades-Estado do Mediterrâneo na figura do “demagogo”. Aristóteles sustenta que a demagogia é a causa principal das “revoluções nas democracias”, e percebe uma convergência entre o poder militar e o poder da retórica que parece uma prefiguração de Perón e Chávez: “Nos tempos antigos, quando o demagogo era também general, a democracia se transformava em tirania.” Mais tarde desenvolveu-se a habilidade retórica e chegou a hora dos demagogos puros: “Agora os que dirigem o povo são os que sabem falar.” Há 25 séculos essa distorção da verdade pública se desenvolvia na Ágora real; no século 20 ela o fez na Ágora virtual das ondas sonoras e visuais: de Mussolini (e Goebbels), Perón aprendeu a importância política do rádio para hipnotizar as massas. E Chávez superou o mentor Fidel ao usar até o paroxismo a oratória televisiva.

3 – O populismo fabrica a verdade. Os populistas levam às últimas conseqüências o provérbio latino: “Vox populi, vox Dei.” Mas como Deus não se manifesta todos os dias e o povo não tem uma única voz, o governo “popular” interpreta a voz do povo, eleva essa versão à condição de verdade oficial, e sonha com decretar a verdade única. Os populistas abominam a liberdade de expressão. Confundem a crítica com inimizade militante, por isso buscam desprestigiá-la, controlá-la, silenciá-la. Na Argentina peronista, os jornais oficiais – incluindo um órgão nazista – contavam com generosos privilégios, mas a imprensa livre esteve a um passo de desaparecer. A situação venezuelana, com a “lei da mordaça” pendendo como uma espada sobre a liberdade de expressão, aponta no mesmo sentido; terminará por esmagá-la.

4 – O populista usa de modo discricionário os recursos públicos. Não tem paciência com as sutilezas da economia e das finanças. O erário é seu patrimônio privado, que ele pode usar para enriquecer-se ou para embarcar em projetos que considere importantes ou gloriosos sem levar em conta os custos. O populista tem uma concepção mágica da economia: para ele, todo gasto é investimento. A ignorância ou incompreensão dos governos populistas em matéria econômica se traduziu em desastres descomunais dos quais os países levam décadas para se recuperar.

5 – O populista divide diretamente a riqueza. O que não é criticável em si (sobretudo em países pobres, onde há argumentos extremamente sérios para dividir, de fato, uma parte da receita, à margem das dispendiosas burocracias estatais e prevenindo efeitos inflacionários), mas o populista não divide de graça: focaliza sua ajuda e a cobra em obediência. “Vocês têm o dever de pedir!”, exclamava Evita a seus beneficiários. Criou-se assim uma idéia fictícia da realidade econômica e entronizou-se uma mentalidade assistencialista. No fim, quem pagava a conta? Não a própria Evita (que cobrou seus serviços com juros e resguardou na Suíça suas contas multimilionárias), mas sim as reservas acumuladas em décadas, os próprios operários com suas doações “voluntárias” e, sobretudo, a posteridade endividada, devorada pela inflação. Quanto à Venezuela, até as estatísticas oficiais admitem que a pobreza aumentou, mas a improdutividade do assistencialismo só será sentida no futuro, quando os preços dispararem e o regime levar às últimas conseqüências seu propósito ditatorial.

6 – O populista alimenta o ódio de classes. “As revoluções nas democracias são causadas sobretudo pela intemperança dos demagogos”, explica Aristóteles. O conteúdo dessa intemperança foi o ódio contra os ricos: “Algumas vezes por sua política de denúncias… e outras atacando-os como classe, (os demagogos) incitam contra eles o povo.” Os populistas latino-americanos correspondem à definição clássica, com uma nuance: fustigam “os ricos”, mas atraem os “empresários patrióticos” que apóiam o seu regime. O populista não busca, necessariamente, abolir o mercado: sujeita seus agentes e os manipula a seu favor.

7 – O populista mobiliza permanentemente os grupos sociais. O populismo apela, organiza, inflama as massas. A praça pública é o teatro onde comparece “Sua Majestade, o Povo” para demonstrar sua força e escutar as inventivas contra “os maus” de dentro e de fora. “O povo”, claro, não é a soma de vontades individuais expressas em um voto e representadas por um Parlamento; nem sequer a encarnação da “vontade geral” de Rousseau, mas uma massa seletiva e vociferante que caracterizou outro clássico, Marx – não Karl, mas Groucho: “O poder para os que gritam ‘O poder para o povo!'”

8 – O populismo fustiga sistematicamente o “inimigo externo”. Imune à crítica e alérgico à autocrítica, precisando apontar bodes expiatórios para os fracassos, o regime populista (mais nacionalista que patriótico) precisa desviar a atenção interna para o adversário de fora. A Argentina peronista reavivou as velhas (e explicáveis) paixões antiamericanas que ferviam na América Latina desde a guerra de 1898, mas Fidel converteu essa paixão na essência de seu triste regime, definido pelo que odeia, não pelo que ama, aspira ou consegue. E Chávez levou sua retórica antiamericana a expressões de baixeza que até seu mentor Fidel (talvez) consideraria de mau gosto. Ao mesmo tempo, faz representar nas ruas de Caracas simulacros de defesa contra uma invasão que só existe em sua imaginação, mas em que um setor importante da população venezuelana (contrária, em geral, ao modelo cubano) acaba acreditando.

9 – O populismo despreza a ordem legal. Há na cultura política ibero-americana um apego atávico à “lei natural” e uma desconfiança das leis feitas pelo homem. Por isso, uma vez no poder (como Chávez), o caudilho tende a se apoderar do Congresso e induzir a “justiça direta” (“popular”, “bolivariana”), arremedo de uma Fuenteovejuna -a obra teatral de Lope de Vega sobre abuso de poder e justiça – que, para os efeitos práticos, é a justiça que o próprio líder decreta. Hoje, o Congresso e o Judiciário são um apêndice de Chávez, como na Argentina o eram de Perón e Evita, que suprimiram a imunidade parlamentar e depuraram, segundo a sua conveniência, o Poder Judiciário.

