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O mel, as cabras, a farinha e a avó

Quem vê o senhor sentado na varanda do seu sítio em Gravatá (a duas horas do Recife) a discorrer sobre as pimentas que cultiva e com as quais produz um molho aromático e marcante não imagina o quanto ele contribui para mudar a paisagem do Semiárido pernambucano. A história de vida do educador Abdalaziz de Moura, hoje com 67 anos, é genuína. O semblante de avô dedicado esconde um espírito aguerrido e incansável, cevado nos tempos de seminarista em Olinda e Camaragibe no começo dos anos 60. Da igreja progressista herdou a indignação ante a injustiça social. Em 1989, decidido a intervir na realidade, Moura criou o Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), com o intuito de apoiar a autonomia do homem do campo.

O Serta desenvolveu uma metodologia internacionalmente premiada de ensino, a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads).- Trata-se de um conjunto de técnicas de educação contextualizada. Ou seja, os professores, com apoio das comunidades, usam a realidade local para ensinar as crianças. “O cara é um sonhador, acredita num mundo melhor e sabe que a utopia se realiza aos poucos, com recursos técnicos e diálogo em todas as instâncias”, afirma o secretário de Comunicação da Prefeitura de Olinda, Inácio França, que conheceu Moura no tempo em que trabalhava no Unicef-Recife.

O Unicef firmou contratos com o Serta para implementar nas cidades do Semiárido políticas que visam à melhora nas condições de vida de crianças e adolescentes. Os municípios que conseguem avançar recebem o selo do organismo. Levantamentos preliminares mostram que as escolas que adotaram a Peads têm obtido desempenhos melhores no Índice de Desenvolvimento de Ensino Básico (Ideb).

O segredo da metodologia é a “ressignificação” da vida no campo a partir de atividades práticas e da valorização de todos os saberes: seja ele o tradicional – a avó perita em ervas medicinais, por exemplo, é levada para a sala de aula –, seja o inédito, como a adoção de técnicas de cultivo menos agressivas ao meio ambiente. A Peads eleva a ciência do aprendizado a um patamar integrador, ao libertar as disciplinas dos compartimentos estanques de sempre. Geografia, história, português e matemática se interpenetram, conversam entre si, reproduzem os hábitos rurais, ganham concretude e razão de ser para o aluno.

Outro ponto essencial é a construção conjunta do conhecimento: professora, alunos, pais, comerciantes, criadores de cabras, verdureiros, apicultores, todos colaboram. Uma aula típica pode começar com uma visita à casa de farinha da cidade para a coleta de dados sobre o processo de produção ou trabalhar cálculos decimais a partir da quantidade de mel contida numa lata ou do lucro obtido com a venda das cabras.

“Quanto mais o exercício estiver inserido no cotidiano do aluno, mais seguro é seu aprendizado”, ensina Moura no livro Peads, lançado pelo Serta em 2003 e no qual a metodologia, até então intuitiva e dispersa em artigos, anotações e registros de discussões em grupo, foi sistematizada. Ao ler o relato percebe-se que a Peads é a síntese de um caldeirão filosófico, com lugar para a pedagogia de Paulo Freire e outros educadores, para os princípios de economistas de cunho socio-ecológico (como o polonês Ignacy Sachs, o Prêmio Nobel Armatya Sem, a americana futurista Hazel Henderson) e para a física quântica de Fritjof Capra, autor do best seller O Ponto de Mutação.

O desenvolvimento sustentável permeia toda a didática. “Na Peads as disciplinas são ambientais, porque a educação tem de levar em conta a pluralidade. Tudo na escola deve estimular a cooperação: os textos, os cálculos, a distribuição de tarefas, os valores transmitidos”, diz o ex-seminarista, graduado em Teologia em Roma, com especialização em Genebra.

Foi no início dos anos 70 e no auge da ditadura que Moura voltou da Europa e passou a atuar ao lado de dom Helder Câmara, arcebispo emérito do Recife e de Olinda, morto em 1999, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e único brasileiro indicado quatro vezes ao Nobel da Paz. Defensor dos direitos humanos e da máxima- cristã de que fé sem ação é nula, dom Helder fez parte de um numeroso grupo de religiosos e leigos progressistas precursor da Teologia da Libertação, favorável a uma prática religiosa mais simples, humilde, não violenta, voltada para os pobres e movida pela ação social.

Ao semear informações e cidadania no campo, o grupo de Moura teve de enfrentar a ira de coronéis e políticos, além do descrédito dos próprios trabalhadores, muitas vezes contaminados por boa-tos de que os técnicos eram terroristas, delinquentes ou, no mínimo, espertalhões dispostos a enganá-los. “Conheci Moura nessa época, como participante do movimento Encontro de Irmãos, em que pessoas pobres, de periferia, se reuniam à luz do Evangelho”, recorda a pedagoga Maria Conceição da Silva, 55 anos, casada com o ex-seminarista e mãe de três dos quatro filhos dele.

Ceiça, como é conhecida, recorda que, até meados dos anos 80, a Igreja era um grande guarda-chuva sob o qual se abrigavam movimentos de mulheres, de operários, de negros. “Foi-se o tempo em que a Igreja era progressista e suas ações pautavam o movimento sindical rural e parte dos movimentos sociais”, reflete Moura, que hoje não assiste nem à missa. Na opinião dele, atualmente, a educação rural, da qual o Serta virou expoente na América Latina, é que pauta e agenda parte desses movimentos. “Está claro que o conhecimento é, hoje, instrumento privilegiado de
intervenção e que é agregado a valores, à ética.”

