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Refugiados sírios vivem como sem-teto em SP

 

 

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Ore comigo por estas famílias. A maneira mais fácil de lidar com esta realidade é dizer que são responsabilidade do governo; quem sabe caiba uma denúncia. Esta, porém, não é a única resposta. Existe um outro caminho, árduo, sacrificial, cristão, subversivamente evangélico que poucos estão dispostos a seguir. Estou orando por parceiros que estejam dispostos a agir e seguir comigo. Se você for um deles, ore novamente e entre em contato. 

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Eles fugiram de 28 cidades na Síria, todas destruídas pela guerra que afeta o país há mais de quatro anos. Há dois meses, vivem juntos nos andares mais altos de um antigo prédio comercial, recém-ocupado por famílias sem-teto.

[Ricardo Senra; BBC Brasil em São Paulo; 16 set 2015] Longe de milícias, rebeldes armados e exércitos, esses 51 árabes – incluindo sírios, palestinos, egípcios e uma marroquina – tentam recomeçar suas vidas em um bairro de nome sugestivo no centro de São Paulo.

Estão na Liberdade – depois de cruzarem a fronteira síria, passarem pela Embaixada brasileira no Líbano, fazerem escala nos Emirados Árabes, aterrissarem em Guarulhos e tentarem, em vão, vagas em abrigos públicos e hotéis baratos na região do Brás.

Líder no ranking de países que mais recebem refugiados de guerra na América do Sul, o Brasil promete ampliar a emissão de vistos para refugiados de países em guerra. Mas estes estrangeiros reclamam de dificuldades – especialmente em São Paulo, onde o valor dos aluguéis dobrou nos últimos sete anos (a inflação no período foi de 54%).

À BBC Brasil, eles narram a tristeza da perda de pessoas queridas para a guerra, as dificuldades para recomeçar a vida do outro lado do mundo e revelam esperança – tanto no futuro no Brasil, quanto em reerguerem um dia suas velhas casas.

Duplo exílio

Nos salões de piso gasto de madeira, onde já funcionaram firmas de advocacia e contabilidade, os estrangeiros dormem em colchões distribuídos pelo chão, próximos a malas que cruzaram oceanos com roupas, café, cigarros e o Corão, livro sagrado do islã.

A precariedade do prédio ocupado por mulheres de véu e homens com marcas do front de guerra é compensada com organização pelos novos moradores. Costume árabe, ninguém anda de sapatos dentro do salão. Os colchões têm roupa de cama esticada, a louça está lavada e camisas são enfileiradas em um cabide velho de loja.

Somos recebidos com “Salaam Aleikum” (saudação árabe) e chá preto servido em copos de requeijão.

A pequena Falasten, de 10 anos, arrisca o português: “Bom dia”, “Sejam bem-vindos”. Mas o idioma predominante ali é o árabe – interrompido por frases vagas em inglês, aprendidas na escola, quando não havia guerra.

A maior parte destes refugiados tem origem palestina e vivia no perigoso campo de Yarmouk, nos arredores de Damasco, capital síria.

Segundo a ONU, 18 mil pessoas resistem hoje no local “sob constante ameaça de violência armada, sem condições de acesso a água, comida e serviços básicos de saúde”.

Para alguns dos mais velhos, o pouso em São Paulo representa um segundo exílio. Antes de se mudarem com as famílias para a Síria, eles viveram encurralados sob o fogo cruzado entre israelenses e palestinos.

‘Sinto falta da minha respiração’

Amina não vai à escola há três anos por conta da guerra. No período, ela viu amigos e dois primos morrerem e precisou dormir com a família em tendas improvisadas após bombardeios destruírem sua casa. “Todos os lugares na Síria estão em guerra”, sussurra a jovem, coberta por uma túnica de flores brancas que só deixa ver seu rosto, suas mãos e seus pés. Ainda assim, com sorriso triste, diz querer voltar. Junto ao pai (que trabalhava como comerciante na terra natal), à mãe e a seis irmãos, ela está no Brasil há duas semanas – e, como as irmãs, nunca saiu sozinha do salão onde dorme sem qualquer privacidade.