10 – O populismo mina, domina e, em último recurso, domestica ou cancela as instituições da democracia liberal. Ele abomina os limites a seu poder, considera-os aristocráticos, oligárquicos, contrários à “vontade popular”. No limite de sua carreira, Evita buscou sua candidatura à vice-presidência. Perón se negou a apoiá-la. Se houvesse sobrevivido, seria impensável imaginá-la tramando a derrubada do marido? Não por acaso, em seus tempos aziagos de atriz radiofônica, representara Catarina, a Grande. Quanto a Chávez, ele declarou que seu horizonte mínimo é o ano 2020.

Por que renasce de tempos em tempos a erva daninha do populismo na América Latina? As razões são diversas e complexas, mas aponto duas. Em primeiro lugar, porque suas raízes se fundem em uma noção mais antiga de “soberania popular” que os neo-escolásticos do século 16 e 17 propagaram nos domínios espanhóis, que teve uma influência decisiva nas guerras de independência de Buenos Aires ao México. O populismo tem, além disso, uma natureza perversamente “moderada” ou “provisória”: não termina sendo plenamente ditatorial nem totalitário; por isso alimenta sem cessar a enganosa ilusão de um futuro melhor, mascara os desastres que provoca, posterga o exame objetivo de seus atos, amansa a crítica, adultera a verdade, adormece, corrompe e degrada o espírito público. Desde os gregos até o século 21, passando pelo aterrador século 20, a lição é clara: o efeito inevitável da demagogia é subverter a democracia.

Enrique Krauze é historiador mexicano

Fonte: Estado de SP, 15 abr 2006

Desigualdade social no Brasil ~ por Frei Betto

Relatório da ONU (Pnud), divulgado em julho, aponta o Brasil como o terceiro pior índice de desigualdade no mundo. Quanto à distância entre pobres e ricos, nosso país empata com o Equador e só fica atrás de Bolívia, Haiti, Madagascar, Camarões, Tailândia e África do Sul.

Aqui temos uma das piores distribuições de renda do planeta. Entre os 15 países com maior diferença entre ricos e pobres, 10 se encontram na América Latina e Caribe. Mulheres (que recebem salários menores que os homens), negros e indígenas são os mais afetados pela desigualdade social. No Brasil, apenas 5,1% dos brancos sobrevivem com o equivalente a 30 dólares por mês (cerca de R$ 54). O percentual sobe para 10,6% em relação a índios e negros.

Na América Latina, há menos desigualdade na Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai. A ONU aponta como principais causas da disparidade social a falta de acesso à educação, a política fiscal injusta, os baixos salários e a dificuldade de dispor de serviços básicos, como saúde, saneamento e transporte.

É verdade que nos últimos dez anos o governo brasileiro investiu na redução da miséria. Nem por isso se conseguiu evitar que a desigualdade se propague entre as futuras gerações. Segundo a ONU, 58% da população brasileira mantém o mesmo perfil social de pobreza entre duas gerações. No Canadá e países escandinavos, este índice é de 19%.

O que permite a redução da desigualdade é, em especial, o acesso à educação de qualidade. No Brasil, em cada grupo de 100 habitantes, apenas 9 possuem diploma universitário. Basta dizer que, a cada ano, 130 mil jovens, em todo o Brasil, ingressam nos cursos de engenharia. Sobram 50 mil vagas… E apenas 30 mil chegam a se formar. Os demais desistem por falta de capacidade para prosseguir os estudos, de recursos para pagar a mensalidade ou necessidade de abandonar o curso para garantir um lugar no mercado de trabalho.

Nas eleições deste ano votarão 135 milhões de brasileiros. Dos quais, 53% não terminaram o ensino fundamental. Que futuro terá este país se a sangria da desescolaridade não for estancada?

Há, sim, melhoras em nosso país. Entre 2001 e 2008, a renda dos 10% mais pobres cresceu seis vezes mais rapidamente que a dos 10% mais ricos. A dos ricos cresceu 11,2%; a dos pobres, 72%. No entanto, há 25 anos, de acordo com dados do IPEA, este índice não muda: metade da renda total do Brasil está em mãos dos 10% mais ricos do país. E os 50% mais pobres dividem entre si apenas 10% da riqueza nacional.

Para operar uma drástica redução na desigualdade imperante em nosso país é urgente promover a reforma agrária e multiplicar os mecanismos de transferência de renda, como a Previdência Social. Hoje, 81,2 milhões de brasileiros são beneficiados pelo sistema previdenciário, que promove de fato distribuição de renda.

Mais da metade da população do Brasil detém menos de 3% das propriedades rurais. E apenas 46 mil proprietários são donos de metade das terras. Nossa estrutura fundiária é a mesma desde o Brasil império! E quem dá emprego no campo não é o latifúndio nem o agronegócio, é a agricultura familiar, que ocupa apenas 24% das terras, mas emprega 75% dos trabalhadores rurais.

Hoje, os programas de transferência de renda do governo – incluindo assistência social, Bolsa Família e aposentadorias – representam 20% do total da renda das famílias brasileiras. Em 2008, 18,7 milhões de pessoas viviam com menos de Ï€ do salário mínimo. Se não fossem as políticas de transferência, seriam 40,5 milhões. Isso significa que, nesses últimos anos, o governo Lula tirou da miséria 21,8 milhões de pessoas. Em 1978, apenas 8,3% das famílias brasileiras recebiam transferência de renda. Em 2008 eram 58,3%.

É uma falácia dizer que, ao promover transferência de renda, o governo está “sustentando vagabundos”. O governo sustenta vagabundos quando não pune os corruptos, o nepotismo, as licitações fajutas, a malversação de dinheiro público. Transferir renda aos mais pobres é dever, em especial num país em que o governo irriga o mercado financeiro engordando a fortuna dos especuladores que nada produzem. A questão reside em ensinar a pescar, em vez de dar o peixe. Entenda-se: encontrar a porta de saída do Bolsa Família.

Todas as pesquisas comprovam que os mais pobres, ao obterem um pouco mais de renda, investem em qualidade de vida, como saúde, educação e moradia.

O Brasil é rico, mas não é justo.

Fonte: Correio da Cidadania, 10 ago 2010

Afghan Women and the Return of the Taliban [Time]

The Taliban pounded on the door just before midnight, demanding that Aisha, 18, be punished for running away from her husband’s house. Her in-laws treated her like a slave, Aisha pleaded. They beat her. If she hadn’t run away, she would have died. Her judge, a local Taliban commander, was unmoved. Aisha’s brother-in-law held her down while her husband pulled out a knife. First he sliced off her ears. Then he started on her nose.