Referência especialmente na formação de jovens, o Serta oferece há dez anos o curso de Agente de Desenvolvimento Local, superdisputado por egressos do ensino fundamental. A formação sacode as convicções da maioria dos jovens, como conta o jornalista Everaldo Costa, pais agricultores e, antes do Serta, convicto, assim como os 16 irmãos, de que a única saída para uma vida melhor era a estrada para São Paulo. “No Serta, ao contrário da escola formal, trabalhávamos com os conhecimentos que a gente já tinha e construíamos projetos de intervenção em nossa comunidade. Fazíamos pesquisas, seminários e festivais que valorizavam nosso povo, e passamos a gostar do lugar onde vivemos”, diz ele, que faz mestrado em Comunicação e continua a morar em Glória do Goitá.

Fonte: Denise Ribeiro, Carta Capital, 9 set 2010

American women are happier going to church than shopping on Sundays — Ben-Gurion U. Study

A new study conducted by a Ben-Gurion University of the Negev (BGU) researcher, together with a researcher from De-Paul University, reveals that women in the United States generally derive more happiness from religious participation than from shopping on Sundays. Additionally, the repeal of “blue laws,” which allow stores to open on Sundays, has a negative effect on the level of religious participation of white women and therefore has a negative impact on their happiness. Interestingly, the authors did not observe any significant decline in reported happiness of other groups whose religious participation was not significantly affected by repeal.

The research also reveals that when Sunday blue laws are repealed, women who choose secular activities, such as shopping, are not happier. The repeal of blue laws decreases the relative probability of being at least “pretty happy” relative to “not happy” by about 17 percent.

According to Dr. Danny Cohen-Zada of BGU’s Department of Economics, “We found that there is direct evidence that religious participation has a positive causal effect on a person’s happiness. Furthermore, an important part of the decline in women’s happiness during the last three decades can be explained by decline in religious participation.”

The authors speculate that respondents did not return to attending church as much even after they noticed that they were happier before the repeal because of a problem of self-control or the need for immediate satisfaction.

“People choose shopping, like watching TV, because it provides immediate satisfaction,” Dr. Cohen-Zada explains. “That satisfaction lasts for the moment it’s being consumed and not much longer than that. Religious participation, on the other hand, is not immediate. Instead, it requires persistence over a period of time.”

The researchers analyzed data from the General Social Survey (GSS). They selected respondents who either live in states where there was a distinct, clear and significant change (repeal) in the prohibition of retail activity on Sundays (10 states) or where there was no change at all (six states).

Within the states, they used data for Catholics and Protestants because they were the most likely to attend church on Sundays. Non-Christian religions and respondents with no religion were excluded.

The measure of religious participation is based upon a question in the GSS on church attendance. Respondents were given nine possible responses to a question on their frequency of attending religious services, ranging from never to several times a week.

Source: American Associates, Ben-Gurion University of the Negev

www.esciencenews.com

aug 31, 2010

Vodou Haitiano: O poder do que se vê e do que não se vê

“Eu sou haitiano. Eu saí do ventre da África Guiné. Eu fui transportado para o Haiti. Eu misturei meu sangue com o sangue dos índios, que foram os primeiros donos desta terra. Eu misturei meu sangue com o sangue dos brancos, que me escravizaram. Eu sou haitiano. Ser que é feito de corpo, ser que é feito de alma. O poder de Olowoun me deu a responsabilidade de conduzir, respeitar e aproveitar tudo aquilo que eu posso ver e tudo aquilo que eu não posso ver sobre esta terra.”

Assim começa a oração entoada por centenas de camponeses e camponesas que participaram nos dias 11 a 14 de agosto, nas montanhas de Mawotyè no Noroeste do Haiti, do Encontro de Vodouizantes, em homenagem aos 219 anos da celebração vodou mais famosa da história: a Cerimônia de Bwa Kayiman.

Na noite de 14 de Agosto de 1791, cerca de duzentos escravos e escravas se reuniram nas matas de Bwa Kayiman, extremo norte do país. Cada uma dessas pessoas havia sido convocada pessoalmente em diferentes rincões da ilha. O homem que deu origem a essa convocatória se chama Boukmann. Ele é um Hougan, sacerdote principal do Vodou. Dentre os presentes estão todos os futuros comandantes da Revolução Haitiana, como Jean Jacques Dessalines, Toussaint Louverture e Capois La Mort. Boukmann explica que foram os Lwas, espíritos do vodou, que decidiram reunir todos eles. Não para pedir-lhes algo, mas sim para comunicar-lhes da decisão dos Lwas: iniciar a batalha pela libertação do Haiti.

Com o sangue proveniente do sacrifício de um porco, um pacto secreto e sagrado é selado entre os presentes na cerimônia. Uma pacto que transcende a vida e a morte, entre eles e os espíritos, que garantiria o triunfo sobre o inimigo europeu. 13 anos depois da Cerimônia de Bwa Kayiman, derrotando os três maiores exércitos europeus da época – Espanha, Inglaterra e França -, os negros e negras haitianos levam a cabo em 1804 a primeira revolução de escravos vitoriosa da história e declaram o Haiti território livre e independente.

