Arquivo da categoria: Religião

Escândalos de pedofilia provocam êxodo de fiéis da Igreja Católica alemã

[Mark Hallam, DW, 19 dez 2010]

Dezenas de milhares de alemães cancelaram sua filiação à Igreja Católica em 2010 – muito mais do que em anos anteriores – privando-a de seus impostos. Escândalos de abuso sexual parecem ser motivo central de deserções.

O número de alemães que abandonaram a Igreja Católica em 2010 é superior, em vários milhares, ao dos anos anteriores, revelou um estudo realizado pelo jornal Frankfurter Rundschau. Há indicadores de que a motivação central dos fiéis tenha sido a recente onda de escândalos de abuso sexual de menores.

A diocese de Augsburg, na Baviera, acusou uma das piores cifras: até meados de dezembro, 11.351 de seus fiéis desertaram, contra 6.953 em 2009. Seu antigo bispo, Walter Mixa, foi forçado a renunciar em abril último, devido a acusações de abuso físico e fraude.

Em Rottenburg-Stuttgart, no sudoeste do país, 17.169 católicos deixaram a diocese até meados de novembro de 2010, quase 7 mil a mais do que no ano anterior. Trier, Würzburg, Osnabrück e Bamberg igualmente acusaram altas taxas de deserção. Continue lendo

Um cristianismo novo para um mundo novo ~ J S Spong

[Texto de John Shelby Spong, Adista e IHU, 13 dez 2010, traduzido por Moisés Sbardelotto]

Spong é bispo aposentado da Igreja Episcopal da diocese de Newark, nos Estados Unidos. Autor, dentre outros, de “A New Christianity for a New World: Why Traditional Faith Is Dying and How a New Faith Is Being Born”, recém publicado na Itália com o título “Un cristianesimo nuovo per un mondo nuovo. Perché muore la fede tradizionale e come ne nasce una nuova” (368 páginas).

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Sou um cristão.

Por 45 anos, eu servi a Igreja cristã como diácono, padre e bispo. E continuo servindo essa Igreja hoje em uma ampla variedade de formas em minha aposentadoria oficial. Eu acredito que Deus é real e que eu vivo profunda e significativamente em relação com essa divina realidade.

Proclamo Jesus como meu Senhor. Eu acredito que ele mediou Deus de um modo poderoso e único para a história da humanidade e para mim.

Eu acredito que a minha vida pessoal foi impactada intensa e decisivamente não apenas pela vida de Jesus, mas também pela sua morte e certamente pela experiência pascal que os cristãos conhecem como ressurreição.

Parte da vocação da minha vida foi gasta na busca de uma forma de articular esse impacto e de convidar outros àquilo que eu só posso chamar de “a experiência de Cristo”. Eu acredito que, nesse Cristo, descobri uma base para o sentido, a ética, a oração, o culto e até para a esperança para a vida além das fronteiras da minha mortalidade. Eu quero que os meus leitores saibam quem é que escreve estas palavras. Não quero ser culpado de violar qualquer ato de empacotamento da verdade. Eu me defino, acima de tudo e principalmente, como um crente cristão. Continue lendo

Implicações religiosas das recentes descobertas da ciência

[Publicado pelo IHU, 7 dez 2010] “Teologicamente, a questão crucial está em torno da noção de revelação. Se o divino vem revelando criatividade e sentido em toda a história da criação ao longo desses bilhões de anos, por que restringir a autonomia do divino aos limites de tempo e cultura religiosamente validados?”

A análise é de Diarmuid O’Murchu, sacerdote, psicólogo social e membro da Congregação Missionária do Sagrado Coração. O’Murchu trabalhou na Irlanda e na Inglaterra e tem diversas obras sobre a formação na fé e a vida religiosa à luz das novas descobertas da ciência e das tentativas de enfrentar e resolver o agravamento da crise ecológica. Entre seus livros estão “Quantum Theology”, “Evolutionary Faith” e “Reclaiming Spirituality”.

O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 02-12-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Galileu foi duramente criticado pela Igreja Católica por endossar a teoria copernicana de que a Terra girava em torno do Sol, colocando o Sol, e não a Terra, no centro do sistema solar. Estávamos despertando para uma nova visão expansiva do universo, embora seriam necessários mais quase 400 anos antes de rompermos o pulso firme do controle eclesiástico e do reducionismo científico. Continue lendo

Campanha espanhola cria polêmica ao relacionar camisinha à hóstia

[Anelise Infante, BBC Brasil, 6 dez 2010]

Uma campanha do governo espanhol para incentivar o uso de preservativos vem causando polêmica no país ao relacionar as imagens de camisinha com as de uma hóstia.