This didn’t happen 10 years ago, when the Taliban ruled Afghanistan. It happened last year. Now hidden in a secret women’s shelter in Kabul, Aisha listens obsessively to the news. Talk that the Afghan government is considering some kind of political accommodation with the Taliban frightens her. “They are the people that did this to me,” she says, touching her damaged face. “How can we reconcile with them?”

In June, Afghan President Hamid Karzai established a peace council tasked with exploring negotiations with the Taliban. A month later, Tom Malinowski from Human Rights Watch met Karzai. During their conversation, Karzai mused on the cost of the conflict in human lives and wondered aloud if he had any right to talk about human rights when so many were dying. “He essentially asked me,” says Malinowski, “What is more important, protecting the right of a girl to go to school or saving her life?” How Karzai and his international allies answer that question will have far-reaching consequences, not only for Afghanistan’s women, but the country as a whole.

As the war in Afghanistan enters its ninth year, the need for an exit strategy weighs on the minds of U.S. policymakers. Such an outcome, it is assumed, would involve reconciliation with the Taliban. But Afghan women fear that in the quest for a quick peace, their progress may be sidelined. “Women’s rights must not be the sacrifice by which peace is achieved,” says parliamentarian Fawzia Koofi.

Yet that may be where negotiations are heading. The Taliban will be advocating a version of an Afghan state in line with their own conservative views, particularly on the issue of women’s rights. Already there is a growing acceptance that some concessions to the Taliban are inevitable if there is to be genuine reconciliation. “You have to be realistic,” says a diplomat in Kabul. “We are not going to be sending troops and spending money forever. There will have to be a compromise, and sacrifices will have to be made.”

For Afghanistan’s women, an early withdrawal of international forces could be disastrous. An Afghan refugee who grew up in Canada, Mozhdah Jamalzadah recently returned home to launch an Oprah-style talk show in which she has been able to subtly introduce questions of women’s rights without provoking the ire of religious conservatives. On a recent episode, a male guest told a joke about a foreign human-rights team in Afghanistan. In the cities, the team noticed that women walked six paces behind their husbands. But in rural Helmand, where the Taliban is strongest, they saw a woman six steps ahead. The foreigners rushed to congratulate the husband on his enlightenment — only to be told that he stuck his wife in front because they were walking through a minefield. As the audience roared with laughter, Jamalzadah reflected that it may take about 10 to 15 years before Afghan women can truly walk alongside men. But once they do, she believes, all Afghans will benefit. “When we talk about women’s rights,” Jamalzadah says, “we are talking about things that are important to men as well — men who want to see Afghanistan move forward. If you sacrifice women to make peace, you are also sacrificing the men who support them and abandoning the country to the fundamentalists that caused all the problems in the first place.”

Source: this is an abridged version of an article that appears in the Aug. 9, 2010, print and iPad editions of TIME magazine.

A cidade edificada sobre o monte ~ por Ed René Kivitz

Este mundo vai de mal a pior, e aqueles que acreditam que o mundo vai melhorar precisam ler a Bíblia outra vez. Ou fazer teologia novamente. Quem acredita que “o dia de justiça, o dia de verdade, o dia em que haverá na terra paz, em que será vencida a morte pela vida, e a escravidão enfim acabará” refere-se às possibilidades de estruturação social está iludido.

A teologia da missão integral da Igreja deu passos significativos para que o assistencialismo evoluísse para a solidariedade emancipadora. Na verdade, a bandeira da responsabilidade social da Igreja levantada pelo movimento chamado evangelical foi além do velho paradigma “dar o peixe e ensinar a pescar” e profetizou a necessidade da transformação das estruturas sociais, isto é, lutar pela igualdade de condições entre os pescadores: instrução a respeito de pescaria, acesso aos apetrechos de pesca e às margens dos rios. A visão sistêmica que compreende a interação entre o indivíduo e a sociedade não dá margem para outra postura que não a implicação social da evangelização. Ponto para os herdeiros de Lausanne.*

Os discursos a respeito da Igreja como agência de transformação histórica e os apelos para que as cidades sejam conquistadas para Cristo foram, entretanto, inseridos nas agendas dos políticos cristãos, distorcendo o próprio propósito do Senhor Jesus para sua Igreja e seu Reino. Boa parte da chamada Igreja Evangélica brasileira (cada dia gosto menos desta expressão) padece de um crasso erro hermenêutico, a saber, a transposição simples das promessas do Velho Testamento para o contexto social e histórico atual.

Quero dizer que a promessa de Deus ao povo de Israel (“Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu e sararei a sua terra”) jamais pode ser aplicada ao Brasil e significar que a terra a ser sarada é a nação brasileira. Deus tinha um povo, e o seu povo tinha uma terra, um projeto de Estado, uma ética social e uma agenda litúrgica em unidade coerente. Isto é, o povo de Israel, habitando na terra da promessa, organizado num Estado regido pela Lei divina em suas múltiplas dimensões e sujeito ao único e verdadeiro Deus, seria luz para todas as nações.

Hoje, Deus ainda tem um povo: a Igreja (e se você ainda acredita que o povo de Deus é a nação de Israel, leia Gálatas novamente). Mas este povo, a Igreja, não tem uma terra delimitada como espaço geográfico, tipo território nacional. Mais do que isso, quando o povo de Deus fala em “organização social”, não está falando de um estado de direito, uma ordem social temporal, mas sim do Reino eterno de Deus. E o Reino de Deus não é um reino a ser instaurado na história, mas sim sinalizado na história.

A Igreja não vive sob a promessa de que a sociedade pode ser sarada. A Igreja vive sob o imperativo de oferecer-se ao mundo como humanidade e sociedade redimida, que se estrutura, de maneira alternativa, e através de suas relações internas anuncia profeticamente o Reino que virá. Como aprendi com os evangelicais, a Igreja é responsável por manifestar aqui e agora a maior densidade possível do Reino que será estabelecido ali e além. Mas esta manifestação histórica do Reino de Deus, entretanto, não se dá pela cristianização da sociedade ou, como pretendem alguns, pela tomada do poder temporal pela Igreja Evangélica.

