Arquivo da categoria: Religião

Hans Küng, teólogo alemão, questiona beatificação de João Paulo 2°

O teólogo alemão Hans Küng critica a beatificação de João Paulo 2°, afirmando que isso implica, na verdade, a beatificação de uma política eclesiástica reacionária.

[DW, 1 mai 11] Milhares de pessoas presenciaram no Vaticano neste domingo (01/05) a missa celebrada pelo papa Bento 16 para a beatificação de seu antecessor, João Paulo 2º, falecido em 2005.  Essa foi a penúltima etapa no reconhecimento do papa polonês como santo pela Igreja Católica.

Em entrevista à emissora Deutschlandfunk, o teólogo alemão Hans Küng criticou o papa João Paulo 2°, classificando-o de intolerante, reacionário e sem disposição para o diálogo. O teólogo, que foi proibido de lecionar teologia católica em 1979 por João Paulo 2°, afirma na entrevista “não entender como se pode beatificar tal homem, como se pode fazer dele um exemplo para a Igreja”.

Küng também criticou a violação do direito canônico devido ao desrespeito dos prazos de beatificação por parte da Santa Sé. Continue lendo

A Igreja secreta e os clérigos clandestinos da Europa comunista

[IHU, 11 abr 11] Ao longo dos 41 anos do regime comunista no antigo país do bloco do Leste [Tchecoslováquia], uma rede subterrânea de grupos e indivíduos manteve viva a fé católica, chegando ao ponto de ordenar homens casados e mulheres. Na semana passada, suas conquistas foram tardiamente homenageadas. A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada na revista inglesa The Tablet, 08-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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Foi em uma comovente cerimônia na Igreja da cidade das Nações Unidas, Viena, no sábado da semana passada, 21 anos após a queda da Cortina de Ferro, que o maior e mais conhecido grupo subterrâneo da antiga Tchecoslováquia – chamado de “Koinótés” e fundado pelo falecido bispo Felix Maria Davidek (foto) – recebeu o Prêmio pela Liberdade na Igreja da Fundação Herbert-Haag, concedido anualmente a pessoas e instituições “por ações corajosas dentro da cristandade”.

Embora sendo uma figura controversa e polêmica, o carisma de Felix Maria Davidek e seus extraordinários dons já foram reconhecidos por muitos homens da Igreja Católica, incluindo bispos e cardeais. Davidek reconheceu os sinais dos tempos, e sua resposta foi profética. Continue lendo

Alemanha: Evangélicos diminuem e somarão 16 milhões em 30 anos

[IHU, 5 abr 11] Até 2040, a Igreja Evangélica da Alemanha (EKD, a sigla em alemão) deverá perder um terço dos seus atuais 24,2 milhões de membros. A previsão, com base em dados estatísticos, é do secretário de finanças da igreja, Thomas Begrich, em entrevista ao Serviço de Imprensa Evangélica (EPD). A informação é da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 05-04-2011.

A Alemanha tem uma das menores taxas de natalidade do mundo, lembrou Begrich, assim que o déficit de nascimentos tem reflexos nas estatísticas da igreja.

A saída voluntária de membros da igreja caiu pela metade nos últimos anos, em comparação à década de 90 do século passado. Ainda assim, a EKD registra uma diminuição de 150 mil pessoas por ano. “Aqui conseguimos fazer alguma coisa”, afirmou, reportando-se às quedas de evassão.

Mesmo com esses indicativos de secularização na sociedade alemã, 11,3% dos alemães entrevistados pela “Apotheken Umschau”, revista editada pela associação de farmácias, observam algum preceito ligado à Quaresma, período que compreende o fim do Carnaval e a Páscoa, este ano de 9 de março a 24 de abril. Continue lendo

O futuro do Cristianismo ~ J B Libanio

[Adital, 4 abr 11] O Cristianismo retorna, de certo modo, a seus inícios históricos. Embora Jesus tenha sido camponês com toques de artesão de região rural, o Cristianismo, que surgiu depois de sua morte, assumiu caráter urbano. Difundiu-se principalmente nas cidades helenizadas. Depois da queda do Império romano e da conversão dos bárbaros, ruralizou-se e se configurou em esquemas institucionais típicos do mundo do campo. Nas últimas décadas, acelerou-se o processo de secularização e urbanização. O Cristianismo do futuro sobreviverá se responder às exigências e demandas da sociedade urbana e secular, perdendo a função hegemônica de configurar a sociedade a partir do próprio universo religioso. Termos que se imporão como desafio: declínio da força social da religião, secularização do horizonte religioso, horizontalização dos valores transcendentes, autonomia das realidades terrestres, privatização religiosa em face do Estado, dessacralização. Nada impedirá surtos opostos conservadores, mas sem perspectiva de marcar o porvir.

