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Há um esforço de setores da sociedade em apagar a ditadura da história do país, diz filósofo

Por Gilberto Costa, Brasília, da AB, 30 jan 2010

Após a Segunda Guerra Mundial, os judeus sobreviventes revelaram que seus carrascos asseguravam que ninguém acreditaria no que havia ocorrido nos campos de concentração. A história, no entanto, não cumpriu o destino previsto pelos nazistas, muitos foram condenados e o episódio marca a pior lembrança da humanidade.

Crimes cometidos em outros momentos de exceção também levaram violadores de direitos humanos a serem interrogados em comissões da verdade e punidos por tribunais, como na África do Sul, em Ruanda, na Argentina, no Uruguai e Paraguai.

Para filósofo Vladimir Safatle, professor da Universidade de São Paulo (USP), há um lugar que resiste à memória do horror e a fazer justiça às vítimas: o Brasil. Nenhum agente do Estado ditatorial (1964-1985), envolvido em crimes como sequestro, tortura, estupro e assassinato de dissidentes políticos, foi a julgamento e preso.

Em março, será lançado o livro O Que Resta da Ditadura (editora Boitemço), organizado por Safatle e Edson Teles. A obra tenta entender como a impunidade se forma e se alimenta no Brasil. Para Safatle,o Brasil continua uma democracia imperfeita por resistir a uma reavaliação do período da ditadura militar (1964-1985) e por manter uma relação complicada entre os Três Poderes.

Agência Brasil: O Brasil tem alguma dificuldade com o seu passado?

Vladimir Safatle: Existe um esforço de vários setores da sociedade em apagar a ditadura, quase como se ela não tivesse existido. Há leituras que tentam reduzir o período à vigência do AI-5 [Ato Institucional nº 5], de 1968 a 1979. E o resto seria uma espécie de democracia imperfeita, que não se poderia tecnicamente chamar de ditadura. Ou seja, existe mesmo no Brasil um esforço muito diferente de outros países da América Latina, que passaram por situações semelhantes, que era a confrontação com os crimes do passado. É a ideia de anular simplesmente o caráter criminoso de um certo passado da nossa história.

ABr: Há quem diga que o Brasil não teve de fato uma ditadura clássica depois de 1964, mas sim uma “ditabranda” se comparada à da Argentina e a do Uruguai, por exemplo.

Safatle: Essa leitura é do mais clássico cinismo. É inadmissível para qualquer pessoa que respeite um pouco a história nacional. Afirmar que uma ditadura se conta pela quantidade de mortes que consegue empilhar numa montanha é desconhecer de uma maneira fundamental o que significa uma ditadura para a vida nacional. A princípio, a quantidade de mortes no Brasil é muito menor do que na Argentina. Mas é preciso notar como a ditadura brasileira se perpetuou. O Brasil é o único país da América Latina onde os casos de tortura aumentaram após o regime militar. Tortura-se mais hoje do que durante aquele regime. Isso demostra uma perenidade dos hábitos herdados da ditadura militar, que é muito mais nociva do que a simples contagem de mortes.

ABr: Qual o reflexo disso?

Safatle: Significa um bloqueio fundamental do desenvolvimento social e político do país. Por outro lado, existe um dado relevante: a ditadura de certa maneira é uma exceção. Ela inaugurou um regime extremamente perverso que consiste em utilizar a aparência da legalidade para encobrir o mais claro arbítrio. Tudo era feito de forma a dar a aparência de legalidade. Quando o regime queria de fato assassinar alguém, suspender a lei, embaralhava a distinção entre estar dentro e fora da lei. Fazia isso sem o menor problema. Todos viviam sob um arbítrio implacável que minava e corroía completamente a ideia de legalidade. É um dos defeitos mais perversos e nocivos que uma ditadura pode ter. Isso, de uma maneira muito peculiar, continua.

ABr: Então, a semente da violência atual do aparato policial foi plantada na ditadura?

Safatle: Não é difícil fazer essa associação, pois nunca houve uma depuração da estrutura policial brasileira. É muito fácil encontrar delegados que tiveram participação ativa na ditadura militar, ainda em atividade. No estado de São Paulo, o ex-governador Geraldo Alckmin indicou um delegado que era alguém que fez parte do DOI-Codi [Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna]. Teve toda uma discussão, mas esse debate não serviu sequer para ele voltasse atrás na nomeação. Se você levar em conta esse tipo de perenidade dos próprios agentes que atuaram no processo repressivo, não é difícil entender por que as práticas não mudaram.

