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O Evangelho do Reino e o hospital de guerra ~ por José Roberto Prado

Alguém já disse que, independente da cidade, a maior igreja não se reúne num prédio específico.

Ao contrário, ela não se reúne, pois é formada pelos afastados, desiludidos, amargurados e decepcionados.

Concordo. Já fiz parte deste grupo. Conheço muitos deles.

Mas é fato que mudei. Na verdade não sei nem quando, nem como, nem onde. O que sei é que fui encontrado e tratado, preenchido por uma nova vida, percepção e esperança.

É isso que quero compartilhar com você neste texto.

Este fenômeno – chamo de “outra igreja” – não é de forma nenhuma novo nem tampouco brasileiro. Por toda história, infelizmente, encontramos pessoas mal interpretando o Evangelho, produzindo comunidades que ao invés de curar, enfermaram; ao invés de acolher, isolaram; ao invés de integrar, alienaram.

Bem sabemos que milhares vivem hoje à margem da graça do Reino.

Tais quais enfermos ruminantes, em isolamento e tristeza, regurgitam culpas falsas e reais, alienados de si, dos outros e de Deus.

Não lhes foi anunciado o evangelho do Reino, mas um ‘outro evangelho’ que Deus não avaliza.

Atraídos por falsas e não realizáveis expectativas, buscaram vida tranqüila, próspera e saudável; casamentos perfeitos, filhos e netos exemplares; carreira profissional sempre ascendente, sucesso. Porém…

Apesar de todos os esforços, orações, dízimos e incontáveis participações em eventos, para a imensa maioria a pressão ainda sobe, a artéria entope, o menisco se desgasta, a unha encrava, o carro quebra, a empresa fali, e em alguns casos, até o casamento não resiste.

Derrotados por uma teologia equivocada e um mundo cruel, saem pela porta dos fundos, ressentidos com Deus, com a igreja, com a vida.

Há aqueles que se afastam decepcionados com os próprios crentes.

Isto porque no ‘outro evangelho’ a conversão é percebida como transformação instantânea.

Nesta perspectiva a igreja é o lugar de congraçamento dos perfeitos, um grande clube vip.

Mas a verdadeira igreja não é isso…

É verdade que somos abençoados na igreja, que irmãos maduros nos acolhem, enxugam nossas lágrimas, tratam nossas feridas e nos ensinam a caminhar. Mas é também verdade que na igreja somos julgados, traídos, difamados e explorados por gente do nosso próprio grupo, seja o coral, o louvor, ou a terceira idade.

Na linguagem bíblica, parece haver muito joio pra pouco trigo.

O ‘outro evangelho’ nos aliena ainda quando cobra de nós mesmos a instantânea transformação.

É verdade que algumas coisas podem e de fato, devem mudar na conversão.

Há aqueles que são curados milagrosamente de vícios que os acorrentavam há anos; outros são libertos de espíritos malignos que os aprisionavam desde pequenos.

Isto de fato acontece. É o poder do Evangelho. Mas outros não…

Não demora muito, porém, mesmo estes que foram milagrosamente libertos, percebem que apesar destas mudanças reais e significativas, outras áreas, antes dormentes, apresentam-se agora como grandes fontes de luta.

Acabam, enfim, por identificar em seu próprio coração resistentes laços de avareza, preguiça, lascívia e orgulho.

Quanto mais luz, mais percebemos as rachaduras…

Esta constatação os faz viver cabisbaixos ou lhes empurra numa busca desesperada por uma experiência catártica que, de uma vez por todas, expulse seus domesticados e obesos demônios.

Na verdade, como diz o ditado: “De perto ninguém é normal”!

Melhor: “De perto, todos são miseráveis pecadores”, mesmo após a conversão.

O que é, então, a igreja?

Qual a proposta do evangelho do Reino?

Igreja é a congregação dos perdoados, a comunidade que sinaliza o Reino anunciado por Jesus.

É como um hospital; mas não um hospital comum, destes modernos que mais se parece um hotel.

A igreja é como um hospital de guerra, onde feridos graves são recebidos a todo o momento. Há macas no corredor, sangue e outros não tão nobres fluídos pelo chão. Faixas usadas estão pelo canto. O odor não é de forma alguma agradável. Ainda há dor, choro, e pode-se ouvir gemidos pelos corredores…

Mas há, sim, curas, restaurações, cicatrizações e alegrias.

Crianças nascem o tempo todo! Adolescentes jogam bola no pátio improvisado. A cantina é sempre movimentada e barulhenta, e o médico-diretor é atencioso, paciente e muito capaz. Um hospital assim é tudo o que um soldado ferido almeja. Ele sabe que ali encontrará alívio e restauração. Todos, sem exceção, trabalharão por sua restauração. Essa é a igreja do evangelho do Reino.

Evangelho é boa notícia! A paz já foi feita, a Lei foi cumprida por Jesus! A reconciliação foi estabelecida, pois a justiça foi feita na cruz! Deus perdoa a todos os que se reconhecem pecadores. Estão salvos da ira vindoura todos os que crêem em seu amor e pela fé apropriam-se da morte de seu Filho na cruz. Não precisamos mais nos esconder; não precisamos mais representar; não precisamos mais nos afastar.

O Evangelho do Reino é liberdade, compaixão, esperança, amor. É comunhão, integração, acolhimento.

O Evangelho do Reino é uma santa celebração!

A igreja-hospital-de-guerra tem uma equipe especializada em recolher feridos. Eles se arriscam em meio a bombas para trazer os solitários, os abatidos, os fracassados…

Que tal buscar aqueles que foram surpreendidos pela crueldade da vida, dos irmãos e do seu próprio coração? Anuncie-lhes o Evangelho! A boa notícia! Eles não precisam mais fazer hora no boteco aguardando surgir a pureza de coração. O médico os recebe da forma que estão. O perdão precede o arrependimento! O hospital está aberto!

Isto é graça, este é o Reino. Nele, na igreja-hospital-de-guerra é proibida e entrada de pessoas perfeitas!

Em suas celebrações alguns aparecem enfaixados, outros de muleta, outros com tampões nos olhos. Que cena! Mas todos estão vivos e celebram a vitória de seu médico-general. Ainda há luta lá fora, mas é só uma questão de tempo. Em breve soará a trombeta da vitória! E nós? Nós pularemos pelos campos, cheios de alegria, saúde e paz…

Enquanto a trombeta não toca, nós celebramos!

Não nosso bom comportamento, saúde, sucesso profissional ou familiar. Celebramos não nossa performance ou capacidade de permanecer em pé… Celebramos nosso Médico, nosso Redentor, nosso Salvador, nosso Amado Pai! Celebramos a graça de sermos perdoados, feitos santos, santificados, justificados. Celebramos sermos amados.

Brennan Manning em seu livro “O Evangelho Maltrapilho” (Editora Textus, 2005) nos lembra: somos santos maltrapilhos.

Nossas fardas estão rasgadas. Algumas feridas ainda sangram. Nós mancamos, sim…!

Mas nosso manquejar é vitorioso!

Bem vindo maltrapilho!

Vamos celebrar!

Papa representa cristianismo conservador e reacionário, diz teólogo Boff

Teólogo brasileiro Leonardo Boff critica Bento 16 em uma entrevista publicada no final de semana no jornal alemão “Süddeutsche Zeitung”, de Munique, por ocasião dos cinco anos do pontificado do alemão Joseph Ratzinger.