O Cristianismo do futuro sofrerá de crescentes incertezas. Perderá a homogeneidade dos dogmas e se esforçará por interpretá-los nos diversos contextos culturais, geográficos, étnicos, religiosos. Ele se entenderá histórico, contextual, plural. Assistirá ao ocaso da cultura ocidental, cartesianamente racional, capitalista neoliberal, burocrática, centrada no varão conquistador, de raça branca e de religião católica romana hegemônica para ver surgir novo paradigma com valorização da ecologia, da mulher, da diversidade racial, do diálogo intercultural e inter-religioso e da relação entre as pessoas e povos. Continue lendo

“Poção milagrosa” gera filas de até 26 km na Tanzânia

 

[BBC Brasil, 30 mar 11] Um pastor da Tanzânia pediu a seus seguidores que parem de ir à remota região em que ele vive em busca de uma “poção milagrosa”. As visitas à sua casa começaram a causar caos na região, porque atraem milhares de pessoas, e as filas se estendem por dezenas de quilômetros.

O reverendo Ambilikile Babu Mwasapile, 76, disse que não quer que ninguém mais compareça a suas sessões de curandeirismo até a sexta-feira, dia 1º de abril, prazo que deu para que as multidões de peregrinos diminuam.

Uma repórter da BBC contou que as filas para uma visita a Mwasapile chegam a ter 26 quilômetros de comprimento.

De acordo com a mídia local, cerca de 52 pessoas morreram quando esperavam para vê-lo.

A crença na magia e nos poderes dos curandeiros tradicionais são costumeiras na Tanzânia. Continue lendo

23,9 mil crianças vivem nas ruas em todo país

[Agora MT, 28 mar 11] O relatório traça um perfil deste público infanto-juvenil e mostra que a violência dentro de casa, as drogas e o alcoolismo são as principais causas do abandono do lar.

Primeira pesquisa censitária mostra que a violência dentro de casa, as drogas e o alcoolismo são principais causas do abandono do lar. Falta de liberdade, proibição do uso de drogas e álcool e obrigatoriedade em respeitar horários são motivos principais para não frequentar abrigo.

Cerca de 70% das crianças e adolescentes, que abandonaram a casa dos pais, vivem e dormem nas ruas há mais de 6 meses em todo o país. Destas, somente 23,3% preferem buscar abrigo em instituições de amparo para dormir, 64% passam as noites em companhia de amigos, 14,6% perambulam sozinhas e 13,8% não se alimentam diariamente. Estes são alguns dados da primeira Pesquisa Censitária Nacional sobre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua (PDF), encomendada pela Secretaria de Direitos Humanos (SeDH).

O relatório traça um perfil deste público infanto-juvenil e mostra que a violência dentro de casa, as drogas e o alcoolismo são as principais causas do abandono do lar. As brigas entre pais e/ou irmãos, a violência doméstica e o abuso sexual são responsáveis por 71,6% das razões que levam essas pessoas a deixarem a família. O alcoolismo e as drogas representam 30,6% dos fatores.
O levantamento foi realizado entre 10 de maio e 30 de junho de 2010 pelo Instituto de Pesquisa Meta para auxiliar na elaboração de estratégias para desenvolvimento de políticas públicas dirigidas às crianças e adolescentes. O estudo foi realizado em 75 cidades brasileiras, abrangendo todas as capitais e alguns municípios com mais de 300 mil habitantes. Continue lendo

Escultura de Cristo nu cria polêmica na Semana Santa espanhola

[BBC Brasil, 29 mar 11] Uma das mais tradicionais confrarias religiosas da Espanha prepara as celebrações de Semana Santa sob uma grande polêmica. A procissão do sábado de aleluia contará com uma escultura em que Jesus Cristo aparece nu.

A imagem em madeira chamada Cristo em braços da morte foi feita sob encomenda da prefeitura de Medina del Campo (centro-leste espanhol) e, muito antes de sair às ruas, já recebeu críticas e elogios de fiéis, políticos, artistas e religiosos.

A peça que mede 2,45 metros de altura está sendo exibida ao público no Museu da Cidade, de onde sairá no próximo dia 9 de abril em procissão.

