Arquivo da categoria: Religião

Al-Qaeda tenta nova tática na Somália: filantropia

Distribuição de comida em área afetada pela crise de fome levanta uma questão: que tipo de grupo é a Al-Qaeda atualmente?

[Jeffrey Gettleman,The New York Times, Último Segundo,  19 out 11] A Al-Qaeda não é conhecida por suas atividades filantrópicas, mas neste fim de semana o grupo terrorista parece ter se ramificado em um novo negócio na Somália: a distribuição de ajuda humanitária.

Em uma cena surreal, um homem com um lenço colocado sobre o rosto se posicionou no meio de um acampamento cheio de pessoas morrendo de fome e anunciou que ele tinha vindo para a Somália, em nome de Ayman al-Zawahri, líder da Al-Qaeda, e que o grupo estava ansioso para ajudar as vítimas da fome.

“Nossos queridos irmãos e irmãs na Somália, estamos acompanhando sua situação diariamente”, disse o homem, identificado como Abu Abdulla Almuhajir. Continue lendo

Alerta no Vaticano pela crise da Igreja no Brasil

[Giacomo Galeazzi, Vaticano Insider, IHU, 17 out 11] Trinta anos atrás, mais de 90% dos brasileiros se definiam como católicos. Agora, o número caiu para 68%, o valor mais baixo desde 1872. O alerta foi acionado porque, no maior país católico do mundo (140 milhões de fiéis), cada vez mais pessoas rompem seus laços com Roma.

Além da América do Sul como terra de esperança para o catolicismo mundial, os dados dizem outra coisa. De acordo com os dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas, na última década, por causa da secularização e do boom das seitas evangélicas, diminuem continuamente os católicos brasileiros, enquanto aumentam enormemente as dezenas de denominações evangélicas. Uma pesquisa realizada pelo principal instituto de pesquisa do Brasil com base em 200 mil entrevistas fotografa um progressivo afastamento da Igreja especialmente das novas gerações.

E, significativamente, a Santa Sé escolheu justamente o Rio de Janeiro como a próxima sede para a Jornada Mundial da Juventude, para impulsionar a pastoral da juventude na América do Sul. Durante a última década, milhões de brasileiros deixaram a comunidade católica mais numerosa do planeta para entrar nas congregações pentecostais. O ano de 2010 foi o pior ano da Igreja Católica no Brasil. O número de jovens com menos de 20 anos que declaram não seguir nenhuma religião subiu três vezes mais rapidamente do que o de pessoas com mais de 50 anos. Cerca de 9% dos jovens brasileiros não têm nenhuma filiação religiosa. Uma tendência semelhante à dos abandonos da Igreja. Continue lendo

Por que os jovens cristãos abandonam as Igrejas

Três de cada cinco jovens cristãos, mais ou menos, se afastam da fé e abandonam suas igrejas de origem. Isso, geralmente, acontece por volta dos 15 anos. É um fenômeno comum, que tem diversos graus, com todas as confissões religiosas cristãs do ocidente, na Europa e nos Estados Unidos. E a grande pergunta é: por que isso acontece, e por que com esta frequência?

[IHU, 14 out 11] A reportagem é de Marco Tosatti e está publicada no sítio Vatican Insider, 10-10-2011. A tradução é do Cepat.

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Um novo estudo, cujo resultado foi tornado público há alguns dias pelo Barna Group, indica seis razões diferentes para este êxodo juvenil. Os pesquisadores do Barna Group apresentaram seus questionários a uma variedade de pessoas: jovens, adultos, adolescentes, jovens pastores evangélicos e seus colegas mais idosos. A pesquisa teve uma extensão de período de tempo muito longa: cinco anos.

O primeiro problema: as igrejas dão a sensação de serem “excessivamente protetoras”. Quase um quarto dos jovens, na faixa de idade dos 18 aos 29 anos, responderam que “os cristãos demonizam tudo o que não tem a ver com a Igreja”, na maior parte dos casos. 22% declararam que as Igrejas ignoram os problemas do mundo real, 18% afirmaram que sua Igreja parecia muito preocupada com o impacto negativo dos filmes, da música e dos videogames. Continue lendo

A modernidade e as amplas prateleiras do mercado religioso

[Ed René Kivitz, Valor, 14 out 11] O aspecto mais relevante do novo cenário religioso no Brasil, revelado por pesquisas recentes, é o surgimento de uma nova personagem: o religioso não institucionalizado, que busca uma experiência de espiritualidade não tutelada pelas hierarquias das religiões formalmente organizadas em termos de dogmas, rituais e códigos morais. Vivemos os dias da religião sob medida, montada por consciências individuais que misturam os ingredientes disponíveis nas prateleiras do mercado religioso.