“Sinto falta da vida”, diz Amina, agora com voz forte, em uma escalada que só é interrompida pelo choro. “De meus amigos na Síria. Meus parentes na Síria. Todo mundo na Síria. A vida na Síria. Minha respiração na Síria. Meu coração na Síria.” Sua mãe, Hiba, primeiro sorri. Depois chora também.

Entrar no Brasil

Só o Brasil me deu visto. Só”, conta o cozinheiro Mohammed, em frente a dois maços de Marlboro Light com dizeres em árabe. “Não o Líbano, não a Turquia, não a Europa, não a Arábia Saudita. Só o Brasil.” Como a maioria dos colegas – entre eles economistas, comerciantes, chefs de cozinha e até um mergulhador -, ele não consegue emprego com carteira assinada e admite que preferiria a Europa ao Brasil. “É melhor, tem mais dinheiro. Mas é mais perigoso.”

No Brasil, diferente de países europeus como Alemanha, o governo federal não oferece ajuda financeira a refugiados de guerra. A lei de refúgio brasileira, de 1997, considera a “violação generalizada de direitos humanos” para o reconhecimento de refugiados, seguindo a Declaração de Cartagena sobre a Proteção Internacional de Refugiados, de 1984.

No caso específico da Síria, o Conare (Comitê Nacional para Refugiados, ligado ao Ministério da Justiça) facilita oficialmente a entrada no país de fugitivos da guerra. O procedimento se repete diariamente: a Embaixada brasileira em Beirute, no Líbano, emite vistos de turista válidos por 90 dias para pessoas de diferentes nacionalidades que vivem na Síria.

Assim que chegam ao Brasil, eles são orientados a procurar a Polícia Federal para darem entrada em seu pedido de refúgio (que demora até dois anos para ficar pronto). O pedido, entretanto, gera imediatamente um protocolo, que já permite aos refugiados tirar documentos como CPF e carteira de trabalho antes mesmo do visto definitivo.
Até o início da guerra, em 2011, só 16 sírios viviam refugiados no Brasil, segundo a Acnur (agência das Nações Unidas para refugiados). Hoje são mais de 2 mil.

Viver no Brasil

Os entrevistados dizem conseguir ganhar, no máximo, R$ 1 mil por mês, em jornadas de trabalho que começam às 7h e terminam depois das 22h. Com famílias de até 8 pessoas, eles dizem que precisam de tempo até garantir os recursos necessários para pagar aluguel na cidade, onde é difícil, mesmo na periferia, encontrar um único quarto por menos de R$ 500.

A profissão mais comum é a de cozinheiro – o perfume de esfirras e doces assados sobe pela escadaria escura do prédio -, além do ofício de camelô.

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Do salão onde dorme Abdel, além do cheiro de comida emanam acordes acelerados de alaúde, instrumento de corda popular no Oriente Médio. “Neste momento, não penso em voltar para Síria”, diz o músico profissional, que no Brasil trabalha fabricando doces como barazeq (de gergelim e mel), basboosa (bolo de trigo) e halwa (biscoito de gergelim e açúcar derretido). Ele vivia com parentes em um prédio de seis andares que foi bombardeado três vezes, até se reduzir a escombros.

“Ninguém sabe para onde caminha a guerra na Síria”, diz.

‘Navio negreiro’

Já a caminhada até o prédio ocupado ocorreu pelas mãos de Hasan Zarif, brasileiro de origem palestina, membro do Terra Livre, movimento que defende o direito a moradias populares no país.

“Encontramos essas pessoas dividindo o segundo andar de sobrados mínimos com mais de 50 refugiados”, conta. “Então os convidamos a vir para a ocupação. Depois que veio a primeira família, encheu em dois, três dias, e agora temos mais 50 pessoas na lista de espera.” A fila, explica Zarif, seria fruto da falta de vagas disponíveis em abrigos públicos – onde a demanda de moradores de rua já supera a disponibilidade de leitos.