Para o teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos teóricos da Teologia da Libertação, os cinco anos de pontificado de Bento 16, completados nesta segunda-feira (19/04) “são caracterizadas por conflitos: com os muçulmanos, os judeus, as Igrejas não católicas, as Igrejas às quais negou o status de Igrejas, a Igreja Anglicana, os seguidores de Lefebvre, mulheres, homossexuais. Ele cometeu diversos erros em seu papado. Conforme o Evangelho, sua tarefa é fortalecer a fé, e isso ele não está conseguindo”.

Questionado sobre o que admira em Bento 16, Boff, respondeu: “Quase nada. Talvez a obstinação com que se dedica ao seu projeto da Restauração, em que considera o primeiro Concílio Vaticano mais importante do que o segundo. Isto é, ele coloca o Papa como figura central, e não a comunidade cristã. Ele tem muito medo. Deveria acreditar mais no espírito do que em tradições e doutrinas”.

Boff, de 71 anos, que renunciou ao sacerdócio em 1992, após ser suspenso várias vezes pelo Vaticano por suas críticas à Igreja, diz que Bento 16 “nunca entendeu a Teologia da Libertação, e muitas conferências de bispos foram severamente controladas por ele”.

“Falta-lhe quase tudo”

Em sua entrevista publicada no Süddeutsche Zeitung neste final de semana, Boff disse que tentou convencer sem êxito o ex-prefeito da Congregação da Doutrina da Fé sobre a necessidade de a Igreja ocupar-se com os desamparados. “Mas foi tudo em vão. Nada mudou, ou até piorou”, sentenciou. Para o teólogo brasileiro, Ratzinger é refém de uma visão conservadora e reacionária do cristianismo, o que o impediria de efetuar reformas fundamentais.

“Ele não consegue deixar o papel de maestro e se sentir pastor. Falta-lhe quase tudo, e especialmente carisma”. “A Teologia da Libertação tornou-se uma obsessão para este papa. No final de março, diante de bispos do sul do Brasil, ele voltou a criticar a Teologia da Libertação marxista. Mas esta teologia existe apenas em sua cabeça e não na realidade. […] Desde a queda do Muro de Berlim ninguém mais fala em marxismo na Teologia da Libertação.”

“Pedofilia é crime a ser levado a tribunal”

Boff também criticou a forma como a Igreja trata os casos de abuso sexual registrados em vários países. Segundo suas palavras, a hierarquia católica tentou esconder o acontecido para não perder credibilidade.

“Esta posição é falsa e farisaica. A pedofilia é um crime que deve ser levado a tribunal.” Na opinião de Boff, o Vaticano tenta separar o tema da pedofilia do celibato. “O celibato fica fora de discussão porque ele revela muito sobre a estrutura da Igreja. Ela é uma comunidade religiosa, autoritária, centralizada e monossexual, porque só pode ser servida por homens celibatários.”

Questionado sobre o que diria a Bento 16 por ocasião dos cinco anos de papado, Boff respondeu que diria: “Sua Santidade, o senhor é um homem velho, cansado e bastante doente. O senhor serviu à Igreja com as melhores intenções, apesar das contradições que provocou. Chegou a hora de se preparar para o grande encontro com Deus. Retire-se para um mosteiro, cante o canto gregoriano, de que tanto gosta, celebre sua missa em latim e continue rezando pela Terra ameaçada pelo aquecimento global, pela humanidade que talvez seja extinta, e acima de tudo pelos que sofrem e pelas crianças, que se tornaram vítimas da pedofilia na Igreja e na sociedade”.

Joseph Ratzinger foi eleito papa a 19 de abril de 2005 no primeiro conclave do século 21, o mais numeroso da história (115 cardeais da Igreja Católica) e um dos mais breves (26 horas). Mão direita de João Paulo 2º, o oitavo papa alemão e sétimo chefe de Estado do Vaticano escolheu para seu pontificado o nome Bento 16.

Em cinco anos, publicou três encíclicas e efetuou 14 viagens fora da Itália. Bento 16 começou 2010, o seu quinto ano de pontificado, afetado pelos escândalos de pedofilia dentro da Igreja Católica.

O cardeal Joseph Ratzinger, nasceu em Marktl (Baviera), na diocese de Passau, em 16 de abril de 1927. Recebeu a ordenação sacerdotal em 29 de junho de 1951, a episcopal em 1977 e, no mesmo ano, foi nomeado cardeal no consistório convocado por Paulo 6º.

Fonte: DW, 19 abril 2010

RW/lusa/dpa
Revisão: Augusto Valente

A pedofilia e a questão do celibato ~ por Nazir Hamad

“Pode-se ser pedófilo tanto dentro da Igreja como fora dela. O pedófilo pode ser tanto um clérigo seguindo a regra do celibato, como um leigo, casado e pai de vários filhos”, escreve Nazir Hamad, em artigo que nos foi enviado e publicamos na íntegra. Segundo ele, “um adulto que trabalha com crianças cai nisso que Ferenczi chama de confusão de linguagens”.

Nazir Hamad é psicanalista libanês, radicado em Paris. Especialista na área de adoção de crianças, é psicanalista da Association Freudienne Internationnale (AFI) e atuou durante anos junto à ASE (Action Sociale à l’Enfance), órgão francês responsável pela emissão dos certificados que orientam a habilitação dos candidatos à adoção. Escreveu, entre outros, A criança adotiva e suas famílias (Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004) e Um homem de palavra (Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004).

Eis o artigo.

As recentes revelações sobre os numerosos casos de abusos sexuais perpetrados por membros do clero católico são, certamente, chocantes, mas isso é algo específico à vida da Igreja?

Minha resposta é simples: não é o pedófilo que quer. Pode-se ser pedófilo tanto dentro da Igreja como fora dela. O pedófilo pode ser tanto um clérigo seguindo a regra do celibato, como um leigo, casado e pai de vários filhos. A pedofilia diz respeito nesse caso preciso a uma estrutura perversa e quando este é o caso, não há nenhuma diferença entre leigo e eclesiástico. É preciso aceitar, mesmo que seja difícil de admitir, que é possível ser clérigo e ter escolhido consagrar sua vida a serviço da Igreja e ser perverso.

Entretanto, qualquer abuso sexual de uma criança não é necessariamente obra de um comprovado perverso. Acontece que um adulto que trabalha com crianças cai nisso que Ferenczi chama de confusão de linguagens. Eu ouvi adultos se defenderem afirmando com toda a boa fé que o que lhes aconteceu foi culpa da criança. A criança seria culpada aos seus olhos de ter provocado neles o desejo sexual. Consideremos esse caso que encontramos em cada casa. Uma filha ou um filho que toca seu sexo sentado no colo de seus pais ou de outros adultos, ou que se esfrega contra eles, é alguma coisa que está longe de ser incomum. Basta que uma criança caia nas mãos de um homem que se deixa subjugar por sua excitação sexual para que esta ela se torne sua vítima. A criança que se esfrega no adulto não é perversa no sentido patológico da palavra. A criança sofre de ondas pulsionais que colocam seu corpo em tensão, e sob a influência desta tensão, ela vive sensações que não têm nada a ver com a sexualidade propriamente dita. Ora, quando a criança se comporta desta maneira, trata-se para ela de uma questão dirigida ao adulto. E é justamente aí que o sapato aperta. O que acontece se o adulto em questão interpreta o contato da criança como uma mensagem sexual? O adulto reage como um macaco que obedece ao apelo de seu instinto.