A igreja, leia-se comunidade cristã local, é uma cidade edificada sobre o monte, uma luz na escuridão, que, inserida na sociedade corrompida e vivendo em meio a uma geração perversa, que se opõe a Deus e é inimiga da cruz, funciona como um sinal do Reino que virá. Não se iluda, esperando que o Brasil inteiro um dia fique iluminado. Ele, assim como todo o mundo, continuará em trevas. Mas em meio a estas trevas, viva em comunidade, uma comunidade que “vive o que prega para que possa pregar o que vive”.

Isso significa que os cristãos devem se recolher de sua inserção social? Eu não disse isso. Aliás, o Senhor Jesus disse que a luz acesa não pode ser colocada embaixo da cama.

Fonte: Revista Eclésia – Ano V – Nº55

*Congresso Mundial de Evangelização, realizado na Suíça em 1974, cujas conclusões teológicas, publicadas no Brasil pela ABU Editora, sintetizam a teologia da missão integral, ou movimento evangelical.

A Cidade ~ por Russell Shedd

Quando Deus criou o primeiro casal, o colocou no paraíso (significa “jardim” na língua persa). A decisão catastrófica ocorreu quando eles cederam à tentação de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deus os expulsou do jardim e eles começaram sua busca pelo sentido da vida, levantando torres e construindo cidades. “Caim fundou uma cidade”, informa o texto bíblico.

Muitos anos depois, Deus convocou Abraão a deixar a cidade de Ur dos Caldeus, entre as mais modernas do mundo antigo. Peregrinou na terra prometida alojando-se numa tenda, mas esperava uma “cidade que tem alicerces cujo arquiteto e edificador é Deus” (Hb 11.10). Essa cidade deve ter sido a Nova Jerusalém.

H. Drummond nos surpreende, ao afirmar que o cristianismo é distinto de todas as outras religiões porque é a “religião de cidades… sua esfera é a rua, o mercado, a vida do empregado no mundo. De fato, o novo mundo do Apocalipse se apresenta para nós em forma de uma imensa cidade. A vida da cidade é intensa, real e comunitária” (The Greatest Thing in the World). Na cidade, quem desejar pode se isolar, ou ter muitos amigos.

O Espírito Santo desceu sobre os 120 discípulos na cidade. A primeira igreja foi plantada na cidade. Atos narra o sucesso do Evangelho correndo a largos passos pelas cidades de Jerusalém, Damasco, Antioquia, Tessalônica, Corinto, Éfeso e Roma.

Deus planejou enviar seus embaixadores às cidades de onde o conhecimento da verdade salvadora se espalharia pelas zonas rurais. A dinâmica da mensagem em Éfeso foi tal que, em apenas dois anos “todos os judeus e os gregos que viviam na província da Ásia ouviram a palavra do Senhor” (At 19.10).

Mas nem tudo é belo e atraente na cidade. Tem seu lado sombrio. Nela, proliferam a competição, a busca frenética do poder, do dinheiro, de ter em vez de ser. Na cidade, a prostituição, as drogas e a violência contaminam a atmosfera. Creio que muitos concordariam que é mil vezes mais fácil sentir a presença e ação de Deus no campo do que na confusão de prédios e ruas congestionadas. Não foi por meio de um arbusto em chamas que Deus se revelou a Moisés?

No congresso de evangelismo, Lausanne II, em Manila (1989), um palestrante, Os Guiness, citou Abraão Kuyper, primeiro ministro da Holanda, “Não há uma polegada sequer de qualquer esfera da vida sobre a qual Cristo não diz: “Meu”. É isto que torna a modernidade tão difícil”. Precisamente na cidade, a modernidade nos confronta com a força de um Tsunami. Mas sobre a cidade, Deus tem vontade de revelar seu poder transformador, dizendo: “Isto é meu!”.

Se o nosso destino final é de fato uma cidade, não seria de primordial importância aprendermos a viver de forma cristã na cidade? Não seria alvo digno do Senhor da igreja, nos esforçar na transformação da comunidade na qual ela se encontra, num reflexo do modelo da Nova Jerusalém?

Richard Baxter, dedicado pastor da igreja de Kidderminster, Inglaterra (séc. XVII), foi o instrumento da mudança na reputação da cidade. De pior, passou a ser considerada a mais santa do país. A contagiosa influência de um pastor santo como Baxter tem poder para mudar um bairro, uma cidade ou um país. Em vez de escândalos abalarem a igreja, roguemos a Deus por líderes que consigam implantar o modelo da Nova Jerusalém no meio dos homens engavetados na cidade poluída e escura, carecendo da luz de Deus.

De cima é fácil identificar uma cidade pela mancha de luz que passa por debaixo do avião. Milhares de luzes juntas dão a impressão de uma luz espalhada numa grande área da terra. Seria assim que a cidade corrompida pelo pecado poderia ser modificada? Não espere pelos políticos, nem pela legislação, nem uma maior proliferação de policiais. A mudança da cidade ocorre pelas luzes que vidas santas produzem. Jesus declarou: “É impossível esconder uma cidade construída sobre um monte”. Mas uma cidade sem luzes se esconde, sim! Portanto, candeias colocadas em lugares apropriados iluminam a todos que estão na casa e transformam a cidade numa mancha de luz gigante.

Assim, não podemos imaginar a beleza da Cidade de Deus que os herdeiros da salvação ocuparão. Todos se amarão perfeitamente. O fruto do Espírito dominará todos os relacionamentos. No presente gozamos das primícias do Espírito para experimentar a sombra dessa realidade.

O presidente que exige uma mulher no Planalto nega socorro à mulher condenada à morte por apedrejamento ~ A Nunes

Até na morte por apedrejamento o Irã dos aiatolás consegue ser mais brutal com as mulheres. Os homens, enterrados na areia até a cintura, ficam com os braços livres para proteger o rosto. Nem isso será permitido a Sakineh Mohammadi Ashtiani, viúva de 43 anos, já punida com 99 chibatadas e agora à espera do ritual instituído em 1983. O Código Penal determina que as mulheres sejam enterradas até a altura do busto, com as mãos amarradas por cordas e o corpo enrolado num tecido branco. Não podem sequer defender-se das pedras atiradas a curta distância sob o olhar da multidão reunida na praça.