“Quem está do outro lado sempre acha que está fazendo um favor, um ato de bondade”, diz a professora Rita de Cássia do Val, consultora do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. “Mas não estamos falando de caridade, estamos falando de cidadania.”

Para ela, há uma “fantasia” entre muitos empregadores de que imigrantes aceitam qualquer tipo de trabalho, sob quaisquer condições. “Muito pelo contrário. Muitos têm nível de politização e formação maior que o do brasileiro médio. E esses sujeitos não podem admitir serem tratados de maneira indigna.”

Ela lembra que os refugiados “são mais gente consumindo, pagando impostos e trazendo novas experiências culturais e profissionais ao mercado”. O mesmo vale para os que ainda não encontraram emprego formal. “A carga tributária no Brasil é altíssima. Um vendedor de guarda-chuvas na porta do metrô também paga imposto quando compra uma coxinha.”

Sobre uma suposta “competição” com nativos por empregos, Val diz que a crise dos refugiados abre espaço para que o mundo “repense conceitos antigos” de limites territoriais. “Não dá para construir muros, tudo o que acontece no vizinho ou num pais distante vai me impactar”, diz. “Os setores produtivos dependem dos imigrantes. Se todos forem embora, os países param.”

As dificuldades para a validação de diplomas profissionais e o preconceito entre empregadores é a mesma, no Brasil e no exterior, diz a professora. “É preciso que se saiba que os refugiados não são escravos nem representam novos navios negreiros. São apenas trabalhadores que querem trabalhar, dignamente, como eu e você.”

Imagens: Chuck Tayman e Gabriel A. Fotos e Edição: Gabriel A.

Atlas retrata dois séculos de imigração em São Paulo

O Estado de São Paulo nunca deixou de receber contingentes de trabalhadores vindos de fora do país, mesmo nas décadas do século 20 em que tanto a população quanto a academia pareciam enxergar apenas a migração interna para o Estado, principalmente a originada no Nordeste, mostra o Atlas Temático do Observatório das Migrações em São Paulo, que está sendo lançado neste mês pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp, em parceria com a Fapesp. Essa imigração internacional voltou a ter visibilidade a partir dos anos 90 do século passado, reavivando tensões e preconceitos.

[Carlos Orsi, Jornal da Unicamp, 9 dez 13] “O capital internacional precisa desses imigrantes, sejam eles qualificados ou não, mas a população não está preparada para enfrentar esses novos fluxos migratórios, particularmente porque são migrantes voltados para o mercado de trabalho”, disse a coordenadora do Atlas, Rosana Baeninger, socióloga e pesquisadora do Nepo, ao Jornal da Unicamp.

Além do Atlas, que em mapas e gráficos cobre a entrada de estrangeiros – incluindo escravos – no território que hoje corresponde ao Estado de São Paulo de 1794 a 2010, também estão sendo lançados os oito volumes finais, de um total de 12, da coleção “Por Dentro do Estado de São Paulo”, também produzida pelo Nepo e pelo Observatório das Migrações. A coleção cobre, em detalhe, as dinâmicas sociais e econômicas dos processos migratórios. Alguns volumes da “Por Dentro do Estado de São Paulo” tratam de regiões específicas, como Campinas e Limeira, e outros debruçam-se sobre processos mais amplos, como as imigrações internacionais ocorridas após a Segunda Guerra Mundial e as migrações indígenas.

Na produção do Atlas, foram consideradas imigrantes as pessoas nascidas fora do Brasil que se encontram no Estado – assim, por exemplo, as segundas e terceiras gerações de imigrantes, nascidas no Brasil, não são captadas pelos censos demográficos, pois se utiliza o quesito referente ao país de nascimento.

Fluxo invisível

“Um ponto importante que um projeto dessa envergadura, com olhar para mais de 100 anos, ajuda a ver é que, embora a partir de 1927 tenha acabado o subsídio à imigração no Estado de São Paulo, nós continuamos recebendo os imigrantes internacionais”, disse a pesquisadora. “Ocorre que, como a migração interna passou a ser mais volumosa que a migração internacional, nós deixamos de estudar a migração internacional”.