“Passados 219 anos desde que nossos ancestrais decidiram se levantar contra o mal que assolava nossa nação, nós vivemos hoje em dia sob o jugo da mesma exploração, da mesma miséria da época colonial”, afirma o hougan Monmus Ervilus Tibos aos participantes do Encontro Vodouizante em Mawotyè. “Nós precisamos construir um novo Bwa Kayiman. Nós precisamos de um novo Boukmann, de um novo Dessalines entre nós”, conclama Tibos, entre palmas e gritos de Ayibobo! (aleluia) dos camponeses e camponesas presentes.

Mas, afinal, que religião é essa na qual os vivos e os espíritos caminham juntos em busca da liberdade de seu povo?

Lwas libertadores

Com sua origem entre os escravos do antigo Egito, cultivada por distintas etnias africanas, o vodou, nas palavras da pesquisadora venezuelana Jenny Gonzalez Muñoz, “é um viajante que acompanhou os escravos africanos na longa travessia a bordo dos navios negreiros”. Muñoz acrescenta que “ao chegar às terras que constituem atualmente o Haiti, esta crença ou prática religiosa se enriquece com os aportes nativos e europeus. Seu culto se focaliza em gênios e deuses como uma homenagem aos Lwas, que transcendem a forma material humana ou animal, em um ato de fé onde os Hougan e os Bòkò, quer dizer, os sacerdotes e os médiuns, se convertem em verdadeiros canais de comunicação entre os seres transcendentais e os terrenos”.

Ao trazer o sobrenatural para a realidade cotidiana, colocando os espíritos dos ancestrais lado a lado com os viventes, o vodou se configura numa ferramenta de união e identidade entre os escravos haitianos, criando assim uma solidariedade possível somente quando se compartilha algo que os une desde o além. É por essa razão que o vodou ganha força crescente na ilha como uma forma de organização que aglutina as tendências emancipatórias e revolucionárias. Esclarece González Muñoz, em seu artigo Vaudou: herencia africana en la sangre americana, que “sob a figura do vodou e do kreyòl, o primeiro como fé que tem como denominador comum a procedência e as condições de seus fiéis, e o segundo como idioma único não compreensível para os europeus, se cria uma espécie de cumplicidade entre os escravos”. Essa cumplicidade incompreensível se converterá num poder que se lançará contra o inimigo para imprimir-lhe o temor e a derrota.

Não seria errado afirmar, dessa forma, que as palavras e sons sagrados do vodou foram o ponto crucial da libertação do povo haitiano.

Represália ocidental

Tamanha ousadia não sairia impune, pelo menos aos olhos dos brancos. Não tardou muito para que as elites ocidentais lançassem sua represália contra o vodou e seu rebento, a revolução haitiana.

Se o Haiti sofreu com embargos econômicos, pagamento compulsório da dívida da independência, sucessivas ocupações militares estrangeiras e a ingerência constante das potências norteamericanos e européias -que o transformaram da colônia mais próspera do século XVIII à nação mais pobre do continente americano no século XXI-, o vodou foi rapidamente identificado pela civilização branca ocidental como uma crença selvagem e primitiva, que cultuava forças satânicas e praticava a magia negra.

Essa tentativa de deslegitimação do vodou foi reforçada pelas autoridades católicas e protestantes, em aliança com as elites locais. Não custa lembrar que a entrada das igrejas protestantes no Haiti ocorreu justamente no período da primeira ocupação militar estadunidense, entre 1915 e 1934. E que são as organizações católicas e protestantes que dominam o ensino no país. Atualmente, 60% das instituições de ensino haitianas estão nas mãos de entidades cristãs.

O resultado dessa empreitada foi o fortalecimento do preconceito e perseguição contra o vodou e seus praticantes. Dezenas de hougan foram presos e assassinados e as celebrações vodou se tornaram cada vez mais clandestinas. Foi somente em 1987 que essa perseguição começou a perder parte de seu ímpeto, quando a atual Constituição Haitiana foi promulgada, dando plenos direitos de culto aos vodouizantes.

As estatíticas oficiais indicam que 80% dos haitianos se declaram católicos, 16% protestantes e apenas 3% vodouizantes. Esses dados, entretanto, não indicam a verdadeira força do vodou entre o povo haitiano. Lidando com o forte preconceito que ainda persiste contra os vodouizantes declarados, não é raro encontrar um haitiano ou haitiana que se proclama cristão, frequenta missas e cultos pela manhã, e no calar da noite busca os tambores vodou no meio das matas para dançar e cultuar os Lwas.

Mais do que uma religião

Mas não é só por essa razão que se pode medir a força do vodou. Presente principalmente no meio camponês, que representa 66% da população haitiana, o vodou se expressa por outras formas além do culto aos Lwas. Uma dessas expressões é o Rara, que engloba danças, ritmos e instrumentos musicais nascidos da junção entre as celebrações vodouizantes e os mutirões de trabalho nas roças camponesas. Com presença garantida em todas as festividades no meio rural, o Rara tem no mês de abril o seu momento de ápice, quando concursos e festas de rua se espalham por todo o campo haitiano, com bandas e grupos Raras que arrastam milhares de seguidores, naquele que é conhecido como o carnaval camponês do Haiti.