Eu mesmo vi um educador que chorava, abatido, por ter abusado de uma criança de que ele particularmente gostava. Toda a equipe de educadores testemunhou a favor dele afirmando que ele sempre tinha sido exemplar em seu trabalho com as crianças. Ninguém compreendeu o que lhe aconteceu e menos ainda ele próprio. Ele chorava porque não tinha resposta para o que aconteceu. Ele havia tomada essa criança em seu colo e eis que se viu tomado de um estado de excitação que o dominou e ele se perdeu. Atrás do devotado educador se escondeu um macaco em estado de ereção, como frequentemente vemos em Jardins Zoológicos.

O adulto é a vítima da criança, como às vezes se alega? Sim e não. É vítima da interpretação que ele dá à mensagem da criança. Com outras palavras, ele é sua própria vítima. Mas dizer isso não o inocenta. O adulto que sucumbe dessa maneira não se interrogou suficientemente sobre seu interesse pelas crianças e sobre o amor que tem para com elas. Quanto mais se sente atraído por elas, mais deve estar atento ao que isso revela em si, especialmente que a criança, contrariamente ao que se pensa, não é um inocente angelical; ela é, muitas vezes, sobrecarregada por seu corpo e isso pode contaminar um adulto que tem problemas com a sua própria castração.

Não é Jesus que quer. É possível ser um padre que consagrou sinceramente a sua vida a serviço da Igreja e ter dificuldades com a abstinência sexual. Pode-se ter fé, mas não conseguir calar completamente o desejo sexual. Por que a Igreja tem tanta dificuldade para admitir isso? Penso que esta pergunta deve ser feita sem tabu. Além disso, de onde vem o voto do celibato? Nada no Novo Testamento confirma isso. Pedro e os outros discípulos de Cristo eram casados. No Ocidente, o celibato foi instituído no século XI, sob a influência dos monges, que eram celibatários por opção.

Devemos a Santo Agostinho o termo “feminino gramatical” para descrever o estado de Maria no ato da encarnação que representa para a Igreja o nascimento de Jesus. Para se encarnar, Deus recorre à carne e não ao corpo. O corpo é sexuado, mas a carne não. Deus se encarna no seio de uma mulher, mas esta mulher é o feminino o que o significante que é para a coisa. E agora, a pergunta que se impõe: o que fazer do corpo quando é um mero mortal? A fé pode mover montanhas, nos é dito, mas ela fracassa diante do desejo que mora em nós e que nos torna a vida impossível presa em nossa sexualidade.

Talvez seja necessário que a Igreja considere o celibato escolhido para o clero que o deseja, e libere os outros de uma tarefa humanamente impossível. Isso comporta, certamente, menos hipocrisia, mas isso definitivamente não a salva de seus perversos.

Fonte: Instituto H Unisinos, 15 abr 2010

Secretário de Estado do Vaticano relaciona pedofilia à homossexualidade

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Cardeal disse a uma rádio do Chile que este é ‘o verdadeiro problema’ dos casos de abuso

SANTIAGO – O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, disse na segunda-feira, 12, no Chile, que os múltiplos casos de pedofilia envolvendo membros da Igreja Católica estão vinculados à homossexualidade, e não ao celibato sacerdotal. No Chile, um dos casos mais famosos de pedofilia envolvia um sacerdote que mantinha relações sexuais com meninas adolescentes.

“Demonstraram muitos psicólogos, muitos psiquiatras, que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos demonstraram – e disseram isso recentemente – que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia”, afirmou Bertone. “Isso é verdade, este é o problema”, disse, em declarações transmitidas pela Rádio Cooperativa.

Em visita ao país sul-americano, Bertone abriu a Assembleia Plenária da Conferência Episcopal chilena. O religioso reiterou que a Igreja Católica nunca impediu investigações de pedofilia envolvendo padres e bispos.

Reações

A fala de Bertone levou a reações fortes por parte dos defensores dos direitos dos homossexuais no Chile. “Nem Bertone nem o Vaticano têm a autoridade moral” para oferecer lições de sexualidade, afirmou Rolando Jiménez, presidente do Movimento para a Integração e Liberação Homossexual no Chile.

Jiménez também notou que não há um estudo bem elaborado respaldando as declarações do cardeal. “É uma estratégia perversa do Vaticano para fugir de sua própria responsabilidade”, afirmou ele.

Pelo menos um dos pedófilos mais famosos da Igreja Católica do Chile atacava meninas – uma das jovens ficou grávida. O arcebispo de Santiago recebeu muitas queixas sobre o sacerdote José Andrés Aguirre por parte de famílias preocupadas com suas filhas. Apesar disso, o sacerdote, conhecido por seus paroquianos como o padre Tato, manteve contato com um grupo de meninas católicas da cidade.

Depois, por causa das acusações, Aguirre foi enviado em duas ocasiões para fora do Chile, e acabou condenado a 12 anos de prisão por abusar de dez jovens. Uma delas, identificada como Paula, disse que começou a ter relações sexuais com o sacerdote aos 16 anos e continuou até os 20 anos.

Paula disse ao jornal chileno La Nación ter pensado que não havia problemas em fazer sexo com ele, porque quando relatou o caso a outros sacerdotes, na confissão, eles disseram para ela orar e que isso era tudo. A jovem afirmou que eles sabiam e alguns supunham que se tratava do padre Tato, mas nenhum a ajudou.

Renúncia

Um desses sacerdotes procurados por Paula foi o arcebispo Francisco José Cox, também envolvido em acusações de pedofilia. Arcebispo da cidade de La Serena, 470 quilômetros ao norte de Santiago, Cox foi obrigado a renunciar em 1997. Foi transferido para Santiago, depois para Roma, em seguida para a Colômbia e agora está recluso na Alemanha.

Em 2002, o cardeal arcebispo de Santiago, Francisco Javier Errázuriz, confirmou que Cox foi transferido por “condutas impróprias” com menores.

Fonte: Estadão, 13 de abril de 2010

Teologia Selvagem ~ Hélio Schwartsman

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Deu no Datafolha: 25% dos brasileiros acreditam em algo parecido com Adão e Eva; 59% tentam conciliar Deus e alguns fundamentos da seleção natural, mais ou menos como foi proposto por Charles Darwin 150 anos atrás; e apenas 8% se atêm a fatos biológicos e apostam no darwinismo sem a interferência divina. A reportagem completa que escrevi para a versão impressa da Folha pode ser lida aqui.

Ao contrário dos mais otimistas, que celebraram o fato de termos menos criacionistas da Terra jovem do que os EUA (onde eles são 44%) e estarmos em linha com várias nações da Europa (onde a maioria dos países tem taxas na casa dos 20 e poucos por cento), não vejo motivos para nos regozijarmos. Afinal, um de cada quatro brasileiros acha que a Terra tem menos de dez mil anos e que o homem surgiu a partir de um passe de mágica de Deus, que depois teria arrancado a costela do pobre Adão para fazer brotar-lhe uma fêmea.

Que as pessoas acreditassem nessas balelas na Idade do Bronze, quando não havia explicações alternativas, vá lá. Que continuem a sustentar esses mitos numa era em que a ciência fornece modelos muito mais verossímeis, razoáveis e fortemente embasados na empiria é prova de nem mesmo milhões de anos de seleção natural bastaram para produzir uma espécie uniformemente inteligente.

Não é, contudo, o criacionismo da Terra jovem que eu pretendo combater hoje. Essa é uma posição que se autodestrói sozinha: se a Bíblia de fato não contém erros e traz toda a ciência e a ética de que precisamos, como afirma essa gente, então estamos autorizados a manter haréns, escravizar argentinos para ajudar no trabalho doméstico, apedrejar hereges e, em caso de aperto financeiro, vender nossas filhas no mercado de escravos. Não sou um especialista, mas acho que até as obras do Marquês de Sade trazem uma moral mais elevada do que a do “bom livro”.