ABr: Estamos atrás de outros países, como Argentina e África do Sul, na investigação e julgamento de crimes cometidos pelo Estado?

Safatle: Estamos aquém de todos os países da América Latina. Nosso problema não é só não ter constituído uma comissão de verdade e justiça, mas é o de que ninguém do regime militar foi preso. Não há nenhum processo. O único processo aceito foi o da família Teles contra o coronel [Carlos Alberto Brilhante] Ustra, que foi uma declaração simplesmente de crime. Ninguém está pedindo um julgamento e sim uma declaração de que houve um crime. Legalmente, sequer existiram casos de tortura, já que não há nenhum processo legal. E levando em conta o fato de que o Brasil tinha assinado na mesma época tratados internacionais, condenando a tortura, nossa situação é uma aberração não só em relação à Argentina e à África do Sul, mas em relação ao Chile, ao Paraguai e ao Uruguai.

ABr: Que expectativa o senhor tem quanto ao funcionamento da Comissão Nacional da Verdade, prevista no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), para apurar crimes da ditadura?

Safatle: Uma atitude como essa é a mais louvável que poderia ter acontecido e merece ser defendida custe o que custar. O trabalho feito pelo ministro Paulo Vannuchi [secretário dos Direitos Humanos, da Presidência da República] e pela Comissão de Direitos Humanos é da mais alta relevância nacional. Acho que é muito difícil falar o que vai acontecer. A gente está entrando numa dimensão onde a memória nacional, a política atual e o destino do nosso futuro se entrelaçam. Existe uma frase no livro 1984, de George Orwell, que diz: “Quem controla o passado controla o futuro”. Mexer com esse tipo de coisa é algo que não diz respeito só à maneira que o dever de memória vai ser institucionalizado na vida nacional, mas à maneira com que o nosso futuro vai ser decidido.

ABr: Mas, antes mesmo da criação da Comissão da Verdade, os debates já estão muito acalorados.

Safatle: O melhor que poderia acontecer é que se acirrassem de fato as posições e cada um dissesse muito claramente de que lado está. O país está dividido desde o início. Veja a questão da Lei da Anistia. O programa do governo [PNDH 3] em momento algum sugeriu uma forma de revisão ou suspensão da lei. O que ele sugeriu foi que se abrisse espaço para a discussão sobre a interpretação da letra da lei. Porque a anistia não vale para crimes de sequestro e atentados pessoais. A confusão que se criou demonstra muito claramente como a sociedade brasileira precisa de um debate dessa natureza, o mais rápido possível. Não dá para suportar que certos segmentos da sociedade chamem pessoas foram ligadas a esses tipos de atividades de “terroristas”. É sempre bom lembrar que no interior da noção liberal de democracia, desde John Locke [filósofo inglês do século 17], se aceita que o cidadão tem um direito a se contrapor de forma violenta contra um Estado ilegal. Alguns estados nos Estados Unidos também preveem essa situação.

ABr: O termo “terrorista” é usado por historiadores que não têm qualquer ligação com os militares e até mesmo por pessoas que participaram da luta armada. Usar a palavra é errado?

Safatle: Completamente. É inaceitável esse uso que visa a criminalizar profundamente esse tipo de atividade que aconteceu na época. A ditadura foi um estado ilegal que se impôs através da institucionalização de uma situação ilegal. Foi resultado de um golpe que suspendeu eleições, criou eleições de fachada com múltiplos casuísmos. Podemos contar as vezes que o Congresso Nacional foi fechado porque o Executivo não admitia certas leis. O fato de ter aparência de democracia porque tinham algumas eleições pontuais, marcadas por milhões de casuísmos, não significa nada. No Leste Europeu também existiam eleições que eram marcadas desta mesma maneira.Um Estado que entra numa posição ilegal não tem direito, em hipótese alguma, de criminalizar aqueles que lutam contra a ilegalidade. Por trás dessa discussão, existe a tentativa de desqualificar a distinção clara entre direito e Justiça. Em certas situações, as exigências de Justiça não encontram lugar nas estruturas do Direito tal como ele aparecia na ditadura militar. Agora, existem certos setores que tentam aproximar o que aconteceu no Brasil do que houve na mesma época na Europa, com os grupos armados na Itália e na Alemanha. As situações são totalmente diferentes porque nenhum desses países era um Estado ilegal. E não há casos no Brasil de atentado contra a população civil. Todos os alvos foram ligados ao governo.