O grupo de executores, liderado pelo juiz que assinou a sentença, inclui os jurados que ordenaram a condenação, parentes da vítima, figurões da comunidade e voluntários anônimos.  Todos são homens: no Irã, mulheres não apedrejam; só podem ser apedrejadas. Para que a plateia não se sinta frustrada pela morte rápida, as pedras que circundam o alvo são pequenas. O juiz atira a primeira. A agonia que se encerra com o traumatismo craniano não dura menos que uma hora.

Tanto pelo espetáculo da perversidade primitiva quanto pela ausência de motivos para a condenação, o caso de Sakineh provocou uma intensa  mobilização na internet. Como em quase todos os países, multidões de brasileiros decidiram lutar pelo cancelamento do espetáculo da barbárie. E alguém teve a ideia de lançar a campanha “Liga, Lula”, inspirada na convicção de que Mahmoud Ahmadinejad não se negaria a atender a um pedido de clemência formulado pelo amigo brasileiro.

Lula também acha que ouviria um sim. Mas não vai ligar. Caso ligasse, não iria além de observações sobre o método escolhido para o assassinato. “Eu, sinceramente, não acho que nenhuma mulher deveria ser apedrejada por conta de… ter, sabe, traição”, gaguejou nesta quarta-feira. Adultério – ou “traição”, prefere Lula – não chega a ser um crime hediondo, certo?  Se é assim, estariam de bom tamanho a cadeira elétrica, uma injeção letal, a câmara de gás, até mesmo a forca. Matar a pedradas pode parecer um exagero aos olhos dos ocidentais, talvez ponderasse na conversa telefônica.

Mas a conversa não haverá, sublinhou a continuação da discurseira.  “Um presidente da República não pode ficar na internet atendendo tudo que alguém pede de outro país”, justificou-se. “Veja, eu pedi pela francesa e pelos americanos que estão lá, pedi para a Indonésia por um brasileiro, pedi para a Síria por quatro. É preciso cuidado, porque as pessoas têm leis, as pessoas têm regras, as pessoas, sabe… Se começam a desobedecer as leis deles para atender o pedido de presidentes, vira uma avacalhação”.

Avacalhar quer dizer desmoralizar, ridicularizar, tratar desleixadamente, não levar a sério. Não combina com a história de Sakineh. Mas a expressão usada pelo campeão da vulgaridade se ajusta admiravelmente ao próprio governo:  a Era Lula é uma avacalhação. Há sete anos e meio, em seus vários significados, o verbo é conjugado o tempo todo pelo governo em geral e pelos condutores da política externa em particular.

Lula se desmoraliza ao enxergar uma questão política numa causa humanitária. Para defender o parceiro, virou ajudante de carrasco. Não pode ser levado a sério alguém incapaz de compreender que os direitos humanos prevalecem sobre todas as leis ou regras. Lula encara dramas com desleixo e participa de chanchadas com muita aplicação. É ridícula, enfim, a argumentação invocada para mascarar a verdade escancarada. Para recusar ou endossar pedidos, para estuprar ou tratar respeitosamente normas legais, Lula não se orienta por princípios. Segue a partitura do hino à avacalhação.

O que importa é a conveniência  eleitoreira, o parentesco ideológico, a cumplicidade mafiosa. Fidel Castro, por exemplo, emplacou três pedidos em três anos. Foi para atender ao ditador-de-adidas que o presidente autorizou a deportação dos pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, fez que não leu a carta da blogueira Yoani Sanchez e acusou o preso político Orlando Zapata de se se deixar morrer no 85° dia da greve de fome. Hugo Chávez emplaca todos, até os que declama ao som da lira do delírio. Foi para agradar ao bolívar-de-hospício que Lula violentou as leis de Honduras e transformou em pensão a embaixada brasileira. É para ajudar o comparsa venezuelano que hostiliza o governo colombiano e afaga as FARC.

Para eleger Dilma Rousseff, tornou-se um colecionador de delinquências  eleitorais. Para fechar negócio com José Sarney, promoveu-o a homem incomum. Para chegar à presidência, exigiu que os corruptos fossem justiçados. Para consolidar-se no poder, tratou de nomeá-los amigos de infância. No momento em que se recusou a estender a mão a Sakineh em respeito às leis do Irã, estava ajudando Hugo Chávez a desrespeitar as leis da Colômbia. Enquanto o chefe adulava os narcoterroristas das FARC, o ministro Celso Amorim tentava estuprar a legislação israelense que proíbe a entrada na Faixa de Gaza de autoridades estrangeiras que podem ser utilizadas pelo Hamas como peças de propaganda.

Lula acha que uma brasileira merece a Presidência sobretudo por ser mulher. Mas acha que não merece misericórdia uma iraniana que só foi condenada à morte por apedrejamento porque é mulher. Anda chorando quando lembra que a longa temporada  no poder está acabando. Não se comove com a prisioneira angustiada com a aproximação do fim macabro. Pune brasileiros que dão palmadas nos filhos. Absolve iranianos que matam a pedradas.

O candidato sem chances ao Nobel da Paz nem imagina o que é um humanista. Desde sempre fez a opção preferencial pelos pastores da violência. Dilma Rousseff acha que todas as mulheres devem apoiá-la porque é mulher. Não deu um pio sobre a saga da iraniana que vai morrer por ser mulher. Lula só pensa em Lula. Dilma não consegue pensar.

Como Sakineh, o Brasil merece e precisa ser salvo. Ela depende da solidariedade internacional para livrar-se do horror. O país só depende da sensatez dos brasileiros.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes, Veja, 30 jul 2010

Brazil’s Bolsa Família: How to get children out of jobs and into school

The limits of Brazil’s much admired and emulated anti-poverty programme

THREE generations of the Teixeira family live in three tiny rooms in Eldorado, one of the poorest favelas (slums) of Greater São Paulo, the largest city in the Americas. The matriarch of the family, Maria, has six children; her eldest daughter, Marina, has a toddler and a baby. Like many other households in the favela, the family has been plagued by domestic violence. But a few years ago, helped in part by Bolsa Família (family grant)—which pays mothers a small sum so long as their children stay in education and get medical check-ups—Maria took her children out of child labour and sent them to school.

