Conforme atestou a ACNUR em sua nova edição do relatório Tendências Globais (Global Trends), divulgado em 18 de junho de 2015, vivemos uma crise humanitária mundial sem precedentes, com cerca de 60 milhões de pessoas deslocadas à força, sendo que destes, 20 milhões são refugiados e 40 milhões deslocados internos (IDPs).
Seja nos paÃses de origem, de refúgio, de trânsito ou de reassentamento, a igreja tem um papel essencial e único a desempenhar na promoção da tolerância, da cultura de paz, para que os deslocados à força possam recuperar-se do trauma causado pelo desastre humanitário que sofreram e sejam inseridos efetivamente na nova sociedade.
Reconhecendo esta realidade, em dezembro de 2012, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados organizou um Diálogo com lÃderes religiosos de diferentes credos, organizações humanitárias confessionais, acadêmicos e representantes governamentais de vários paÃses ao redor do mundo sobre o tema “Fé e Proteção”. Em resposta a esta convocação, de fevereiro a abril de 2013, uma coalizão de organizações humanitárias confessionais e instituições acadêmicas, entre elas a Aliança Evangélica Mundial (WEA) e a Visão Mundial (World Vision International), ambas de corte evangélico e com expressiva presença mundial, participaram na elaboração do documento “Acolher o Estrangeiro: Afirmações para lÃderes de comunidades de fé”.
As afirmações (transcritas abaixo) têm como alvo inspirar lÃderes de todos os credos a “acolher o estrangeiro” com dignidade, respeito e amor. Como observou Antonio Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados:
“…para a vasta maioria das pessoas desarraigadas, poucas coisas são tão poderosas em ajudá-las a superar o medo, a perda, a separação e a destituição, como a sua fé. A fé é central também para a esperança e a resiliência … em muitas circunstâncias, os deslocados se voltam primeiramente à s comunidades religiosas locais em busca de proteção, assistência e aconselhamento. As organizações de fé frequentemente desfrutam de altos nÃveis de confiança na comunidade, têm um melhor acesso e conhecimento local mais amplo, todos os quais são importantes fatores na elaboração e execução de programas, inclusive em ambientes complexos e inseguros.”
Confira as afirmações. Reflita. Você está pronto a acolher o estrangeiro? Então, que tal envolver outras pessoas? O Mestre da Galiléia já disse: “fui estrangeiro, e me acolheste..”.
Um valor central da minha fé é acolher o estrangeiro, o refugiado, o deslocado interno, o outro. Eu lhes tratarei como eu mesmo gostaria de ser tratado. Eu convidarei os demais, inclusive os lÃderes da minha comunidade de fé, a fazer o mesmo. Junto com os lÃderes de fé, as organizações religiosas e as comunidades de consciência ao redor do mundo, eu afirmo:
Acolherei o estrangeiro.
Minha fé ensina que a compaixão, a misericórdia, o amor e a hospitalidade são para todos: o nascido no paÃs e o nascido no estrangeiro, o membro da minha comunidade e o recém-chegado.
Recordarei e farei recordar aos membros da minha comunidade que todos somos considerados “estrangeiros” em algum lugar, que devemos tratar o estrangeiro em nossa comunidade como nós gostarÃamos de ser tratados, e que devemos desafiar a intolerância.
Recordarei e farei recordar a outros em minha comunidade que ninguém deixa sua terra natal sem uma razão: alguns fogem da perseguição, violência e exploração; outros devido a desastres naturais; e outros motivados pelo amor desejam prover uma vida melhor para sua famÃlia.
Reconheço que todas as pessoas têm direito à dignidade e ao respeito devido a sua condição de ser humano. Todos em meu paÃs, inclusive os estrangeiros, estão sujeitos à s leis do paÃs e ninguém deve ser submetido à hostilidade ou discriminação.
Reconheço que acolher ao estrangeiro às vezes requer coragem, mas as alegrias e esperanças de fazê-lo sobrepassam grandemente os riscos e desafios. Apoiarei aqueles que corajosamente acolherem o estrangeiro.
Oferecerei hospitalidade ao estrangeiro, pois isso traz bênçãos sobre a comunidade, sobre minha famÃlia, sobre o estrangeiro e sobre mim.
Respeitarei e honrarei o fato de que o estrangeiro possa ter uma fé diferente ou manter crenças diferentes das minhas ou de outros membros da comunidade.
Respeitarei o direito do estrangeiro de praticar sua fé com liberdade. Buscarei criar espaços onde ele possa prestar seu culto livremente.
Falarei de minha própria fé sem menosprezar ou ridicularizar a fé de outros.
Construirei pontes entre o estrangeiro e eu. Através de meu exemplo, animarei a outros a fazerem o mesmo.
Farei um esforço não só para acolher ao estrangeiro, mas também para ouvi-lo em profundidade, e para promover o entendimento e acolhimento na comunidade.
Manifestarei-me pela justiça social para o estrangeiro, assim como faço para os outros membros da minha comunidade.
Quando eu vir hostilidade para com o estrangeiro em minha comunidade, seja em palavras ou em atos, não ignorarei, mas me empenharei em estabelecer o diálogo e facilitar a paz.
Não me manterei calado quando vir outros, mesmo que sejam lÃderes da minha comunidade de fé, falar mal dos estrangeiros, julgando-os sem conhecê-los ou quando vir que estão sendo excluÃdos, maltratados ou oprimidos.
Encorajarei minha comunidade de fé a trabalhar com outras comunidades de fé e organizações religiosas para encontrar melhores maneiras de assistir ao estrangeiro.
Acolherei o estrangeiro.