O que me interessa aqui é perscrutar um pouco mais fundo a posição dos 59% que tentam juntar Deus e Darwin. Hoje, excepcionalmente, não vou ficar advogando pelo ateísmo. Mesmo que Deus exista (do que duvido), não há a menor necessidade de inseri-Lo no modelo explicativo da evolução das espécies, o qual apesar de ser “apenas” uma teoria (a lei da gravidade, assim como todas as proposições científicas, são necessariamente “apenas” teorias) conta com todas as corroborações necessárias para que o consideremos tão comprovado quanto dezenas de outras teorias das quais nos utilizamos diariamente sem tentar contrabandear nenhum elemento divino. Assim como ninguém diz que a Terra descreve sua órbita ao redor do Sol “guiada por Deus” ou que os objetos caem com um empurrãozinho celeste, não há razão para colocar um ente supremo projetando cada animal ou cuidando diuturnamente da criação para que o bolo não desande.

Como católicos e alguns protestantes já perceberam, em termos puramente lógicos Darwin e Deus não estão em campos opostos. Não é preciso mais do que uma teologia só um pouco mais sofisticada do que a dos fundamentalistas bíblicos para conceber um Deus compatível com a seleção natural. Afinal de contas, Ele é que seria o criador de todas as leis naturais, incluindo a capacidade de pais transmitirem certas características genéticas a seus filhos e a ocorrência de um certo nível de “crueldade” no mundo, pelo qual apenas alguns indivíduos sobrevivem para reproduzir-se. E isso é tudo o que precisamos para instalar a seleção natural, seja na Terra ou qualquer outro ponto do Universo.

E não é difícil para qualquer religioso com um pouco de imaginação empurrar Deus um bocadinho para o lado e deixar a evolução fluir. Ele precisa apenas adquirir características um pouco mais deístas ou leibnizianas, o que não foi um problema nem mesmo para o um papa como Pio 12, o qual, na encíclica “Humani generis”, de 1950, classificou o darwinismo como “hipótese séria”. Quarenta e seis anos mais tarde, seria a vez de João Paulo 2º declarar que a evolução era “mais do que uma hipótese”.

Só que o mundo não vive apenas de lógica (às vezes até me pergunto se essa não é uma arte ameaçada de extinção). No plano psicológico, Deus e Darwin são, sim, adversários ferrenhos. Alguns católicos já perceberam isso e ensaiaram uma revisão no posicionamento da Santa Sé.

Em 2005, num artigo para o jornal “The New York Times”, o arcebispo de Viena, Cristoph cardeal Schönborn, lançou um inesperado ataque à teoria darwinista da evolução das espécies. O dignitário, que é visto como teologicamente próximo ao papa Bento 16, afirmou que a noção darwiniana de ancestralidade comum entre os seres vivos pode estar de acordo com a doutrina católica, mas que os conceitos de mutações aleatórias e seleção natural sem direção ou finalidade certamente não estão. Schönborn também aproveitou para qualificar declarações de João Paulo 2º simpáticas ao darwinismo como “vagas e desimportantes”.

Como o leitor já deve ter reparado, embora as noções de seleção natural e um Deus pessoal que realize um ou outro milagre de vez em quando possam coexistir, trata-se de uma convivência um pouco forçada (não natural, para empregar um termo em voga). Na esfera do simbólico, ou bem há um Deus atuante e com um propósito, ou bem somos o produto da inopinada mistura de carbono com mais dois ou três elementos químicos baratos.

E, se há uma ideia que as religiões abominam, é a de que estamos abandonados à própria sorte num mundo sem propósito. É a “Geworfenheit” heideggeriana. E, se esse conceito de abandono não está embutido no neodarwinismo, a teoria pelo menos torna explicável o surgimento da multiplicidade de seres vivos que habita o planeta. Com Darwin, Deus se torna mais irrelevante. E essa é uma ideia difícil de engolir para todos aqueles que acalentam a hipótese de um ente supremo.

Assim, eu não me surpreenderia se os religiosos que flertaram com o darwinismo comecem a dele afastar-se. Certamente não de volta para o criacionismo bíblico, mas para uma sistematização da teoria do design inteligente, a qual, embora seja epistemologicamente insustentável (não passa do velho criacionismo vestindo um jaleco de cientista), parece gozar de forte popularidade em todo o mundo. Ela é, por assim dizer, a consequência natural da teologia selvagem que procura reunir Deus e o bê-á-bá da ciência ensinada nas escolas.

Com o fim das disputas ideológicas em torno do modo de produção, é cada vez mais para temas como evolução, aborto, drogas que as guerras culturais tendem a migrar.

Hélio Schwartsman

Fonte: Folha Online, 8 abr 2010

Escândalo de pedofilia também está na Igreja Católica da África, diz bispo

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O escândalo de pedofilia que se espalhou pela Igreja Católica dos Estados Unidos e da Europa chega também ao continente africano, afirmou o arcebispo de Johannesburgo e chefe da Conferência Episcopal da África Austral, Buti Tlhagale.

“Sei que a Igreja da África sofre dos mesmos males”, Tlhagale, que disse ter recebido ao menos 40 queixas de abuso sexual de crianças cometidos por padres africanos desde 1996, a maioria casos ocorridos há muitos anos. Mais da metade das denúncias envolveu mulheres na adolescência.

“A imagem da Igreja católica está em ruínas (…) Como líderes da Igreja fomos incapazes de criticar o comportamento imoral dos membros de nossas respectivas comunidades. Estamos paralisados”, criticou Tlhagale, considerando que o escândalo enfraquece a habilidade da Igreja Católica de agir com autoridade moral na África, onde muitas vezes é a única voz a desafiar ditaduras, corrupção e abuso de poder.

“Como líderes da Igreja, nos tornamos incapazes de criticar o comportamento corrupto e imoral dos membros de nossas respectivas comunidades”, disse ele. “Ficamos hesitantes para criticar a ganância e as más práticas das nossas autoridades civis”.

Segundo o arcebispo, a má conduta dos sacerdotes africanos não foi exposta pela mídia com a mesma “visibilidade” que no resto do mundo –uma referência à extensão do escândalo que atingiu, principalmente, Irlanda e Alemanha e que envolve o acobertamento das denúncias de vítimas de pedofilia até mesmo pelo papa, à época arcebispo de Munique e chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.

“Muitos dos que consideram os sacerdotes como modelos se sentem traídos, envergonhados e decepcionados”, afirmou Tlhagale, ao reconhecer que esses escândalos foram mal administrados pelo clero.

A Conferência Episcopal África Austral, que inclui África do Sul, Botsuana e Suazilândia, estabeleceu em 1996 um protocolo que define o procedimento em caso de queixas de abuso sexual contra crianças cometidos por um membro do clero.

A África é uma das regiões de mais rápido crescimento do número de católicos e ainda mais importante na medida em que o número de fiéis em países desenvolvidos desaba. A população católica africana aumentou de cerca de 2 milhões em 1990 a cerca de 140 milhões em 2000.

O padre Chris Townsend, porta-voz da Conferência Episcopal, disse que alguns membros do clero chegaram a ser formalmente acusados e que medidas foram tomadas.

O celibato, contudo, é desaprovado em algumas sociedades tradicionais africanas e há vários relatos de padres com amantes e filhos em partes da África.

A reputação da Igreja na África está ainda longe de ser irrepreensível –os padres foram acusados de ajudar o genocídio de Ruanda, e os ativistas contra Aids questionam sua oposição ferrenha ao uso de preservativo no continente mais afetado pela doença.