O sociólogo Otto Maduro define religião como “conjunto de discursos e práticas referentes a seres superiores e anteriores ao ambiente natural e social, com os quais os fiéis desenvolvem uma relação de dependência e obrigação”. As ciências da religião sugerem que as religiões se estruturam com base em dogmas, rituais e tabus, isto é, crenças adotadas como verdades inquestionáveis, celebrações litúrgicas em homenagem e devoção às divindades, e regras de comportamento moral que acarretam benesses ou maldições. A modernidade não conseguiu acabar com a relação de dependência e obrigações, pois o ser humano é atormentado por sua finitude, encurvado pelo peso de uma culpa ancestral, apavorado ante o mistério da imensidão do cosmos, e perdido em termos de sentido para a existência. Por essa razão, buscará sempre seus deuses, fabricará seus ídolos e se curvará diante disso que Rudolf Ottochamou de “mysterium tremendum”, a que damos o nome de Deus.

Mas a modernidade destruiu, sim, a religião como sistema de dogmas, rituais e tabus. O conceito de modernidade nos remete à segunda metade do século XVIII, com a revolução industrial – capitalismo, ciência e técnica, urbanismo, desenvolvimento ilimitado, a revolução democrática sensível aos direitos humanos, e principalmente ao conceito de indivíduo e ao descobrimento da subjetividade, que afirma a consciência individual acima de qualquer autoridade e liberta o indivíduo de sua dependência das instituições sociais, inclusive e principalmente religiosas. Continue lendo

Religião e diversidade étnica

[Valor & IHU, 14 out 11] Influências da crise atual sobre os modos de pensar e agir de quem vive na Europa devem permear os trabalhos de uma conferência internacional que se realizará na Universidade de Tilburg, na Holanda, no fim de novembro. No encontro, em que se discutirão “Os Valores da Europa”, objeto de acompanhamento sistemático do European Values Study (EVS), personalidades acadêmicas de vários países tratarão de dois temas, entre outros, que se associam de forma muito particular e atual como campo de análise antropológica: a religião e a diversidade étnica (também serão apresentados “papers” sobre família e casamento, trabalho e lazer, política e sociedade). Cristãos e muçulmanos – estes, uma população encorpada por correntes migratórias incessantes – são os personagens de um ambiente sociocultural ao qual a crise agora acrescenta novos ângulos de observação.

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Mudanças nos padrões de vida das populações europeias, por exemplo, têm exercido influência direta no declínio do número de cristãos no continente. A diminuição da população rural no século passado é um dos fatores que contribuíram para a ruptura da transmissão dos valores religiosos, já que no campo o sentimento de pertencer a um grupo relativamente homogêneo, com os mesmos valores, é mais forte.

“Nas cidades, as pessoas não conhecem o vizinho, os filhos vão estudar longe de casa e se distanciam dos moldes tradicionais. Esse tipo de comportamento fragiliza a transmissão da fé”, analisa o sociólogo de religiões Frédéric Lenoir, autor dos livros “Sócrates, Jesus, Buda” e “O Oráculo de Luna”, publicados no Brasil, e diretor da revista “Le Monde des Religions”, do jornal “Le Monde”. “O discernimento pessoal e um olhar mais crítico nos levam a questionar fundamentos da fé e as explicações religiosas do mundo.” Continue lendo

Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos ordena seu primeiro ministro gay

[MixBrasil/UOL, 10 out 11] A história de Scott Anderson, de 56 anos, é curiosa. Ele foi criado dentro da Igreja Presbiteriana da Califórnia desde a adolescência e tonrou ministro da mesma pouco depois de completar 20 anos. Aos 36 anos precisou se afastar da Igreja por ter assumido ser homossexual. “Foi realmente o pior e o melhor momento da minha vida. O melhor porque pude pela primeira vez dizer que eu era gay. Mas houve também tristeza por ter que deixar o que eu amava”, disse ele.

Scott foi readmitido como Ministro presbiteriano agora, 20 anos depois, por conta de uma recente decisão de sua igreja que removeu da constituição a obrigação de um clérigo de estar “dentro do convênio do casamento entre um homem e uma mulher, ou da castidade no celibato”. A readmissão de Scott fez barulho nos setores protestantes norte-americanos, já que a Igreja Presbiteriana tornou-se a segunda denominação tradicional a permitir gays entre seus líderes – a primeira foi a Igreja Anglicana.

Ele foi ordenado no último sábado, 8 de outubro, em uma cerimônia na Igreja Presbiteriana de Madison, no estado Wisconsin.

