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A Religiosidade do povo brasileiro ~ por José LM de Oliveira

Na última semana do mês de agosto de 2011 foram publicados os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tais dados trazem algumas informações interessantes sobre a religiosidade do povo brasileiro.

[José Lisboa Moreira de Oliveira*, Adital, 16 set 11] O primeiro aspecto da pesquisa que chama a atenção é o aumento das pessoas que não mantêm vínculos com a sua crença. Declaram-se pertencentes a uma denominação religiosa, mas reconhecem que não são praticantes. Entre os católicos isso já era bem visível. A novidade está por conta dos evangélicos, onde os não praticantes passaram de 0,7% para 2,9%.

Tal situação revela que as pessoas, cada vez mais, constroem sua religiosidade sem se preocupar com o que dizem as suas instituições religiosas. Vale a interpretação pessoal e não a orientação das lideranças e das igrejas. Para as instituições religiosas isso representa um grande desafio, uma vez que tal fenômeno enfraquece o poder de controle sobre as pessoas e de transmissão das tradições religiosas. Pode ser o início do fim de muitas igrejas e religiões, pelo menos em determinadas partes do mundo. Continue lendo

País menos religioso do mundo, Estônia mantém o desinteresse pela religião dos tempos soviéticos

[BBC Brasil, 31 ago 11] Vinte anos após o colapso da União Soviética, a Estônia, uma das antigas repúblicas do regime comunista, mantém praticamente intacto um traço marcante dos anos em que era dirigida por Moscou – o desinteresse pela religião.

Uma pesquisa do Instituto Gallup, de 2009, indica que os estonianos são o povo menos religioso do mundo, pelo menos estatisticamente. Apenas 16% da população considera que a religião desempenha um papel importante em suas vidas (contra 99% dos habitantes de Bangladesh, os mais religiosos).

O repórter Tom Esslemont, da BBC, foi ao país báltico conhecer a espiritualidade dos seus habitantes:

A princípio, as ruas da cidade litorânea da capital estoniana Tallinn podem até dar ao visitante uma sensação distinta: cúpulas fazem parte da paisagem, sinos tocam aos domingos e hinos religiosos são ouvidos nas catedrais. Continue lendo

A religião vai acabar? ~ por Hélio Schwartsman

[Folha SP, 18 ago 11] Qual o futuro da religião? A melhor forma de tentar responder à pergunta é olhar para o que vem acontecendo nos últimos anos e projetar a tendência para a(s) próxima(s) década(s). Não é garantia de acerto, mas é o melhor que podemos fazer. Embora não sejam muito comuns, surpresas ocorrem até em demografia.

Meu amigo Antônio Gois, que trabalha na sucursal da Folha no Rio de Janeiro e sabe como ninguém fuçar nos dados do IBGE, achou alguns números interessantes na POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2009 e juntos escrevemos uma reportagem que foi publicada na edição de segunda-feira.

O que chama a atenção é que está crescendo rapidamente a proporção de evangélicos sem vínculo institucional. Eles constituíam apenas 4% dos protestantes na POF de 2003 e passaram a 14%. É um salto de mais de 4 milhões de almas. Continue lendo

FGV: País tem queda de 7,26% no número de católicos em 6 anos

Queda também é expressiva entre jovens de 15 a 19 anos, público alvo da Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio em 2013

[Estadão, 23 ago 11] Pouco depois do anúncio oficial do papa da realização da Jornada Mundial da Juventude de 2013 no Rio de Janeiro, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra uma expressiva queda no número de católicos no País.

O mapa das religiões no Brasil mostra uma queda de 7,26% no número de pessoas que se declararam católicas em 6 anos (passando de 73,79%, em 2003, para 68,43%, em 2009). A pesquisa também apresenta um significativo aumento no número de brasileiros que se declararam “sem religião”: 1,59 ponto percentual, chegando a 6,72% em 2009. Continue lendo

Estudo indica que religião pode ser extinta em 9 países ricos

[BBC Brasil, 22 mar 11] Uma pesquisa baseada em dados do censo e projeções de nove países ricos constatou que a religião poderá ser extinta nessas nações.

Analisando censos colhidos desde o século 19, o estudo identificou uma tendência de aumento no número de pessoas que afirma não ter religião na Austrália, Áustria, Canadá, República Checa, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia e Suíça.

Através de um modelo de progressão matemática, o estudo, divulgada em um encontro da American Physical Society, na cidade americana de Dallas, indica que o número de pessoas com religião vai praticamente deixar de existir nestes países.

‘‘Em muitas democracias seculares modernas, há uma crescente tendência de pessoas que se identificam como não tendo uma religião; na Holanda, o índice foi de 40%, e o mais elevado foi o registrado na República Checa, que chegou a 60%’’, afirmou Richard Wiener, da Research Corporation for Science Advancement, do departamento de física da Universidade do Arizona.