Outra função importante desempenhada pelo vodou é na área da saúde. Num país que possui apenas um hospital para cada 200.000 habitantes, os Hougan e Mambò – sacerdotes e sacerdotisas – jogam um papel fundamental no tratamento das famílias camponesas. Detentores do ‘segredo das folhas’, com seu conhecimento ancestral em medicina natural e alternativa, são eles que costumam curar boa parte das enfermidades que assolam os camponeses e camponesas haitianos.

De fato, sendo o Estado no Haiti praticamente inexistente e incapaz de estender seus serviços básicos à grande maioria do campo haitiano, o vodou se configura como uma poderosa organização social capaz de articular dentro de si atividades religiosas, culturais, sociais e políticas.

O vodou e a reconstrução

Entretanto, apesar de toda essa representatividade e experiência, que poderiam ajudar o país a superar o atual momento de ocupação militar das tropas da MINUSTAH e de refundação da nação após o terremoto de 12 de Janeiro de 2010, o vodou e seus representantes não estão inseridos nos debates e espaços públicos de reconstrução do Haiti.

Um exemplo dessa segregação é o CIRH -Comitê Provisório para a Reconstrução do Haiti-, criado em março deste ano com a responsabilidade de definir e gerir os recursos e projetos para a reconstrução pós-terremoto. Com a participação de diversos estrangeiros e presidida pelo estadunidense Bill Clinton, o CIRH não conta com a presença de nenhum hougan ou representante vodouizante.

“Por que os vodouizantes não estão participando do processo de reconstrução do país?” indaga Dyo Fenne Lendi, hougan porta-voz da Zantray (Zanfan Tradiksyon Ayisyen), organização nacional que congrega hougans e vodouizantes de todo o país e que convocou o Encontro de Mawotyè. “Boukman não construiu o Bwa Kayiman para nós servimos ao estrangeiro. Não podemos nos tornar uma mercadoria nas mãos dos políticos e poderosos. Foi através do vodou que nossos ancestrais derrotaram a exploração escravista e será a partir dele que nós vamos tirar nossa nação da situação em que ela se encontra”, assegura Dyo Fenne.

É neste sentido que a Zantray está construindo, junto com outros 600 centros Vodou, a Confederação Nacional dos Vodouizantes Haitianos (KNVA). Mais do que reivindicar sua inclusão na atual sociedade haitiana, os vodouizantes da Zantray buscam a construção de uma novo Haiti, que resgate os principios de solidariedade e soberania de Boukman, Dessalines, Toussaint e Capois La Mort.

Ópio do povo?

Quando afirmou que a religião era o ópio do povo, Karl Marx provavelmente não conhecia o Vodou haitiano. Tivesse entrado em contato com a religião construída pelos escravos e escravas desta ilha, o autor de O Capital talvez mudasse sua afirmação. Sem esconder certa malícia dialética, diria que, neste caso, o Vodou é e não é o ópio do povo.

Ao conjugar o transcendental e o terreno, a fé e a prática, a mística e a política, o Vodou vai mais além de uma simples religião e se transforma num instrumento original de união e poder do povo haitiano na sua luta por libertação.

Thalles Gomes é cineasta, jornalista e membro da Brigada da Vía Campesina Brasileira, no Haiti
Fonte: Adital, 27 ago 2010

Ainda repensando a missão ~ por Vinoth Ramachandra

Assim que eu coloquei meu post anterior, li por casualidade um artigo excelente de Karla Ann Koll no volume de abril da International Bulletin of Missionary Research. Koll é professora de teologia em Costa Rica e diz melhor que eu, anedoticamente e com sólida análise acadêmica, o que necessita ser dito sobre a questão “viagens missionárias de curto prazo”. Eu recomendo o artigo para ser estudado por toda organização evangélica rica.

Logo depois do desastre do Tsunami de 26 de dezembro de 2004 no Sri Lanka, Tailândia e Indonésia, centenas de ONGs estrangeiras surgiram repentinamente, duplicando e competindo desnecessariamente entre si. “Equipes missionárias” bem-intencionadas, com pouca experiência de reabilitação e ajuda, cometeram todos os erros clássicos da ajuda externa (materiais para construção de casas inapropriados, doação a pessoas erradas, e assim por diante). Alguns líderes cristãos locais se tornaram adeptos não apenas de dançar a música tocada pelos doadores estrangeiros mas de compor as músicas que eles gostam de ouvir. Dinheiro corrompe tanto quanto ajuda.

Havia, entretanto, o outro lado da história. Nós nos beneficiamos enormemente do serviço espontâneo e sacrificial de muitos (cristãos e não-cristãos) de nações ocidentais e também de outras nações asiáticas. Houve, com frequência, homens e mulheres com habilidades técnicas e aqueles que vieram pra servir ao lado de suas contrapartes locais. Muitos deles decidiram ficar por seis meses, senão por mais tempo. Alguns jovens sem capacidade técnica simplesmente chegaram e se ofereceram para fazer trabalhos domésticos ao lado de gente local preparada. A contribuição de todas essas pessoas à ajuda imediata assim como para a reabilitação de longo prazo de vidas e comunidades é incalculável. É uma pena que nós no Sudeste Asiático não pudemos agir reciprocamente quando o furacão Katrina atingiu Nova Orleans um ano depois. A despeito de toda a retórica hoje sobre “missão de todo lugar para qualquer lugar”, os controles de fronteiras determinam a direção atual do serviço cristão.