A imigração internacional para São Paulo só volta a ser “visível” na virada do século 20 para o 21, com a chegada dos bolivianos, chineses, coreanos e, depois, haitianos, e o risco de uma xenofobia renovada em parte da população. “Os fluxos de imigrantes para São Paulo nunca pararam, mas eram menos visíveis, porque os estrangeiros estavam chegando junto de levas de migrantes internos que também sofreram com o preconceito: os baianos, os paraibanos”, explicou Rosana. “Esse foi também um objetivo do projeto, mostrar como a migração contribuiu para a formação social paulista. A metrópole de São Paulo, hoje, ela se reinventa, se reconstrói, com a presença imigrante”.

As organizadoras do Atlas – além de Rosana, participaram as pesquisadoras do Nepo Roberta Guimarães Peres e Natália Belmonte Demétrio – explicaram ainda que a imigração, nos séculos 20 e 21, nem sempre está relacionada a uma crise no país de origem.

“O imigrante estrangeiro que vem ao Brasil não está necessariamente fugindo de uma crise econômica. Isso muda muito depois dos anos 2000, particularmente, porque o Brasil vai entrar na rota do capital internacional. E as indústrias têm um forte componente nessa mobilidade internacional, os grandes centros financeiros, também”, disse Rosana. “Os bolivianos, por exemplo, começam a entrar no Brasil da década perdida, quando nós aqui estávamos em crise. As explicações para as migrações não estão nos destinos migratórios, ou na origem. Estão muito vinculadas à dinâmica da circulação do capital, à necessidade de mão de obra para essa circulação de capital”.

Brancos e qualificados 

O uso do imigrante europeu para “branquear” a raça brasileira pode não ser mais uma política governamental explícita, mas as organizadoras do Atlas relutam em afirmar que o problema racial vinculado à imigração ficou de vez no passado. “O próprio governo brasileiro hoje quer fazer políticas explícitas para atrair portugueses e espanhóis qualificados. Então, quem são os portugueses e espanhóis qualificados? Continuam sendo os brancos. Os europeus”, lembrou Rosana. “Na questão do haitiano, nós vamos precisar dar um visto humanitário. Então, assim, acho que essa questão ainda é muito presente, inclusive na visualização dos fluxos migratórios”.

Dados oficiais podem sugerir que o Brasil passa por um “boom” de atração de mão de obra estrangeira qualificada, mas Rosana lembra que o trabalhador pouco qualificado e sem documentação tem tido importante participação em diferentes nichos econômicos no país. Contudo, passam pelo Ministério do Trabalho e se regularizam empresários, engenheiros, executivos. “Essas grandes empresas se articulam à mobilidade do capital e da força de trabalho,  sendo que diferentes contingentes imigrantes passam a compor uma mão de obra não qualificada, de baixo custo neste novo cenário brasileiro”, disse a pesquisadora.

As questões étnica e social interferem na percepção do imigrante, e na xenofobia. “O boliviano que vem tem outra etnia, tem suas raízes indígenas. E nós ainda estamos muito presos na questão de que, para a nação, o imigrante é o europeu. Hoje nós temos muitos coreanos, chineses aqui, mas o japonês, quando chegou, enfrentou um preconceito muito grande, porque ele era uma outra raça”.

Diferentemente da imigração do século 19, para as lavouras, a imigração atual é urbana, mostra o Atlas. “É nas cidades que as pessoas vão se defrontando, hoje, com a migração muito mais visível: ela é latino-americana, é chinesa, é coreana– então o estranhamento é muito mais frequente hoje, porque somos de segunda, de terceira geração dos imigrantes do século 19. O mito da miscigenação ficou lá atrás”.

O combate ao preconceito, disse Rosana, requer políticas públicas para melhorar a qualidade de vida dos imigrantes pouco qualificados, que chegam como mão de obra barata. “Tem de haver políticas públicas pensadas para as imigrações internacionais, para que essas pessoas não fiquem em condições de vida tão precárias que façam com que a população pense que a migração está trazendo problemas, quando é o contrário: ela está trazendo um excedente populacional que vai gerar riqueza naquele lugar. Riqueza para o capital, claro”.