Fonte: Folha SP, 8 abr 2010

Conheça os escândalos mais recentes na Igreja em vários países

Vadstena church, Sweden

A denúncia de mais um caso de abuso sexual de menores por padres da Igreja Católica – desta vez nos Estados Unidos – contribuiu para aumentar a pressão sobre o papa Bento 16. Aqui, um resumo dos escândalos mais recentes em vários países.

ESTADOS UNIDOS

Na quinta-feira, o jornal The New York Times trouxe a notícia de que, em 1996, o cardeal Joseph Ratzinger, que veio a se tornar o papa Bento 16 em 2005, não respondeu a cartas vindas de clérigos americanos acusando um padre do Estado do Winsconsin de abusar sexualmente de menores.

O padre Lawrence Murphy, que morreu em 1998, é suspeito de ter abusado de até 200 meninos em uma escola para surdos entre 1950 e 1974.

Uma das supostas vítimas disse à BBC que o papa sabia das acusações há anos, mas não tomou nenhuma atitude.

Nas duas últimas décadas, a Igreja Católica dos Estados Unidos – principalmente a Arquidiocese de Boston – esteve envolvida em uma série de escândalos de abuso sexual infantil.

Um dos que mais chocou a população veio à tona há alguns anos, quando foi revelado que dois padres de Boston, Paul Shanley e John Geoghan, estavam envolvidos em casos de abuso nos anos 90 e foram supostamente acobertados por líderes da Igreja, que os transferiam de paróquia em paróquia.

Em 2002, o então papa João Paulo 2º convocou uma reunião de emergência com cardeais americanos, mas novos escândalos surgiram.

O arcebispo Bernard Law acabou renunciando ao posto no fim daquele ano, e, em 2003, a Arquidiocese de Boston concordou em pagar US$ 85 milhões depois de receber mais de 500 processos por abuso e omissão.

Um relatório encomendado pela Igreja em 2004 concluiu que mais de 4 mil padres americanos enfrentaram acusações de abuso sexual nos últimos 50 anos, em casos envolvendo mais de 10 mil crianças – principalmente meninos.

Em 2008, em uma visita aos Estados Unidos, Bento 16 se encontrou com vítimas dos abusos e falou “da dor e dos danos” provocados.

ALEMANHA

Desde o início de 2010, pelo menos 300 pessoas acusaram padres católicos da Alemanha de abuso sexual ou físico.

As alegações estão sendo investigadas em 18 das 27 dioceses da Igreja Católica no país natal do papa Bento 16.

Entre as acusações, está o abuso de mais de 170 crianças por padres em escolas jesuítas, além de casos dentro de um coral de meninos dirigido durante 30 anos pelo monsenhor Georg Ratzinger, irmão do papa.

Em março, o padre Peter Hullermann, que foi condenado por molestar crianças quando servia na Arquidiocese de Munique e Freising, foi suspenso de suas funções após violar uma proibição de trabalhar com menores.

No último dia 22, a diocese de Regensburg confirmou novas acusações contra quatro padres e duas freiras, em casos que teriam ocorrido nos anos 70.

O governo alemão anunciou em seguida que vai formar uma comissão de especialistas para investigar todas as acusações.

IRLANDA

No ano passado, dois documentos que examinaram acusações de pedofilia entre clérigos irlandeses relevaram a profundidade do problema no país, com casos de abuso, acobertamentos e falhas hierárquicas envolvendo milhares de vítimas durante várias décadas.

Um dos documentos mostrou que quatro arcebispos de Dublin fizeram vista grossa para casos de abuso ocorridos entre 1975 e 2004.

Quatro bispos renunciaram e toda a hierarquia da Igreja irlandesa foi convocada ao Vaticano para depor pessoalmente diante do papa Bento 16.

Em meio a isso, um novo escândalo veio à tona neste mês de março com a informação de que o chefe da Igreja Católica Irlandesa, cardeal Sean Brady, estava presente em reuniões realizadas em 1975, quando crianças fizeram um voto de silêncio sobre reclamações contra um padre pedófilo, Brendan Smyth.

Dias depois, em 20 de março, o papa Bento 16 se desculpou a vítimas de abuso sexual por clérigos da Irlanda, mas não mencionou denúncias em outros países.

HOLANDA

Ainda neste mês de março, bispos da Holanda pediram uma investigação independente diante de mais de 200 acusações de abuso sexual de crianças por padres, além de três casos ocorridos entre 1950 e 1970.

Inicialmente, as acusações envolviam a escola do mosteiro de Don Rua, no leste da Holanda.

O escândalo fez surgir dezenas de novas alegações de supostas vítimas em outras instituições do país.

ITÁLIA

Em janeiro de 2009, vários homens deficientes auditivos vieram a público para dizer que foram abusados quando eram crianças no Instituto para Surdos Antonio Provolo, na cidade de Verona, entre 1950 e 1980.

No fim do ano passado, a agência de notícias Associated Press obteve uma declaração por escrito de 67 ex-alunos da escola nomeando 24 padres e outros religiosos a quem acusavam de abuso sexual, pedofilia e castigos físicos.

A diocese de Verona disse que pretendia entrevistar as vítimas, depois de uma solicitação do Vaticano.

ÁUSTRIA

Acusações independentes de abuso sexual infantil por padres surgiram em várias regiões do país.

Após um dos escândalos, cinco padres de um mosteiro em Kremsmuesnter foram suspensos.

Em Salzburgo, o chefe de um mosteiro local renunciou ao cargo após confessar ter abusado de um menino há 40 anos, quando ele era monge.

SUÍÇA

Uma comissão formada pela Conferência dos Bispos da Suíça em 2002 vem investigando acusações de abuso envolvendo religiosos do país.

Este mês, um membro da comissão, o abade Martin Werlen, disse em uma entrevista que cerca de 60 pessoas fizeram acusações sobre casos que teriam ocorrido nos últimos 15 anos.

Um padre do cantão de Thurgau foi preso no último dia 19 sob suspeita de abuso sexual de menores.

Fonte: BBC Brasil, 26 mar 2010

O discurso religioso na comunicação

Yellow bridge

Por Rogério Faria Tavares*

Belo poema recitado com esperança pela humanidade ao longo dos tempos, a religião tem sido uma das formas mais empregadas pela espécie para organizar e esclarecer suas relações com os mistérios que permeiam a criação, a existência e a morte e para cultivar as dimensões mais sutis (ou transcendentes) de sua experiência na Terra, o que se costuma chamar, com grande freqüência, de espiritualidade. Importante elemento formador da visão de mundo e da cultura de praticamente todos os povos, a religião também é portadora de ensinamentos éticos e morais que moldaram civilizações, influenciaram o curso da história e definiram vários de seus avanços e retrocessos.

Capaz de mobilizar numerosos contingentes populacionais em torno de ideologias e condutas específicas, já serviu aos mais variados propósitos: foi usada como justificativa para guerras e para a celebração da paz; para a construção de palácios e a derrubada de impérios; a promoção de virtudes e de vícios; a divulgação da fraternidade e da compaixão, da intolerância e do ódio.

A religião sempre gerou alto impacto sobre as comunidades humanas e, em muitos casos, conseguiu dividi-las e reagrupá-las segundo seus mandamentos. Por muitos séculos, prevaleceu no campo da política e da administração da convivência coletiva, chegando a influenciar até, em diversas ocasiões, o modelo de trocas econômicas. Em muitas nações, notadamente no hemisfério oriental, prossegue até hoje comandando os negócios do Estado e gerindo a produção das normas jurídicas.