ABr: Os assaltos a banco não seriam atentados às pessoas comuns que estavam nas agências?

Safatle: Todos os que participaram a atentados a bancos não foram contemplados pela Lei da Anistia e continuaram presos depois de 1979. Pagaram pelo crime. Isso não pode ser utilizado para bloquear a discussão. Dentro de um processo de legalidade, de maneira alguma o Estado pode tentar esconder aquilo que foi feito por cidadãos contra eles, como se fossem todos crimes ordinários. Se um assalto a banco é um crime ordinário, eu diria que a luta armada, a  luta contra o aparato do Estado ilegal, não é. Isso faz parte da nossa noção liberal de democracia.

ABr: Que democracia é a nossa que tem dificuldades de olhar o passado?

Safatle: É uma democracia imperfeita ou, se quisermos, uma semidemocracia. O Brasil não pode ser considerado um país de democracia plena. Existe uma certa teoria política que consiste em pensar de maneira binária, como se existissem só duas categorias: ditadura ou democracia. É uma análise incorreta. Seria necessário acrescentar pelo menos uma terceira categoria: as democracias imperfeitas.

ABr: O que isso significa?

Safatle: Consiste em dizer basicamente o seguinte: não há uma situação totalitária de estrutura, mas há bloqueios no processo de aperfeiçoamento democrático, bloqueios brutais e muito visíveis. Existe uma versão relativamente difundida de que a Nova República é um período de consolidação da democracia brasileira. Diria que não é verdade. É um período muito evidente que demonstra como a democracia brasileira repete os seus impasses a todo momento. O primeiro presidente eleito recebeu um impeachment, o segundo subornou o Congresso para poder passar um emenda de reeleição e seu procurador-geral da República era conhecido por todos como “engavetador-geral”, que levou a uma série de casos de corrupção que nunca foram relativizados. O terceiro presidente eleito muito provavelmente continuou processos de negociação com o Legislativo mais ou menos nas mesmas bases. Chamar isso de consolidação da estrutura democrática nacional é um absurdo. Os poderes mantêm uma relação problemática, uma interferência do poder econômico privado nas decisões de governo. Um sistema de financiamento de campanhas eleitorais que todos sabem que é totalmente ilegal e é utilizado por todos os partidos sem exceção.

Liberalismo econômico ainda é tabu no Brasil, diz ‘Economist’

3d puppet - businessman with a question mark

Da BBC Brasil

Um artigo publicado na edição desta quinta-feira da revista britânica The Economist afirma que o liberalismo econômico ainda é tabu no Brasil.

“Liberalistas econômicos são tão escassos no Brasil como flocos de neve”, diz o texto, intitulado The almost-lost cause of freedom (“A causa quase perdida da liberdade”, em tradução livre).

O artigo afirma que a “mudez” dos liberalistas no país ocorre, em parte, porque o voto é compulsório, o que faz com que os eleitores pobres “ajudem a empurrar os partidos na direção de um Estado maior”.

De acordo com a Economist, “a escassez dos liberalistas é ainda mais estranha dada a história do país”.

Nesse sentido, a revista oferece ainda outra explicação para essa falta – o fato de que muitos dos políticos brasileiros participaram da oposição durante o regime militar (1964-1985).

O texto cita, por exemplo, que o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva era um líder sindicalista, e o pré-candidato nas próximas eleições José Serra, um ex-líder estudantil exilado.

Apesar disso, o artigo afirma que muitos dos políticos que faziam parte dessa oposição esquerdista “provaram ser pragmáticos no governo”.

A revista afirma, por exemplo, que nenhum dos candidatos nas próximas eleições fala em cortar impostos, apesar do aumento da porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) destinada ao governo, que chegou a um patamar próximo dos países europeus.

Avanços

De acordo com a Economist, os liberalistas brasileiros enfrentam ainda outro problema para se manifestarem: “a falta de um partido onde suas ideias sejam bem-vindas”.

Mas, se a tônica do texto trata da falta de liberalistas no país, a revista oferece um contraponto e afirma que as instituições responsáveis pela política econômica estão mais liberais, no sentido de que estão mais livres da interferência do governo do que jamais estiveram.