Ela acredita que é preciso reconhecer que o Brasil entrou de vez na rota das migrações internacionais. “Não podemos querer só o migrante qualificado, o português, o espanhol, o médico, o engenheiro que vem para cá e vai ter todas as condições de permanecer no Brasil. Temos de ter políticas migratórias que contemplem a diversidade de situações que o país está vivenciando, garantindo a governança das migrações internacionais e os direitos humanos”.

Guaranis

Um dos livros da coleção “Por Dentro do Estado de São Paulo” trata das migrações de índios guaranis no Estado de São Paulo. O volume, intitulado “Povos Indígenas; mobilidade espacial”, organizado por Rosana Baeninger e pela ex-presidente da Funai Marta Maria do Amaral Azevedo, descreve como, desde meados do século 19, índios guarani vêm migrando da Argentina e do Paraguai para o litoral paulista, em busca de uma “Terra Sem Males”.

Além disso, o trabalho constata um aumento da população guarani no Brasil, saltando de 20 mil no período 1981-1985 e chegando a 51 mil em 2007-2008, de acordo com estimativas. “Para eles, toda essa área, Paraguai, centro-sul do Brasil, é um território só”, explicou Rosana. “O que mostra para nós, na questão dos povos indígenas, que não podemos delimitar os processos migratórios no território com o nosso olhar. Tem que ser com o olhar dos sujeitos, dos sujeitos migrantes. Eles nem se consideram migrantes”.

A primeira fase do Observatório das Migrações em São Paulo, que se fecha com a publicação dos oito volumes finais da coleção e do Atlas, envolveu 16 estudos temáticos, que além dos 16 pesquisadores responsáveis contaram com a participação de 36 estudantes de graduação e pós. Além da Unicamp, estiveram envolvidas também Unesp, UFSCar, Unifesp e Faculdade Anhembi-Morumbi. O Observatório agora deve entrar numa segunda fase, mais voltada para as migrações contemporâneas no Estado. A primeira fase deu origem a 192 trabalhos apresentados em congressos nacionais, 102 em congressos internacionais, a 15 defesas de mestrado e a nove doutorados, envolvendo um total de 87 autores, e se estendeu de 2009 a 2013.

Os dois lados da moeda ~ Natália Garcia

sampa2Há dois estudos mundiais publicados esse ano em que a cidade de São Paulo se destacou. Um é o Benchmarking the Future Competitiveness of Cities, feito pelo grupo que publica a revista The Economist, que aponta que São Paulo é a cidade que mais cresce em competitividade econômica no mundo. Já de acordo com o ‘Megacity Mental Health Survey’, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), São Paulo é a cidade com maior incidência de transtornos mentais no mundo. Ou seja, a cidade que mais aumentou sua competitividade é também a mais doente do mundo. E, ao que tudo indica, essas duas informações estão relacionadas. Continue lendo

Rio Pinheiros insiste em viver apesar de tudo e todos

Sabe aqueles filmes de ação em que surgem inverossímeis heróis enfrentando uma centena de bandidos e, mesmo com tanta gente querendo matá-lo, no final sobrevive? Pois essa comparação pode ser feita com um herói paulistano chamado Rio Pinheiros. Ele insiste em se manter vivo apesar de tantos ataques mortais. Mas aí cabe uma diferença que seria capaz de derrubar qualquer mocinho de filme: as agressões contra o Pinheiros já duram mais de um século.