Divulgada em cartazes, vídeos e outdoors, a campanha repete uma mesma foto de um sacerdote segurando primeiro uma hóstia e depois uma camisinha.

A iniciativa do setor jovem do partido socialista que governa o país foi lançada durante a semana internacional de luta contra a aids.

“Bendita camisinha que tira a Aids do mundo” é o título oficial da campanha. Continue lendo

Um Deus não teísta. Um novo cristianismo para a pós-modernidade

[Por Claudia Fanti, Adista, 29 nov; IHU 3 dez 2010. Tradução de Moisés Sbardelotto].

Se o cristianismo quiser continuar falando ao mundo pós-moderno, terá que fazer isso com base em ideias e palavras radicalmente novas. Mudança ou irrelevância, enfim, é essa alternativa: embora a tarefa seja imensa, embora pareça ambiciosa, a reformulação de toda a fé cristã será cada vez mais o seu único caminho de sobrevivência.

Esse é uma questão que se tornou central na pesquisa teológica mais avançada, como indica por exemplo a Agenda Latino-Americana 2011, dedicada ao tema “Espiritualidade sem mito. Uma outra religião é possível”. E que foi corajosamente abordada em livros que se tornaram pedras angulares nesse ainda breve percurso, como o publicado na Bélgica no ano 2000 e publicado em italiano em 2009 por iniciativa da Massari Editora, pelo jesuíta belga Roger Lenaers, “Il sogno di Nabucodonosor o la fine di una Chiesa medievale”: uma tentativa de traduzir a mensagem cristã em uma linguagem em que o homem e a mulher modernos possam se reconhecer.

Ou então o que surgiu em 2002, do teólogo e bispo episcopaliano John Shelby Spong, “A New Christianity for a New World: Why Traditional Faith Is Dying and How a New Faith Is Being Born”, que a mesma editora Massari decidiu apresentar ao público italiano, com o título “Un cristianesimo nuovo per un mondo nuovo. Perché muore la fede tradizionale e come ne nasce una nuova” (368 páginas). Continue lendo

Não se faz História sem História ~ Robinson Cavalcanti

Mensagem à Assembleia de Fundação da Aliança Evangélica

[São Paulo, 30 nov 2010]

Amados irmãos e irmãs presentes a esse histórico momento:

O renomado pensador anglicano C. S. Lewis, em seus escritos, sempre chamou a atenção para os riscos daquelas gerações que se acham “refundadoras” do mundo, ignorando e desprezando tudo o que a civilização construiu antes dela. Alguns dizem que as mesmas “querem descobrir a roda, ou a pólvora outra vez”. Desde a Reforma Radical que uma expressão do anabatismo como ideologia tem se manifestado nessa visão de uma “apostasia” da Igreja antes da sua geração, com o Espírito Santo “tirando férias” entre a morte do apóstolo João e o nascimento de Lutero, ou o surgimento de algum grupo ou movimento posterior. O “restauracionismo” sempre tem rondado – e tentado – o Cristianismo. Hoje, mais na Igreja do que no próprio século, vive-se a síndrome de uma “geração sem umbigo”, individualista, imediatista, iconoclasta, antinômica e presentista.

Já se afirmou que um povo sem passado é um povo sem futuro e que um povo sem história é um povo sem identidade. Essa manhã, gostaria de reafirmar o caráter uno, santo, católico e apostólico da Igreja de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Gostaria de reverenciar a memória dos santos e mártires de todas as épocas e lugares. Gostaria de reafirmar a “comunhão dos santos”, e, ao mesmo tempo, denunciar como pecado e tragédia esse anti-historicismo, anti-institucional, irracional, irresponsá-vel, de previsíveis trágicas consequências. A honestidade intelectual forçará a nossa consciência reconhecer que “nunca antes na Igreja Evangélica desse País” o seu povo foi tão ignorante e tão preconceituoso em relação à sua história e ao legado dos seus antepassados. Esse é um dos aspectos centrais da crise do protestantismo brasileiro, e não haverá saída sem uma mudança, em que possamos construir o presente, com alvos para o futuro, a partir do passado. Continue lendo