O estudo projetou que na Holanda, por exemplo, até 2050, 70% dos holandeses não estarão seguindo religião alguma.

Modelo

A pesquisa seguiu um modelo de dinâmica não-linear que tenta levar em conta fatores sociais que influenciam uma pessoa a fazer parte de um grupo não-religioso.

A equipe constatou que esses parâmetros eram semelhantes nos vários países pesquisados, resultando na indicação era de que a religião neles está a caminho da extinção.

“É um resultado bastante sugestivo”, disse Wiener.

“É interessante que um modelo tão simples analise esses dados…e possa sugerir uma tendência”.

“É óbvio que cada indivíduo é bem mais complicado, mas talvez isso se ajuste naturalmente”, disse ele.

Em nome de Deus? por João Brant

[Brasil de Fato, 23 fev 2011] Ligar a televisão no horário nobre e ver um líder religioso utilizando o espaço para pregar e buscar fiéis é algo que parece fora do lugar. E é. Não por ser uma manifestação religiosa, algo que é parte da cultura brasileira, mas por tornar evidente que um espaço público está sendo utilizado para fins privados.

O mundo todo discute como equilibrar os direitos à liberdade de expressão e à liberdade de crença, previstos em diversas Constituições, inclusive na brasileira. Há várias questões aí envolvidas. Primeiramente, manifestações religiosas devem ou não ser permitidas em veículos de comunicação que são concessões públicas, como rádio e TV? Se sim, deve ser permitido também o proselitismo religioso, ou seja, a prática de tentar “vender seu peixe” e conquistar fiéis?

Na busca de respostas, é preciso pensar como esse tipo de manifestação ajuda ou afeta a liberdade de crença – que é maior do que a liberdade religiosa e inclui até o direito de não se ter religião. E lembrar que, para outras manifestações similares, como o proselitismo político, já há um consenso sobre a necessidade de regras claras para que espaços públicos não sejam tomados por grupos específicos. Continue lendo

“Uma Defesa de Deus” ~ Hélio Schwartsman

[Folha SP, 22 dez 2010]

Na coluna de hoje farei comentários elogiosos a um livro a favor de Deus. É o meu presente de Natal para o eventual leitor cristão. Falo do excelente “The Case for God – What Religion Really Means” (uma defesa de Deus –o que a religião realmente significa), de Karen Armstrong, a ex-freira convertida em estudiosa das religiões.

Com a erudição que lhe é peculiar, Armstrong traça um panorama das mais variadas manifestações de religiosidade desde o Paleolítico até nossos dias e identifica o ateísmo como um fenômeno relativamente recente, que só se tornou possível porque, com o advento da ciência e outras coisinhas mais, o significado de termos como “crença” e “fé” mudou radicalmente.

O ponto central da argumentação da autora é que a esmagadora maioria das culturas pré-modernas sempre operou com duas modalidades de pensamento, às quais os gregos chamavam de “mythos” e “lógos”. Ambas eram consideradas essenciais e complementares. O “lógos”, que podemos traduzir como “razão”, era o modo pragmático. Servia para cuidar dos afazeres cotidianos, construir ferramentas, controlar o ambiente, em suma, para garantir o pão nosso de cada dia. Mas, ele não dava conta de tudo. O “lógos” era incapaz, por exemplo, de nos consolar diante da perda de um ente querido ou mesmo de indicar um sentido último para a vida. Nessas horas de transcendência entravam os “mythoi” (mitos), com suas histórias fantásticas sobre heróis e deuses, dores e esperanças. Eles funcionavam, diz Armstrong, como uma forma primitiva de psicologia. Com sua linguagem cifrada e nem sempre coerente, tocavam aspectos da psique humana que não estavam acessíveis ao “lógos”. Continue lendo

Pesquisa mostra prática religiosa de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas

Estudo revela que 72% dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no Brasil se identificavam com alguma religião antes da infração. Realizado pela Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNPDCA), da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), em parceria com o Instituto de Estudo da Religião (Iser), a publicação Filhos de Deus: Assistência Religiosa no Sistema Socioeducativo foi lançada nesta segunda (6) no Observatório de Boas Práticas e Projetos Inovadores em Direitos da Criança e do Adolescente, em Brasília (DF).

“A pesquisa é uma iniciativa sobre o direito à assistência religiosa no sistema socioeducativo, que nos permite melhor compreender esta realidade e ter acesso a dados sobre as semelhanças e as peculiaridades nos cenários encontrados nas cinco regiões brasileiras”, explica Carmen Silveira de Oliveira, secretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da SDH/PR.