Minha preocupação principal no último post não era a duração de tais viagens. Não era como se eu estivesse recomendando “missão de longo prazo” oposta à “missão de curto prazo”. Era, antes, o modo como o conceito mesmo de missão tem sido reduzido em muitos círculos evangélicos a “ir às nações” ou o que nós fazemos com cristãos caridosos em sociedades que não a nossa. Daí as divisões desastrosas — tanto em igrejas quanto em seminários teológicos — entre “missão” e “ética”, o “pessoal” e o “político”, “proclamação” e “diálogo”. Ao contrário dos primeiros discípulos de Jesus, aqueles de nós que vivemos em grandes cidades encontramos pessoas de todas as culturas e afiliações religiosas cotidianamente. Nós podemos também fazer uma enorme diferença na vida das pessoas em outras partes do mundo mudando nossos padrões de consumo, falando em nome daqueles que são afetados pelos nossos estilos de vida e desafiando as políticas e práticas de nossos governos. Isto se aplica tanto a lugares como Índia e Singapura quanto aos Estados Unidos ou Inglaterra.

Para aqueles de nós que vivemos em situações de pobreza, violência e tirania, Jesus nos exortou a nos tornarmos como “grãos de mostarda” que “caem na terra e morrem” (João 12:24): em outras palavras, ficar ao invés de “partir”, compartilhando livremente a dor e a desesperança de outros como uma testemunha da extraordinária esperança do Evangelho (Há vezes, claro, quando nós precisamos fugir — e não se sentir culpado por isso — mas apenas se nós podemos fazer melhor estando fora, para aqueles que nós deixamos pra trás). As únicas “metodologias” da missão que frutifica que Jesus deu à sua igreja foram os princípios de morrer e amar (unidade); mas estas custosas práticas de discipulado que transformam vidas são as que nós continuamos a ignorar em nome de “missões”. Ironicamente, estamos agora numa situação global onde cristãos ricos fazem incursões de “curto prazo” em países pobres, enquanto cristãos pobres (e cristãos ricos de países pobres) fazem viagens de “longo prazo” aos países ricos. Eu me pergunto que Boas Novas está sendo comunicada ao mundo dessa maneira? Como demonstramos a encarnação de Deus em corpos humanos vulneráveis e frágeis, e num lugar e tempo particular, quando o culto do consumo globalizado nos empurra na direção contrária?

Publicado originalmente em http://vinothramachandra.wordpress.com/2010/05/21/more-on-re-thinking-mission/

Vinoth Ramachandra Dr Vinoth Ramachandra nasceu no Sri Lanka. É doutor em Engenharia Nuclear pela Universidade de Londres. Foi Secretário Regional da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (CIEE) para o Sul da Ásia. É atualmente Secretário para Diálogo e Engajamento Social da CIEE em nivel global. Participa há muitos anos do Movimento de Direitos Humanos de Sri Lanka, da Rede Miquéias e d’A Rocha (organização internacional de conservação ambiental). É autor de vários livros e ensaios, entre os quais Subverting Global Myths: Theology and the Public Issues that Shape Our World (2008). Os textos postados na revista podem ser encontrados na sua versão original em inglês no blog http://vinothramachandra.wordpress.com/.

Por que persiste a Igreja-poder? ~ Leonardo Boff

Vou abordar um tema incômodo, mas incontornável: como pode a instituição-Igreja, como a descrevi num artigo anterior, com características autoritárias, absolutistas e excludentes se perpetuar na história? A ideologia dominante responde: “só porque é divina”. Na verdade, este exercício de poder não tem nada de divino. Era o que Jesus exatamente não queria. Ele queria a hierodulia (sagrado serviço) e não a hierarquia (sagrado poder). Mas esta se impôs através dos tempos.

Instituições autoritárias possuem uma mesma lógica de autoreprodução. Não é diferente com a Igreja-instituição. Em primeiro lugar, ela se julga a única verdadeira e tira o título de “igreja” a todas as demais. Em seguida cria-se um rigoroso enquadramento: um pensamento único, uma única dogmática, um único catecismo, um único direito canônico, uma única forma de liturgia. Não se tolera a crítica nem a criatividade, vistas como negação ou denunciadas como criadoras de uma Igreja paralela ou de um outro magistério.

Em segundo lugar, se usa a violência simbólica do controle, da repressão e da punição, não raro à custa dos direitos humanos. Facilmente o questionador é marginalizado, nega-se-lhe o direito de pregar, de escrever e de atuar na comunidade. O então Card. Joseph Ratzinger, Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, em seu mandato, puniu mais de cem teólogos. Nesta mesma lógica, pecados e crimes dos sacerdotes pedófilos ou outros delitos, como os financeiros, são mantidos ocultos para não prejudicar o bom nome da Igreja, sem o menor sentido de justiça para com as vítimas inocentes.

Em terceiro lugar, mitificam-se e quase idolatram-se as autoridades eclesiásticas principalmente o Papa que é o “doce Cristo na Terra”. Penso eu lá com meus botões: que doce Cristo representava o Papa Sérgio (904), assassino de seus dois predecessores ou o Papa João XII (955), eleito com a idade de 20 anos, adúltero e morto pelo marido traído ou, pior, o Papa Bento IX (1033), eleito com 15 anos de idade, um dos mais criminosos e indignos da história do papado, chegando a vender a dignidade papal por 1000 liras de prata?