[Reinaldo Canto, Carta Capital, 5 fev 13] São muitos e muitos anos de incontáveis despejos de esgotos domésticos e industriais, descaso das autoridades, mas também das pessoas que não lhe tem nenhum respeito (com algumas exceções, como o Projeto Pomar). Transformaram suas águas, antes responsáveis pela vida, em capazes de matar. Aliás, nesse contexto vida e morte, creio ser interessante refletir sobre o destino de rios como o Pinheiros, e de tantos outros que passam por cidades e regiões metropolitanas densamente povoadas. Continue lendo

Gravidez na adolescência cai em SP e atinge o nível mais baixo dos últimos 13 anos

O índice de adolescentes grávidas, em 2011, caiu 26,5% em comparação ao ano anterior e atingiu o menor nível dos últimos 13 anos. Em 1998, 20% das crianças nascidas vivas foram geradas por mães na faixa dos 10 aos 19 anos, que somaram 148.018 adolescentes. Este percentual foi reduzido para 14,7%, em 2011, ano que o número de jovens gestantes alcançou 89.815.

[Marli Moreira, Agência Brasil, 4 jan 13] O balanço foi apresentado hoje (4) pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em visita a uma das 27 Casas do Adolescente, em Heliópolis. Para ele, a queda está associada ao “maior acesso a informação, conscientização e métodos contraceptivos”.

O governador assinou autorização de parceria entre a Secretaria Estadual da Saúde e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O acordo prevê aumento na capacidade de atendimento na Casa do Adolescente de Pinheiros. Atualmente, são atendidos 4,4 mil adolescentes por mês e a previsão é que cresça para 11 mil. Continue lendo

O urbanismo contra-ataca ~ Enrique Peñalosa

‘Uma cidade se expressa, vibra, vive. E só é feita com gente na rua’, diz ex-prefeito de Bogotá.

Notícias de uma guerra “não declarada”: mais de 200 mortos, entre civis (com ou sem ficha criminal) e policiais militares desde o início de outubro. Mas nem adianta passar a régua, pois a conta não fecha aí. Na madrugada seguinte, mais um punhado de gente cai na vala comum das páginas da metrópole e vira estatística. De um lado, o “salve geral” disparado pelo Primeiro Comando da Capital em agosto. De outro, a tropa do governo. No fogo cruzado, a cidade.

[Juliana Sayuri, Estado SP, 18 nov 12] Difícil dizer que se trata de um confronto “velado” entre PM e PCC. Nessa semana, observadores da imprensa internacional miraram São Paulo como uma “cidade sangrenta”. Foram reportagens no Clarín, El País, Le Monde, The Economist, The Guardian, The Wall Street Journal. Até a Al Jazeera reportou a onda de violência paulistana, ao passo que The New York Times questionou a garantia de segurança no Brasil durante o mundial de 2014, um provocativo “imagine na Copa…” para gringo ler. Continue lendo

Não sou contra negociar com o crime organizado, diz sociólogo

Em situações emergenciais, quando as mortes se acumulam numa guerra sem fim, é preciso negociar com o crime. Loucura? O sociólogo Claudio Beato, 56, um dos maiores especialistas em segurança no país, diz que não.

[Mario Cezar Carvalho, Folha SP, 19 nov 12] Ele cita o levante da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em 2006, no qual houve aparentemente um acordo com o governo, como contraexemplo. “Se houve acordo, por que não fazer isso de forma transparente?”

Os exemplos bem-sucedidos de negociações com criminosos, segundo ele, vão dos EUA a El Salvador, onde a igreja intermediou acordos. No Brasil, a polícia faz acordos informais com o crime, de acordo com ele, que deveriam ser institucionais.

Para Beato, ligado ao PSDB de Minas, a falta de transparência só aumenta a sensação de insegurança, como diz nesta entrevista. Continue lendo

São Paulo viu pulverização evangélica na última década, mostra Censo 2010

Quantidade de fiéis que frequentam templos menores cresceu 62% e evangélicos sem laços com igreja quadruplicou.

[Amanda Rossi, Estado, 7 jul 2012] A cidade de São Paulo viveu uma pulverização evangélica sem precedentes na última década. Segundo novos dados do Censo, o número de evangélicos sem laços com uma igreja determinada aumentou mais de quatro vezes entre 2000 e 2010, enquanto a quantidade de fiéis que frequentam templos menores cresceu 62% nesse período. Juntos, esses dois grupos foram responsáveis por 96% do crescimento do rebanho evangélico da capital em uma década, de 825 mil fiéis.