A revista afirma ainda que a abertura econômica trazida pelo governo de Fernando Collor de Melo impulsionou os liberalistas a “fazer mais barulho” e cita os grupos voltados a essa doutrina, como o Fórum da Liberdade e o Movimento por um Brasil Competitivo.

Apesar dos avanços, a Economist afirma que “por enquanto, no entanto, as pessoas que queiram praticar o liberalismo econômico são aconselhadas a fazê-lo em particular”.

Produção científica do Brasil ultrapassa a da Rússia

Stack of newspapers

Da BBC Brasil

A produção científica brasileira ultrapassou a da Rússia, antiga potência na área, caminha para superar também a da Índia e se consolidar como a 2ª maior entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), segundo levantamento feito pela Thomson Reuters.

O levantamento acompanhou a produção científica nos quatro países com base na análise das 10.500 principais revistas científicas do mundo.

Segundo a pesquisa, a produção brasileira avançou de 3.665 para 30.021 artigos científicos publicados entre 1990 e 2008. No mesmo período, a produção russa manteve-se estável – o número de 1990, de 27.603 artigos, é praticamente o mesmo que o de 2008 – 27.605 artigos.

A produção científica da Índia, que em 1990 contabilizava 13.984 artigos publicados, chegou a 38.366 artigos em 2008.

Se o índice de aumento da produção científica dos países se mantiver, o Brasil deverá ultrapassar a Índia nos próximos anos.

O levantamento indica ainda que a produção científica chinesa, que em 1990 ainda estava atrás da russa e da indiana, com 8.581 artigos, chegou a 2008 com 112.318 artigos, numa expansão que, se mantida, verá a China ultrapassar os Estados Unidos e se tornar líder mundial em produção científica até 2020.

Dados revisados

Segundo Jonathan Adams, diretor de avaliação de pesquisas da Thomson Reuters, os dados dos levantamentos foram revisados após 2007, para evitar que a base de revistas científicas analisadas refletisse um viés pró-países desenvolvidos.

“A revisão dos dados levou a uma considerável elevação do número de artigos científicos de China, Brasil e Índia. Porém essas elevações refletiram tendências já evidentes nos dados, em vez de mudar a trajetória geral”, explicou Adams à BBC Brasil.

Segundo ele, os dados dos últimos anos já indicavam que a produção brasileira superaria a russa, o que ficou expresso nos números de 2008, mas ele observa que, se a base de análise já tivesse sido revista antes, isso já teria acontecido há vários anos.

De acordo com os últimos dados compilados, de 2008, a produção científica brasileira naquele ano representou 2,6% do total de 1.136.676 artigos publicados em todas as 10.500 revistas analisadas. Em 1990, o Brasil tinha apenas 0,6% da produção mundial.

A produção científica americana – 332.916 artigos em 2008 – ainda representa 29% de todos os artigos publicados no mundo, enquanto a chinesa é de 9,9%. Em 1990, porém, os Estados Unidos tinham 38% de toda a produção científica mundial, enquanto a China respondia por apenas 1,4% do total.

No mesmo período, a produção russa, que já foi considerada uma das mais avançadas do mundo, passou de 4,7% do total em 1990 para apenas 2,4% em 2008.

A produção indiana, por sua vez, teve sua participação no total mundial elevada de 2,3% para 3,4% no período, numa elevação proporcionalmente menor que as da China e do Brasil.

Gastos

Em sua análise da produção científica do Brasil, a Thomson Reuters observa que os gastos com pesquisa e desenvolvimento no Brasil chegaram em 2007 a quase 1% do PIB, proporção inferior aos cerca de 2% gastos nos Estados Unidos e na média dos países de desenvolvidos, mas ainda bem acima de outros países latino-americanos.

Segundo o levantamento, o Brasil tem 0,92 pesquisador para cada mil trabalhadores – bem abaixo da média de 6 a 8 pesquisadores por mil trabalhadores dos países do G7, o grupo das nações mais industrializadas do planeta.

Apesar disso, o documento afirma que a proporção brasileira é semelhante à de outros países em desenvolvimento, como a própria China, e que a base de pesquisadores vem crescendo.

Segundo a Thomson Reuters, o Brasil formou cerca de 10 mil novos pesquisadores doutores no último ano analisado, num crescimento de dez vezes em 20 anos.

O levantamento indica ainda que a produção científica do país é mais forte em áreas como pesquisas agrícolas e ciências naturais.