Em quarto lugar, canonizam-se figuras cujas virtudes se enquadram no sistema, como a obediência cega, a contínua exaltação das autoridades e o “sentir com a Igreja (hierarquia)”, bem no estilo fascista segundo o qual “o chefe (o ducce, o Führer) sempre tem razão”.

Em quinto lugar, há pessoas e cristãos com natureza autoritária, que acima de tudo apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações. Estes secundam esse tipo de Igreja bem como regimes políticos autoritários e ditatoriais. Aliás, há uma estreita afinidade entre os regimes ditatoriais e a Igreja-poder como se viu com os ditadores Franco, Salazar, Mussolini, Pinochet e outros. Padres conservadores são facilmente feitos bispos e bispos fidelíssimos a Roma são promovidos, fomentando a subserviência. Esse bloco histórico-social-religioso se cristalizou e garantiu a continuidade a este tipo de Igreja.

Em sexto lugar, a Igreja-poder sabe do valor dos ritos e símbolos pois reforçam identidades conservadoras, pouco zelando por seus conteúdos, contanto que sejam mantidos inalteráveis e estritamente observados.

Em razão desta rigidez dogmática e canônica, a Igreja-instituição não é vivida como lar espiritual. Muitos emigram. Dizem sim ao cristianismo e não à Igreja-poder com a qual não se identificam. Dão-se conta das distorções feitas à herança de Jesus que pregou a liberdade e exaltou o amor incondicional.

Não obstante estas patologias, possuímos figuras como o Papa João XXIII, Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luiz Flávio Cappio e outros que não reproduzem o estilo autoritário, nem apresentam-se como autoridades eclesiásticas mas como pastores no meio do Povo de Deus. Apesar destas contradições, há um mérito que importa reconhecer: esse tipo autoritário de Igreja nunca deixou de nos legar os evangelhos, mesmo negando-os na prática, e assim permitindo-nos o acesso à mensagem revolucionária do Nazareno. Ela prega a libertação mas geralmente são outros que libertam.

Leonardo Boff é teólogo e professor emérito de ética da UERJ.

Empresa desenvolve filtro que evita sites religiosos

A empresa estadunidense GodBlock desenvolveu um filtro, de mesmo nome que, instalado em computadores, bloqueia a navegação por sítios de cunho religioso na internet.

A notícia é da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 19-08-2010.

O filtro testa cada página acessada, antes que ela seja carregada no computador, verificando se nela existem passagens de textos sagrados, nomes de figuras religiosas ou outros indicativos de propaganda religiosa.

A GodBlock, que se apresenta como empresa sem fins lucrativos, oferece esse serviço a pais e escolas “que desejam proteger seus filhos de materiais muitas vezes violentos” e prejudiciais presentes em textos religiosos.

Na divulgação do produto, sítio web da GodBlock assinala que fundamentalismos de caráter evangélico, mórmons, batistas, muçulmanos e judeus têm impedido o progresso da ciência nos Estados Unidos.

A empresa entende que crianças não estão em condições de se decidir por esta ou aquela religião, e que, bem por isso, precisam ser protegidas, tarefa que cabe aos pais.

Fonte: IHU, 20 ago 2010

Vítima relata vida marcada por violência de rituais satânicos [ÁUDIO]

Estupro, tortura e dor fazem parte de rituais

Após crescer em ambiente de brutalidade das missas negras frequentadas por seus pais, vítima contou à DW o que acontecia em tais cerimônias. Ela vive hoje em asilo para mulheres traumatizadas.

Ouça a reportagem completa

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Fonte: DW, 17 ago 2010

Aumenta crença de alemães em superstições

Contrariando estereótipo de povo frio e racional, estudo mostra que a superstição faz eco na vida dos alemães. Apenas 32% das pessoas negam influência do sobrenatural.

Nos tempos da ciência e da evolução tecnológica, o medo e as crenças em poderes ocultos se mostram a cada dia mais presentes no cotidiano alemão. Foi isso o que mostrou uma pesquisa realizada pelo Instituto de Opinião Pública Allensbach.

E a crença irracional em símbolos que representam boa ou má sorte aumentou entre o povo da Alemanha, revelou também o estudo.

Talismãs e medos

As estatísticas mostram que 42% dos alemães acreditam no trevo de quatro folhas, 36% gostariam de cruzar de vez um quando com um limpador de chaminés e 40% crêem na sorte associada a uma estrela cadente.

Os maus presságios associados a número 13 são muito mais temidos. Mais de um quarto da população alemã não descarta o sentido da magia dos números. E não é piada, com tantas coincidências relativas ao 13.

Na Última Ceia havia 13 pessoas, a vinda do Anticristo acontece no capítulo 13 do Apocalipse, e no tarô este número faz referência à morte.

Por outro lado, 25% dos alemães evitariam, se pudessem, que um gato preto cruzasse o seu caminho. No Egito o gato já era considerado um animal de poder. Além disso, na Idade Média, se associava o gato preto com as bruxas – o que certamente deu origem à superstição.

Aumenta a tendência

O instituto realiza estes estudos sobre as superstições desde 1973. E das conclusões se deduz que estas crenças atingem muito mais gente agora do que em épocas anteriores.

Comparando os números atuais com os dos anos 70, somente a metade das pessoas acreditava na relação entre um meteorito que caía do céu e a boa sorte que isso traria a quem o observasse.