Nove estados participaram da pesquisa: Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. “A Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente prevêem a assistência ao adolescente, porém as instituições religiosas buscam mais a expansão de sua crença do que a assistência ao adolescente”, afirma Pedro Simões, organizador da pesquisa. Continue lendo

Implicações religiosas das recentes descobertas da ciência

[Publicado pelo IHU, 7 dez 2010] “Teologicamente, a questão crucial está em torno da noção de revelação. Se o divino vem revelando criatividade e sentido em toda a história da criação ao longo desses bilhões de anos, por que restringir a autonomia do divino aos limites de tempo e cultura religiosamente validados?”

A análise é de Diarmuid O’Murchu, sacerdote, psicólogo social e membro da Congregação Missionária do Sagrado Coração. O’Murchu trabalhou na Irlanda e na Inglaterra e tem diversas obras sobre a formação na fé e a vida religiosa à luz das novas descobertas da ciência e das tentativas de enfrentar e resolver o agravamento da crise ecológica. Entre seus livros estão “Quantum Theology”, “Evolutionary Faith” e “Reclaiming Spirituality”.

O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 02-12-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Galileu foi duramente criticado pela Igreja Católica por endossar a teoria copernicana de que a Terra girava em torno do Sol, colocando o Sol, e não a Terra, no centro do sistema solar. Estávamos despertando para uma nova visão expansiva do universo, embora seriam necessários mais quase 400 anos antes de rompermos o pulso firme do controle eclesiástico e do reducionismo científico. Continue lendo

A cura pela palavra: o que fazem, pensam e pregam os pastores psicanalistas

[Texto de Clara Becker, publicado na Revista Piauí, nov 2010]

Toda vez que assumia a direção de seu carro, o gerente de vendas Roberto manifestava sintomas descritos pela literatura médica como os da síndrome do pânico. Suava frio, faltava-lhe ar, sentia dormência nas mãos, dores no peito e, por fim, na certeza de que teria uma síncope, entrava em desespero. Funcionário de uma grande empresa, seu trabalho exigia que ele dirigisse por longas distâncias.

Roberto procurou um psicanalista para tentar entender a origem da sua angústia automobilística. Em uma das sessões, lembrou-se de um trauma de infância: o dia em que pulou o muro para roubar goiabas no quintal da vizinha, se apoiou em dois canos de um circuito elétrico e levou um choque de 220 volts. Tremeu como um apoplético até que alguém desligou a eletricidade. O episódio, ao que parece, estivera longamente reprimido no inconsciente.

Enquanto contava a história, demonstrou com gestos como se agarrara aos canos. O psicanalista percebeu que a posição das mãos era a mesma usada para segurar o volante do carro. O diagnóstico era óbvio: o pânico de dirigir era uma reminiscência reprimida do episódio traumático. Com a cena vindo à consciência, os ataques cessaram. Continue lendo

Ateísmo Militante ~ Frei Betto

No decorrer da campanha presidencial afirmei, em artigo sobre Dilma Rousseff, que ela nada tem de “marxista ateia” e que “nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar com violência os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte”.

O texto provocou reações indignadas de leitores, a começar por Sr. Gerardo Xavier Santiago e Daniel Sottomaior, dirigentes da ATEA (Associação Nacional de Ateus e Agnósticos).

Desfruto da amizade de ateus e agnósticos e pessoas que professam as mais diversas crenças. Meus amigos ateus leram o texto e nenhum deles se sentiu desrespeitado ou comparado a torturadores.

O que entendo por “ateísmo militante”? É o que se arvora no direito de apregoar que Jesus é um embuste ou Maomé um farsante. Qualquer um tem o direito de descrer em Deus e manifestar essa forma negativa de fé. Não o de desrespeitar a crença de cristãos, muçulmanos, judeus, indígenas ou ateus. Continue lendo

Religião e Pobreza. Relação de causa e efeito?

“Quanto mais religioso, mais pobre tende a ser um país, diz pesquisa”

Esta foi a chamada do texto de Hélio SCHWARTSMAN, articulista da Folha SP, publicado 27 set 2010.

Veja o texto. Concorda com a tese? deixe sua opinião.

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Quanto mais religiosos são os habitantes de um país, mais pobre ele tende a ser. Essa é a conclusão de uma pesquisa Gallup feita em 114 nações e divulgada no último dia 31 que mostra uma correlação forte entre o grau de religiosidade da população e a renda “per capita”.

Correlação, vale lembrar, é um conceito traiçoeiro. Quando duas variáveis estão correlacionadas, tanto é possível que qualquer uma delas seja a causa da outra como também que ambas sejam efeitos de outros fatores.

Desde o século 19, a sociologia tem preferido apostar na tese de que a pobreza facilita a expansão da religião. “Em geral, as religiões ajudam seus adeptos a lidar com a pobreza, explicam e justificam sua posição social, oferecem esperança, satisfação emocional e soluções mágicas para enfrentar problemas imediatos do cotidiano”, diz Ricardo Mariano, da PUC-RS.

“As religiões de salvação prometem ainda compensações para os sofrimentos e insuficiências desta vida no outro mundo”, acrescenta. Continue lendo