Africanos correspondem a mais da metade dos refugiados que recomeçam vida no Brasil

Do portal Deutsche Welle

Ela prefere não se identificar por questões de segurança. Como uma das tantas mulheres africanas, Maria (nome fictício) teve que deixar seu país de origem para preservar sua vida. Nascida em Uganda, aos 43 anos, com quatro filhos, a assistente social abandou seu país acusada pelo governo de ser “rebelde”.

Maria escolheu o Brasil para se refugiar. “Eu sabia que teria muita dificuldade para ser aceita na Europa. O Brasil, para mim, era mais seguro.” Há sete meses ela espera o seu caso ser decidido pelo governo brasileiro. Maria viajou sozinha, deixou em Uganda os filhos de 20, 17, 16 e 11 anos.

A imagem de homens e mulheres africanos em embarcações superlotadas, que vagam pelo mar e tentam alcançar um continente diferente, não faz parte da história dos fugitivos que chegam ao Brasil. A cena dramática, tão comum nos países banhados pelo Mediterrâneo, está distante do imaginário brasileiro.

Os africanos que buscam um recomeço no Brasil chegam por vias convencionais, em voos comerciais, entre outros passageiros, como foi o caso de Maria. E são os africanos os primeiros da lista no número total de 4.240 refugiados no Brasil: correspondem a 64,8% do total.

Opção para refugiados

O Brasil tem hoje uma população estimada em 192 milhões de habitantes – pouco mais de 4 mil são refugiados legais. “Essa proporção obedece a disposição geográfica brasileira. É difícil entrar aqui ilegalmente, tanto pelo mar quanto pela fronteira seca”, pontua Renato Zerbini, à frente da Comissão Nacional para Refugiados, Conare.

Por outro lado, o Brasil passou a receber mais africanos ao longo dos anos: “As fronteiras na Europa se fecharam. É quase impossível para os africanos desembarcarem lá…  E há países que concedem cotas para refugiados, como a Itália. No Brasil não temos isso”, analisa o especialista.

Atualmente, refugiados de 75 diferentes nacionalidades vivem como cidadãos brasileiros: a maior parte vem de Angola. A lista aponta em segundo lugar refugiados da Colômbia, seguidos por nativos da República Democrática do Congo e Libéria. “Alguns deles escolhem viver no Brasil. Os jovens, por exemplo, são influenciados pelo futebol, ou pela música. Porque essa é a imagem brasileira refletida na África”, declara Renato Zerbini.

O caminho para a legalidade

Segundo as leis brasileiras, um estrangeiro que entra no país com documento falso não fica impedido de pedir refugio. O Comitê Nacional para Refugiados, criado em 1997, estabelece que qualquer pessoa que esteja fora do país de nacionalidade e que tenha um fundado temor de perseguição pode se refugiar no Brasil. “Muitos fogem sem documentos, cruzam territórios, não sabem nem para onde estão indo”, revela Zerbini.

Quando identificados, os fugitivos do país de origem prestam informações para a Polícia Federal do Brasil. Oficiais da Conare entrevistam o solicitante, que também é acompanhado pelo Acnur, agência das Nações Unidas para refugiados.

Até que o caso seja decidido, o candidato ao refúgio recebe um auxílio financeiro que pode chegar a um salário mínimo. Normalmente, os fugitivos ficam em albergues públicos e recebem ajuda da Cáritas, organização da igreja católica.

O julgamento de cada caso dura em média seis meses e a aceitação do pedido de refúgio varia de 35% a 55% no Brasil. “É uma média generosa comparada com outros países, que é de aproximadamente 30%”, compara Zerbini.

Amparado nas diretrizes das Nações Unidas, o Brasil não aceita aqueles que tenham cometido crimes contra a paz ou contra a humanidade, crime de guerra ou hediondo, que tenha participado de atos terroristas ou esteja envolvido com tráfico de drogas.

Na avaliação do órgão das Nações Unidas para refugiados no Brasil, a lei brasileira reflete bem a Convenção da ONU de 1951 que cuida do assunto. É, inclusive, considerada mais ampla que a própria convenção e se destaca por considerar a violação dos direitos humanos um fator que exclui os direito ao refúgio.

Histórias dramáticas em território brasileiro

Os arquivos do Conare também armazenam histórias dramáticas. Dentre elas, a de dois cubanos que, a bordo de um pequeno barco, chegaram em Santos – na costa sul do estado de São Paulo – pensando que estavam desembarcando em Miami, nos Estados Unidos.