No caso do trevo de quatro folhas, somente 26% acreditava em seus “poderes”, enquanto agora o número de fãs da planta chega a 42% – o índice dos que temem o número 13 aumentou de 17% para 28% nos últimos trinta anos.

Fonte: DW, 10 mai 2005

Grupos extremistas tiram vantagem ideológica de enchentes no Paquistão

Talibã e outros preenchem lacunas humanitárias deixadas por Islamabad e comunidade internacional. Em meio a milhares de mortos, subnutridos e desabrigados, paquistaneses são presa fácil para ideologia radical islâmica.

Após as devastadoras enchentes no Paquistão, o grupo fundamentalista islâmico Talibã procura se beneficiar da situação catastrófica. Apresentando-se entre os primeiros grupos de ajuda nos locais do sinistro, os radicais procuram melhorar a própria reputação e ampliar sua influência no país.

Assim, eles exigiram do governo paquistanês que renuncie aos 55 milhões de dólares de apoio financeiro dos Estados Unidos, oferecendo, em contrapartida, verbas totalizando 20 milhões de dólares. Como a impressão que reina entre a população é de que o governo em Islamabad nada faz pelos flagelados, trata-se de uma ótima oportunidade para os talibãs de dizer “mas nós, sim”.

Vulnerabilidade emocional

A funcionária de uma organização humanitária, que preferiu permanecer anônima, confirmou à Deutsche Welle que diferentes grupos ou partidos religiosos estão sempre na linha de frente, quando se trata de medidas de auxílio, embora ela não tenha certeza de que se trate de talibãs.

Dentre os diferentes grupos terroristas que mantêm organizações beneficentes, encontra-se o famigerado Lashkar-e-Taiba (Exército dos Bons). Responsável pela série de atentados de 2008, em Mumbai, ele procura se aproveitar da atual lacuna de abastecimento. Segundo o jornal New York Times, os bens de ajuda são acompanhados da mensagem: “não confiem no governo e nos seus aliados ocidentais”.

A funcionária humanitária analisa: “As pessoas pranteiam os entes queridos, estão subnutridas, perderam suas casas: tudo isso cria uma situação emotiva bem fácil de se explorar. Muitas vezes é difícil distinguir se os grupos estão se aproveitando delas para seus fins políticos, se é ajuda real, ou uma mistura de ambos.”

Ajuda e ideologia

E não precisa ser sempre o Talibã. Ela recorda que após o arrasador terremoto de 2005 no Paquistão, grupos religiosos extremistas também foram rápidos em prover auxílio humanitário e mensagens políticas, num mesmo pacote. “Eles foram muito ativos. Dá para dizer que tudo o que aconteceu nas primeiras 24, 48 horas, foi assumido por grupos locais, o governo precisou de muito tempo para chegar. Isso lhes deu um espaço grande.”

Nada positivo para o governo paquistanês é o fato de – justamente agora, durante as inundações – o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, ter feito longa visita à França e à Inglaterra. Pois também agora os radicais procuram mais uma vez ganhar os corações e mentes dos cidadãos que o Estado parece ter perdido.

O enviado especial da Organização das Nações Unidas para o Paquistão, Jean-Maurice Ripert, acentua o quanto o país já sofre normalmente pelas atividades dos militantes. “É um fato que eles se aproveitam de cada oportunidade para proclamar suas metas. Isso nada tem a ver com os esforços da comunidade internacional. Precisamos trabalhar, precisamos ajudar a população, para demonstrar: nós nos preocupamos com a gente do Paquistão.”

Guerrilheiros talibãs no Paquistão

De fato, a corrida das forças humanitárias contra a devastação parece, pelo menos em parte, ser também uma corrida contra os extremistas. Até o momento, as nações ocidentais haviam oferecido 150 milhões de dólares para as vítimas da inundação. Porém nesta quarta-feira (11/08), a ONU lançou um apelo à comunidade internacional para que sejam angariados 459 milhões de dólares em ajuda imediata.

O governo alemão já anunciou que elevará sua contribuição para cerca de 13 milhões de dólares (10 milhões de euros). A maior ação humanitária da história das Nações Unidas visa atender às vítimas paquistanesas durante os próximos três meses.

“Temos muito a fazer”, afirmou em Nova York o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários e Ajuda de Emergência, John Holmes. Segundo ele, nas regiões atingidas, 14 milhões de pessoas precisam de cuidados médicos, 6 milhões necessitam de água e alimentos, e há o perigo de que epidemias se alastrem.

Holmes calcula que, até o momento, mais de 1.600 pessoas tenham perdido a vida. Entretanto o representante permanente do Paquistão na ONU, Abdullah Hussain Haroon, observou não ser possível estimar o número real de mortos, já que quase 5 mil aldeias foram totalmente aniquiladas pelas águas. O alcance da catástrofe ultrapassa qualquer poder de imaginação, afirmou Haroon.

Autor: Kai Küstner / Augusto Valente
Revisão: Carlos Albuquerque

Fonte: DW, 11 ago 2010

Calendário espanhol retrata santos como transexuais

Associações espanholas de defesa dos direitos dos homossexuais lançaram um calendário com imagens baseadas em conhecidas obras de arte sacra, especialmente aparições da Virgem Maria, mas interpretadas por transexuais.