“Prioridade” para quem? Qual Evangelho? ~ Vinoth Ramachandra

[Texto publicado no Novos Diálogos, 29 nov 2010]

Contaram-me que no recente Congresso de Lausanne na Cidade do Cabo um pregador e autor americano popular afirmou veementemente que a evangelização, entendida como a proclamação verbal do Evangelho, era a “prioridade” da Igreja. Como esta é uma reação típica, instintiva, que a conversa sobre a justiça social ou a “missão integral” provoca em círculos evangélicos conservadores, é importante explorar quem está dizendo este tipo de coisa e se eles na verdade praticam o que estão dizendo.

Se as prioridades de uma pessoa são medidas pelo tempo que ele ou ela gasta no que faz, estou certo que qualquer um que observe a vida cotidiana deste pregador não concluiria que a evangelização fosse sua prioridade. Ele gastou considerável tempo e dinheiro numa longa e cara aquisição de educação. Se ele tem filhos, estou seguro que tem, da mesma maneira, investido significativamente na sua alimentação e em lhes assegurar a melhor educação possível. Não tenho dúvida de que ele come, pelo menos, três refeições ao dia e desfruta, ao menos, seis horas de sono por noite. Ele tem assistência médica e acesso à melhor atenção médica na nação mais rica no mundo. Possuindo um passaporte americano, ele pode voar livremente para (quase) qualquer lugar do mundo, sem precisar esperar em filas do lado de fora de embaixadas para conseguir vistos. Em outras palavras, seu estilo de vida privilegiado não se dá conta de muita coisa. Esse estilo de vida foi possibilitado pelo trabalho e sacrifício de tantos desconhecidos em muitas partes do mundo. E está distante da realidade experimentada pela maioria de seus irmãos que estavam presentes na Cidade do Cabo. Continue lendo

O cinema cristológico e as reescritas audiovisuais

[Publicado no IHU, 28 nov 2010]

Nos últimos anos, manifestou-se “um particular interesse pelo sagrado (os seus símbolos e as suas retóricas de narrações) nos dispositivos textuais do gênero, detendo-se com atenção específica na relação entre os textos bíblicos e as reescritas audiovisuais, ocupando-se também da relação entre o cinema e a história de Jesus“. É preciso “identificar uma abordagem específica que possa oferecer categorias de orientação interpretativa”.

A análise é do doutor em história do cinema Dario E. Viganò, professor de comunicação da Pontifícia Universidade Lateranense, onde preside o Instituto Redemptor Hominis. Nascido no Rio de Janeiro, é sacerdote ordenado pelo cardeal Carlo Maria Martini.

O artigo, intitulado originalmente “Il cinema cristologico e riscritture audiovisive: Il problema delle traduzioni intersemiotiche”, faz parte do livro “Il volto e gli sguardi” (Ed. EDB, 2010), organizado por Sandra Isetta, e foi publicado na revista Il Regno, nº 18, novembro de 2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Continue lendo

O Bêbado e o Hipócrita: o que as igrejas podem aprender com os bares

[Texto de Jon Foreman, do Switchfoot]

Eu tenho tocado música nas igrejas e bares a vida toda. Em muitos aspectos, há muita semelhança nesses dois lugares. Ambos os grupos dos “ajustados” estão à procura de sentido, realizando uma espécie de ritual, na esperança de encontrar um propósito, algo que extraia da dor algum sentido.

À primeira vista, a Igreja parece um lugar melhor para se procurar esperança do que o fundo de uma garrafa. Todos os dias, alcoolismo e vício de drogas destroem famílias, arruinam carreiras e naufragam comunidades. Por outro lado, as crenças teológicas e mal-entendidos foram responsáveis por divisões, divórcios e guerras ao redor do mundo. O problema com cada instituição está dentro de nós. É verdade, o álcool alimenta um fogo diferente do sentimento de piedade, mas nem bêbados  nem hipócritas parecem muito bons à luz do dia.

Nós levamos nossos problemas para a igreja da mesma maneira que carregamo-os para dentro de um bar – eles só reagem de forma diferente em cada lugar. Infelizmente, os pecados que existem dentro das paredes da Igreja são mais difíceis de detectar.