Há também casos de africanos que chegam aos portos brasileiros na ilegalidade: alguns são descobertos em alto-mar. Há dois anos, pescadores de Natal, no nordeste brasileiro, resgataram em alto-mar refugiados amarrados a tambores. Eram três fugitivos que viajavam da África para o Brasil no porão de um navio e, quando descobertos, foram arremessados ao mar pelos marinheiros.

“Quando o navio aporta, as empresas são responsáveis pelos estrangeiros que estão a bordo. E quando tripulantes ilegais são encontrados, os marinheiros se livram deles para não terem que prestar conta ao governo do local onde vão desembarcar”, conta Zerbini

Tentativa de reencontro

“Quando um refugiado se sente seguro, a primeira coisa que faz é tentar encontrar quem ficou para trás.” O relato de Alexandra Aparício é baseado na sua história de família e na experiência profissional: a mãe dela se refugiou no Brasil fugindo do comunismo na China, em 1954. Depois de crescer vendo a angústia dos avós em busca de informações de parentes, Alexandra decidiu trabalhar para um órgão que presta serviço aos refugiados.

A Refugee United (RU), foi fundada em 2005 na Dinamarca e tem escritórios nos Estados Unidos e Brasil. A organização procura unir familiares com a ajuda da internet: em São Paulo, há duas salas com computadores disponíveis para refugiados fazerem buscas no site da RU.

Alexandra conta que ali surgem histórias emocionantes: Iona, da Etiópia, conseguiu encontrar a mulher por meio da RU. Ela estava na Inglaterra, depois de ter passado pelo Zimbábue e Botsuana. “Muitos que vêm aqui são africanos da Etiópia, Uganda, Guiné, Costa do Marfim”, conta Alexandra.

“Eles também vêm aqui para se sentirem acolhidos, para conversar, contar a história da mãe, pai, filhos que ficaram para trás”, conta Alexandra.

Segundo Renato Zerbini, os refugiados são bem acolhidos pelo povo brasileiro. “Eles chegam aqui achando que serão maltratados, afinal, é quase sempre assim nos países europeus. Mas a maioria consegue se integrar bem, eles arrumam empregos, estudam e fazem a vida aqui”, finaliza.

Autora: Nádia Pontes

Revisão: Roselaine Wandscheer

País perde 12 posições em ranking de educação

Da Folha SP

O Brasil perdeu 12 posições no índice de educação feito pela Unesco, o braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para a educação e a cultura.

A queda, do 76º para o 88º lugar entre 128 países, ocorreu principalmente em razão da piora no índice de crianças que chegam até a quarta série. Segundo a Unesco, de 80,5%, em 2005, o percentual caiu em 2007 para 75,6%.

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Brasil pode zerar miséria e se igualar a países ricos em 2016, diz Ipea

MARIANA SALLOWICZFolha Online

O Brasil poderá praticamente zerar a pobreza extrema e alcançar indicadores sociais próximos aos dos países desenvolvidos em 2016, caso mantenha o ritmo de desempenho que teve entre 2003 e 2008. A conclusão é de estudo “Pobreza, desigualdade e políticas públicas”, divulgado nesta terça-feira pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

A pobreza extrema é considerada para famílias com renda de até um quarto de salário mínimo per capita –atuais R$ 127,50.

Também há expectativa de alcançar uma taxa nacional de pobreza absoluta (até meio salário mínimo per capita, R$ 255) de 4% naquele ano, o que, segundo o Ipea, significa quase a sua erradicação. Em 2008, o índice estava em 28,8%.

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ONG Transparência Internacional divulga ranking da corrupção no mundo

Baseado na Folha online

A ONG Transparência Internacional divulgou nesta terça-feira um ranking mundial de percepção de corrupção que inclui 180 países. O país que aparece na pior colocação é a Somália, em 180º, seguida pelo Afeganistão.

O Brasil ficou em 75º, ao lado da Colômbia, Peru e Suriname, à frente de vários vizinhos da América do Sul. Chile e Uruguai são os melhores posicionados.