No chamado Calendário Laico, cada mês está representado por uma livre interpretação de cenas famosas do imaginário católico, como a de Nossa Senhora de Fátima diante dos três pastores. Mas redecorada com a estética gay.

As imagens mostram santas em versões drag queen, usando mantos, coroas, colares, braceletes, tendo preservativos coloridos como aplique e até vibradores no alto das coroas.

Depois do sucesso de uma experiência-piloto – com 500 cópias esgotadas na parada do orgulho gay, em junho -, o calendário laico começa a circular em Madri nesta semana com tiragem de 10 mil exemplares.

Para o Coletivo de Gays, Lésbicas, Transexuais e Bissexuais de Madri (Cogam), autores do polêmico calendário, a publicação tem como objetivo reivindicar que, em um país laico, os feriados santos sejam substituídos por eventos sociais.

O grupo sugere, por exemplo, que 25 de dezembro seja declarado oficialmente o dia da democracia em lugar do Natal.

“E porque não?”, questionou o presidente do Cogam, Miguel Ángel González, em entrevista à BBC Brasil.

“Talvez muita gente prefira comemorar coisas com as que se sente mais identificada, como o dia do meio ambiente ou dia da diversidade.”

‘Provocação’

O calendário deve ser interpretado como provocação ao clero, em um país onde a Igreja, influente, difunde doutrinas contrárias ao homossexualismo e ao uso de preservativos.

“Pode ser que alguém se chateie. Esperamos que nenhum fiel se sinta ofendido, porque não era a intenção, nem vemos nada de vulgar nas fotos”, afirma o ativista.

“Mas também não é uma provocação a onipresença da igreja e a negação da homossexualidade por parte do clero, fazendo uso dos seus ícones? A arte está para isso: para romper os esquemas.”

Alguns fiéis já se sentem ofendidos. O grupo católico Religião e Liberdade, fervente, disse à BBC Brasil que o calendário é uma “ofensa clara e inconstitucional”.

Citando o Código Penal, o vice-presidente da associação, Raúl Mayoral, alega que a publicação vulnera o artigo que prevê penas de oito a doze meses de prisão para quem ofenda os sentimentos dos membros de uma confissão religiosa.

Para os representantes da Plataforma Hazte oír (Faz-te ouvir), uma das organizadoras dos protestos nas ruas de Madri contra o aborto e contra o casamento entre gays, o calendário laico ataca os ícones e valores católicos, mas não surpreende.

“Estamos fartos de ver estes tipos de agressões. Essa inquisição rosa é constante porque os homossexuais espanhóis aproveitam qualquer oportunidade para soltar qualquer barbaridade em nome da liberdade de expressão”, disse à BBC Brasil Nicolás Susena, coordenador da plataforma.

“Depois de ver cartazes na parada do orgulho gay com fotos do Papa Bento 16 e a frase ‘cuidado com o pastor alemão’ o que vamos esperar desta gente? É revoltante e me dá vergonha de ser espanhol numa sociedade deste nível.”

Fonte: BBC Brasil, 10 ago 2010

Igreja pede contribuições de fiéis para ver o papa na Grã-Bretanha

A Igreja católica da Grã-Bretanha pediu que os fiéis do país paguem entre 10 e 25 libras (equivalente a entre R$ 27 e R$ 70) para assistir a missas e outros eventos públicos do papa Bento 16 durante sua visita ao país em setembro, de acordo com o jornal britânico The Times.

Os donativos vão ser usados para pagar parte dos custos da viagem de quatro dias, calculados em 12 milhões de libras (aproximadamente R$ 33,5 milhões) para o contribuinte do país.

A Igreja britânica deve contribuir com 7 milhões de libras (cerca de R$ 19,5 milhões).

Bento 16 deve passar quatro dias viajando pela Grã-Bretanha e irá visitar Londres, Edimburgo, Glasgow e Birmingham.

Produtos

O alto custo da viagem do papa – e o seu ônus para o contribuinte – provocaram polêmica no país, onde a maioria da população é anglicana, não católica.

O evento mais caro (25 libras) será a missa em Birmingham dia 19 de setembro, na qual o cardeal John Henry Newman será beatificado, diz uma nota divulgada pela Conferência de Bispos da Inglaterra e do País de Gales.

O evento mais barato será uma vigília de orações no parque londrino Hyde Park, dia 17, com ingressos a cinco libras.

Cada fiel que contribuir financeiramente receberá, além do ingresso para o evento, um CD comemorativo e um cartão postal.

De acordo com o jornal italiano Corriere della Sera, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, salientou que aqueles que não possam pagar para ver o papa serão isentos da contribuição.

O coordenador da visita papal, monsenhor Andrew Summersgill, também enfatizou que o que a igreja está pedindo “é uma contribuição, não uma taxa”.

Merchandising

Também começaram a ser comercializados na Grã-Bretanha produtos comemorativos da visita, como camisetas, bandeiras, bonés, velas e canecas.

As camisetas têm estampas variadas e preços que variam de 15 a 20 libras (cerca de R$ 42 a R$ 55). Os bonés saem por 15 libras e canecas, por entre oito e dez libras (R$ 22 e R$ 28).

A última visita de um papa ao país foi em 1982, quando João Paulo 2º fez uma visita pastoral.

Bento 16 foi convidado pela rainha Elizabeth 2ª para uma visita tanto pastoral, como de chefe de Estado.

Fonte: BBC Brasil, 5 ago 2010