Amor, solidariedade e justiça

Responsável por revelações sagradas e enunciadora da “verdade”, a religião sempre foi muito eficiente para conferir sentido à vida de milhões de indivíduos. Ao longo de seu percurso como uma das mais prestigiadas dimensões da atuação humana, desenvolveu importante poder de comunicação e consolidou imenso público disposto a consumir com avidez e convicção a sua mensagem, potente o bastante para resolver impasses e dirimir dúvidas, superar o medo, trazer o consolo, aliviar a dor e afastar o absurdo e o imponderável, aceitar o passado, enfrentar o presente e acreditar no futuro.

Competente na elaboração de mitologias e hábil no uso de recursos como a linguagem simbólica, a religião dominou com desenvoltura as técnicas típicas da oralidade. Quando a tecnologia para a transmissão de idéias ainda estava em seus primórdios, a informação religiosa já estava entre as mais difundidas. Na medida em que o progresso ia engendrando outros modos de distribuição de conteúdo, a religião aprendia, rapidamente, a beneficiar-se deles. Foi o que ela soube fazer quando surgiram a escrita, o livro e a palavra impressa. E é o que ela faz até hoje, quando ocupa espaço no rádio, na televisão e nas mídias digitais.

Não há fenômeno mais previsível, portanto, que a presença do discurso religioso nos meios de comunicação de massa. A religião está na vida do povo. Como estaria ausente dos jornais, do rádio e da televisão? Essa presença não deve ser vista como negativa. Ainda que seja acusada de iludir e manipular as multidões (o que, em incontáveis episódios da história, de fato ocorreu), a religião também oferece oportunidades valiosas, e talvez inigualáveis, para refinar e elevar os padrões de conduta costumeiros da espécie humana. Ela lança um olhar fundamental sobre a realidade e propõe forma particular de representá-la e vivê-la. Sua mensagem essencial quase sempre aponta no sentido da promoção do amor, da solidariedade e da justiça, valores que ajudam o ser humano a viver melhor e mais feliz.

Respeito absoluto por outra fé

Não há nada mais natural e compreensível que a intensa presença do discurso religioso na mídia. A religião sempre quer a ampla disseminação de seus paradigmas, conquistar adeptos, perseguir sonhos de hegemonia, estabelecer territórios e manter-se notória e vigorosa. É anseio maior de toda e qualquer religião tornar-se perene e universal, atravessando as diferentes épocas históricas e alargando suas fronteiras geográficas, conservando e atualizando a sua validade e seduzindo as novas gerações.

Essa vocação da religião para a massiva comunicação pública, entretanto, só pode realizar-se, pelo menos nos países em que vige o Estado (laico) de Direito, como é o caso do Brasil, dentro da plena observância das regras jurídicas postas pelo ordenamento pátrio para o relacionamento harmonioso entre os cidadãos.

Responsável por consagrar, em distintos incisos de seu artigo quinto, a liberdade de expressão, a liberdade de consciência e de crença e o livre exercício dos cultos religiosos, a Constituição Federal de 88 oferece as garantias necessárias para que a cidadania possa professar, se for de sua vontade, o credo que bem entender, sem submeter-se a constrangimentos ou represálias.

Em primeiro lugar, isso significa que qualquer corrente de pensamento religioso pode manifestar-se sem restrições, inclusive pelos meios de comunicação. (As sérias distorções causadas pelo acesso desigual aos recursos financeiros para investir em mídia são tema complexo, deslocado para debate posterior.) Em segundo lugar, significa que, quando ocupa os meios de comunicação, a religião deve tratar com absoluto respeito todas as pessoas e instituições que pratiquem outra fé ou divulguem visão distinta da sua.

Pluralismo e convivência pacífica

Vale lembrar, igualmente, que os ateus ou agnósticos merecem exatamente o mesmo apreço normativo conferido pela ordem jurídica aos que crêem. Eles jamais poderão ter seus direitos e liberdades ameaçados ou tolhidos sob nenhum pretexto. Por isso, quando ocupa a mídia, a religião não pode tratá-los com desprezo, preconceito ou discriminação.

Quando ocupa a mídia, uma religião não pode formular ofensas ou ataques que maculem a reputação de outra. Também não é aceitável que trate qualquer delas como algo primitivo, excêntrico, exótico, ameaçador ou diabólico. Agredir esta ou aquela crença religiosa é atitude que merece repulsa social e repressão legal imediata. Quando isso ocorre no rádio ou na televisão é fato ainda mais grave, já que ambos são serviços de interesse público explorados sob regime de concessão.

Finalmente, não é possível, no contexto de uma democracia política como a nossa, conceder qualquer vantagem a determinada religião em detrimento das demais, uma vez que todas propiciam legítimas respostas aos anseios de fé dos cidadãos. Todas são dignas de idêntica consideração, independente da matriz cultural ou étnica a que estejam eventualmente filiadas. Não se pode instituir a menor hierarquia entre elas, nenhuma ordem de precedência ou sistema de privilégios. (Obviamente, não se pode chamar de religião o que é somente a prática do charlatanismo, o comércio dos milagres e de curas com fins de enriquecimento fácil tipificado como crime pelo artigo 283 do Código Penal Brasileiro.)

A atitude reclamada pela razão é fomentar o ecumenismo e o diálogo interreligioso, tão desejado e tão viável, haja visto o expressivo número de pontos comuns a todos os credos. O pluralismo e a convivência pacífica entre as diferenças são duas das expressões mais saudáveis de uma sociedade democrática. A sociedade brasileira não pode tolerar os intolerantes. Seria perigoso demais para o futuro com que sonhamos.

Fonte: Observatório de Imprensa, 16 março 2010

*Rogério Faria Tavares é advogado, jornalista, mestre em Direito Constitucional (UFMG) e doutorando em Direito Internacional pela Universidade Autônoma de Madri

Fraudes em nome de Deus

iluminated window with sculptures and paintings

Por Dalmo de Abreu Dallari

Um fenômeno social que vem ganhando corpo nos últimos tempos é o aparecimento de grupos autodenominados religiosos, que, geralmente sob a direção de um líder, arrebanham adeptos, atraindo pessoas, quase sempre pouco esclarecidas ou socialmente frágeis, ou, ainda, dissidentes políticos ou religiosos aos quais oferecem um instrumento de oposição, e logo procuram formalizar a existência do grupo como uma nova igreja. E assim procuram obter proveitos materiais de várias espécies, em fraude à lei. Isso explica o aparecimento de novas igrejas em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil.

Percebendo a ocorrência desse fenômeno e desejando conhecê-lo melhor, para, entre outras coisas, despertar a opinião pública para os graves prejuízos individuais e sociais que isso pode acarretar, dois jornalistas ligados à Folha de S.Paulo, Cláudio Ângelo, editor de Ciência, e o repórter Rafael Garcia, decidiram criar experimentalmente uma nova igreja, evidentemente fundada numa fantasiosa crença religiosa.

Para tanto, com o objetivo de evidenciar a tranquila possibilidade legal de consumar essa fraude, solicitaram a orientação de um dos mais prestigiosos escritórios de advocacia de São Paulo, respeitadíssimo pelo alto nível de conhecimentos e pelo rigoroso padrão ético de seus integrantes – o escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian Associados. E assim adotaram as providências legalmente exigidas para concretizar a criação da igreja de fantasia.

Exploração da ignorância

Verificaram, então, que não existem requisitos teológicos ou doutrinários para a criação de uma igreja, não havendo também a exigência de um número mínimo de fiéis. Redigiram um documento de fundação do que denominaram Igreja Heliocêntrica do Sagrado Evangelho e fizeram a inscrição da entidade no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, obtendo assim o número do CNPJ.