O orgulho, por exemplo, pode ser, incrivelmente bem escondido na comunidade religiosa. Eu raramente ouço as palavras “Eu não sei”, proferida na igreja. E, ainda assim, o trino Criador do tempo e do espaço será sempre envolto em mistério e santidade. Por que não começar no banco de humildade? Certamente todos nós temos conseguido algumas coisas erradas em nossas tentativas de cristianismo. Continue lendo

Asia Bibi: uma cristã paquistanesa condenada à morte por blasfêmia

Cristã paquistanesa vai ser executada por blasfêmia. Mais de 30 condenados por críticas ao islão foram mortos em ataques de radicais.

[Texto de Abel C Moraes, Diário de Notícias, 19 nov 2010] Asia Bibi está perto de se tornar a primeira mulher a ser executada no Paquistão pelo crime de blasfémia contra o profeta Maomé, se não for revista, pelo tribunal de recurso de Lahore, a pena de enforcamento a que foi condenada dia 7 por um juiz da cidade de Nankana, localidade na província do Punjab.

Os cristãos representam menos de 3% dos 167 milhões de habitantes do Paquistão.

A situação da católica paquistanesa, de 45 anos, foi ontem referida pelo Papa Bento XVI ao mencionar a “difícil situação” dos cristãos naquele país, onde são “frequentes vezes vítimas de violências e discriminações”.

“Manifesto hoje, de modo particular, a minha solidariedade para com a senhora Asia Bibi e sua família. Peço que lhe seja restituída a plena liberdade, o mais rapidamente possível”, afirmou Bento XVI, que falava na Praça de São Pedro, em Roma. Continue lendo

O anúncio do Reino de Deus e a ética: Ratzinger e Jon Sobrino, duas visões

[Por Moisés Sbardelotto, IHU Online, 21 nov 2010]

Para enfrentar problemas globais como a pobreza, a violência, o racismo e o sexismo, é necessário encontrar uma “abordagem básica para a moral”, ou seja, valores que “os seres humanos partilham em comum”. Mas, para isso, é preciso “rever o significado da lei natural para o mundo de hoje”.

Para a teóloga norte-americana Lisa Sowle Cahill, professora do Boston College, o desafio da ética é justamente “tentar formular diretrizes mais ou menos confiáveis e às vezes até absolutas, que definam instituições, práticas sociais e decisões individuais moralmente boas”. Mas reconhece: “Essa não é uma tarefa fácil. Na verdade, é uma tarefa que nunca acaba”. Por isso, hoje, “é essencial envolver a participação de vozes que foram frequentemente excluídas do processo decisório no passado, por exemplo, as mulheres, as minorias raciais e étnicas da sociedade e os leigos na Igreja”.

Especificamente com relação às mulheres, Lisa, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, critica o patriarcado ainda existente na Igreja, disfarçado sob “uma ideologia de ‘complementaridade entre gêneros'”, que, segundo ela, “serve como uma justificação para confinar as mulheres a papéis domésticos”. Mas, afirma, há sinais importantes de esperança para as mulheres na Igreja e na teologia moral, que não se encontram nos escritos dos papas e de outros mestres oficiais: é o papel que as próprias mulheres estão desempenhando na teologia e na Igreja. “O Brasil é o lar de muitas importantes teólogas feministas”, afirma. Continue lendo

[Haiti] ”As pessoas pensam que estão amaldiçoadas”

Foto: Emilio Morenatti/AP

A epidemia de cólera, inédita no Haiti em mais de 100 anos, causou mais de mil mortos e se soma aos desastres do terremoto e às inundações.

[Texto de Óscar Gutiérrez, publicado no El País em 16 nov 2010 e no IHU em 18 nov. Tradução de Moisés Sbardelotto.]

Os haitianos olham com maus olhos para o Meille, rio junto ao qual os soldados nepalenses da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti – Minustah estiveram acampados e um dos possíveis focos da cepa que espalhou a cólera pelo país.

“Desde que apareceu o surto, os haitianos estão preocupados com a sua origem”, explica por telefone, de Porto Príncipe, o colaborador da organização Internews Yvens Rumblod. Jornalista haitiano de 21 anos, Rumbold explica que muitos haitianos responsabilizam os militares nepalenses pela epidemia. “Precisam saber de onde vem o surto, e isso explica por que eles vão às ruas. Haverá mais manifestações”. Continue lendo