Os evangélicos não determinados englobam tipos diferentes. Entram na conta os que se dizem apenas evangélicos, sem especificar a igreja ou a corrente, os que frequentam cultos diferentes e os que fazem parte de pequenas igrejas não pentecostais. Em São Paulo, o crescimento dos evangélicos não determinados foi tão grande que eles hoje representam a terceira maior corrente religiosa da cidade – perdem para os católicos e os sem religião, mas ultrapassaram a Assembleia de Deus, denominação evangélica que tem o terceiro maior rebanho do País. Continue lendo

Em São Paulo, as áreas valorizadas são as que têm mais incêndios

Dos últimos incêndios que ocorreram neste ano em São Paulo, nove foram em áreas que aumentaram seus valores pelo mercado imobiliário, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

[José Francisco Neto, Brasil de Fato, 11 set 12] A região em que está localizada a favela de São Miguel Paulista, por exemplo, vizinha de Ermelino Matarazzo, na zona leste, e incendiada na terça-feira (28), teve a maior valorização imobiliária da capital em apenas dois anos: 214%. (Clique aqui e veja o mapa dos incêndios em favelas paulistanas que ocorreram nos últimos anos). Continue lendo

Casos de estupros crescem mais no interior que em São Paulo

Os registros de estupros cresceram mais no interior de São Paulo do que na capital nos últimos dez anos –o número mais do que triplicou no interior, enquanto não chegou nem a dobrar na capital.

[Marília Rocha, Folha SP, 4 mai 12] O crescimento da população sem um aumento proporcional de políticas públicas e a maior disposição das vítimas para a denúncia são possíveis explicações para o índice.

Dados da Secretaria da Segurança Pública mostram que a concentração de denúncias no interior (que inclui também o litoral) vem crescendo.

Do total de ocorrências registradas no Estado em 2001, 46% estavam no interior, porcentagem que subiu para 56% no ano passado. A capital tinha 33% dos casos, índice que caiu para 23%. Já a Grande SP passou de 22% para 21%. Continue lendo

Urbanistas da Índia querem importar ‘jeitinho brasileiro’ para favelas de Mumbai

Um grupo de arquitetos da Índia quer levar algumas lições aprendidas nas favelas brasileiras para Mumbai para melhorar as condições de moradia em regiões pobres da cidade indiana.

[BBC Brasil, 3 abr 12] Arquitetos e urbanistas do Institute of Urbanology – uma fundação dedicada à pesquisa e difusão de ideias de urbanismo, com sede em Mumbai – acreditam que várias iniciativas do governo indiano de reconstruir conjuntos habitacionais acabaram produzindo apenas corrupção, prédios decrépitos e vizinhanças miseráveis.

Em alguns casos, as condições de vida dos moradores nos novos blocos até mesmo piorou quando eles trocaram seus casebres nas favelas por esses novos apartamentos. Continue lendo

Temperatura entre bairros de SP varia até 14°C

Pesquisa inédita da Unesp, em colaboração com a Nasa, mostra que falta de árvores e ilhas de calor aumentam diferença climática.

[Artur Rodrigues, Estadão, 26 mar 12] Enquanto o Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo, ferve a mais de 30°C, os moradores da Serra da Cantareira, extremo norte, podem desfrutar um clima abaixo dos 20°C. Uma pesquisa inédita da Universidade Estadual Paulista (Unesp), realizada com a colaboração do laboratório Goddard da Nasa (agência espacial americana), mostra que a capital paulista já pode ter diferença de temperatura de até 14°C no mesmo instante.

A geógrafa Magda Lombardo, autora da pesquisa e supervisora do Centro de Análise e Planejamento Ambiental (Ceapla) da Unesp de Rio Claro, diz que se trata de um sintoma causado pela escassez de árvores e pelo excesso de área construída na cidade, fatores responsáveis pelo surgimento das chamadas ilhas de calor. Partes do centro da cidade e a zona leste são as mais afetadas pelo problema, encontrado também em outras metrópoles do mundo. Continue lendo