The programme allows the children to miss about 15% of classes. But if a child gets caught missing more than that, payment is suspended for the whole family. The Teixeiras’ grant has been suspended and restarted several times as boy after boy skipped classes. And now the eldest, João, aged 16, is out earning a bit of money by cleaning cars or distributing leaflets, taking his younger brothers with him. Marina’s pregnancies have added to the pressure. She gets no money for her children because she lives with her mother and the family has reached Bolsa Família’s upper limit. After rallying for a while, the Teixeira family is sliding backwards, struggling more than it did a couple of years ago.

Their experience does not mean Bolsa Família has been a failure. On the contrary. By common consent the conditional cash-transfer programme (CCT) has been a stunning success and is wildly popular. It was expanded in 2003, the year Luiz Inácio Lula da Silva became Brazil’s president, and several times since; 12.4m households are now enrolled. Candidates for the presidency (the election is on October 3rd) are competing to say who will expand it more. The opposition’s José Serra says he will increase coverage to 15m households. The ruling party’s Dilma Rousseff, who was Lula’s chief of staff, says she is the programme’s true guardian. It is, in the words of a former World Bank president, a “model of effective social policy” and has been exported round the world. New York’s Opportunity NYC is partly based on it.

Much of this acclamation is justified. Brazil has made huge strides in poverty reduction and the programme has played a big part. According to the Fundaçao Getulio Vargas (FGV), a university, the number of Brazilians with incomes below 800 reais ($440) a month has fallen more than 8% every year since 2003. The Gini index, a measure of income inequality, fell from 0.58 to 0.54, a large fall by this measure. The main reason for the improvement is the rise in bottom-level wages. But according to FGV, about one-sixth of the poverty reduction can be attributed to Bolsa Família, the same share as attributed to the increase in state pensions—but at far lower cost. Bolsa Família payments are tiny, around 22 reais ($12) per month per child, with a maximum payment of 200 reais. The programme costs just 0.5% of gdp.

But the story of the Teixeiras and others like them should sound a warning to those who see Bolsa Família as a panacea. There is some evidence the programme is not working as well in cities as in rural areas—and the giant conurbations of developing countries are where the problems of poverty will grow in future.

This concern differs from the usual complaints about the programme in Brazil. There, critics think it erodes incentives to work and sometimes goes to the wrong people. On the whole, though, studies have not borne out these complaints. A recent report for the United Nations Development Programme found the programme did not lead to dependence and that its impact on the labour market was slight. According to World Bank researchers, Bolsa Família’s record in reaching its target audience is better than most CCTs.

Worries about the imbalance between rural and urban benefits may be harder to brush away. Bolsa Família does seem to have a rural bias. Rural poverty is great in Brazil but even so, the programme’s incidence in rural areas is high: 41% of rural households were enrolled in 2006, against 17% of urban ones. In the two largest cities, São Paulo and Rio de Janeiro, fewer than 10% of households are in the programme. Yet these cities contain some of the worst poverty in the country.

Brazil’s success in cutting poverty seems to have been greater in rural areas than in urban ones. Bolsa Família does not publish figures on urban and rural poverty but the official report on the United Nations’ millennium development goals does. The most recent progress report, published in March, said that rural poverty fell by 15 points in 2003-08, much more than the urban rate (see chart 1).

Impressive though they are, these figures, based on household survey data, may understate the fall. Income and spending figures suggest poverty as a whole is lower (they show almost 8m fewer people in absolute poverty). Rafael Osório of the Institute for Applied Economic Research (IPEA) thinks rural poverty rates may well be lower than 12%. If so, Bolsa Família has done an even more splendid job in the countryside than it seems.

Other evidence supports this. Rural malnutrition among children under five in the arid parts of the north-east (one of Brazil’s poorest regions) has fallen from 16% to under 5% since 1996. And since 1992 the proportion of rural children in primary education has caught up with that of city children, while rural enrolment in secondary schools has increased faster than the urban rise (see chart 2).

Because poverty in rural Brazil used to be higher than urban poverty, a larger reduction is both natural and desirable. In the 1990s there were fewer social benefits in rural regions so a nationwide programme was bound to help them more. Moreover, as the ministry of social development, which administers Bolsa Família, points out, the programme was never designed to be run in a uniform way. Local areas use different methods so some variation is inevitable.

Despite all this, the cities remain a problem. In absolute terms there are as many poor people in urban areas of Brazil as there are in rural (because the country in general is largely urban). And there are three reasons for thinking Bolsa Família works less well in the towns.

The first is that, in urban areas, the introduction of the programme has left some people worse off. When Bolsa Família was expanded in 2003, it subsumed an array of other benefits, such as a programme against child malnutrition, subsidies for cooking fuel, stipends for youngsters between 15 and 16, and so on. Though hard to prove (national figures are not available), anecdotal evidence suggests that the family grant can be worth less than the former array of benefits.

Jonathan Hannay, the British secretary-general of the Association for the Support of Children at Risk, a charity in Eldorado, reckons that in his favela households like the Teixeiras used to be able to get the equivalent of two minimum wages (for a family of six) from the old benefit system. The average Bolsa Família grant is a fifth of the minimum wage. One city, Recife, even decided to top up benefits to former welfare recipients when the programme started. More generally, the cost of living in cities is higher than in the countryside, so the family grant (which is the same size across the country) is worth less.

Second, the programme seems to have had little success in reducing child labour in cities. In fact, its record on child labour in general has been rather disappointing, but the urban problem seems more intractable. In rural areas parents take children out of school to help with the harvest. This is, in part, a cultural phenomenon: children learn farming by working the fields. They are often not paid. But their work is temporary and, since children are allowed to miss 15% of school days without penalty, rural kids may be able both to work and stay in the programme.

Child labour in cities is different. Children earn money selling trinkets, working as maids and so on, and their earnings are often greater than the modest benefits from Bolsa Família. So there is an economic incentive to cut school and leave the programme. Of the 13,000 households who lost their grant because of school truancy in July, almost half were in São Paulo alone. The real damage done by child labour happens when the children have no education at all—and that is more likely to happen in cities.

Third, Bolsa Família may affect the structure of households in favelas more than in the countryside. Family benefit goes to the head of a household (almost always the mother). But in densely populated favelas, where—surprising as it may seem—housing is expensive, and where a young woman is likely to stay with her mother after she has her own child, the new benefit still goes to the head of the household, ie, the new child’s grandmother. This is what happened to the Teixeiras. It may, some observers fear, produce a sort of double dependency, on family grant and on family matriarch.