Veja a lista da América do Sul:

25 Chile (6,7)
25 Uruguai (6,7)

75 Brasil (3,7)
75 Colômbia (3,7)
75 Peru (3,7)
75 Suriname (3,7)

106 Argentina (2,9)

120 Bolívia (2,7)

126 Guiana (2,6)

146 Equador (2,2)

162 Venezuela (1,9)

Veja a lista completa:

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João Pessoa é a capital brasileira com maior consumo de crack

Fonte: www.onorte.com.br

O ex-integrante da Polícia Federal na Paraíba, Deusimar Guedes, que atualmente está aposentado e dedica-se a realizar palestras educativas junto ao público jovem, apontou que a capital paraibana tem o maior consumo de crack do país: “João Pessoa é a capital brasileira com o maior consumo de crack”, disse, referindo-se ao estudo apresentado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).

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Sociólogo diz que crescimento evangélico ajuda na melhora dos índices de desenvolvimento social no Brasil

Da Agência Soma

Muito se fala hoje de um Evangelho Integral, que aborde o ser humano não apenas como uma alma a ser conquistada para o Reino de Cristo e, assim, livrá-la do inferno, mas também que seja uma prática cotidiana que se preocupe com o meio ambiente em que este ser vive, com seus relacionamentos, com sua presença neste mundo e com o que este “agente nada secreto” de Deus faz para transformá-lo em um lugar melhor para se viver.

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Ranking Mundial do IDH 2009

Bancoc, 05/10/2009

Veja a lista de 182 países e territórios, classificados segundo o Índice de Desenvolvimento Humano (calculado com dados relativos a 2007)

Posição/ País/ Valor

IDH Muito Elevado (IDH >= 900)
1 Noruega 0,971
2 Austrália 0,970
3 Islândia 0,969
4 Canadá 0,966
5 Irlanda 0,965
6 Holanda 0,964
7 Suécia 0,963
8 França 0,961
9 Suíça 0,960
10 Japão 0,960
11 Luxemburgo 0,960
12 Finlândia 0,959
13 Estados Unidos da América 0,956
14 Áustria 0,955
15 Espanha 0,955
16 Dinamarca 0,955
17 Bélgica 0,953
18 Itália 0,951
19 Liechtenstein 0,951
20 Nova Zelândia 0,950
21 Reino Unido 0,947
22 Alemanha 0,947
23 Singapura 0,944
24 Hong Kong, China (RAE) 0,944
25 Grécia 0,942
26 Coreia, República da 0,937
27 Israel 0,935
28 Andorra 0,934
29 Eslovênia 0,929
30 Brunei 0,920
31 Kuait 0,916
32 Chipre 0,914
33 Qatar 0,910
34 Portugal 0,909
35 Emirados Árabes Unidos 0,903
36 República Tcheca 0,903
37 Barbados 0,903
38 Malta 0,902

IDH Elevado (0,900 > IDH >=0,800)
39 Bahrein 0,895
40 Estônia 0,883
41 Polônia 0,880
42 Eslováquia 0,880
43 Hungria 0,879
44 Chile 0,878
45 Croácia 0,871
46 Lituânia 0,870
47 Antígua e Barbuda 0,868
48 Letônia 0,866
49 Argentina 0,866
50 Uruguai 0,865
51 Cuba 0,863
52 Bahamas 0,856
53 México 0,854
54 Costa Rica 0,854
55 Líbia 0,847
56 Omã 0,846
57 Seychelles 0,845
58 Venezuela 0,844
59 Arábia Saudita 0,843
60 Panamá 0,840
61 Bulgária 0,840
62 São Cristóvão e Nevis 0,838
63 Romênia 0,837
64 Trindade e Tobago 0,837
65 Montenegro 0,834
66 Malásia 0,829
67 Sérvia 0,826
68 Belarus 0,826
69 Santa Lúcia 0,821
70 Albânia 0,818
71 Federação Russa 0,817
72 Macedônia 0,814
73 Dominica 0,814
74 Granada 0,813
75 Brasil 0,813
76 Bósnia-Herzegóvina 0,812
77 Colômbia 0,807
78 Peru 0,806
79 Turquia 0,806
80 Equador 0,806
81 Maurício 0,804
82 Cazaquistão 0,804
83 Líbano 0,803

IDH médio (0,800 >=0,500)