Com base nesse documento abriram uma conta bancária, fazendo várias aplicações financeiras, gozando de isenção dos tributos normalmente incidentes sobre operações dessa espécie, pois, segundo a Constituição, no artigo 150, inciso VI, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre templos de qualquer culto.

Nessa mesma linha, a nova igreja poderá adquirir e vender imóveis, realizar transações econômicas, cobrar pela prestação de serviços e praticar outros atos que beneficiem pessoalmente os criadores e dirigentes da igreja, sem que sejam obrigados a pagar o IPVA, o IPTU, o ISS e qualquer outro tributo. E como as igrejas são absolutamente livres para definir sua organização e direção e para admitir e manter seus sacerdotes, que, nessa condição, ficam isentos da obrigação de prestar o serviço militar obrigatório, um dos dirigentes designou seus próprios filhos como sacerdotes, garantindo-lhes, desse modo, essa isenção, devendo-se ainda acrescentar que, além desse privilégio legal, os sacerdotes terão direito a prisão especial, se forem envolvidos numa ocorrência policial.

Acrescente-se, ainda, que os dirigentes da igreja poderão indicar os imóveis de sua residência como sendo templos da igreja e assim ficarão isentos dos tributos municipais.

Essa iniciativa dos jornalistas, levada a efeito discretamente e sem procurar provocar escândalo, é merecedora do maior elogio e deve ser amplamente divulgada, para chamar a atenção dos que podem e devem influir para impedir a multiplicação fraudulenta de igrejas. Essa fraude deve merecer especial atenção dos legisladores e dos governos, pois além de acarretar enormes prejuízos a todo o povo, por criar a possibilidade de intensa atividade econômico-financeira sonegando tributos, alimentam-se da exploração da ignorância e da fragilidade de pessoas das camadas mais pobres da população.

Ação educativa

Bem ilustrativo da audácia desses exploradores da ignorância e da ingenuidade de pessoas mais simples é a notícia da criação de uma linha telefônica para falar com Deus, fato divulgado pelo jornal francês Le Monde (4/3/2010, pág.26).

Conforme registra com ironia aquele jornal, foi criado um novo serviço telefônico, “Le Fil du Seigneur”, iniciativa da sociedade Aabas Interactive. Fornecendo os dois números disponíveis para as ligações, informa o jornal que o custo das ligações é de 15 centavos de euro para as ligações comuns e de 34 centavos para as ligações urgentes e diretamente dirigidas a Deus.

Quem ligar para o serviço ouvirá uma gravação dizendo : “Você está em presença de Deus para o recolhimento e a prece a fim de receber sua graça”. Acrescenta o jornal, sempre ironizando, que os promotores desse piedoso serviço não estão autorizados a conceder absolvição por telefone, mas os interessados podem deixar sua confissão. E para acentuar os objetivos de apoio e edificação espiritual, uma gravação diz no início: “Para receber conselhos, digite 1; para confessar, digite 2 ; para escutar confissões de outros, digite 3”.

Parece absurda a criação de um “serviço” dessa natureza, mas o fato de ele continuar existindo é um sinal de que também existem usuários, o que deixa evidente que há ambiente para audácias desse tipo.

Num pronunciamento recente, o presidente da Ordem dos Advogados de Angola chamou a atenção para o surgimento e a multiplicação de práticas ilegais naquele país, ligadas justamente à exploração de crenças religiosas. E observou : “Não me surpreende o surgimento de crimes ligados à exploração religiosa, porque onde há pobreza, ignorância e um nível cultural extremamente baixo há propensão para que essas práticas religiosas duvidosas prevaleçam e tenham espaço”.

E sublinhando que a legislação angolana exige um mínimo de cem mil aderentes para a existência de uma igreja, o que considera bom mas insuficiente para impedir as fraudes, acrescentou que “é responsabilidade do Estado, nos termos da lei, controlar para que o direito de liberdade religiosa não seja utilizado para fins contrários ao que está previsto na Constituição”, considerando necessária uma ação educativa do Estado, mas também uma ação repressiva, para impedir práticas que, sob a máscara de atividades religiosas, prejudiquem os direitos de outros cidadãos e a própria ordem pública.

Necessário e urgente

Observe-se, afinal, que esse fenômeno da exploração religiosa, muito oportunamente posto em evidência pelos jornalistas da Folha de S.Paulo, vem preocupando vários países da Europa. Assim, na França já estão em vigor três leis tratando de questões relativas ao surto de organizações religiosas e suas repercussões legais. A primeira é de 18 de dezembro de 1998 e cuida, sobretudo, do problema do acesso de crianças à escola, que é obrigação dos pais e vinha enfrentando obstáculos sob alegação de motivos religiosos. A segunda, de 15 de junho de 2000, deu legitimidade às associações civis que lutam contra as seitas para propor ou integrar ações judiciais, inclusive na área penal, nesse âmbito. A terceira lei, de 12 de junho de 2001, trata dos movimentos sectários que atentam contra os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Esta lei permite a propositura de ação contra fatos que podem ser qualificados como “abusos fraudulentos do estado de ignorância ou de fragilidade”, com agravantes quando praticados contra crianças ou pessoas em situação de fraqueza.

Essas questões já vêm sendo objeto de considerações do Conselho da Europa, que em 1992 fez recomendações relativamente às seitas e aos novos movimentos religiosos e em 1999 reforçou seu pronunciamento considerando as atividades ilegais das seitas. Como fica evidente, há uma situação nova envolvendo as questões religiosas, com efeitos graves sobre os direitos.

Por tudo isso, é muito oportuna a advertência sobre o que vem ocorrendo no Brasil nessa área. A Constituição brasileira declara inviolável a liberdade de consciência e de crença, mas ao mesmo tempo diz, no artigo 5°, inciso XVII, que é plena a liberdade de associação “para fins lícitos”. É evidente que o uso fraudulento da invocação religiosa nada tem a ver com a liberdade de crença e, ainda mais, por suas conseqüências de ordem prática, acarreta graves prejuízos a todo o povo, confere privilégios injustos e cria uma situação de conflito, opondo as organizações desonestas às instituições que se fundamentam, autenticamente, em crenças religiosas.

Assim, pois, é necessário e urgente que o tema seja posto entre as prioridades brasileiras, para que se tenha uma legislação que, mantendo a laicidade do Estado, garanta a liberdade de crença com pluralidade, coibindo a invocação fraudulenta dessa liberdade.

Fonte: Observatório de Imprensa, 16 março 2010

*Dalmo Dallari é jurista, professor emérito da Faculdade de Direito da USP

Milionário britânico doa fortuna para pagar promessa

Um milionário britânico anunciou a doação de quase toda sua fortuna, estimada em 480 milhões de libras (cerca de R$ 1,3 bilhão), para pagar uma promessa feita quando era jovem e pobre.

Albert Gubay, de 82 anos, diz ter feito um “acordo com Deus” quando trabalhava como vendedor de rua na juventude, para torná-lo milionário.

Em troca, segundo declarações feitas há alguns anos a um programa de TV, ele prometeu dividir “meio a meio” sua fortuna, acumulada com a venda da cadeia de supermercados Kwik Saver, fundada por ele, e por investimentos em imóveis e em uma rede de academias de ginástica.

“Faça-me um milionário, e você poderá ter metade de meu dinheiro”, prometeu ele, segundo contou no programa.

Agora, porém, ele decidiu doar quase tudo, ficando com pouco menos de 10 milhões de libras (R$ 27 milhões) para si.