None of this means that Bolsa Família is, on balance, a waste of money in urban areas. As the FGV’s Marcelo Neri points out, the programme shows the state in a new and better light in favelas: as a provider of benefits in places where it has either been absent or present only in the form of brutal police squads.

In addition, the elaborate bureaucracy built up by the programme—every household gets a debit card and the ministry of social protection runs a giant database with every transaction—should make it easier to be more precise in targeting the needy. More important, it should make it possible to use the Bolsa network to do new things, such as helping teenagers of 16 and 17 who are products of the system train and look for work. It should also be possible for cities to top up the family grant. Rio de Janeiro is designing a new programme, called Bolsa Carioca, to do exactly that.

Still, there has been a tendency to treat Bolsa Família as magic bullet—in Brazil and beyond. Once a country has a Bolsa Família-type programme, it thinks it has dealt with the problems of poverty. It has not. Rômulo Paes de Sousa, the executive secretary of Brazil’s social-development ministry, talks about “old” and “new” poverty—old being lack of food and basic services; new being drug addiction, violence, family breakdown and environmental degradation. These “new” problems are more complex. Where they are being overcome, it is taking the combined efforts of the police (to reclaim the streets), new shops and commerce (to make life more bearable), Pentecostal churches (which give people hope)—and Bolsa Família.

Rural Brazil, with its malnutrition and absence of clean water and clinics, is an area of old poverty and Bolsa Família has been wonderfully effective in fighting it. But many of the problems of fast-growing cities, particularly in developing countries, are those of new poverty. And nobody, including the designers of Bolsa Família, has a magic bullet for those.

Source: The Economist – july 29, 2010

(España) La Fiscalía ve “preocupante” el aumento de menores que maltratan a sus padres

La Fiscalía General del Estado aconseja a los fiscales que adopten medidas no privativas de libertad para los menores que maltratan a los padres, tales como la convivencia con grupo familiar o educativo, la libertad vigilada o el alejamiento.

El origen de este problema puede estar asociado a deficiencias en el proceso educativo de los menoresAsí lo hace constar la Fiscalía en una circular que ha enviado este martes a todas las fiscalías ante la proliferación “preocupante” de menores que maltratan a sus padres. En ella indica que la fase de instrucción de estos casos deberá ser “breve y simplificarse al máximo”. La circular aconseja una actuación preventiva de los servicios sociales y de instituciones de protección de menores antes de la activación, “siempre traumática”, del sistema de justicia juvenil.

La Fiscalía ha enviado este documento tras constatar la existencia de este problema, que tiene “una profunda incidencia social y cuyo origen puede estar asociado a deficiencias en el proceso educativo de los menores”. No obstante, en la circular se subraya que el maltrato de los menores a sus progenitores no es un fenómeno asociado “exclusivamente” a las familias desestructuradas, por lo que no es “infrecuente” que esté integrado en familias con nivel económico y social medio y alto.

No es un fenómeno asociado exclusivamente a familias desestructuradasEn cuanto al perfil de estos menores, la Fiscalía afirma que son fundamentalmente adolescentes masculinos en familias monoparentales, que se han criado solo con su madre y “hacia la que adoptan posturas patriarcales y machistas”. En este sentido, la Fiscalía ha detectado una evolución en el perfil del maltratador desde el punto de vista del sexo, ya que “cada vez se tiende a una mayor equiparación entre el número de agresores hijos e hijas”, si bien la víctima sigue siendo, “mayoritariamente”, la madre.

La Fiscalía aconseja a los fiscales no adoptar medidas que priven al menor de libertad. Apuesta por la libertad vigilada y considera que puede ser “especialmente aconsejable” que el menor siga un terapia familiar o de desintoxicación; la obligación de acudir al centro educativo o talleres; o seguir reglas tendentes “a lograr una debida estructuración del ocio y del tiempo libre”.

Se tiende a una mayor equiparación entre el número de agresores hijos e hijasTambién aconseja las órdenes de alejamiento del agresor con respecto a la familia aunque recomienda que se incorpore una cláusula para facilitar las terapias familiares, “pieza básica en la ejecución de las mismas”. Por otro lado, apunta que “un buen número de fiscalías” coinciden en señalar la “gran efectividad” de la convivencia con grupo familiar o educativo cuando es necesario que el menor no siga en el domicilio y si no procede su internamiento.

Esta medida, según la circular de la Fiscalía, puede combinarse con la del alejamiento “de modo que a la vez que se pacifica la crisis familiar, se dota a las víctimas de un instrumento protector”. La convivencia del menor con grupo familiar o educativo puede articularse colocando a éste en un hogar distinto dentro de su familia extensa, o si no, en pisos de convivencia. Por ello, la Fiscalía estima que el internamiento cautelar del menor debe ser el último recurso. El contenido de la circular es aplicable desde que las fiscalías lo reciben.

Fonte: 20minutos.es (España), 27 jul 2010

Pastor de aeropuerto: entre el cielo y la tierra

Gudrun Bauer recuerda perfectamente aquel día terrible, hace un año. Esta mujer de 66 años esperaba a su hermano mayor en la sala de llegadas. Ella lo había llamado por teléfono a Múnich la noche anterior para pedirle que viniera a Düsseldorf lo más pronto posible.

Gudrun estaba enferma y necesitaba su apoyo, le dijo. Pero el verdadero motivo de la llamada era en realidad más triste: su hermano tenía una hija única – su sobrina – que residía en este Estado de Renania del Norte Westfalia y acababa de fallecer en un accidente automovilístico.

“Estaba desconsolada”

Bauer estaba en schock, absolutamente perpleja, desconsolada.  ¿Cómo decirle a su hermano que su hija adorada, la que él habría preferido tener siempre cerca en Múnich, estaba ahora muerta? No se atrevía.

Por suerte, Gudrun Bauer recordó un reportaje televisivo sobre el pastor del aeropuerto. Así que lo buscó y le pidió ayuda. Detlef Toonen, párroco evangélico del aeropuerto de Düsseldorf, supo enseguida qué hacer.

Toonen recibió al anciano y le transmitió la dramática noticia. Cuando el hermano de Gudrun se deshizo en lágrimas, el religioso halló las palabras adecuadas para consolarlo en su dolor. Estos casos son parte del trabajo diario de Detlef Toonen, presente desde 2006 en las terminales de Düsseldorf, para confortar a pasajeros y sus familiares en momentos duros.