O escultor espanhol Ricardo Flecha, autor da escultura, entende a polêmica, mas afirma que a intenção foi apenas voltar a uma interpretação barroca da Via Cruxis.

“Me entristece que o aspecto sexual seja o mais importante aqui, porque frivoliza o meu trabalho”, disse o artista à BBC Brasil. “Tem muito mais valor o conceito de um Cristo entregue nos braços da morte que o fato de estar nu.”

Flecha explicou ainda que queria voltar ao passado com a obra. “No século 16, tínhamos imagens realistas de Cristos que se rebelavam contra a morte e virgens que quase blasfemavam. No meu caso, a nudez só representa o desamparo e a fragilidade.”

Sensibilidade dos fiéis

Mas a proposta não parece ter convencido todos os fiéis que saem em procissão nas 12 confrarias da cidade.

Depois de receber críticas de religiosos e políticos locais, a prefeitura ainda não decidiu se a imagem será levada às ruas do jeito em que está ou se os genitais estarão cobertos por um tecido. Por via das dúvidas, o escultor já recebeu a encomenda de preparar uma peça de cobertura.

Um dos mais críticos é o vice-presidente da Junta Local de Semana Santa de Medina, David Muriel Alonso, que acha que a imagem fere a sensibilidade de fiéis e foge ao habitual decoro da celebração católica. Continue lendo

Estudo indica que religião pode ser extinta em 9 países ricos

[BBC Brasil, 22 mar 11] Uma pesquisa baseada em dados do censo e projeções de nove países ricos constatou que a religião poderá ser extinta nessas nações.

Analisando censos colhidos desde o século 19, o estudo identificou uma tendência de aumento no número de pessoas que afirma não ter religião na Austrália, Áustria, Canadá, República Checa, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia e Suíça.

Através de um modelo de progressão matemática, o estudo, divulgada em um encontro da American Physical Society, na cidade americana de Dallas, indica que o número de pessoas com religião vai praticamente deixar de existir nestes países.

‘‘Em muitas democracias seculares modernas, há uma crescente tendência de pessoas que se identificam como não tendo uma religião; na Holanda, o índice foi de 40%, e o mais elevado foi o registrado na República Checa, que chegou a 60%’’, afirmou Richard Wiener, da Research Corporation for Science Advancement, do departamento de física da Universidade do Arizona.

O estudo projetou que na Holanda, por exemplo, até 2050, 70% dos holandeses não estarão seguindo religião alguma.

Modelo

A pesquisa seguiu um modelo de dinâmica não-linear que tenta levar em conta fatores sociais que influenciam uma pessoa a fazer parte de um grupo não-religioso.

A equipe constatou que esses parâmetros eram semelhantes nos vários países pesquisados, resultando na indicação era de que a religião neles está a caminho da extinção.

“É um resultado bastante sugestivo”, disse Wiener.

“É interessante que um modelo tão simples analise esses dados…e possa sugerir uma tendência”.

“É óbvio que cada indivíduo é bem mais complicado, mas talvez isso se ajuste naturalmente”, disse ele.

Nem padre nem leigo ~ José Arregui

[Adital, 14 mar 11] Eu ia dar a este artigo o título: “Eu sou leigo”. Agora, por causa de doutrinas e interpretações que nunca nos deveriam ter trazido até aqui, comecei o duplo processo de exclaustração (abandono da “Vida Religiosa”) e de secularização (abandono do sacerdócio), eu queria fazer um brinde ao meu novo estado e dizer “Estou honrado por ser leigo, pela graça de Deus. Fico feliz em ser um de vocês, a imensa maioria na Igreja”.

Mas tenho de me corrigir desde já. Leigo? Não, realmente não sou leigo nem quero sê-lo, pois este termo só tem sentido em contraposição a clérigo e sempre no sentido de menos importante, de falta de alguma coisa. Não sou leigo nem quero sê-lo, porque esse nome foi inventado pelos clérigos que – ninguém se admire – sempre foram os poderosos que impuseram a sua linguagem. Não quero ser leigo, que seria como dizer cristão raso e de segunda, cristão subordinado.

O Direito Canônico vigente dá uma estranha definição do termo: “leigo” é aquele que não é clérigo ordenado nem religioso com votos. Não designa algo que é, mas algo que não é. Leigo, então, por definição canônica, não tem identidade nem função na Igreja, por ter sido despojado. Leigo é o que não fez os três votos canônicos de pobreza, castidade e obediência, ainda que, quase com certeza, tenha de cumprir esses votos e até vários outros, tanto ou mais que os religiosos instalados em seu “estado de perfeição”.