Doações

Gubay passou sua fortuna para o nome de uma fundação que ficará encarregada de distribuir suas doações para caridade. Metade do dinheiro irá para a Igreja Católica, para cumprir com seu acordo.

Mesmo após a doação de sua fortuna, o milionário deverá continuar à frente de suas empresas e disse esperar conseguir elevar o montante de suas doações para mais de 1 bilhão de libras até morrer.

Em 2009, Gubay havia sido listado pela revista Forbes como a 647ª pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna estimada então em US$ 1,1 bilhão, mas ficou fora da lista de bilionários da revista neste ano, por causa da desvalorização da libra, que derrubou o valor nominal de sua fortuna em dólares.

Fonte: BBC Brasil, 21 março 2010

Dawkins preaches to the deluded against the divine

richard dawkinsLIKE revivalists from an alternative universe, 2500 hardcore believers in the absence of religion packed into the Global Atheists Convention in Melbourne last weekend to give a hero’s welcome to the high priest of belief in unbelief, Richard Dawkins.

The bestselling author of The God Delusion was similarly fawned over by the Australian media, which uncritically lapped up everything he said.

This was even after (or perhaps because) he referred to the Pope as a Nazi, which managed to combine defamation of the pontiff with implicit Holocaust denial.

By comparison, Family First senator Steve Fielding may feel he got off lightly when Dawkins described him merely as more stupid than an earthworm.

For someone who has made a career out of telling everyone how much more tolerant the world would be if only religion were obliterated from the human psyche, Dawkins manages to appear remarkably intolerant towards anyone who disagrees with him.

The fact is, however, the shine has come off Dawkins. For sure, he remains a superstar for the legions who loathe religion. But, nevertheless, a strong feeling has developed in less credulous quarters that he has gone too far.

While he was writing about the “selfish gene” and the “blind watchmaker”, he received a respectful reception even from those who might have disagreed with him but were nevertheless impressed by the imaginative brio and dazzling fluency of his argument. But then he left biology behind and became the self-appointed universal crusader against God. Flying the flag of Darwinism, he went to war against religion on the grounds that any belief that did not follow the rules of scientific inquiry was prima facie evidence of imbecility or insanity.

He became the apostle of scientism, the ideology that says everything in the universe has a materialist explanation and must answer to the rules of empirical scientific evidence; to believe anything else is irrational.

A second’s thought tells one this is absurd. Love, law and philosophy are not scientific yet they are not irrational. So it is scientism that seems to be irrational.

As for Dawkins’s claim that religion is responsible for the ills of the world, this is demonstrably a wild distortion. Some of the worst horrors in human history – the French revolutionary terror, Nazism, communism – have been atheist creeds. And although terrible things indeed have been done in the name of religion, the fact remains that Christianity and the Hebrew Bible form the foundation stone of Western civilisation and its great cause of human equality and freedom.

Through such hubristic overreach, Dawkins has opened himself up to attack from quarters that, unlike the theologians he routinely knocks around the park, he cannot so easily disdain.

Books taking his arguments apart on his own purported ground of scientific reason have been published by a growing number of eminent scientists and philosophers, including mathematicians David Berlinski and John Lennox, biochemist Alister McGrath, geneticist Francis Collins, and philosopher and recanting atheist Anthony Flew.

These have itemised his many howlers, sloppy assertions, internal contradictions, unscientific reasoning and illogicality. His responses to these stellar intellects are fascinating. He claims they cannot possibly have meant what they wrote, or they are senile, or their scientific credentials are somehow obviated by the fact they are practising Christians.

Indeed, he seems almost to believe that, since everyone who believes in God is stupid or evil and Christians are stupid and evil because they believe in God, those who oppose him must be Christian and can be treated with contempt.

I had first-hand experience of this when, addressing an audience of US atheists, he accused me of “lying for Jesus” by misquoting him. This came as something of a surprise since I am a Jew. Moreover, far from me misquoting him, which was not the case, he had in fact ascribed to me words that had been written by someone else.

This anecdote raises in turn the most intriguing question of all about Dawkins. Just why is he so angry and why does he hate religion so much? After all, as many religious scientists can attest, science and religion are – contrary to his claim – not incompatible at all.

A clue lies in his insistence that a principal reason for believing that there could be no intelligence behind the origin of life is that the alternative – God – is unthinkable. This terror of such an alternative was summed up by a similarly minded geneticist as the fear that pursuing such thinking to its logical ends might allow “the divine foot in the door”.

Such concern is telling because it suggests a lack of confidence by the Dawkins camp in its own position and a corresponding fear of rigorous thinking.

To stamp out the terrifying possibility of even a divine toe peeping over the threshold, all opposition has to be shut down. And so the great paradox is that the arch-hater of religious intolerance himself behaves with the zeal of a religious fundamentalist and, despite excoriating religion for stifling debate, does this in spades.

An illuminating example was provided by an atheists summer camp for children last year in Britain that Dawkins backed. The children who took part were to be taught to be critical thinkers, yet all discussion of religion was ruthlessly excluded.

Far from opening young minds, this was shutting them in the ostensible cause of reason.

Such indoctrination is a hallmark of the fundamentalist who knows he is not just right but righteous. So all who oppose him are by definition not just wrong but evil. Which is why alternative views must be howled down or suppressed.

This is, of course, the characteristic of all totalitarian regimes, including religious inquisitions. Which is why Dawkins can lay claim to being not the most enlightened thinker on the planet, as his acolytes regard him, but instead the Savonarola of scientism and an intolerant closer of minds.

Melanie Phillips’s new book, The World Turned Upside Down: The Global Battle over God, Truth and Power, will be published by Encounter, New York, on April 20.

Source: Melanie Phillips
From: The Australian – March 16, 2010

Catholic Church, and religion in general, losing Latinos in USA

Latino population growth over the past two decades has boosted numbers in the Catholic Church, but a new, in-depth analysis shows Latinos’ allegiance to Catholicism is waning as some move toward other Christian denominations or claim no religion at all.

A report out today by researchers at Trinity College in Hartford, Conn., finds Latino religious identification increasingly diverse and more “Americanized.”

The analysis, based on data from the 2008 American Religious Identification Survey, compares responses to phone surveys in 1990 and 2008 conducted in English and Spanish. The 2008 sample included 3,169 people who identified themselves as Latinos.

“What you see is growing diversity — away from Catholicism and splitting between those who join evangelical or Protestant groups or no religion,” says report co-author Barry Kosmin, a sociologist and director of the Institute for the Study of Secularism in Society and Culture at Trinity College. Among findings:

•From 1990 to 2008, the Catholic Church in the USA added an estimated 11 million adults, including 9 million Latinos. In 1990, Latinos made up 20% of the total Catholic population, but by 2008, it rose to 32%.

•Those who claimed “no religion” rose from fewer than 1 million (6% of U.S. Latinos) in 1990 to nearly 4 million (12% of Latinos) in 2008.

“As Latinos or any other ethnic group assimilates to American culture, they pick up the values of the broader American culture and are somewhat less likely to identify with the religious identification, or any other identification, that marked their parents or grandparents,” says Mary Gautier, a senior researcher at the Center for Applied Research in the Apostolate at Georgetown University.

The new data send a clear message, says Allan Figueroa Deck, a Catholic priest and executive director of the Secretariat of Cultural Diversity in the Church, a program of the U.S. Conference of Catholic Bishops.

“The biggest challenge the Catholic Church faces is the movement of Latino people not to other religions but rather to a secular way of life in which religion is no longer very important,” he says. “We really need to ask ourselves why that is and what response the church can develop for this challenge.”

By Sharon Jayson, USA TODAY, March 16, 2010