Muerte a bordo

Unos 50.000 a 60.000 pasajeros pasan diariamente por el aeropuerto de Düsseldorf. La misión del pastor consiste en cuidar de ellos, acompañarlos, escucharlos, hablarles: “por supuesto existen situaciones de emergencia. Las más frecuentes involucran personas que fallecen a bordo o en sus vacaciones, en un lugar lejano, en vez de aterrizar aquí con vida como alguien espera”.

El pastor debe informar a los miembros de la familia, al tiempo que se ofrece para brindarles el primer consuelo. Toonen se ocupa también de inmigrantes que serán desplazados de Alemania. Los acompaña en sus últimas horas en el aeropuerto, antes de que se los obligue a regresar a su país de origen y, con ello, las más de las veces, a la incertidumbre.

“Con una mano delante y otra detrás”

Toonen, de 54 años, realiza también una labor social que, a primera vista, no pertenecen a su misión religiosa en el aeropuerto. El pastor recibe, por ejemplo, a alemanes que regresan a su país sin recursos luego de largas estancias en el extranjero. Con frecuencia estos pasajeros se regresan desde EE.UU., Tailandia, el Caribe, las Islas Canarias, Baleares y recientemente también desde el Cercano Oriente, apenas “con una mano delante y la otra detrás”.

Hace poco tuvo uno de estros casos: “un alemán que había vivido como dos años ilegal en EE.UU. Había ingresado como turista y se le había vencido la visa. Las autoridades americanas lo encerraron en prisión y luego lo deportaron a Alemania”. Tonnen se encargó de recibirlo y acompañarlo en el camino a su antiguo lugar de residencia.

Experiencias positivas

Antes de asumir esta responsabilidad Detlef Toonen fue pastor durante 12 años en una comunidad de Oberhausen, en la Cuenca del Ruhr, que pertenece también al Estado de Renania del Norte Westfalia. Además, daba clases en escuelas de oficios. Aceptó con entusiasmo la oferta de convertirse en pastor de aeropuerto.

Su trabajo es diverso, dice Toonen, y en él vive también muchas experiencias positivas. En un sitio conmemorativo especial del tercer piso el párroco oficia misas al inicio de las vacaciones de verano. Si se lo solicitan, bendice también a los viajeros antes de echar a volar.

Justo hace unos días bendijo a una familia que viajó a donde unos amigos en África, por medio año: “madre, padre, dos niños, ojos brillantes y grandes expectativas. Me preguntaron si podía estar presente cuando despegaran”. El pastor se retiró con la familia a un espacio de meditación e hizo sólo para ellos una pequeña ceremonia de despedida.

“En contacto con Dios y con el Mundo”

El día de trabajo de Detlef Toonen dura oficialmente 8 horas, pero muchas veces su jornada acaba más bien tarde en la noche, pues las situaciones de emergencia no se pueden planear. El pastor está a disposición de los pasajeros y de los 18.000 trabajadores del aeropuerto.

Cuando tiene tiempo, Toonen recorre las terminales y le habla a los pasajeros. La Iglesia no sólo está presente en situaciones de emergencia, dice el pastor. “Siempre digo: ‘Yo estoy ahí, en contacto con Dios y con El Mundo. Soy parte del personal de Dios en la Tierra’”.

Por eso, para Toonen, su misión en el aeropuerto consiste en establecer contacto con las personas, preguntarles sobre lo que tienen más cerca del corazón y desearles unas lindas vacaciones.

Autora: Nadja Baeva / RML

Editor: José Ospina Valencia

Fonte: DW, 20 jul 2010

Lutherans reconcile with Mennonites 500 years after bloody persecution

A photo of a Danish church in wintertime

It lasted for centuries, now Lutherans apologised to the Mennonites and thereby allowed the conflicting parties to find closure. Both religions celebrated their reconciliation at the Lutheran World Federation Assembly.

The bloody oppression of the Mennonite Free Church in the 16th century is one of the darkest chapters in European history. This past week, Lutherans issued an official apology for the cruel persecution of the Anabaptists – and both parties celebrated their reconciliation in a very moving ceremony.

“We still remember being a prosecuted minority,” said Larry Miller, secretary general of the Mennonite World Conference.

The Mennonite Free Church is the main branch of the descendants of the Christian Baptist movement. Mennonites are known as Anabaptists because they only baptise adults and not underage children.

For church reformer Martin Luther, Mennonites were schismatic heretics who denied children access to the Christian community. Luther expressed his rejection of the Anabaptists in a letter of denomination which was published in the southern German city of Augsburg, and is known as the Augsburg Confession of 1530. Even today, Lutheran pastors are ordained using parts of this text.

Bloody religious conflict

The Baptists, who advocated church reforms even more radical than those proposed by Martin Luther or Ulrich Zwingli, were persecuted by both the Catholics and the Protestants and had to flee for their lives. Nevertheless, thousands were killed

Today, the Free Church has more than one million members all over the world, mostly in the United States and Canada. About 60,000 members live in Europe. The Mennonites disapprove of ecclesiastic hierarchies and their local churches are rather autonomous.

Early on, they decided to raise their voice against every act of war and violence and live according to a “total renunciation of force.” They are regarded as one of the historical peace churches.

No longer victims

In the reconciliation ceremony during the 11th Lutheran World Federation Assembly in Stuttgart this past week, representatives of the Lutheran church explicitly asked “God and our Mennonite sisters and brothers for forgiveness for the harm that our ancestors have brought upon the Anabaptists.”

The plea for forgiveness is the result of a year-long process and is based on work done by the Lutheran-Mennonite Study Commission from 2005 to 2008.

For General Secretary Miller, this apology is a significant concession and an act of liberation. The Anabaptists had regarded themselves as victims for centuries.

“Now we have to reconsider our identity,” Miller said. Indeed, the stories of martyrdom are still present in the Mennonite communities and their ancestors’ suffering is passed on from generation to generation.

Healing can begin

“It is a deep wound within the Christian world when two churches of the reformation movement are separated despite actually being so close because of their common origin and their history,” Mennonite pastor Reiner Burghard said, expressing his hope that this wound could now begin to heal.

Source: DW, 26 jul 2010