Movimento israelense pede que religião seja apagada de registros civis

Centenas de judeus israelenses assinaram uma petição solicitando que as autoridades do país os registrem como “sem religião” e apaguem a qualificação deles como judeus nos registros civis.

[Guila Flint, BBC Brasil, 10 out 11] Os documentos, assinados na noite de domingo perante advogados em Tel Aviv, serão encaminhados ao Ministério do Interior.

Os signatários exigem a separação clara entre o Estado e a religião em Israel e consideram a religião irrelevante para os registros civis.

Um dos que assinaram, o jornalista Uri Avnery, de 88 anos, disse à BBC Brasil que a assinatura em massa do documento “é um passo importante para que finalmente a religião seja separada do Estado”.

“Israel está se transformando em um Estado teocrático no qual os ultraortodoxos controlam todos os aspectos da vida do cidadão”, afirmou Avnery.

“Sou um total ateu e não vejo razão alguma para que eu esteja registrado como pertencente à religião judaica e subordinado ao rabinato”, disse. Continue lendo

Paz sem perdão ~ Nilton Bonder

Encravado na liturgia do Dia do Perdão, o Iom Kipur dos judeus, está o Livro de Jonas. Um Livro pouco compreendido cuja notoriedade se dá mais pelo incidente de ser o herói engolido por um grande peixe, do que por seu conteúdo. O enredo do Livro nada mais é do que a banal convocação de um profeta para que sirva de mensageiro de uma advertência do Criador à cidade de Ninive exortando que esta se arrependesse. O profeta reluta em aceitar a intimação divina mas acaba por fim cumprindo-a. A cidade de Ninive se arrepende, o profeta fica deprimido e o Criador lhe dá uma lição de moral mostrando que toda a relação verdadeira implica em responsabilidade e esta, por sua vez, em flexibilidade.

Na realidade, o Livro esta mais preocupado em mostrar uma dimensão da persona de todos nós que é representada por Jonas. O profeta fica deprimido com a missão com a qual é incumbido porque sabe que este D’us de Israel é um D’us compassivo. Um D’us que é capaz de conceder perdão até mesmo a Ninive, cidade da Assíria, arquiinimiga de Israel, é insuportável para um nacionalista ardente como Jonas. Mais que isto, como é comum a textos bíblicos onde o personagem é uma representação de um traço humano, o nome do herói é revelador. Ele é Jonas filho de Amitai. A raiz da palavra “Amitai” é a palavra “verdade”. Jonas-o-filho-da-Verdade não consegue suportar o D’us do arrependimento, o D’us de um olhar distinto para o que já foi rotulado de “o outro”. Continue lendo

Jesus convida à sua mesa os cristãos divididos

A ‘hospitalidade eucarística’ é abordada por Paolo Ricca, teólogo italiano, em artigo publicado no revista semanal italiana Riforma, 16-09-2011. Riforma é o semanário das Igrejas Evangélicas Batistas, Metodistas e Valdenses da Itália. O teólogo responde à demanda feita pelo movimento ecumênico de Turim, denominado “Instrumentos da Paz”.

[IHU, 3 out 11, tradução de Benno Dischinger] Pertenço à Igreja valdense de Turim e há alguns anos me ocupo com o ecumenismo, sobre o qual, em âmbito valdense, as opiniões são diversas; há quem é contrário, quem é indiferente, quem é cético, quem gostaria de interromper o diálogo considerado inútil, enquanto outros, afortunadamente compartilham objetivos e razões. No quadro do trabalho ecumênico que se desenvolve em Turim, eu gostaria de falar de uma iniciativa levada em frente pelo grupo ecumênico “Instrumentos de paz”, nascido em 1966 e composto por católicos, evangélicos batistas, valdenses, adventistas e esporadicamente por ortodoxos. A iniciativa consiste num caminho empreendido pelo compartilhamento da eucaristia ou ceia do Senhor.

Para fazer este objetivo chegar aos pastores das várias igrejas evangélicas, a alguns padres e correspondentes paróquias, bem como à comissão diocesana e à evangélica para o ecumenismo, foram enviadas cartas  solicitando expressamente que com encontros mensais itinerantes, se possa compartilhar também em igrejas católicas a eucaristia, precisamente como já é possível compartilhar a ceia do Senhor nas igrejas evangélicas. A motivação dada é esta: “Gostaríamos, com este gesto, de responder ao mandamento do Senhor, ao seu convite, ao seu acolher todos. Quereríamos, em suma, ser mulheres e homens do dom e do compartilhamento”. Continue lendo

Em nome do ‘só’ ~ Nilton Bonder

Avenida das Américas direção da Cidade do Rock e dezenas, senão centenas de jovens e cartazes: “Um Mundo Melhor??? Só Jesus!” Levei alguns segundos para entender (às vezes a gente se pega desatento para as confrontações e as querelas e leva um tempo para perceber nuances…) que se tratavam dos “jovens do bem” contra-atacando os “jovens da superfície e da perdição” que começavam a movimentar-se para o Templo do Rock. “No Brasil não!”, pensei eu ingenuamente e com um incômodo estranho.