Leigo é o que não pode presidir a “fração do pão”, a ceia de Jesus, a memória da vida. Leigo é o que não pode dizer, em nome de Jesus, de maneira efetiva: “Irmão, irmão, não te aflijas porque estás perdoado e sempre o estarás. Ninguém te condena, não condenes a ninguém. Vai em paz, vive em paz”. Leigo, que não pode dizer a um casal apaixonado: “Vou abençoar o seu amor; seu amor, enquanto ele durar; é um sacramento de Deus”. Continue lendo

As profecias equivocadas sobre o islamismo ~ Gilles Kepel

[IHU, 9 mar 11] “O extremismo islâmico, do qual Bin Laden era o emblema, não conseguiu arrastar as massas do mundo muçulmano. A Al Qaeda se reduziu a uma seita sem fecundidade política.”

A análise é de Gilles Kepel, estudioso do extremismo islâmico e professor de ciências políticas em Paris, em artigo para o jornal La Repubblica, 05-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Eis o texto.

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Lembro-me de um café da manhã no Clube dos Professores de Harvard com Samuel Huntington, alguns anos depois da publicação do seu famoso artigo, depois do seu livro, sobre o Choque de Civilizações. Gostaria de saber por que, para elaborar o seu argumento, ele havia usado, dentre outros, o meu livro A Revanche de Deus (Ed. Siciliano, 1999). Nessas páginas, eu explicava como, nos anos 70, se desenvolveram os movimentos políticos religiosos dentro do cristianismo, do judaísmo e do Islã.

Quis traçar paralelos transreligiosos entre esses fenômenos; demonstrar como, embora de modo diverso, cada um dos três nasceu em reação à crise da modernidade e do mundo industrial, ao enfraquecimento das solidariedades sindicais e operárias depois do desaparecimento do trabalho na fábrica, do aumento do desemprego e assim por diante. Continue lendo

Em nome de Deus? por João Brant

[Brasil de Fato, 23 fev 2011] Ligar a televisão no horário nobre e ver um líder religioso utilizando o espaço para pregar e buscar fiéis é algo que parece fora do lugar. E é. Não por ser uma manifestação religiosa, algo que é parte da cultura brasileira, mas por tornar evidente que um espaço público está sendo utilizado para fins privados.

O mundo todo discute como equilibrar os direitos à liberdade de expressão e à liberdade de crença, previstos em diversas Constituições, inclusive na brasileira. Há várias questões aí envolvidas. Primeiramente, manifestações religiosas devem ou não ser permitidas em veículos de comunicação que são concessões públicas, como rádio e TV? Se sim, deve ser permitido também o proselitismo religioso, ou seja, a prática de tentar “vender seu peixe” e conquistar fiéis?

Na busca de respostas, é preciso pensar como esse tipo de manifestação ajuda ou afeta a liberdade de crença – que é maior do que a liberdade religiosa e inclui até o direito de não se ter religião. E lembrar que, para outras manifestações similares, como o proselitismo político, já há um consenso sobre a necessidade de regras claras para que espaços públicos não sejam tomados por grupos específicos. Continue lendo

Darwin e Heresias ~ Nilton Bonder

Reportagens sobre o criacionismo neste bicentenário de Darwin expuseram visões inquietantes da religião.

A tentativa de corromper o intelecto humano para conter crenças e superstições é o maior desfavor que se possa fazer à religião e à espiritualidade, uma verdadeira heresia.

A leitura fundamentalista do texto bíblico não pode sequer ser considerada literal, mas política. Baseia-se mais no corporativismo e no monopólio do absoluto do que em qualquer compromisso com a verdade.

Uma corrupção inaceitável ferindo preceitos do próprio texto que condena a superstição e a feitiçaria – o desejo de manipular a realidade para conter uma vontade particular. Essa realidade particular, esse mundo partidário e incontestável, não se sustenta na experiência dos próprios fiéis exigindo esforço em práticas para obscurecer discernimento e sensibilidade.

Para tal faz-se mau uso da fé que acaba em mãos humanas servindo a pretensões de controle e poder.

O texto de Genesis diz literalmente que o Universo não se fez de uma vez. Eras sucederam a novas eras. Continue lendo