84 Armênia 0,798
85 Ucrânia 0,796
86 Azerbaijão 0,78
87 Tailândia 0,783
88 Irã, República Islâmica do 0,782
89 Geórgia 0,778
90 República Dominicana 0,777
91 São Vicente e Granadinas 0,772
92 China 0,772
93 Belize 0,772
94 Samoa 0,771
95 Maldivas 0,771
96 Jordânia 0,770
97 Suriname 0,769
98 Tunísia 0,769
99 Tonga 0,768
100 Jamaica 0,766
101 Paraguai 0,761
102 Sri Lanka 0,759
103 Gabão 0,755
104 Argélia 0,754
105 Filipinas 0,751
106 El Salvador 0,747
107 Síria 0,742
108 Fiji 0,741
109 Turcomenistão 0,739
110 Territórios Ocupados da Palestina 0,737
111 Indonésia 0,734
112 Honduras 0,732
113 Bolívia 0,729
114 Guiana 0,729
115 Mongólia 0,727
116 Vietnã 0,725
117 Moldávia 0,720
118 Guiné Equatorial 0,719
119 Uzbequistão 0,710
120 Quirguistão 0,710
121 Cabo Verde 0,708
122 Guatemala 0,704
123 Egito 0,703
124 Nicarágua 0,699
125 Botsuana 0,694
126 Vanuatu 0,693
127 Tadjiquistão 0,688
128 Namíbia 0,686
129 África do Sul 0,683
130 Marrocos 0,654
131 São Tomé e Príncipe 0,651
132 Butão 0,619
133 Laos 0,619
134 Índia 0,612
135 Ihas Salomão 0,610
136 Congo, República do (Brazzaville) 0,601
137 Camboja 0,593
138 Mianmar 0,586
139 Comores 0,576
140 Iêmen 0,575
141 Paquistão 0,572
142 Suazilândia 0,572
143 Angola 0,564
144 Nepal 0,553
145 Madagascar 0,543
146 Bangladesh 0,543
147 Quênia 0,541
148 Papua-Nova Guiné 0,541
149 Haiti 0,532
150 Sudão 0,531
151 Tanzânia 0,530
152 Gana 0,526
153 Camarões 0,523
154 Mauritânia 0,520
155 Djibuti 0,520
156 Lesoto 0,514
157 Uganda 0,514
158 Nigéria 0,511
IDH Baixo (IDH < 0,500)
159 Togo 0,499
160 Maláui 0,493
161 Benin 0,492
162 Timor Leste 0,489
163 Costa do Marfim 0,484
164 Zâmbia 0,481
165 Eritreia 0,472
166 Senegal 0,464
167 Ruanda 0,460
168 Gâmbia 0,456
169 Libéria 0,442
170 Guiné 0,435
171 Etiópia 0,414
172 Moçambique 0,402
173 Guiné-Bissau 0,396
174 Burundi 0,394
175 Chade 0,392
176 Congo, República Democrática do 0,389
177 Burkina Fasso 0,389
178 Mali 0,371
179 República Centro-Africana 0,369
180 Serra Leoa 0,365
181 Afeganistão 0,352
182 Níger 0,340

Marina Silva chama atenção para situação do povo guarani-kaiowá

Da Redação / Agência Senado

A senadora Marina Silva (PV-AC) comentou nesta quarta-feira (21) sua visita à terra indígena Yvy Katu, em Mato Grosso do Sul, onde foi realizada a Grande Assembléia Guarani Kaiowa. Ela explicou que, durante esse evento anual, os índios praticam suas rezas e discutem os problemas da comunidade.

Segundo a senadora, os problemas enfrentados pelos indígenas “são de natureza muito grave” e de difícil solução. A senadora explicou que os índios guarani-kaiowá estão distribuídos em comunidades, mas grande parte deles se localizam às margens de estradas federais da região, em acampamentos, esperando o reconhecimento do direito de posse de suas terras tradicionais. Na reserva que fica perto de Dourados (MS), informou a senadora, 13 mil indígenas habitam apenas 3.500 hectares.

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Meu Brasil, Tua Igreja ~ por José Roberto Prado

Segundo dados do IBGE, na década de noventa a igreja brasileira cresceu a um ritmo quatro vezes superior ao crescimento da população. Este crescimento numérico, ainda que exponencial, sozinho, não produz igrejas fortes (maduras), e por isso também não resulta “naturalmente” numa nação transformada pelo Evangelho.

Para tristeza daqueles que se deixam mover pela aparente força da multidão, ao olharmos abaixo da superfície veremos que boa parcela deste crescimento não é fruto de um processo sadio (o aprofundamento dos padrões bíblicos) e também não é experimentado por todas as linhas que compõe o que se chama de “igreja evangélica brasileira” hoje. Pelo contrário, existem muitas igrejas encolhendo.

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