Por que me incomodava tanto aquela manifestação de diversidade? Não seria ela o que tanto sonhamos quado pedimos por mais engajamento e mais consciência em nossa terra, particularmente entre os jovens? O que havia de tão bélico na mostra de outro olhar que se fazia expresso por alguns destes jovens dançando e entoando seus próprios hinos hits?

Pensei que fosse talvez pela confrontação entre iguais que não se reconheciam, já que muitos pareciam fãs prontos a recolher autógrafos numa histeria de linguagem aparentemente oposta, mas que era igual. Sonhos e mitos a um neófito da vida podem ser de esquerda ou direita, do bem ou do mal, laico ou religioso, e serão sempre a mesma manifestação. Se para alguém vivido é difícil não ser presa das aparentes diferenças que são iguais, quanto mais para os jovens. Continue lendo

Este homem foi condenado à morte no Irã por ser cristão. Ele pode se salvar: basta renunciar a Cristo

[Reinaldo Azevedo, Veja, 28 set 11] Não há um só país de maioria cristã, e já há muitos anos, que persiga outras religiões. Ao contrário: elas são protegidas. Praticamente todos os casos de perseguição a minorias religiosas têm como protagonistas correntes do islamismo — ou governos mesmo. Não obstante, são políticos de países cristãos — e Barack Obama é o melhor mau exemplo disto — que vivem declarando, como se pedissem desculpas, que o Ocidente nada tem contra o Islã etc. e tal. Ora, é claro que não! Por isso os islâmicos estão em toda parte. Os cristãos, eles sim, são perseguidos — aliás, é hoje a religião mais perseguida da Terra, inclusive por certo laicismo que certamente considera Bento 16 uma figura menos aceitável do que, sei lá, o aiatolá Khamenei…

O pastor iraniano Yousef Nadarkhani foi preso em 2009, acusado de “apostasia” — renunciou ao islamismo—, e foi condenado à morte. Deram-lhe, segundo a aplicação da sharia, três chances de renunciar à sua fé, de renunciar a Jesus Cristo. Ele já se recusou a fazê-lo duas vezes — a segunda aconteceu hoje. Amanhã é sua última chance. Se insistir em se declarar cristão, a sentença de morte estará confirmada. Seria a primeira execução por apostasia no país desde 1990. Grupos cristãos mundo afora se mobilizam em favor de sua libertação. A chamada “grande imprensa”, a nossa inclusive, não dá a mínima. Um país islâmico eventualmente matar um cristão só por ele ser cristão não é notícia. Se a polícia pedir um documento a um islâmico num país ocidental, isso logo vira exemplo de “preconceito” e “perseguição religiosa”. Continue lendo

Pai e monge acusados de matar menina de 13 anos durante ‘exorcismo’ no Japão

[BBC Brasil, 28 set 11] Um monge e o pai de uma menina de 13 anos foram presos no Japão, acusados de matá-la durante um ritual de exorcismo, segundo a mídia local.

Kazuaki Kinoshita, monge do grupo religioso Nakayama-shingo-shoshu, derivado de uma seita budista, e Atsushi Maishigi, de 50 anos, teriam amarrado a menina Tomomi em uma cadeira e jogado água sobre ela de uma altura de 2,5 metros, em uma prática batizada de “ablução por cachoeira”.

Segundo o jornal Yomiuri Shimbun, o pai de Tomomi disse à polícia: “Minha filha estava possuída, então realizamos um ritual nela para exorcizar os demônios e para que ela ficasse bem”.

“Mas ela resistiu e se tornou violenta, então tivemos de amarrá-la a uma cadeira.”

Problemas mentais

A menina sofreria de problemas mentais e físicos desde o fim do ensino fundamental e já teria sido exposta à prática mais de cem vezes desde março, pouco antes de ela deixar de frequentar a escola, segundo relatos da mídia japonesa.

Na noite de terça-feira, a menina teria ficado embaixo do jato d’água por cinco minutos, antes de desmaiar. Uma ambulância foi chamada ao local e a menina foi levada a um hospital, onde foi declarada morta por asfixia.

Os dois acusados negam as alegações.

“Nossas ações buscavam exorcizar os espíritos do mal e não eram abuso físico”, eles teriam dito à polícia, segundo o jornal Mainichi Daily News.